Atheist, você conhece o assunto com muito mais profundadide do que eu, mas eu penso que é muito mais importante a presença de bons pesquisadores do que bons professores. Acho que temos uma educação excessivamente paternalista aqui no Brasil. Aulas demais, uma concepção de que o professor tem o dever de mastigar todo o conhecimento para o aluno. O docente deveria ser apenas um guia no que se refere ao aprendizado do aluno. Este último que vá atrás de livros, bibliotecas, da sua real formação. Se o estudante não estiver disposto a se virar, problema dele.
O problema é a variabilidade. Nem todos os alunos são autodidatas e não é desta forma que se deve proceder (isso os profissionais da área de educação insistem incansavelmente), caso contrário, não necessitaria de professores para nada. Livros existem aos montes. Além disso, ser bom professor não implica necessariamente em passar conteúdo mastigado, mas orientar adequadamente onde os alunos podem e devem buscar informações e direcionar o estudo, principalmente. Além disso, para que o aluno consiga buscar um algo mais além da formação comum, é necessário ter uma visão prévia do assunto, e isso o professor pode fazer. A partir daí é com o aluno, concordo. Mas a parte básica, acho que é imprescindível uma boa aula. Boas aulas incentivam o aluno em matérias que ele não está muito afim, por exemplo.
É claro que é necessário ser pesquisador, não estou dizendo que não. Mas a universidade é ensino, pesquisa e extensão. A universidade deve formar conhecimento e formar profissionais, além de dar retorno social ela extensão. Mas se os livros didáticos que utilizamos são estrangeiros, onde está a produção do conhecimento da pesquisa? Se os professores pesquisadores vão para a sala de aula e não conseguem passar todo o conhecimento acumulado, em grande parte através de pós-graduações patrocinadas pelo governo, então onde está a formação de profissionais? Para que fazer USP se não se tem aulas com os grandes nomes da ciência no Brasil? Além disso, há muitos professores que nem vão mais para a bancada. Quem faz pesquisa são os alunos. Há professores que nem entendem as técnicas que os alunos estão desenvolvendo no laboratório.
A USP ainda tem outras coisas, como alunos de pós-graduação dando aula pelos professores npelo PAES (programa de aperfeiçoamente em ensino superior, para bolsistas da CAPES). Não é permitido, mas os alunos dão aula, corrigem provas, etc... E quem ganha o salário? Ah, claro, tem a bolsa mísera do PAES de R$300,00. Então três professores dividem uma disciplina de 4 horas/aula por semana em um semestre, com dois ou três estagiários de PAES e mais um ou dois estagiários de graduação... E os alunos? Saem de lá falando "carga genética" para "conteúdo gênico", por exemplo, pois não tiveram o básico.
O outro lado da moeda são as faculdades particulares, onde o professor precisa trabalhar 40 horas semanais em salas de aulas com 60 alunos para ter um salário razoável. Há pouco espaço para pesquisa.
Em faculdades Estaduais em outros lugares, há professores com 16, 20 ou até mais horas/aula por semana em sala de aula, também com pouco espaço para pesquisa, pois a verba para pesquisa fora de São Paulo é escassa.
Acho que umas 8 horas em sala de aula por semana não mata ninguém. Sobra tempo para fazer pesquisa.
Ao menos nos cursos da área científica, acho que é melhor contratar um ótimo pesquisador para dar umas aulinhas de vez em quando do que um ótimo professor para fazer umas pesquisinhas de vez em quando. O primeiro é mais necessário que o segundo nos institutos. (Triste é quando o cara é péssimo pesquisador e péssimo professor…)
Não sei. O grosso da pesquisa quem faz são os alunos de pós-graduação, não os professores. Eu acho que deve haver um balanço. As instituições são universidades, não institutos de pesquisa. Quem é só pesquisador, vá trabalhar na EMBRAPA, Butantã, e outros centros exclusivos de pesquisa. Aluno em universidade quer professor de qualidade, mesmo os mais autodidatas.
