Autor Tópico: Espíritos e pessoas, opiniões…  (Lida 41566 vezes)

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Offline BetinhOzinhO

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Espíritos e pessoas, opiniões…
« Online: 18 de Junho de 2007, 00:13:11 »
Hoje estava conversando com um amigo que me disse que a avó dele era médium
(além de espírita). Perguntei se ela "era" mesmo ou se apenas acreditava
nisso, ao que ele me respondeu que ERA sim, ouvia e conversava com os
espíritos. Seguindo-se a isso, disse-me ele que também deve ter herdado um
pouco dessa habilidade, porque na infância e na adolescência também OUVIA os
espíritos.

Eu fico encucado com essas coisas… porque esse amigo não é nada
impressionável, pelo menos assim me parece, é metaleiro, não tem religião…
afinal de contas O QUE leva tantas pessoas sem nem ao menos uma prática
religiosa ou mesmo espiritualista relatar experiências com espíritos como se
fossem uma verdade, pura, simples e natural, fato corriqueiro da vida? Fico
pensando: COMO ASSIM ele OUVIA os espíritos? Ouvia o quê? O que eles diziam?
Ouvia em que ambientes? Infelizmente a conversa rumou pra outros assuntos.

Uma pessoa a quem perguntei disse que achava que era simples folclore
religioso brasileiro, mas sempre resta o fato de muitas vezes esses
relatos partirem de pessoas com as características que mencionei, sem
prática religiosa ou espiritualista. O que vocês acham desse tipo de coisa?

(P.S.: eu JÁ SEI o que os espíritas acham, por favor, eu IMPLORO, não postem nada aqui, eu imploro mesmo, ok????)
O GOOGLE NÃO É SEU AMIGO! HAHAHAHHOHOHOHO! http://www.google-watch.org/

Offline Luis Dantas

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #1 Online: 18 de Junho de 2007, 00:25:23 »
Em alguns casos é esquizofrenia mesmo...
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline FxF

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #2 Online: 18 de Junho de 2007, 00:34:44 »
A cultura popular te induz a tirar a conclusão que sons do piso de seu quarto são zumbis invisíveis multi-dimensionais...

Offline BetinhOzinhO

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #3 Online: 18 de Junho de 2007, 00:38:29 »
Em alguns casos é esquizofrenia mesmo…

ALGUNS… alguns. Longe de serem a maioria, creio eu.

A cultura popular te induz a tirar a conclusão que sons do piso de seu quarto são zumbis invisíveis multi-dimensionais…

Vamos abstrair sons obscuros... que tal os relatos sobre palavras, frases, discursos completos vindo de pessoas, repetindo, sem prática religiosa ou espiritualista? Imaginação pura e simples, aliada ao desejo de realmente ouvir algo?
« Última modificação: 18 de Junho de 2007, 00:41:14 por BetinhO »
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Offline Spitfire

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #4 Online: 18 de Junho de 2007, 00:40:03 »
Eu tenho um amigo de infância (desde os 7 anos), com 38 anos como eu, que a família dele é/eram (alguns já faleceram) espíritas... este amigo me disse uma vez, quanto tínhamos uns 13 ou 14 anos, que ele quando era mais novo "via espíritos". Na época eu já estava duvidando destas coisas e perguntei detalhes... ele me disse que viu o "espírito" da bis-avó recentemente falecida... fiquei quieto e não tentei argumentar mais nada, pois além de ser um amigo que muito prezo (até hoje) era também algo que envolvia uma pessoa muito querida dele.
Hoje, com 38 anos, este amigo meu também é ateu... e hoje, passados mais de 20 anos de sua revelação, ele diz que foi tudo fruto da imaginação dele querendo como que compensar a ausência desta bis-avó. Continuei a não dizer nada...

Sei lá, penso que não podemos definir apenas 1 ou 2 fatores... existem tantos outros. Uns podem ser esquizofrênicos, outros terem a mente fértil, outros deliberadamente atribuem sensações de vultos (isto as vezes me ocorre "no canto dos olhos"), alguns para tentar amenizar a dor de uma perda de uma pessoa querida, tem os que querem apenas enganar e inventam estórias... enfim, fatores não faltam. 

Offline BetinhOzinhO

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #5 Online: 18 de Junho de 2007, 00:42:58 »
Concordo, Spit. Esse meu amigo também diz que a avó dele aparece todos os dias nos sonhos dele e que isso o perturba. Perguntei a ele se ele sente muita falta dele, e ele disse que sim. Bem, a dedução é óbvia.
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Offline uiliníli

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #6 Online: 18 de Junho de 2007, 01:45:17 »
Auto-sugestão. Eu fui criado no espiritismo quando criança, freqüentei um centro espírita até cerca de 12 anos. Os espíritas dizem que todo mundo é médium, mas uns são mais e outros são menos. Não preciso nem dizer que níveis elevados de mediunidade significam também um status elevado dentro do grupo...

No meu centro espírita havia uma menina, só um pouco mais velha do que eu, que toda semana aparecia com uma história nova para contar sobre os espíritos que ela viu durante a semana, o que eles fizeram, o que eles falaram, naturalmente a garota era o centro das atenções, todo mundo ficava admirado com seu alto grau de mediunidade, todo mundo - eu inclusive - queria ser igual a ela. Se bem que eu tinha um pouquinho de medo dessas coisas também... Mas invejava a garota, invejava o quanto todo mundo dava atenção a ela.

