Autor Tópico: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social  (Lida 16845 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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[Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Online: 28 de Novembro de 2007, 05:31:53 »
Evidências empíricas quanto às ações afirmativas

Sowell argumenta tenazmente contra as ações afirmativas. Ele demonstra que suas bases práticas e morais não se sustentam; que os seus resultados não apenas deixam de beneficiar aqueles que se intencionava ajudar, mas são na verdade nocivos, isso em todos os lugares em que foram postas em prática. Alguns podem estar pensando; "racista". É um reflexo infelizmente comum. Mas o próprio Thomas Sowell é negro, e não é, definitivamente, racista, ainda que credite em muito a situação a um desempenho inferior dos negros em certas áreas.

Ele não defende que seja um resultado de uma incapacidade biológica, mas algo comum em casos de migração, pobreza, e etc. Sobre isso ele também escreveu um estudo (citado e elogiado por Steven Pinker, argumentando contra teorias de psicologia evolutiva de que o judaísmo seria uma  estratégia de adaptação biológica de grupo), questionando o livro "bell curve", e apontando que por exemplo, em apenas uma geração os negros tem o mesmo QI de uma geração anterior de brancos (efeito Flynn), o que levanta sérias dificuldades para uma causa biológica para essa disparidade, uma vez que os negros são geneticamente os mesmos que os da geração anterior, bem como os brancos.

A causa, ele defende, é cultural, diferenças de costumes e valores: desprezo pelo conhecimento acadêmico, apreço por violência, etc - que ele defende ser uma cópia da cultura "branca" de certos "caipiras" (rednecks), em vez de algo genuinamente negro, como muitas vezes alguns defendem.

Ele também argumenta que a diversidade por diversidade apenas é algo sem sentido. Países etnicamente homogêneos como o Japão se dão muito bem, em diversos aspectos melhor que os EUA, então a diversidade, a representação étnica homogênea ou proporcional em todas as atividades ou estratos sociais não é algo essencial para o avanço da sociedade, não devendo ser artificialmente implementada.



Discriminação?

Sowell questiona a suposição de que disparidades demográficas na "representação" se devem a discriminação. Essa suposição é raramente testada contra os dados sobre disparidades nas qualificações; dá como exemplo que no ano de 2001, houveram mais de 16.000 estudantes ásio-americanos que tiveram resultados acima de 700 pontos no SAT (teste de aptidão escolar), enquanto menos de 700 estudantes negros tiveram resultados tão altos, apesar de haver várias vezes mais negros do que ásio-americanos.

Para ele, dados como esses são simplesmente ignorados ou "afogados" entre as afirmações de que discriminação "encoberta" explicaria a escassez de negros em instituições e ocupações que requerem um forte conhecimento de matemática.

Sowell argumenta que diferenças de costumes entre as diferentes populações e indivíduos não podem ser banidas da discussão como "estereótipos" ou por ser "culpar a vítima", pois a causa não é "culpa", e se eles são ou não vítimas é justamente a questão. A disparidade não é devida à uma discriminação, mas à legítimas diferenças de desempenho entre os grupos

Sowell aponta que grupos supostamente discriminados mostram dominância estatística sobre a a população majoritária em campos como esportes e entretenimento. Nesses campos, talentos individuais não requerem o nível de educação superior necessário a diversos outros campos de atuação.

Os os maoris não podem manter os neo-zealandeses brancos fora dos times esportivos do país, exceto por superá-los em desempenho no campo; os jogadores de beisebol negros dos EUA não podem impedir os jogadores brancos de bater os os home runs, mesmo que quatro dos cinco maiores totais de home runs tenham sido batidos por jogadores negros.

Disparidades estatísticas não provam nada sobre discriminação porque são comuns mesmo em situações nas quais não há nem mesmo um mecanismo que possibilite essa discriminação. O que é apontado como discriminação, na verdade seria, tal como esses casos, simplesmente diferentes resultados legítimos de desempenho na competição do mercado e instituições de ensino.

