Vou tentar expressar aqui a minha opinião, um pouco diferente da que tenho verificado pelos usuários do fórum. Entretanto é a visão de um estudante da USP que apóia e participa do movimento e que discorda da visão que a mídia vem demonstrando de forma sensacionalista e parcial.
Primeiramente, posto abaixo as resoluções do movimento de greve estudantil da USP de São Carlos, incluindo a pauta de reivindições completa, muito importante que TODOS leiam.
Sobre o movimento e suas causas:
1. Somos estudantes da Universidade de São Paulo do Campus de São Carlos que se mobilizam em defesa da Universidade Pública, gratuita e de qualidade e da Educação enquanto um direito de todas e todos.
2. Lutamos pela valorização do ensino público em todos os níveis, no intuito de se reverter o sucateamento dos ensinos fundamental e médio e de se impedir que tal processo avance sobre o ensino superior.
3. Reivindicamos a indissociabilidade entre o Ensino, a Pesquisa e a Extensão na universidade e sua Autonomia – nos sentidos político-pedagógico, científico, administrativo e financeiro –, pressupostos básicos para construção do conhecimento livre e a concretização dos fins da universidade.
4. Essa autonomia, porém, se mostra incompleta se a Universidade não é realmente pública e gratuita – promovendo, como hoje, a permeabilidade entre interesses públicos e privados ou a expansão de cursos pagos –, e se não for radicalmente transparente – para dentro e para fora de si mesma – e democrática nas formas de se organizar e se gerir internamente.
5. Democratização que, por sua vez, também deve atingir as formas de acesso à universidade – com expansão contínua e planejada de vagas e garantia de financiamento e infra-estrutura – e as condições de permanência dos estudantes na mesma – com uma política clara, estruturada e democraticamente construída.
6. Tudo isso, por fim, pressupõe a valorização do ensino crítico e da pesquisa livre de interesses de governo e de mercado, e ainda a melhoria das condições de trabalho docente e não docente, o que implica no fim das terceirizações e de qualquer tipo de contrato precário de trabalho na universidade.
Sobre os decretos do governador José Serra e suas conseqüências para a universidade:
1. No início deste ano o governador José Serra baixou uma série de decretos que instituem uma reforma administrativa no âmbito da gestão pública estadual, no sentido de ampliar os poderes e o controle do Executivo sobre todos os setores dessa administração, inclusive as Universidades.
2. Nesse sentido, entendemos que os decretos 51.460 e 51.461, de 1º/01/07, 51.471, de 02/01/07, 51.636, de 09/03/07, e 51.660, de 14/03/07, interferem na autonomia universitária e apontam para o aprofundamento do processo de sucateamento das universidades estaduais paulistas e de mercantilização do ensino superior.
3. Tais decretos contingenciaram verbas – fato inédito nas universidades públicas estaduais desde 1989 –, proibiram a contratação de servidores por tempo indeterminado, ampliaram o poder de interferência do executivo sobre os recursos financeiros das universidades e fragmentaram ainda mais o sistema educacional estadual – com as universidades públicas e privadas se vinculando à obscura Secretaria de Ensino Superior, o ensino técnico/tecnológico, os institutos de pesquisa e a FAPESP permanecendo na renomeada Secretaria de Desenvolvimento, e a educação básica permanecendo na Secretaria de Educação.
4. Além disso, tais medidas foram tomadas de forma apressada e autoritária, o que demonstra uma maneira de governar e de se relacionar com a universidade que ferem os princípios do convívio democrático e do debate construtivo, apontando para intenções futuras de ampliar ainda mais os referidos controles e interfências.
5. Assim, nos posicionamos contrários a esses decretos e nos mobilizamos no sentido de exigir do governo sua revogação.
Sobre as reivindicações da Greve Estudantil
Por tudo isso, apresentamos como pauta de reivindicações da greve dos estudantes da USP de São Carlos os seguintes itens:
1. Revogação imediata dos Decretos 51.460, 51.461, 51.471, 51.636 e 51.660 do Governador José Serra.
2. Posição pública contrária aos decretos por parte da reitora da USP, tendo em vista o posicionamento das Assembléias Gerais dos estudantes, servidores não docentes e docentes desta universidade.
3. Realização de uma Estatuinte democrática na USP, com paridade de participação entre estudantes, servidores não docentes e docentes.
4. Estabelecimento de uma política de contratação de todos os servidores docentes e não docentes necessários às unidades, com a revisão dos métodos e critérios pelos quais a Comissão de Claros aprova o preenchimento das vagas abertas.
5. Atendimento às reivindicações específicas dos estudantes do Campus da USP de São Carlos:
1. Instituição de uma Comissão Mista Permanente e Paritária (com estudantes, servidores não-docentes e docentes) para levantar, encaminhar e acompanhar as questões relativas à infra-estrutura, permanência estudantil e contratação de servidores docentes e não-docentes necessários.
2. Expansão do número de vagas do Alojamento Estudantil de acordo com as suas reivindicações específicas.
3. Melhoria das condições do Restaurante Universitário.
4. Restabelecimento do cronograma de obras da área 2 do campus de São Carlos, com a definição de um espaço no Plano Diretor para o Alojamento Estudantil e para o Centro de Convivência Estudantil, além da disponibilização de mais um ônibus com o respectivo motorista para realizar a interligação entre as áreas 1 e 2.
6. Definição, por parte da Pró-Reitoria de Graduação, de um calendário de reposição integral de aulas, trabalhos e provas, que deve ser respeitado pelas unidades, docentes e estudantes.