Na verdade eu era muito medroso quando criança, e em parte o espiritismo é um grande responsável por isso. Eu tinha medo de dormir no escuro, porque tinha medo de algum espírito aparecer. Claro que se existissem realmente espíritos e um deles quisesse aparecer para mim, não seria uma lâmpada acesa que iria lhe impedir, mas de certa forma eu me sentia mais seguro na claridade. Uma certa noite eu tive dificuldades em conseguir dormir, tive uma insônia. Fiquei na cama, de olhos abertos, morrendo de sono, mas sem conseguir dormir.

Não tenho certeza se finalmente adormeci e sonhei ou se minha imaginação me pregou uma peça, mas tive a impressão de que apareceu um livro no teto, fixo, como se grudado na parede. O livro se abriu e as páginas começaram a passar, mas estava muito longe e as letras eram muito pequenas para eu identificar o que estava escrito. A única coisa que reconheci foi uma ilustração em uma página, era a inconfundível foto de Allan Kardec, igualzinha à que aparecia na contra-capa da edição de "O Livro dos Espíritos" que meus pais tinham em casa. Surpreendentemente, porém, aquilo não me causou estranheza nenhuma, enquanto durou aquela cena eu não me dei conta de que livros no teto não são coisas comuns. Eu demorei um pouco para me dar conta de que tinha alguma coisa estranha acontecendo. Quando me dei conta disso eu só virei para o lado e dormi.

A princípio eu não acreditava que aquilo que vi naquela noite tivesse algum significado. Só depois que acordei que, no dia seguinte, que me lembrei daquilo e vi que tinha uma história poderosa nas minhas mãos... No próximo Domingo cheguei todo orgulhoso ao Centro Espírita, era o meu dia de glória, era a minha vez de aparecer com uma história para contar, era a minha vez de ser admirado pelo grupo. Contei a história toda. Aumentei um pouquinho também... Cheguei a me convencer de que o que se passara foi um contato com o mundo dos espíritos, e não obra de sonho ou imaginação. Ao final do meu relato minha "professora" me disse que provavelmente aquilo teria sido um sinal, que um dia talvez eu psicografaria livros. Fiquei radiante, todo mundo me olhando... Acabara de subir na hierarquia social.

Os espíritas formam um grupo altamente "meritocrático". Todos acreditam que reencarnaram centenas ou milhares de vezes e que carregam consigo toda uma bagagem evolutiva. Infelizmente nós não nos lembramos das encarnações passadas, não sabemos o quão evoluídos nós somos. O que sabemos é que somos seres humanos imperfeitos. Há toda uma pressão social, uma hierarquia invisível na qual você não sabe em que ponto da pirâmide exatamente você está. Todos ao seu redor estão jogando um jogo de aparências, querem parecer o mais evoluídos possível. Não sabemos os podres dos outros, mas os nossos podres nós sabemos. Naturalmente, então ficamos em uma posição de desvantagem, todos parecem perfeitos, exceto nós mesmos... Eu sabia de todas as coisas ruins que eu tinha feito, de todos os pensamentos ruins que tinha tido, e isso só me fazia me sentir inferiorizado, inseguro, tímido...

Ter um dom, uma mediunidade, por outro lado, muda as coisas de figura. Se você é médium é porque você é especial. As pessoas já te olham de outro jeito, já te respeitam como se você fosse um intermediário entre Deus e eles - e para os espíritas é isso mesmo que você é. Lá fiquei eu então, esperando o meu dom se manifestar, esperando a mediunidade aparecer, esperando... esperando... Mas ela não vinha. Àquela altura eu acreditava que o vi naquela certa noite tinha sido obra de espíritos, mas me batia uma ponta de dúvida se não teria sido um sonho afinal.

Bom, passou bastante tempo e minha mediunidade não se manifestou, e enquanto isso eu começava a me interessar por outras coisas. Assistia O Mundo de Beakman, lia Superintessante (naquele tempo ela ainda tinha qualidade) e comecei a me interessar pelos livros e pelo pensamento de Carl Sagan. Aprimorei meu raciocínio crítico, descobri o que era o ceticismo, o que era ciência e o que era pseudociência - e começava a encontrar no espiritismo cada vez mais sintomas de pseudociência. Tinha chegado à conclusão de que a minha ilusão com um livro não foi nada mais do que uma ilusão provocada pelo sono e que o único motivo que tinha me levado a pensar outra coisa foi minha vontade de me sentir especial. Tinha também começado o processo irreversível que me levaria ao ateísmo.

Antes disso, porém, o efeito imediato desse banho de ciência e racionalismo foi eu me tornar mais questionador, fazia muitas perguntas incômodas e freqüentemente deixava os palestrantes do grupo de jovens sem respostas. A coisa que eu mais ouvia deles era que nós, humanos, não somos evoluídos o suficiente ainda para entender os desígnios de Deus. Claro que essas respostas não me satisfaziam e cada vez mais eu comecei a achar que o espiritismo não tinha as respostas que eu queria, que era apenas uma fé arbitrária, que mesmo que os espíritos existissem e se comunicassem com os médiuns, quem poderia garantir que eles não estavam mentindo? Quem poderia grantir que os médiuns não estivessem mentindo?