Conclusões que se teria que tomar por casos similares, no que se refere às instituições de ensino, supondo que disparidade significa discriminação:

- a maioria dos malásios seriam vítimas das minorias chinesas na Malásia;

- a maioria dos nigerianos do norte seriam vítimas da minoria ibo;

- a maioria sinalesa seria vítma da minoria tamil no Sri Lanka;

-  numerosas outras maiorias seriam vítimas das minorias chettiar ou marwari em várias partes da Índia;

-  as maiorias brancas no Canadá ou EUA seriam vítimas das minorias japonesas.


Resultados: diminui-se a qualidade dos profissionais, perde-se profissionais de alta qualidade, e gera-se conflito onde antes não havia

Thomas Sowell estudou programas de ações afirmativas de países como Índia, Malásia, Nigéria e Estados Unidos da América. O que ele concluiu é que esses programas tem nos melhores casos impacto desprezível nos grupos que objetivam ajudar. Em vez de benefícios para os grupos tidos como vítimas da maioria, essas políticas trouxeram perdas para toda a sociedade, tanto por não explorar todo o potencial acadêmico da população, quanto através de polarização entre os grupos e violência resultante.

Dados diversos podem ser obtidos de uma variedade se fontes privadas nos EUA sugerindo que os negros americanos mais afortunados recebem uma parte desproporcional dos benefícios que iria para os negros como um todo nos EUA, da mesma forma que os malásios mais afortunados tendem a se beneficiar mais das ações afirmativas na malásia ou os intocáveis mais afortunados se beneficiam mais das ações afirmativas na Ìndia.

Costuma-se pensar que as cotas não tenham qualquer custo, por simplesmente trocarem os beneficiários, mas Sowell demonstra que isso não é verdade, e que o resultado na verdade pode é negativo. Um grupo pode perder maisdo que é ganho pelo outro, fazendo com que a sociedade como um todo perca no fim das contas.

Sowell exemplifica, "quando um grupo no qual 80% dos estudantes admitidos na faculdade iriam se formar perde admissões para um grupo no qual apenas 40% dos estudantes se formam, então o primeiro grupo precisa perder 800 graduados para que o segundo ganhe 400 graduados. Além disso, é comum que em muitos países os estudantes de menor qualificação se especializem em campos mais fáceis e menos remunerados, além de terem menor desempenho acadêmico; assim o primeiro grupo pode perder 800 graduados, concentrados em campos como matemática, ciências e engenharia, enquanto o segundo grupo ganha 400 graduados concentrados em campos como sociologia, educação e estudos étnicos".

Não há apenas essa perda de eficiência, por pessoas menos qualificadas sendo escolhidas em detrimento de mais qualificadas, mas também ocorre de vários membros altamente qualificados de grupos não beneficiados por cotas abandonarem uma sociedade por terem tido reduzidas as suas chances, e com eles, vão as suas contribuições para a sociedade. Esse tipo de perda ocorreu na Malásia, na África do Sul, Fiji, na Ásia Central soviética, no leste da África e em diversos outras sociedades onde as habilidades desses emigrantes poderiam contribuir muito para a sociedade, eventualmente até para os que supostamente são "ajudados" por sistemas de cotas. Todos perdem.

Há ainda os gravíssimos custos sociais em polarização entre os grupos, trazendo violência e mortes. Na Índia, houveram revoltas sangrentas; diversos brahmins se incendiaram em protesto contra as políticas que destruíram suas perspectivas.

O Sri Lanka durante um bom tempo, até o meio do século XX, teve uma reputação exemplar como país no qual as relações entre as populações majoritárias e minoritárias. Isso mudou com décadas de guerras civis marcadas por horríveis atrocidades, onde morreram mais pessoas do que americanos em todos os anos da guerra do Vietnam, apeasar do Sri Lanka ser muito menor que os EUA.

Ao mesmo tempo, mesmo que se julgasse que a compensação aos negros compensasse toda essa perda para a sociedade em desenvolvimento, em harmonia, e até em vidas, há ainda o problema de que aqueles que se objetivava ajudar, acabam não sendo ajudados.

Depois que as cotas acabaram nas universidades do estado da Califórnia, o número de estudantes negros aumentou. Menos negros vão para Berkeley, e mais vão para oustras faculdades, nas quais eles conseguem passar por critérios admissão iguais para todos, e esses estudantes tem maior chance de se formar, em vez de serem simplesmente figurantes que eventualmente desistiam ou fracassavam.