7. Nenhuma punição – sindicância ou demais processos administrativos e/ou repressivos – seja tomada contra os estudantes com relação a ocupações ou quaisquer mobilizações legítimas no campus.
Assembléia Geral dos Estudantes da USP de São Carlos
São Carlos, 29 de maio de 2007
Há muita gente nesse Brasil cujos sonhos são apanhar da polícia e a volta da ditadura militar, só para ter motivo pra fazer baderna.
Acho questionável a utilização de decretos, sejam estes inconstitucionais ou não, para se governar um Estado ou País. Particularente, o fato de se decretar e mudar a estrutura do ensino superior sem haver uma consulta aos órgãos pertinentes é um agravante, mesmo que estes concordem ou aceitem postumamente.
Essa "baderna" nem de longe indica que estamos querendo apanhar de policiais ou a volta da ditadura, muito pelo contrário, lutamos contra essa repressão de tentar usar a força policial ao invés do diálogo entre as partes, mesmo frente a um episódio como este de ocupação de um prédio público. Iquestionavelmente, querer a volta da ditadura militar é concordar que atitudes de protesto como esta sejam resolvidas com a força policial.
Vamos falar sério, a faculdade gratuita já não é suficiente?
Não para todos. Ao contrário do que muitos pensam nem só "filhinhos de papai" estudam na USP, há aqueles que necessitam de asistência estudantil para poderem se manter fora de casa e concluir o curso de forma satisfatória, seja com alimentação subsidiada, moradia, transporte, etc.
O que acontece é que ampliam o número de vagas e de cursos sem ampliar número de vagas em alojamento, funcionários do restaurante universitário, docentes e demais funcionários necessários a não diminuição da qualidade existente. Em São Carlos por exemplo em 2003 foi criada uma área nova (Campus II) para abrigar inicialmente três cursos criados no mesmo ano (40 vagas cada) sem que para isso se criassem alojamentos ou aumentassem o número de funcionários do restaurante, e mais cursos estão sendo criados desde então. A criação dos cursos é totalemnte aceitável, mas deve vir seguida de condições reais de implantação, o que no entanto não é verificado. Meu curso mesmo que é um desses criados em 2003 faltam docentes para algumas disciplinas até hoje.
Aí está uma prova de que o governo está gastando errado nosso dinheiro. Isso é burrice. O decreto do governdo de SP só exige que seja feita a prestação de contas, não mexe na autonomia. Isso foi esclarecido até pela associação dos reitores das universidades públicas paulistas.
Por que eles não querem que a universidade preste contas, isso eu não sei.
Agora, os alunos atualmente são mesmo massa de manobra do sindicato dos funcionários, como o Gabriel escreveu. O movimento estudantil no Brasil já não é mais o mesmo, não tem mais foco, não tem objetivo. E o pior, não está mais pensando. Era uma vez a "elite pensante do Brasil"…
Isso não é burrice. E daí que "isso foi esclarecido até pela associação dos reitores das universidades públicas paulistas"? Essa é a visão dos reitores, assim como é a do governador, questionáveis sobre qualquer circunstância. Inclusive um dos reitores a princípio tinha posição contrária, mudou depois, não sei por qual motivo.
Um grande, GIGANTESCO equívoco é achar que não queremos prestação de contas. Queremos sim, prestação de contas e com muito mais transparência, aliás, pra toda população, não só para o próprio governo, que é como acontece mesmo depois dos decretos. Mas isso é questão de desinformação e não de burrice.
É fato que o movimento estudantil no Brasil já não é mais o mesmo, entretanto a conjuntura nacional também não é. Não faz o menor sentido, portanto, querer associar e comparar o movimento das décadas passadas ao do Brasil atual. Mas não tenha dúvidas de que ele está e estará sempre presente, independentemente de qualquer sindicato ou partido que se divulgue nas manifestações, e que a cada novo assunto polêmico como os decretos ele estará aí pelas ruas protestando.
Acham que é democrática a decisão tomada em uma assembléia com 2 mil pessoas (a usp tem 80 mil alunos), acham que é justo impedir que os outros tenham aulas, acham que é pacífico invadir um prédio público e ocupá-lo por 20 dias, acham que é lógico fazer exigências completamente estúpidas (já estão querendo até mexer no Estatuto da USP - isso é típico pensamento de golpista).
Não consegui ter aula na sexta, hoje lacraram a porta da minha sala. Amiga minha está há 1 semana sem poder ver aula, pois os autoritários-democratas não permitem.
2 mil pessoas só numa assembléia de SP, cujo campus tem bem menos de 80 mil, que é a totalidade dos estudantes de todos os campi. Toda assembléia é aberta a TODOS os estudantes, estes podem e devem participar, contando como voto no final. É uma atitude pouco coerente alunos não aparecerem, seja para opinar ou votar, e depois questionar a legitimidade de uma assembléia com número de participantes acima do quorum minimo.
Saiba que mexer no estatuto da USP não é uma "exigência completamente estúpida" de nenhum "golpista", é, entre os demais objetivos, a tentativa de democratizar mais a escolha dos altos cargos dentro da universidade, que atualmente é decidido entre os próprios dirigentes com certas dedadas de governo.
Oficialmente sua classe (estudantil) se encontra em greve, portanto não deveria ter a preocupação de ir pra aula. De certa forma, ir pra aula pode prejudicar bastante quem não está indo e participando do movimento.