Em um certo momento eu acreditava em Deus, mas não mais no espiritismo. Falei para minha mãe que não queria mais voltar ao centro espírita. Ela não gostou da minha decisão, mas por duas semanas não precisei ir até o centro. Não me lembro bem o que foi que aconteceu, mas acho que fiz alguma cagada nesse meio tempo e minha mãe me disse que isso era porque eu tinha deixado de ir ao centro e que eu ia ter que voltar. Ela teve uma conversa com o palestrante do grupo de jovens antes e na semana seguinte, quando eu voltei parecia que ele tinha preparado algo especial para mim... Parecia que ele queria me provar que o espiritismo era verdadeiro e com isso me dar provas bem concretas. Bom talvez aquilo não tivesse sido programado para mim, eu não sou tão importante assim, mas naquele dia e ainda hoje me parece que foi por minha causa que ele propôs uma atividade bem especial: os quase 100 membros do grupo de jovens se dividiriam em grupos de 10 e nesses grupos cada um relataria todas as experiências espirituais, de mediunidade, que já tiveram. No final as histórias mais impressionantes de cada grupo seriam relatadas para todos.

Não me lembro se para participar da brincadeira eu contei a minha história do livro ou se me limitei a encher o saco de todo mundo. O fato é que todo mundo em meu grupo tinha uma história. Alguns falavam meio constrangidos, como se eles mesmos duvidassem do que contavam, mas não quisessem passar pelo vexam de não ter nada para contar. Outros conseguiam disfarçar melhor, falar com desnvoltura, com convicção. As histórias contadas, porém, deixaram muito a desejar.

Eram todas histórias altamente questionáveis. Eram relatos de momentos em que a pessoa se sentia observada, e estava convicta de que a sensação era provocada por algum espírito. Relatos de pessoas que ouviam vozes. Relatos da visão de vultos na janela, que quando a pessoa olhava esses vultos sumiam. A história mais interessante que ouvi em meu grupo foi de alguém que falou sobre uma porta que bateu e um copo que caiu (aparentemente sem motivo) e se quebrou. Mas todos, todos eles juravam que suas experiências tinham sido provocadas por espíritos. Quando eu fazia perguntas sobre se aquelas manifestações não poderiam ter sido causadas pelo vento ou se as vozes e os vultos avistados não poderiam pertencer a pessoas vivas meus interlocutores ficavam irritados. Houve apenas uma pessoa entre as dez que reconheceu que nunca lhe tinha acontecido nada de sobrenatural. Uma em dez, e a definição de sobrenatural ali incluía até portas batendo!

Na seleção dos melhores entre os melhores fenômenos sobrenaturais ao fim da primeira etapa a situação não melhorou muito. Só houve uma única história interessante com visão direta de espíritos, mensagens do além, materialização, objetos se mexendo... Enfim, uma verdadeira superprodução de Hollywood. Mas aquela pirotecnia não me convenceu. Eu já tinha tirado uma conclusão. As pessoas queriam acreditar que  eram médiuns. Acima de tudo, elas queriam que os outros acreditassem nelas. Alguns até acabavam se convencendo, da mesma forma que eu, por algum tempo, tinha me convencido de que eu também tinha tido meu contato com o além. O tiro que me deram saiu pela culatra, pois eu saí dali naquele dia disposto a nunca mais voltar. O espiritismo para mim acabou ali.

Offline Luis Dantas

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #7 Online: 18 de Junho de 2007, 09:07:40 »
Espiritismo... :(
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Suyndara

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #8 Online: 18 de Junho de 2007, 09:37:39 »
Não é por nada não, mas quando comecei meu tratamento para enxaqueca todos os "espíritos" desapareceram  ::) ::) ::)


Offline Nina

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #9 Online: 18 de Junho de 2007, 14:04:02 »
Willy, (Gabriel - só para quem não sabe quem é o Gaybriel)...

Disse tudo... exatamente a mesma impressão eu tive nos meus anos de espiritismo...

E o que mais me irrita nos espiritões é a noção de que apenas eles detém uma moral e que são superiores a todos os outros mortais. Eles se acham muito, pois por suas próprias definições, são mais evoluídos!
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline uiliníli

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #10 Online: 18 de Junho de 2007, 17:04:41 »
É a "meriticracia" do espiritismo... Eles não pregam abertamente que são melhores do que os outros, mas que se sentem os melhores, alguns deles se sentem.

Offline Tash

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #11 Online: 18 de Junho de 2007, 17:10:18 »
É a "meriticracia" do espiritismo… Eles não pregam abertamente que são melhores do que os outros, mas que se sentem os melhores, alguns deles se sentem.

Bom, só aquele papo de "espíritos mais evoluídos" já deixa isso bem claro, qualquer degrauzinho que sobem dentro da comunidade espírita, já acham que são melhores que todo o resto não-espírita.