Sempre que os critérios de admissão são os mesmos todas as raças, os resultados nos testes de aptidão são similares, e as taxas de graduação são também similares. Quando há padrões diferentes de admissão, há grandes diferenças entre os testes de aptidão de negros e brancos, bem como grandes diferenças nas taxas de graduação.

Num caso, na Universidade de Colorado, o SAT médio dos estudantes negros era inferior ao dos estudantes brancos em mais de 200 pontos: apenas 39% dos estudantes negros se graduaram, contra 72% dos estudantes brancos.

Na Universidade de Colorado, em Denver, a diferença do SAT era de apenas 30 pontos: 50% de todos os estudantes negros e 48% dos estudantes brancos se graduaram.

Os benefícios tendem a se estender rapidamente para muito além daqueles que se intencionava compensar pela situação ancestral ou atual, chegando a até haver uma relação inversa entre os que a necessidade de ajuda e os benefícios na prática.

Coisas bizarras vão acontecendo. Sowell diz que desonestidade está sempre junta com esse tipo de política. Os princípios não condizem com as ações. A idéia geral abre precedentes para coisas injustificáveis por qualquer sofrimento que os negros tenham tido, como por exemplo, a admissão de estudantes brancos num colégio público de São Francisco em detrimento de sino-americanos melhor qualificados que também tentaram se matricular. Em alguns casos, critérios extra-curriculares obscuros e irrefutáveis passam a contar pontos para admissão, como "liderança", ou "superação de adversidades". Na Índia, argumentou-se que certos critérios ajudariam a "impedir que criaturas insignificantes sem personalidade se tornassem engenheiros ou doutores".


Os negros também perdem: não só não são ajudados, como perdem em credibilidade e dignidade

Sowell lembra do fato histórico que vem sido apagado da memória das pessoas devido às ações afirmativas: a maioria dos negros nos EUA saíram por si próprios da pobreza nas décadas anteriores à revolução dos direitos civis dos anos 60 e do começo das ações afirmativas nos anos 70.

Isso vai sendo levado ao esquecimento, com as ações afirmativas, e os negros vão então cada vez mais sendo vistos por toda população, tanto pelos seus amigos quanto pelos racistas, como incapazes, que devem os seus avanços à caridade do governo, e lhes é tirada a oportunidade de  conquistar o mesmo respeito que outros grupos ganharam ao saírem por si mesmos da pobreza, ao se tornarem pessoas mais produtivas, que contribuem com a sociedade. Para Sowell, as ações afirmativas tem o efeito de uma moratória do reconhecimento das conquistas dos negros, que supostamente deveriam ajudar.

Os estudantes negros admitidos por padrões inferiores acabam tendo uma taxa maior de fracasso acadêmico, e aqueles que foram admitidos pelos padrões iguais aos de todos os outros tem suas credenciais postas sempre vistas com desconfiança gerada pelos padrões diferentes de admissão dados às minorias. Numa época em que a universidade de Harvard admitia mais da metade dos filhos de ex-alnos, essas admissões especiais eram desproporcionalmente representados entre os estudantes que fracassavam.


Alternativas

Para Sowell, é necessário admitir que temos limitações, mas que mesmo assim podemos fazer muito mesmo dentro dessas limitações. "Na América, ao menos, a história demonstrou dramaticamente que isso pode ser feito pois já foi feito". Ele aponta para tremendos progressos econômicos e sociais ocorridos no começo do século XX por alguns dos mais pobres e considerados menos promissores segmentos da população.

No começo do século passado, apenas cerca da metade dos negros americanos eram alfabetizados; judeus viviam abarrotados em favelas piores do que as atuais. Os judeus, tinham resultados de QI consideravelmente baixos (70 pontos, mesmo os ashkenazi). Os sino-americanos estavam numa situação tal que inspiraram a expressão "não tem a chance de um china", para se referir a alguém enfrentando uma situação contra todas as probabilidades de se suceder bem.

