Faz parte do estatuto de cada diretório acadêmico que os membros devem acatar as decisões de assembléias com quorum satisfatório, quem não quer ser representado pelo D.A. tem o direito de se desassociar. Mas a princípio todos os estudantes são associados.
Quanto a legitimidade, concordo, pode ser questionável, assim como uma eleição pra cargo público. Mesmo que o voto seja obrigatório, os brancos e nulos podem alterar resultados.
Antes de tudo, como você mesmo disse cabe acatar as decisões de assembléias que tiveram quorum satisfatório. Pelo que li aqui e em outras fontes, conversei com colegas da minha e de outras universidades e presenciei, em geral o comparecimento passa longe de ser satisfatório (por questões que já discuti antes). Seria mais eficiente e menos hostil se as votações fossem feitas fora das assembléias em urnas espalhadas pela faculdade (devidamente fiscalizadas, embora isso seja um tanto impraticável), ou mesmo pela internet.
Em segundo lugar não acho certo que os alunos sejam associados logo de cara, ao entrar na faculdade, essa deveria ser uma decisão do indivíduo, ele se associa se quiser (será que foi por isso que os alunos da ocupação fizeram aquela lambança com a lista de e-mails? Vocação autoritária?). E para piorar a situação ninguém informa ao aluno ingressante que ele está automaticamente ligado ao movimento, sua opnião não é ouvida, como nas assembléias.
Bom, no meu campus não há tamanha hostilidade, pode haver sim uma discordância, mas quem é contra consegue se expressar. Aliás tem acontecido bastante isso.
E não vejo as assembléias do lado de quem organiza pois não organizo-as, somente estou presente na maior parte delas.
Não quis dizer que você é organizador, mas que você tem a mesma posição dos organizadores e que os que têm essa posição são em geral um tanto ingênuos a respeito da hostilidade a que estão sujeitos os poucos que aparecem para discordar, como o seu argumento "quem é contra a greve é contra a universidade pública" demonstrou.
Na USP sempre foi assim. Não é do interesse de ninguém que uma sala inteira ou grande parte dela reprove.
Cabe aos alunos cobrarem do professor uma reposição satisfatória do conteúdo faltante, dentro dos limites de data atribuídos a reposição. É claro que não será a mesma coisa que ter aulas normais.
Dizer que "sempre foi assim" não implica que será sempre, nem que será desta vez. Se não é do interesse de ninguém que grande parte da sala reprove, para quê a greve de alunos então? Se assim é, que todos compareçam às aulas ou que pelo menos ninguém impeça os que querem e tem o direito de comparecer.
Quanto a cobrar uma reposição satisfatória, prefiro cobrar aulas satisfatórias no período em que devem acontecer. Como você colocou é claro que a reposição não será a mesma coisa que ter aulas normais, mas quem ingressou numa universidade pública tem o direito de ter aulas normais.
Realmente, da forma generalizada que escrevi se torna uma falácia. Corrigindo, existem aquelas pessoas que estão muito preocupadas em frequentar todas as aulas, engolir tudo o que o professor passa sem deixar passar uma vírgula, não reprovar em nada, se formar e arrumar o primeiro emprego com salário a altura que aparecer, aquelas que pouco se preocupam com os destinos que estão sendo dados para a universidade, aquelas que utilizam o direito de ir a aula mesmo na greve e combinações das anteriores.
Lutar por um ensino melhor, maiores condições de acesso, etc. me parece muito mais respeitoso aos cidadãos que sustentam a universidade do que comparecer a aulas e considerar que já fez sua parte.
Mais do que uma falácia é uma das facetas daquela hostilidade das assembléias que mencionei. Esse "argumento", entre outras frases de ordem e chavões, é um dos favoritos para calar os que pensam de forma diferente.
Se na luta por um ensino melhor os estudantes fazem passeatas como as recentes que paralisaram São Paulo, impossibilitando os contribuintes que bancam a universidade de chegar a seu trabalho, isso não é respeito. Se na mesma luta patrimônio público é danificado, tendo que ser reposto com o dinheiro dos mesmos contribuintes que bancam a universidade, isso é desrepeito.
Mas talvez eu devesse ter dito que freqüentar as aulas é o mínimo de respeito que se deve aos cidadão. Além disso há de se lutar por um movimento estudantil mais digno, capaz de fornecer soluções factíveis aos problemas da universidade ao invés de só fazer barulho; formar-se profissional (afinal é para isso que pagam os contribuintes) e cidadão consciente de que as soluções para a universidade pública passam pelo diálogo, não o monólogo "assemblístico".