Offline Alenônimo

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #12 Online: 18 de Junho de 2007, 21:53:12 »
Auto-sugestão. Eu fui criado no espiritismo quando criança, freqüentei um centro espírita até cerca de 12 anos. Os espíritas dizem que todo mundo é médium, mas uns são mais e outros são menos. Não preciso nem dizer que níveis elevados de mediunidade significam também um status elevado dentro do grupo…

No meu centro espírita havia uma menina, só um pouco mais velha do que eu, que toda semana aparecia com uma história nova para contar sobre os espíritos que ela viu durante a semana, o que eles fizeram, o que eles falaram, naturalmente a garota era o centro das atenções, todo mundo ficava admirado com seu alto grau de mediunidade, todo mundo - eu inclusive - queria ser igual a ela. Se bem que eu tinha um pouquinho de medo dessas coisas também… Mas invejava a garota, invejava o quanto todo mundo dava atenção a ela.

Na verdade eu era muito medroso quando criança, e em parte o espiritismo é um grande responsável por isso. Eu tinha medo de dormir no escuro, porque tinha medo de algum espírito aparecer. Claro que se existissem realmente espíritos e um deles quisesse aparecer para mim, não seria uma lâmpada acesa que iria lhe impedir, mas de certa forma eu me sentia mais seguro na claridade. Uma certa noite eu tive dificuldades em conseguir dormir, tive uma insônia. Fiquei na cama, de olhos abertos, morrendo de sono, mas sem conseguir dormir.

Não tenho certeza se finalmente adormeci e sonhei ou se minha imaginação me pregou uma peça, mas tive a impressão de que apareceu um livro no teto, fixo, como se grudado na parede. O livro se abriu e as páginas começaram a passar, mas estava muito longe e as letras eram muito pequenas para eu identificar o que estava escrito. A única coisa que reconheci foi uma ilustração em uma página, era a inconfundível foto de Allan Kardec, igualzinha à que aparecia na contra-capa da edição de "O Livro dos Espíritos" que meus pais tinham em casa. Surpreendentemente, porém, aquilo não me causou estranheza nenhuma, enquanto durou aquela cena eu não me dei conta de que livros no teto não são coisas comuns. Eu demorei um pouco para me dar conta de que tinha alguma coisa estranha acontecendo. Quando me dei conta disso eu só virei para o lado e dormi.

A princípio eu não acreditava que aquilo que vi naquela noite tivesse algum significado. Só depois que acordei que, no dia seguinte, que me lembrei daquilo e vi que tinha uma história poderosa nas minhas mãos… No próximo Domingo cheguei todo orgulhoso ao Centro Espírita, era o meu dia de glória, era a minha vez de aparecer com uma história para contar, era a minha vez de ser admirado pelo grupo. Contei a história toda. Aumentei um pouquinho também… Cheguei a me convencer de que o que se passara foi um contato com o mundo dos espíritos, e não obra de sonho ou imaginação. Ao final do meu relato minha "professora" me disse que provavelmente aquilo teria sido um sinal, que um dia talvez eu psicografaria livros. Fiquei radiante, todo mundo me olhando… Acabara de subir na hierarquia social.

Os espíritas formam um grupo altamente "meritocrático". Todos acreditam que reencarnaram centenas ou milhares de vezes e que carregam consigo toda uma bagagem evolutiva. Infelizmente nós não nos lembramos das encarnações passadas, não sabemos o quão evoluídos nós somos. O que sabemos é que somos seres humanos imperfeitos. Há toda uma pressão social, uma hierarquia invisível na qual você não sabe em que ponto da pirâmide exatamente você está. Todos ao seu redor estão jogando um jogo de aparências, querem parecer o mais evoluídos possível. Não sabemos os podres dos outros, mas os nossos podres nós sabemos. Naturalmente, então ficamos em uma posição de desvantagem, todos parecem perfeitos, exceto nós mesmos… Eu sabia de todas as coisas ruins que eu tinha feito, de todos os pensamentos ruins que tinha tido, e isso só me fazia me sentir inferiorizado, inseguro, tímido…

Ter um dom, uma mediunidade, por outro lado, muda as coisas de figura. Se você é médium é porque você é especial. As pessoas já te olham de outro jeito, já te respeitam como se você fosse um intermediário entre Deus e eles - e para os espíritas é isso mesmo que você é. Lá fiquei eu então, esperando o meu dom se manifestar, esperando a mediunidade aparecer, esperando… esperando… Mas ela não vinha. Àquela altura eu acreditava que o vi naquela certa noite tinha sido obra de espíritos, mas me batia uma ponta de dúvida se não teria sido um sonho afinal.

Bom, passou bastante tempo e minha mediunidade não se manifestou, e enquanto isso eu começava a me interessar por outras coisas. Assistia O Mundo de Beakman, lia Superintessante (naquele tempo ela ainda tinha qualidade) e comecei a me interessar pelos livros e pelo pensamento de Carl Sagan. Aprimorei meu raciocínio crítico, descobri o que era o ceticismo, o que era ciência e o que era pseudociência - e começava a encontrar no espiritismo cada vez mais sintomas de pseudociência. Tinha chegado à conclusão de que a minha ilusão com um livro não foi nada mais do que uma ilusão provocada pelo sono e que o único motivo que tinha me levado a pensar outra coisa foi minha vontade de me sentir especial. Tinha também começado o processo irreversível que me levaria ao ateísmo.

