O cachorro faz parte da sociedade?
Sim. A partir do momento que o domesticamos ele faz parte de nossa sociedade, embora não no mesmo grau hierárquico que nós ocupamos.
Posso concordar com isso.
Sociedade é uma instituição humana, um animal, por mais útil que seja e por mais que o amemos legitimamente, em termos de participação na sociedade está numa posição intermediária entre uma chave de fenda e uma pessoa.
E os indivíduos que atiraram nos pobres animais? Em qual posição eles estão?
E os estupradores e os latrocidas? Como voce os classificaria?
O ato de matar um animal é algo ambíguo na nossa sociedade. Com exceção dos vegetarianos, poucas pessoas se sensibilizam com o "assassinato" de uma vaca ou uma galinha. Os cães gozam de um status superior na nossa cultura, mas há partes do mundo em que eles servem de alimento. Sendo assim, é difícil falar de forma absoluta nesse caso. Claro que se pode argumentar que matar um animal com a finalidade de usá-lo como alimento é um motivo mais nobre do que o que os bandidos tiveram, mas como em se tratando de seres humanos o assassinato não é desculpado nem mesmo como forma de alimento (pelo contrário, consideraríamos o canibalismo um agravante, em vez de um atenuante), fica claro que matar uma pessoa é considerado algo bem diferente de matar um animal.
Quanto ao estuprador, o latrocida, e outras pessoas que fazem mal a outros seres humanos, claro que eles são uma grave ameaça à segurança de outras pessoas e devem ser punidos e mantidos separados dos demais. Mas eles ainda têm direitos. Quantos e quais são esses direitos, claro, depende do consenso que a sociedade mantém sobre o modo como trata seus criminosos, mas acho que concordamos que há sociedades mais ou menos "bárbaras" nesse sentido. Como disse Nelson Mandela, o grau de civilidade de uma cultura pode ser avaliado por como ela trata seus prisioneiros.
Outra coisa, o ser humano não existe para servir à sociedade, é a sociedade que serve ao modo de vida do ser humano.
Depende. Se voce estiver se referindo à sociedade como o conjunto dos seres humanos que sofrem nas mãos de um punhado de mal-feitores, eu não concordo.
Idealmente, nenhum indivíduo deveria sofrer nas mãos de qualquer número de outros indivíduos. Isso deveria incluir tanto os cidadãos de bem quanto as malfeitores. Claro que é razoável que haja um contrato social que preveja a punição desses malfeitores, mas esse contrato social não pode passar por cima dos direitos fundamentais do ser humano, não importa o que esse ser humano tenha feito. Falar é bem mais fácil do que fazer, eu reconheço, eu também comemorei quando o Bin Laden foi assassinado, mas pensando friamente, a coisa certa a se fazer é se preservar essas convenções sobre esses direitos.
O bem estar da sociedade não pode servir de justificativa para violar os direitos fundamentais do ser humano, por pior que ele seja.
Quando o cenário não representa uma situação-limite é muito fácil apoiar tal assertiva. Do contrário, há que se ter muita, mas muita, calma e extrema racionalidade.
Eu não sou nem mais calmo e nem mais racional do que você na maior parte do tempo. No meu íntimo, haverá vezes em que eu vou pedir sangue. Mas eu creio que se não conseguirmos manter a calma e a racionalidade nem nos tempos em que não estamos tão pessoalmente envolvidos, em que tipos de monstros nós vamos nos transformar nessas situações mais desafiadoras?
Embora eu não seja objetivista, ninguém falou melhor que Ayn Rand sobre isso: Direitos individuais não estão sujeitos a voto, uma maioria não pode decidir eliminar os direitos de uma minoria, a função dos direitos é justamente o de protegê-las e a menor minoria que existe é o indivíduo.
Embora eu não seja especialista em direito, eu só posso afirmar uma coisa: Isto é socialmente aceitável se o indivíduo em questão não tiver violado o direito fundamental de alguém. E, como em qualquer país democrático, quem acaba decidindo é a maioria, simples e infelizmente.
Eu creio que você está errado. Também não sou especialista em direito, mas creio que em princípio nosso código penal ao menos faz algum esforço para não violar os direitos humanos dos cidadãos, por piores que eles sejam. Às vezes ele até exagera nessa proteção, mas é melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
Pois é, eu me reservo o direito de me indignar e não lamentar se um sujeito desse bate as botas, isso é diferente de eu sair por aí matando esses vagabundos! Eu não tiraria a vida de um infeliz desses, pois isso me faria igual a eles, e não desejar que a sociedade fique melhor sem esses bandidos...
