Concordo com o Amon.
Lendo essa discussão, lembrei de um outro aspecto do problema. Em lugar de querer distingüir entre fé e crença,
prefiro pensar em termos de "fé racional" e "fé irracional", isto é, entre crenças baseadas nos fatos e crenças que existem a despeito dos
fatos. Só que, no momento em que debatemos isso com um religioso, chegamos a um impasse, causado pela questão: a que fatos nos referimos?
Para um cético, em vez de nos referir de forma vaga a "fatos", diríamos, "um conhecimento baseado na experiência ou na
lógica". Já o religioso poderia acrescentar a esses dois um terceiro: a "revelação", ou o conhecimento místico. Ou seja, um conhecimento que
surge através da introspecção, que aparece na mente aparentemente completo, acabado, independentemente da experiência ou da lógica.
Para o religioso, a fé baseada na revelação tem um peso tão grande quanto a que se baseia em fatos, inclusive por que a experiência subjetiva
do crente é para ele um fato. O que leva o cético a questionar a revelação é simplesmente a experiência [1]: milhões de pessoas no mundo têm
ou tiveram "revelações", cujo conteúdo foi provado absrudo ou equivocado e cujas consequências foram muitas vezes desastrosas. O difícil é
convencer alguem que passou por essa experiência [2].
[1] Eu ia dizer também que a existência da "revelação" seria um processo não-determinístico, mas depois percebi que isso não é necessariamente
verdade.
[2] Claro, isso não vale para a maioria dos religiosos, que acendem suas velas e não perdem tempo com essas questões.