Antes disso, porém, o efeito imediato desse banho de ciência e racionalismo foi eu me tornar mais questionador, fazia muitas perguntas incômodas e freqüentemente deixava os palestrantes do grupo de jovens sem respostas. A coisa que eu mais ouvia deles era que nós, humanos, não somos evoluídos o suficiente ainda para entender os desígnios de Deus. Claro que essas respostas não me satisfaziam e cada vez mais eu comecei a achar que o espiritismo não tinha as respostas que eu queria, que era apenas uma fé arbitrária, que mesmo que os espíritos existissem e se comunicassem com os médiuns, quem poderia garantir que eles não estavam mentindo? Quem poderia grantir que os médiuns não estivessem mentindo?

Em um certo momento eu acreditava em Deus, mas não mais no espiritismo. Falei para minha mãe que não queria mais voltar ao centro espírita. Ela não gostou da minha decisão, mas por duas semanas não precisei ir até o centro. Não me lembro bem o que foi que aconteceu, mas acho que fiz alguma cagada nesse meio tempo e minha mãe me disse que isso era porque eu tinha deixado de ir ao centro e que eu ia ter que voltar. Ela teve uma conversa com o palestrante do grupo de jovens antes e na semana seguinte, quando eu voltei parecia que ele tinha preparado algo especial para mim… Parecia que ele queria me provar que o espiritismo era verdadeiro e com isso me dar provas bem concretas. Bom talvez aquilo não tivesse sido programado para mim, eu não sou tão importante assim, mas naquele dia e ainda hoje me parece que foi por minha causa que ele propôs uma atividade bem especial: os quase 100 membros do grupo de jovens se dividiriam em grupos de 10 e nesses grupos cada um relataria todas as experiências espirituais, de mediunidade, que já tiveram. No final as histórias mais impressionantes de cada grupo seriam relatadas para todos.

Não me lembro se para participar da brincadeira eu contei a minha história do livro ou se me limitei a encher o saco de todo mundo. O fato é que todo mundo em meu grupo tinha uma história. Alguns falavam meio constrangidos, como se eles mesmos duvidassem do que contavam, mas não quisessem passar pelo vexam de não ter nada para contar. Outros conseguiam disfarçar melhor, falar com desnvoltura, com convicção. As histórias contadas, porém, deixaram muito a desejar.

Eram todas histórias altamente questionáveis. Eram relatos de momentos em que a pessoa se sentia observada, e estava convicta de que a sensação era provocada por algum espírito. Relatos de pessoas que ouviam vozes. Relatos da visão de vultos na janela, que quando a pessoa olhava esses vultos sumiam. A história mais interessante que ouvi em meu grupo foi de alguém que falou sobre uma porta que bateu e um copo que caiu (aparentemente sem motivo) e se quebrou. Mas todos, todos eles juravam que suas experiências tinham sido provocadas por espíritos. Quando eu fazia perguntas sobre se aquelas manifestações não poderiam ter sido causadas pelo vento ou se as vozes e os vultos avistados não poderiam pertencer a pessoas vivas meus interlocutores ficavam irritados. Houve apenas uma pessoa entre as dez que reconheceu que nunca lhe tinha acontecido nada de sobrenatural. Uma em dez, e a definição de sobrenatural ali incluía até portas batendo!

Na seleção dos melhores entre os melhores fenômenos sobrenaturais ao fim da primeira etapa a situação não melhorou muito. Só houve uma única história interessante com visão direta de espíritos, mensagens do além, materialização, objetos se mexendo… Enfim, uma verdadeira superprodução de Hollywood. Mas aquela pirotecnia não me convenceu. Eu já tinha tirado uma conclusão. As pessoas queriam acreditar que  eram médiuns. Acima de tudo, elas queriam que os outros acreditassem nelas. Alguns até acabavam se convencendo, da mesma forma que eu, por algum tempo, tinha me convencido de que eu também tinha tido meu contato com o além. O tiro que me deram saiu pela culatra, pois eu saí dali naquele dia disposto a nunca mais voltar. O espiritismo para mim acabou ali.

Esse texto, com minúsculas alterações, poderia ser publicado como um verdadeiro artigo cético. Parabéns! :ok:
“A ciência não explica tudo. A religião não explica nada.”

Offline uiliníli

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #13 Online: 19 de Junho de 2007, 00:11:21 »
Sinta-se a vontade se quiser publicar em algum lugar, Alê.

Offline Leafar

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #14 Online: 23 de Junho de 2007, 14:43:37 »
Willy, (Gabriel - só para quem não sabe quem é o Gaybriel)…

Disse tudo… exatamente a mesma impressão eu tive nos meus anos de espiritismo…

E o que mais me irrita nos espiritões é a noção de que apenas eles detém uma moral e que são superiores a todos os outros mortais. Eles se acham muito, pois por suas próprias definições, são mais evoluídos!
De tudo o que li, ao que me parece, vocês se decepcionaram com os espíritas. Mas não ficou claro para mim se essa decepção se estenderia ao Espiritismo. Todo espírita que se preze, ao invés de buscar fenômenos que satisfaçam só aos 5 sentidos, deveria estudar e buscar respostas, em todas as fontes possíveis  para as questões existenciais. E como espíritas deveriam, pelo menos uma vez na vida, ler os livros de Allan Kardec como uma dessas fontes de consulta. Por curiosidade, quantas vezes cada um de vocês os leu enquanto eram espíritas? Pelo menos o LE foi lido?

