A maioria das pessoas, senão todas elas, têm suas próprias crenças, opiniões e até mesmo convicções, algumas vezes. Tudo muito natural, muito humano. O agnóstico é aquele que carrega ao lado de tudo isso a certeza de que pode estar enganado. Não por estar em cima do muro, como muitos gostam de afirmar, mas apenas por uma questão de reconhecer nossas próprias limitações, tanto pessoais quanto coletivas. E nada mais honesto, afinal nos enganamos mesmo, muito e com facilidade. Temos conhecimento sim, temos Filosofia e Ciência, mas também temos muita ignorância ainda por ser suprida. E temos uma incrível capacidade de moldar as coisas como gostaríamos que elas fossem, confundindo muitas vezes conhecimento com crenças. E temos também a terrível mania de não reconhecer isso.
Não se trata de suspender o raciocínio, como muitos acreditam, mas apenas a obrigação de ter que saber tudo o tempo todo, ter sempre uma opinião definitiva, principalmente sobre aquilo que não podemos ter certeza. E sobre deus não podemos ter certezas. E sobre os duendes, fadas e gnomos, não podemos? − alguns perguntam. Não – eu respondo – não podemos, mas pelo conhecimento que possuímos sobre tudo aquilo que cerca esses mitos, damos pouca ou nenhuma importância ao tema. E por que com deus seria diferente? – Eles insistem. Mas dessa vez, peço que Sagan, mais uma vez, responda por mim. Não por querer me utilizar de um argumento de autoridade, já que no assunto deus, ninguém é mais autoridade, mas por se tratar de um ótimo argumento: Aqueles que levantam questões sobre a hipótese de Deus e a hipótese da alma não são de modo nenhum ateus. Um ateu é alguém que tem a certeza de que Deus não existe, alguém que possui provas convincentes contra a existência de Deus. Não conheço nenhuma dessas provas convincentes. Porque Deus pode ser relegado para tempos e lugares remotos e para causas finais, teríamos de saber bastante mais do que sabemos sobre o Universo para ter a certeza de que Deus não existe. Estarmos certos da existência de Deus e estarmos certos da inexistência de Deus parecem-me ser os extremos confiantes num assunto tornado tão misterioso pela dúvida e pela incerteza que inspira na verdade muito pouca confiança. Parece admissível uma larga gama de posições intermédias e, considerando as enormes energias emocionais investidas no assunto, um espírito aberto, corajoso e inquisitivo (Cético/agnóstico – como entendo) parece ser a ferramenta essencial para estreitar a gama da nossa ignorância coletiva sobre o tema da existência de Deus.
Ciências da Religião é de fato uma matéria muito interessante e que têm suas próprias ferramentas, mas ela trata, como o próprio nome diz, das religiões. Deus e religiões são assuntos distintos. Porque é possível que exista deus (ou não) mesmo que não existissem religiões. Porque existem religiões ateístas. E porque existem, inclusive, teístas que não são religiosos. As duas coisas não são de modo algum interdependentes, embora, muitas vezes estejam interligadas.
E para concluir: o agnóstico não precisa ser necessariamente aquele que acredita ser deus incognoscível, pode ser apenas alguém que acredita que ainda não é possível saber se deus existe ou não. Toda a nossa Ciência e Filosofia ainda não conseguiram trazer uma resposta definitiva a essa pergunta, mas talvez possam um dia. Para muitos é uma resposta importante, para outros, nem tanto. Uma prova sobre o tema certamente traria profundas mudanças para a vida de muitos, mas para alguns seria apenas um conhecimento adicional – que ainda não possuímos. Conhecimento se refere aquilo que conhecemos, todo o resto são apenas crenças, que podem estar certas, mas também podem estar totalmente erradas, embora pareçam lógicas. Deduzir não é comprovar. Convencer também não. E sobre deus podemos deduzir e nos convencer, mas não podemos comprovar o que acreditamos. Não que isso faça alguma diferença a não ser pelo fato de ser a verdade (o que por si só deveria fazer toda a diferença).
Se alguém puder comprovar que deus existe/inexiste que o faça. Do contrário o mais sensato é além das próprias crenças sobre o assunto, manter-se aberto a possibilidades. Convicções sobre assuntos duvidosos não são lá atitudes muito condizentes com a lógica.
Eita menina, que saudade que tive de ti!!! Principalmente da sua
CALMA em expor seus pontos de vista sem querer impô-los a ninguém!!
Acrescento ao que você disse uma das minhas frases favoritas..."(...)não existem fatos eternos: assim como não existem verdades absolutas." Nietzsche
E outra: "Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse.”
Beijos serena Luz!