Vou explicando o motivo da revolta que me corrói conforme vir na minha cabeça:
Fez 1 ano em Setembro que prestei um concurso para Escrevente do Tj-SP. Está homologado desde Março. Fiquei em 19º. Todos dizem que serei nomeado, incluindo o Juiz Diretor da Comarca e o chefe da Administração do Fórum. Criei muita expectativa.Tapinhas nas costas, abraços e as brincadeiras de que eu iria receber 13º junto com eles. 2,6K não é lá um salário para encostar, mas se ganhar isso antes de me formar ficarei muito feliz. 2.6K é dinheiro que nunca vi na vida. Agora todos os fatos fazem parecer que não irão chamar ninguém nesse concurso, e estou cada vez mais crente nisso.
Estou ocupando minha própria vaga de Escrevente, porém, ganhando 5 vezes menos. Trabalho como servidor de município cedido mediante convênio entre a Prefeitura e o TJ. Esse convênio se justifica, segundo o presidente do TJ, pela ausência de verbas para contratação de novos escreventes. Isso ocorre em todo o Estado. O Juiz da Vara na qual eu trabalho já reclamou do ritmo de trabalho imposto a nós, servidores do Município, pois, nas palavras dele: "Como é que eu vou pedir novos escreventes se esse pessoal aqui está dando conta?".
Todos os dias eu me levanto para ir trabalhar e já penso: "quanto melhor, mais eficiente e mais produtivo eu for, menos o Tribunal irá precisar de mim como Escrevente". Durante a minha espera por esse concurso, roubaram meu carro em frente ao Fórum no qual eu trabalho. Não havia seguro para o velho Gol 88, pois, em poucos anos, eu teria pago o seu valor só em seguros.
Meu chefe, apesar de me dar o maior apoio e "estar feliz" pela minha classificação, parece não gostar da idéia de ter alguém (eu) interessado em tirar seus funcionários municipais - rápidos, ágeis e baratos - de seu cartório estadual. E agora eu ouço o pessoal do Fórum dizer que não vão nomear tão cedo, pois " ainda é necessário pagar algumas pendengas atrasadas aos Magistrados ".
Sou um pouco a favor daquele pensamento: "não está feliz onde está, procure outro emprego". Mas, de certa forma, juntamente aos outros abrangidos pelo convênio estou anulando minha própria mudança de emprego.
Todo dia eu vou para o trabalho de ônibus. E todos os dias eu vou para a faculdade de ônibus. Um fica longe do outro. Penso nisso todos os dias enquanto aquele ônibus chacoalha. Essas coisas todas vão chacoalhando junto na minha cabeça. Não gosto de ficar me lamentando e é a primeira vez que conto todas essas coisas de uma vez. Não que minha vida e minha carrera irão acabar por conta de um concurso de escrevente. Mas é fato que estou perdendo uns bons anos de juventude trabalhando e estudando que nem um jumento tendo pouco dinheiro no bolso, com o ápice da minha semana sendo uma baladinha da faculdade ou alguma outra local.