O meu caso foi o oposto do de vocês. Eu não passei a minha vida infurnado num centro e nunca procurei fenômenos. Também nunca presenciei algum. Na realidade eu não freqüento um centro até hoje, pois o trabalho e outras ocupações me tomam muito tempo. Mas sempre busquei um significado para a vida, uma explicação para a existência, e nesse emaranhado de opiniões justas e falsas, de religiosos, ateus e céticos, eu encontrei no Espiritismo (e não nos espíritas) as que melhor me satisfaziam a razão, além de satisfazer ao coração. Nunca quis ser médium, mas gosto de examinar opiniões, comunicações, para avaliar o seu valor, se são justas ou se são falsas, descobrir quem fala a verdade, quem mente e quem se engana, e até que ponto.

Eu considero o Espiritismo apenas uma fonte de explicações, que em princípio não teria mais autoridade que as outras. A única autoridade que respeito é a dos argumentos e por enquanto respeito o Espiritismo pelos seus. Parece que vocês esperavam algo mais do Espiritismo e por isso se decepcionaram. A culpa não é do Espiritismo, mas de vocês que não compreenderam a sua proposta e inconscientemente exigiram dele aquilo que ele nunca prometeu dar, e que não deu.

De uma forma ou de outra, pelo que li, vocês nunca teriam sido espíritas, ainda que tivessem conhecido bem o Espiritismo e sua proposta, pois suas expectativas são diferentes. Só escrevo isso para que entendam que jamais foram enganados pelo Espiritismo, embora possam ter se enganado com os espíritas.

Não vou me estender mais, pois esse tópico está interditado aos espíritas e eu não quero invadir além do que já o fiz.

Vou guardar o relato, de qualquer forma, pois me será útil como exemplo de demonstração das diferenças existentes entre uma filosofia ou religião e seus adeptos.

Um abraço.
"Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento, que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte.... Queremos lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à morte." (Obras Póstumas - Allan Kardec).

visite: http://conviccao-espirita.blogspot.com/2013/08/apresentacao-deste-blog.html

Offline uiliníli

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #15 Online: 23 de Junho de 2007, 15:32:28 »
Leafar, o caso comigo é que não fui eu quem procurei o espiritismo. Meus pais não me perguntaram se eu gostaria de ser espírita, católico, protestante oe ateu antes de começarem a me levar para o centro, eles simplesmente me levavam lá e pronto, esperavam que eu fosse educado para me tornar espírita.

Se eu já li o Livro dos Espíritos? Não, nunca li, pelo menos não inteiro. Tudo o que li dele foram trechos selecionados em seções de evangelização ou leituras realizadas na minha família. A verdade é que nunca me interessou ler o Livro dos Espíritos nem qualquer leitura relacionada, então de certa forma você está certo, pode-se dizer que e nunca fui um espírita, no mesmo sentido que se poderia dizer sobre um cristão que nunca leu nem se interessou por ler a Bíblia.

A história que eu contei é um relato pessoal sobre a minha experiência com o espiritismo. A sua experiência com esa religião pode ser completamente oposta à minha, mas uma não invalida a outra, afinal, são questões pessoais. Eu achei relevante contar a minha história porque achei que contribuiria com tema que está em discussão neste tópico que é o que leva alguém a dizer que vê ou ouve espíritos.

Segundo o seu ponto de vista, de alguém que acredita na realidade física dos espíritos, suponho que você acredite que pelo menos uma parte das pessoas que alegam ter visto ou ouvido espíritos realmente tenha os visto. Nós, céticos, entretanto, buscamos uma explicação natural para esses relatos. Do meu ponto de vista, alguns entre esses relatos podem ser conseqüência de esqizofrenia, como já havia sido mencionado anteriorente ao meu post, mas eu acho que deve haver uma quantidade relevante de pessoas que são levadas a presenciar fenômenos paranormais pela auto-sugestão e citei como exemplo meu próprio caso e o das pessoas com que convivi quando ainda era espírita.

Se as minhas impressões pessoais, frustrações e decepções invalidam o espiritismo? Claro que não, da mesma forma que experiências mais bem sucedidas com essa religião, como a sua, não o validam. Pode até ser que se eu tivesse me interessado mais por leituras como a do LE eu não teria abandonado a evangelização, pode até ser que eu tenha saído da religião pelos motivos errados, ou no momento errado sei lá.

O importante é que hoje eu me sinto muito feliz por ter abandonado essa religião. Ela fazia mal para mim, não satisfazia minha cabeça nem o meu coração, como satisfaz os seus. À cabeça porque me sinto mais apto a distingüir a verdade da mentira sendo cético do que seria se fosse religioso, afinal, o cético é quem não acredita até ser convencido, o religioso acredita primeiro - e uma vez que ele já acredita qualquer coisa lhe convence.

