Dantas,
O Espiritismo, como todos sabem, se desdobra em pontos de vista científico, filosófico e religioso. Em alguns casos o aspecto científico e filosófico, ou filosófico e religioso se confundem, mas existem esses três aspectos.
Os centros espíritas podem preferir privilegiar esses três aspectos igualmente, ou podem preferir privilegiar um ou dois em particular. Por exemplo, instituições como a da Sônia Rinaldi, ou como o Ian Stevenson e vários outros privilegiam mais o aspecto científico e de pesquisa. Não se vai ao centro deles para ouvirem-se palestras, receberem conselhos, etc... O negócio lá é só pesquisa e outras atividades causariam distúrbios. Tudo bem que dirão "o Dr. Ian Stevenson não era espírita...". Ok, mas o trabalho que realizava interessa ao Espiritismo e para nós é como se fosse mais um centro em que se privilegia o aspecto científico da doutrina.
Já outros centros, por falta de recursos (intelectuais ou financeiros), ou mesmo por falta de interesse, decidem privilegiar o aspecto moral da doutrina, ou seja, a parte religiosa. Esses centros são maioria. Já disse que ninguém é obrigado a saber ou a fazer tudo. As experiências são feitas em vários lugares e os centros que não fazem experiências científicas aproveitam-se dos resultados daqueles que as realizam. Esses outros centros preferem concentrar-se sobre aquilo que já consideram como fato (ou dogma, no sentido de princípio, como queira), ou seja, a existência dos espíritos, a reencarnação, a pluralidade dos mundos, etc... e a partir disso desenvolver as conseqüências morais desse estado de coisas. Podem querer se aprofundar ou não sobre as polêmicas que giram em torno sobre como e quando se processa a reencarnação, por exemplo. Alguns dizem que é na concepção, outros que durante a gestação, outros que na hora do nascimento e outros ainda dizem que pode se processar mesmo após o nascimento.
O fato é que a reencarnação ocorre e o centro pode não querer ir além disso, por falta de embasamento. Então, qualquer controvérsia a respeito sobre como ela se opera pode não ser permitida dentro do campo de estudos do centro, assim como a discussão de física nuclear não é assunto de discussão de quem estuda física básica. A discordância não é proibida, a dúvida não é proibida, mas o debate pode não ser apropriado por não ser de especialidade ou de interesse do centro.
E há, claro, aquelas perguntas que já obtiveram respostas mas o consulente não se satisfaz ou não concorda de jeito nenhum. Quanto a esses casos, não tem jeito. Se a discordância for pequena, o jeito é contorná-la. Se a discordância for grande, o melhor é o consulente procurar outro centro, ou mesmo até outra filosofia que o satisfaça. O centro não mudará de opinião só porque um consulente não se sente satisfeito com as respostas dadas, e o consulente não é obrigado a satisfazer-se com o ponto de vista da casa. Devemos nos lembrar que as casas espíritas não são também perfeitas e pode ser que as respostas nem mesmo estejam em concordância absoluta com a doutrina espírita. Podemos deixar claro nossas discordâncias, mas devemos respeitar as opiniões da casa.
Espero que esteja melhor satisfeito com as colocações, que já me estendi além do que gostaria.
Um abraço.