Na minha opinião o neoliberalismo é o maior parceiro/impulsionador do nacionalismo.
As consequência da globalização e do liberalismo económico para as pessoas comuns tem sido nefasto. O capitalismo precisa rever seus conceitos, não pode continuar a alienar as pessoas. O descontentamento é crescente em qualquer país, as populações vêem degradar o seu poder de compra e ao mesmo tempo as empresas anunciam lucros recordes em anos consecutivos.
Hoje, na maioria dos casos, os governantes de esquerda ou direita em nada se diferenciam na sua politica económica neoliberal. Os cidadãos perante as dificuldades crescentes acabam por olhar para os únicos que parecem responder aos seus medos e anseios, os nacionalistas.
Trouble is, um sistema econômico nunca vai resolver problemas que são sociais e não econômicos. Ou, por falar nisso, causá-los.
O que causa esses problemas é o desencontro entre a demanda de empregos e a qualificação e preparo da mão-de-obra, correto?
Pelo menos é o que me parece; há sem dúvida uma ganância de vários tipos, mas para querer que empresários escolham ganhar menos dinheiro do que poderiam é preciso lhes dar um motivo. Isso não vai acontecer por motivos puramente econômicos, exceto talvez em casos realmente excepcionais de empresários que tem visão extremamente ampla ou estão sem opção.
Confesso que isso não me preocupa nem me escandaliza tanto quanto a falta de seriedade das políticas sociais e educacionais; sempre houve e sempre haverá gananciosos com vários graus de escrúpulos, e a melhor defesa contra o dano que podem causar é não depender da sabedoria deles.
Soluções políticas (o assim chamado socialismo, inclusive o marxismo) e legislativas (direito do trabalho) tem sido propostas, mas na minha opinião essas também são, na melhor das hipóteses, paliativos, medidas de último recurso a serem usadas quando as verdadeiras medidas falham.
Qual seria a solução então? Possivelmente uma reaproximação - gradual mas firme e definitiva - entre o cotidiano produtivo dos cidadãos, suas consequências e o tipo de vida que ele quer ter. Se o poder aquisitivo dos cidadãos tem diminuído, a causa básica é o fato de que até mesmo as pessoas mais humildes estão cada vez mais gananciosas, querendo acesso a serviços, produtos e tecnologias que mal compreendem e frequentemente usam de forma ineficaz e com grande desperdício.
É um ciclo vicioso; o senso de exclusão econômica e social leva a uma sensação de impotência e desespero, que por sua vez leva à ganância, que leva a medidas apressadas, consumistas e ineficientes como comprar computadores mal dimensionados, ingressar em faculdades que não se consegue concluir, comprar carros e imóveis que não se consegue manter, fazer e refinanciar empréstimos na base do "a bomba não vai estourar hoje ainda, e quem sabe acontece um milagre até amanhã". E aí se fecha o ciclo, pois acabamos em uma situação em que a exclusão pouco muda, mas o desespero e a falta de opções estão ainda mais nítidos.
É aí, e não em algum tipo de "salvação", "contato com outro mundo/outra vida" ou "ligação com deus" de existência duvidosa, que as religiões atuam (ou pelo menos deveriam atuar); no cultivo de uma atitude de respeito e cooperação com as demais pessoas e culturas. Em situações reais que mudam com medidas concretas de conscientização social, nivelamento da educação básica e profissionalizante, e, sim, anti-nacionalismo. Pois nacionalismo em última análise não é nada mais do que uma avestruz enfiando a cabeça na areia em "desafio" a esse mundo tão "insensível" e "oportunista". Nós podemos dar as costas aos imigrantes e necessitados, mas eles não vão convenientemente deixar de existir por isso; a escolha é entre lhes dar atenção hoje ou convidá-los a exigir nossa atenção mais adiante, quando estiverem mais desesperados e possivelmente mais numerosos.
Aliás, as maiores vítimas do Nazismo nacionalista foram judeus alemães, pelo menos inicialmente. E o genocídio de
Ruanda foi promovido internamente entre etnias rivais. O que causa problemas não é a "imigração", muito menos a falta de "nacionalismo"; nacionalismo não é mais do que um protótipo mal formado e nocivo da consciência social.