Ao coração porque o espiritismo só me trazia inqietação, culpa e angústia, nunca paz e conforto. Fui uma criança tímida, insegura e medrosa. O meu livro preferido é 1984, de George Orwell, que eu li naquela época e quando o li eu senti que aquilo ali era a história da minha vida: eu vivia sob constante vigilância de um bicho-papão invisível todo-foderoso que tinha registrado todos os meus pensamentos, todos os meus erros, todas as coisas ruins (e até as coisas que não eram de modo algum ruins, mas me faziam acreditar que eram) que eu já tinha feito, não apenas nessa vida, mas em todas as outras. Eu ficava neurótico querendo ser a criatura mais perfeita de toda a criação, mas o que eu era (e ainda sou) era um ser humano fraco de carne e osso que mal tinha começado a viver, mas tinha que carregar o peso de toda essa doutrina de arrependimento e missão e pagar pelos erros nas costas. Algumas pessoas vêem no espiritismo uma doutrina de amor, fraternidade, aprendizado, mas, bem, eu não sou uma delas. Quem pode me culpar por isso?

Da mesma forma, às pessoas que encontram paz e conforto no espiritismo (ou em qualquer outra fé religiosa) tudo o que desejo é que continuem levando suas vidas felizes. Afinal, como não há nada que me tenha convecido da existência de vida após a morte, como estou, por conta disso, mais inclinado a pensar que não existe tal coisa, eu considero de suma importância que nessa nossa única vida sejamos pessoas felizes o máximo possível. Se o espiritismo ou algum outro ismo tem um papel importante para algumas pessoas nessa busca pela felicidade e se não interfere negativamente na felicidade de terceiros como eu poderia me opor a isso?

Offline Leafar

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #16 Online: 23 de Junho de 2007, 23:15:58 »
Perfeitamente, Willy Nilly. A sua descrença é legítima e longe de mim questionar isso.

E quando somos crianças temos que ir para onde nossos pais vão, não tem jeito. Só após certa idade é que começamos a seguir o próprio nariz. Não os culpe por ser obrigado a suportar uma situação indesejada, pois com certeza eles o fizeram pensando no seu bem, segundo as convicções que eles tinham na época. Cada um procura fazer o melhor que pode.

Um abraço.
"Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento, que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte.... Queremos lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à morte." (Obras Póstumas - Allan Kardec).

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Offline uiliníli

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #17 Online: 23 de Junho de 2007, 23:17:05 »
:ok:

Offline Daniboy

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #18 Online: 24 de Junho de 2007, 17:34:04 »
Acho impressionante o meu respeito por pessoas com religiõs secundárias no Brasil, quando eu era jovem claro, agora não respeito a opinião de nenhum religioso sobre o assunto.
"Afirmar que "Deus fez isso" não é nada mais do que uma admissão de ignorância vestida enganadoramente como uma explicação."
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"Sou ateu apenas porque Deus não existe. Se existisse e fosse como dizem as religiões, eu o odiaria!"

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Offline FZapp

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #19 Online: 25 de Junho de 2007, 07:35:28 »
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Uma pessoa a quem perguntei disse que achava que era simples folclore
religioso brasileiro, mas sempre resta o fato de muitas vezes esses
relatos partirem de pessoas com as características que mencionei, sem
prática religiosa ou espiritualista.

Não sei o que exatamente quis dizer com isso, mas ninguém é 'sem prática religiosa ou espiritualista'. Tanto questões religiosas quanto noções sobre a vida após a morte surgem espontaneamente.

No caso de relatos de espíritos, devem acontecer desde a primeira fogueira até hoje. A diferença é que hoje vc não precisa fazer uma fogueira, é só ligar a TV e assistir qualquer novela da Globo...

--
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de esto naides nos responde;
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Offline Nina

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #20 Online: 25 de Junho de 2007, 12:43:29 »
Citar
Uma pessoa a quem perguntei disse que achava que era simples folclore
religioso brasileiro, mas sempre resta o fato de muitas vezes esses
relatos partirem de pessoas com as características que mencionei, sem
prática religiosa ou espiritualista.

Não sei o que exatamente quis dizer com isso, mas ninguém é 'sem prática religiosa ou espiritualista'. Tanto questões religiosas quanto noções sobre a vida após a morte surgem espontaneamente.

No caso de relatos de espíritos, devem acontecer desde a primeira fogueira até hoje. A diferença é que hoje vc não precisa fazer uma fogueira, é só ligar a TV e assistir qualquer novela da Globo…



Pois é... tão velho como o uso de alucinógenos...
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline Alegra

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #21 Online: 25 de Junho de 2007, 12:55:26 »
É a "meriticracia" do espiritismo… Eles não pregam abertamente que são melhores do que os outros, mas que se sentem os melhores, alguns deles se sentem.

Bom, só aquele papo de "espíritos mais evoluídos" já deixa isso bem claro, qualquer degrauzinho que sobem dentro da comunidade espírita, já acham que são melhores que todo o resto não-espírita.

Também não dou conta. Então com isso tudo junta o tal "fora da caridade não há salvação".....   :nojo:  Me poupem...  :sleepy:
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

APODman

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #22 Online: 25 de Junho de 2007, 13:07:02 »
É a "meriticracia" do espiritismo… Eles não pregam abertamente que são melhores do que os outros, mas que se sentem os melhores, alguns deles se sentem.

Bom, só aquele papo de "espíritos mais evoluídos" já deixa isso bem claro, qualquer degrauzinho que sobem dentro da comunidade espírita, já acham que são melhores que todo o resto não-espírita.

Também não dou conta. Então com isso tudo junta o tal "fora da caridade não há salvação"…   :nojo:  Me poupem…  :sleepy:

Caridade no vocabulário espírita: assistencialismo barato.

