Discordo do Procedure no sentido que esta formação ampla tem que incluir necessariamente literatura, filosofia , bem como biologia , matemática , física...
Alguns acham inútil literatura, filosofia ou artes, mas pensem, assim como vocês possam ter iniciado seus interesses em ciências pelas aulas, quantos arquitetos ou escritores não foram feitas nessas aulas?
O problema é que estas áreas são, digamos, "específicas" demais. Argumenta-se que o estudo de tais disciplinas é importante. Ora, muita coisa é importante. Poderíamos pensar em milhares de disciplinas também "importantes" e achar lugar para espremê-las no currículo escolar junto com literatura, sociologia, artes e filosofia: política, economia, história da ciência, história da arte, antropologia... A lista é infindável.
Por isso acho que o currículo escolar deveria se restringir ao básico, o "clássico": Ciências físicas, químicas e biológicas, matemática, história e línguas.
Bom , pelo contrário, acho que literatura e filosofia não são específicas mas gerais.
Literatura considero importante não para decorar o barroco ou o romantismo mas para entender um texto dentro do contexto de uma época , foi nas aulas de literatura que aprendi a ler nas entrelimhas e apreciar as sutilezas de um texto.
Filosofia, como disse antes, para inserir a discussão de método racional de pensar , não fazer decoreba ( quem foi Parmênides? e coisas do gênero). Importante discutir a filosofia por temas (ética, epistemologia,...) e mostrar como analisar diferentes discursos sobre um mesmo assunto.
Exatamente.
O que eu disse acima aplica-se com perfeição à literatura (ao menos na que temos hoje nas escolas). Caem como uma luva as palavras do Cristaldo escritas em um texto que postei aqui no fórum anteontem. Faço-as minhas:
"Não fossem as exigências curriculares dos cursos de Letras, quem leria hoje, por exemplo, uma obra chocha e pedante como Macunaíma? Qual editor, em pleno juízo e com capital de seu próprio bolso, ousaria reeditar um chato como Oswald de Andrade? Qual leitor, em sã consciência, compraria os peixes podres dos irmãos Campos? Indo um pouco mais longe: que tem a dizer Machado de Assis a um jovem de nossos dias? Por que impor Machado a alunos que jamais folhearam um Nietzsche ou Dostoievski, estes eternamente jovens e subversivos? Através da indústria textil, a máfia universitária consegue vender cadáveres literários, ao mesmo tempo que afasta do mundo das letras gerações inteiras de leitores potenciais.
Causou celeuma em São Paulo, a hipótese de retirar o nome de Drummond de Andrade da lista de autores exigidos no vestibular. Pois acho que deveria ser retirado mesmo, para vermos se morreu ou não morreu. Poeta é aquele que vai em socorro das angústias de seus contemporâneos e pósteros, e não o que sobrevive graças à benção da máfia. Quando descobri Pessoa ou Cervantes, fui ao encontro deles por prazer e necessidade espiritual, não por imposições acadêmicas."
Veja como é relativa a questão do gosto literário (para usar o texto que você citou):
Macunaíma foi livro de um dos bimestres do 2º ano no meu colégio e simplesmente fiquei fascinado por ele ( tanto que quando acabei de ler, li de novo);engraçado que é a única obra do Mario de Andrade de que realmente gosto.
Me apaixonei por Machado de Assis também no colégio , lendo Memórias Póstumas de Brás Cubas , e sou fã dele e de sua ironias sutis.
Mas o fator principal é que tive ótimos professores de literatura , que realmente gostavam de ensinar a matéria. Os livros citados foram objeto de debate em sala , o subtítulo do Macunaíma , Um Herói sem Nenhum Caráter, gerou o maior quebra pau na sala sobre se ´há ou não um tipo brasileiro , até a Lei de Gerson foi debatida.
Por outro lado Iracema de José de Alencar voou pela janela do meu quarto no fim do primeiro parágrafo...
O que estou querendo dizer é que o aluno tem que ter a oportunidade de contato com a literatura , sem a imposição de gosto , mas permitindo a ele descobrir do que gosta. É claro que sempre haverá os autores que serão apresentados em detrimentos de outros , mas uma seleção é sempre inevitável ( o Cristaldo certamente escolheria os de sua preferência estética). O importante é não tornar a leitura uma obrigação , principalmente não fazer dela uma tortura
Em tempo:não perdi nenhum ponto por não ter lido Iracema.