One disse:
(...)O interessante é que se eu for tentar falar com alguns ateus sobre o véu de Maya, talvez eles o conheçam como sendo o poder ilusório de Deus, pois é assim que os três véus de Maya são mais conhecidos entre os religiosos.(...)
Religiões baseiam suas impressões quase todas as vezes em problemas reais dos humanos. Isso não deveria surpreender ninguém. São humanos interpretando suas vidas, seu modo de ser.
Assim como, biologicamente falando, posso demonstrar que o que vemos é uma interpretação da realidade, e não 'a' realidade, pois nenhum estímulo sensorial é privillegiado o suficiente como para isso. Assim como posso demonstrar que a cadeira que estou vendo de fato existe, porém seria vista, sentida, cheirada de formas diferentes dependendo do órgão sensorial e do sujeito (seja ele uma morsa, um camaleão, ou, é claro, uma formiga).
Mas cuidado: acertar nos aspectos psicológicos do ser humano não é fazer filosofia, nem é entender estes problemas. A tendência a fazer uma 'lei universal do comportamento dos seres vivos' nos faz cair em dogmas que devem ser evitados. Assim como a cientologia pode estar certa quanto ao mecanismo da memória, também não justifica suas conclusões malucas (e muito menos o preçinho salgado das 'entrevistas').
Assim como o véu de Maya, desde a imitação de Cristo até as Quatro Nobres Verdades também se baseiam em como o nosso cérebro funciona. Pelo menos budistas são humildes o suficientes como para não justificar seu sofrimento ou felicidade numa interpretação universal e sim numa explicação psicológica (e, portanto, humana).
Você, inclusive, o citou como véu de Maya, mas para mim vieram aqueles versos do Mahabharata: "Quanto a sua inteligência sobrepassar a densa floresta da ilusão, tornase-á indiferente a tudo que ouviu e tudo que há de ouvir".
Sofrimento, perdão, ilusão, bem, são conceitos subjetivos e humanos. Achar que religiosos vão confundi-los por causa de sua religião seria tão equivocado como pensar que, por ser ateu, não leio nem interpreto fatos da mente humana, neles incluindo religiões, mitos, crenças, modos de vida de nosso antepassados, etc.
Aliás, tenho certeza de que só alguém que estude, admire, conheça várias religiões pode entender este tipo de sentimentos de forma neutra, sem cair na tentação de se apegar a uma interpretação específica de uma religião, e esquecer de ver 'the big picture'. Não, eu não disse que deveria ser ateu. Mas poucos religiosos estudam de verdade outras religiões se não para tentar se assegurar de que a dele é melhor.
Um livro que explora os pontos em comum entre várias religiões, desde um ponto de vista neutro, é 'A filosofia perene' de Aldous Huxley.
E, aliás, há uma tendência à generalização em religiosos que tentam colocar todos os ateus num saquinho plástico e dizer como pensam. Eu, sinceramente, mal conheço dois religiosos parecidos, mas nem espero encontrar dois ateus parecidos. As dificuldades para chegar em qualquer consenso já deveriam ser mais do que prova disso.
Então, para mim nesta discussão está vendo uma generalização, das duas partes, que vão esquentar o debate, mas não creio que vá muito longe se esquecermos de defender os aparentes dois lados (ciência e religião) e esquecermos que somos bandos.