Raramente existe alguma obra espírita que não seja meramente assistencialista, "dão o peixe mas não ensinam a pescar", o que seria muito mais útil.

( Além do mais a questão se a salavação prove unicamente pela fé ou pelas obras ( caridade ) é um debate em aberto e que divide as correntes cristãs os evangelhos são contraditórios neste ponto ).

[ ]´s

APODman

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #23 Online: 25 de Junho de 2007, 13:09:50 »
É a "meriticracia" do espiritismo… Eles não pregam abertamente que são melhores do que os outros, mas que se sentem os melhores, alguns deles se sentem.

Bom, só aquele papo de "espíritos mais evoluídos" já deixa isso bem claro, qualquer degrauzinho que sobem dentro da comunidade espírita, já acham que são melhores que todo o resto não-espírita.

Ainda tem comunidade no Orkut que promove a possibilidade da idéia de um "Socialismo Espírita".   

A única politica social que existira sob um julgo teocrático espírita seria a de um sistemas de castas indiano. :p

[ ]´s


Offline Nina

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Re: Espíritos e pessoas, opiniões…
« Resposta #24 Online: 25 de Junho de 2007, 13:13:49 »
É a "meriticracia" do espiritismo… Eles não pregam abertamente que são melhores do que os outros, mas que se sentem os melhores, alguns deles se sentem.

Pois é... na minha família ainda tem gente que aparece com uns relatos bizarros quando precisa chamar a atenção... depois que nós debatemos em "assembléia familiar" sobre o assunto, ficou claro que era carência mesmo... agora a pessoa arruma outras formas de chamar a atenção, já que não deu certo com as balelas regiliosas... volta e meia apronta uma, mas "médium" nunca mais foi...  :P

Mas comentando um pouco sobre a questão de se decepcionar com os espíritas e não com o espiritismo, a defesa do Leafar...

Eu li sim a biblioteca básica* dos espíritas, estudei em centro, estudei em grupo familiar... quando eu era adolescente me puseram numa turma de adultos avançados (para ter idéia, junto com minha avó, que é espírita desde sempre e "filha de médium") pois o grupo de jovens era muito fraco em fundamentos perto do que eu já tinha lido e estudado até a época...

Quando cheguei a primeira vez ao centro que meus pais mais frequentaram (este mesmo do relato anterior) o dirigente (um homem de quem gosto muito, muito respeitado, apesar de estar enganado sobre quase tudo) me deu as boas vindas com algo do tipo: "...há quanto tempo! Estava ansioso por te rever..." (eu nunca o tinha visto mais gordo na vida...), claro, fazendo alusão a outra vida!

Para os meus pais ele dizia que "um dia eu iria comandar o centro, que eu seria uma grande líder..."  :o

Eu não me decepcionei pessoalmente mais com os espíritas do que com qualquer tipo de crente. Mas a doutrina espírita para mim é mais pobre do que a de muitas crenças cristãs. É muito bonitinha à primeira vista, mas não passa no mais simples teste de lógica. Algo que se camufla de doutrina "redentora", "libertadora", na verdade ceifa mais do que as igrejas pentecostais (naquelas onde não se pode nem cortar o cabelo). O cabresto do espiritismo é mais curto que o de muitas seitas que proíbem cafezinho ou transfusão de sangue, porque ele te mantém cativo dia-a-dia, passivo e iludido de que você é especial porque é espírita.

A doutrina não só te diz que você deve aceitar o que está passando, como outras também fazem, mas nega qualquer possibilidade de justiça, pois você é culpado de tudo a priori. Geralmente ao menos a justiça as outras religiões prometem te dar no pós-vida. Talvez isso não fosse problema se eles pudessem provar a fenomelogia que dizem existir... mas não podem.

Outra coisa que me incomoda e sempre me incomodou na doutrina é a camuflagem de "caridoso, bonzinho e humano" que o espírita quer possuir... mas a regilião toda é baseada no egoísmo. Você faz o bem para pagar seus erros, você faz caridade para obter salvação, você cuida do mundo porque um dia vai re-encarnar. Sempre se faz o bem para receber o benefício... nunca é algo altruísta (na acepção real da palavra e não nos significados de dicionários pessoais... :ok: - se não tudo vira discussão semântica - portanto, ver dicionário...).

E claro, o mais pobre de tudo é tentar usar a ciência para provar algo que deveria ser baseado em fé e "mudar de idéia" sobre dados científicos a medida em que a ciência avança, quando estas informações deveriam ter sido passadas por espíritos "superhipermegaevoluídos". Se for para fazer "revelação" do que já está publicado, para quê gastar tempo e energia em "comunicações espíritas"? É melhor ler as revistas científicas, oras.  8-)

Isso sem falar no preconceito e racismo explícito em livros como o próprio Evangelho Segundo o Espiritismo ou em obras como Exilados de Capela.  :nojo:

______
*como eles ganham dinheiro para caramba lançando livrinhos com romance espírita e de auto-ajuda, é difícil limitar isso, mas eu falo do que praticamente todo espírita já deve ter tido como recomendação: a coleção do prórpio Kardec e mais os livros do André Luiz (Nosso Lar e subsequentes), além de outras literaturas pontuais de diversos autores.
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

 

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