Eu sei que você não mataria, Contini, nem você e nem ninguém aqui, ou pelo menos assim espero.
Não avalie de modo tão otimista os outros porque eu duvido que a maioria, para não dizer quase todos aqui, jamais passou por uma situação-limite de vida ou morte, com a exceção do Diegojaf.
Pelo Diego ter um trabalho que exige dele que proteja a sociedade com o direito do uso da força, inclusive letal quando necessária, exige-se dele também uma frieza e uma responsabilidade acima da média. Um policial que executa um bandido sem absoluta necessidade para defender a sua vida ou a dos outros é expulso da corporação e é considerado criminoso. O Brasil tem um grande histórico de violência policial e violência policial não é melhor que violência criminal.
Mas estou falando que devemos ter cuidado para não nos convencermos dessas conclusões que tiramos em momentos de revolta, que é muito perigoso quando decidimos que alguns seres humanos valem menos que um animal.
E não valem menos?
Que tipo de evento voce precisa passar para se convencer disto?
Eu creio que eu valerei menos que um animal se eu tratar um criminoso como se ele valesse menos que um animal. Eu serei um criminoso como ele, eu estarei agindo de uma forma que eu não tenho direito de agir, essa não é a definição de criminoso?
Nós abatemos animais aos milhões todos os dias.
Sim, inclusive aqueles que nunca representaram nenhum tipo de ameaça para nós.
Ou seja, nós, agindo em grupo e determinados, é que somos uma ameaça para o que que esteja em nosso caminho, inclusive outros de nós.
Não creio que seja desumanização, mas como o Contini colocou, quem trabalhou mais em benefício da sociedade? Um cachorro (sendo um com 8 anos de "serviço") ou o cara que atirou nele?
Você pode sinceramente dizer que foi o atirador?
O cachorro faz parte da sociedade? Sociedade é uma instituição humana, um animal, por mais útil que seja e por mais que o amemos legitimamente, em termos de participação na sociedade está numa posição intermediária entre uma chave de fenda e uma pessoa.
Não foi isso que disse, quero que você responda a pergunta, objetivamente.
Não preciso responder a uma pergunta que considero que não faz sentido. Sua resposta é "não se aplica". Os direitos humanos não são uma função do quanto um ser humano é útil para a sociedade, são direitos absolutos e inalienáveis, ou pelo menos essa é a minha fé.
Outra coisa, o ser humano não existe para servir à sociedade, é a sociedade que serve ao modo de vida do ser humano. O bem estar da sociedade não pode servir de justificativa para violar os direitos fundamentais do ser humano, por pior que ele seja. Embora eu não seja objetivista, ninguém falou melhor que Ayn Rand sobre isso: Direitos individuais não estão sujeitos a voto, uma maioria não pode decidir eliminar os direitos de uma minoria, a função dos direitos é justamente o de protegê-las e a menor minoria que existe é o indivíduo.
Também não falei nada sobre "viver para servir a sociedade". E não creio que tenha proposto nenhuma violação de direitos.
Ao sugerir que um ser humano vale menos que um cão, ficou aparente que você tivesse proposto que esse ser humano tem direitos mais restritos ainda do que os direitos do cão, e o cão tem bem menos direitos reconhecidos que o ser humano médio.
Eu sei que você não mataria, Contini, nem você e nem ninguém aqui, ou pelo menos assim espero. Mas estou falando que devemos ter cuidado para não nos convencermos dessas conclusões que tiramos em momentos de revolta, que é muito perigoso quando decidimos que alguns seres humanos valem menos que um animal. Nós abatemos animais aos milhões todos os dias.
Em termos de utilidade, os cães do caso concreto dariam um banho no quesito "valor" sobre os que os mataram.
Utilidade não é um parâmetro. Quando uma pessoa se aposenta ela deixa de ser útil, talvez se torne menos útil que o cão. Cães não tem direito de propriedade, poderíamos tirar tudo que o aposentado tem e jogá-lo num abrigo onde lhe daremos água, comida e banho uma vez por semana. Não, né? Direitos não são função da suposta utilidade do social.