O que ocorreu, antes dos programas de ações afirmativas dos anos 70, não foi simplesmente transferência de benefícios do resto da população para esses grupos - que na melhor das hipóteses, tem ganho zero - mas progresso social e econômico real, com os membros mais pobres contribuindo para o avanço da sociedade como um todo, com a sua educação crescente, ascenção profissional. Esse crescimento foi dramaticamente maior do que o que ocorreu depois da implementação das ações afirmativas.

Sowell acredita que a esse progresso todo é ignorado, ou mesmo desdenhado como simplesmente "não fazer nada", por não ser tão interessante aos políticos, ativistas e intelectuais que ganham em posar como moralmente superiores ao denunciar a socieadde. A pobreza dos negros foi reduzida até a metade, antes das açõesa afirmativas, não tendo diminuido muito mais desde então, mas isso parece não importar.


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Penso que eu tenha representado bem fielmente as posições de Thomas Sowell, mas admito que pode ter alguma coisa ou outra questionável. Não acho que deva ter, só estou admitindo que posso não ter tido cuidado suficiente. É difícil que seja, porque é quase uma tradução frankensteiniana, ainda que eu tenha me esforçado um pouco para reordenar nesses tópicos e escrever eu mesmo.


Referências

"Quotas on trial", Thomas Sowell

"Quotas on trial: part II", Thomas Sowell

"Empirical evidence on affirmative action", Thomas Sowell

Resenha de "bell curve", por Thomas Sowell

"Race and IQ Again", review de "the Reality of Human Differences", por Mark Nathan Cohen


Offline Rodion

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #1 Online: 28 de Novembro de 2007, 05:41:09 »
botei um [português] no título e mexi na pontuação no primeiro parágrafo :)
vou dar uma lida.
« Última modificação: 28 de Novembro de 2007, 05:43:35 por Rodion »
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Rodion

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #2 Online: 28 de Novembro de 2007, 05:47:14 »
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Adriano

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #3 Online: 29 de Novembro de 2007, 22:51:43 »
Evidências empíricas quanto às ações afirmativas

Sowell argumenta tenazmente contra as ações afirmativas. Ele demonstra que suas bases práticas e morais não se sustentam; que os seus resultados não apenas deixam de beneficiar aqueles que se intencionava ajudar, mas são na verdade nocivos, isso em todos os lugares em que foram postas em prática. Alguns podem estar pensando; "racista". É um reflexo infelizmente comum. Mas o próprio Thomas Sowell é negro, e não é, definitivamente, racista, ainda que credite em muito a situação a um desempenho inferior dos negros em certas áreas.
O fato de alguem ser negro ou branco não tem nada a ver com a defesa ou não das cotas. Acho isso irrelevante, a questão é importante para todos e o que se busca é algo justo.

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Ele não defende que seja um resultado de uma incapacidade biológica, mas algo comum em casos de migração, pobreza, e etc. Sobre isso ele também escreveu um estudo (citado e elogiado por Steven Pinker, argumentando contra teorias de psicologia evolutiva de que o judaísmo seria uma  estratégia de adaptação biológica de grupo), questionando o livro "bell curve", e apontando que por exemplo, em apenas uma geração os negros tem o mesmo QI de uma geração anterior de brancos (efeito Flynn), o que levanta sérias dificuldades para uma causa biológica para essa disparidade, uma vez que os negros são geneticamente os mesmos que os da geração anterior, bem como os brancos.

A causa, ele defende, é cultural, diferenças de costumes e valores: desprezo pelo conhecimento acadêmico, apreço por violência, etc - que ele defende ser uma cópia da cultura "branca" de certos "caipiras" (rednecks), em vez de algo genuinamente negro, como muitas vezes alguns defendem.
Condordo plenamente com esse trecho.

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Ele também argumenta que a diversidade por diversidade apenas é algo sem sentido. Países etnicamente homogêneos como o Japão se dão muito bem, em diversos aspectos melhor que os EUA, então a diversidade, a representação étnica homogênea ou proporcional em todas as atividades ou estratos sociais não é algo essencial para o avanço da sociedade, não devendo ser artificialmente implementada.
O fato do Japão ser homogêneo não interfere em nada na avaliação de sociedades multiculturais. A sociedade americana, tanta quanto a brasileira, já são etnicamente heterogêneas, o que significa que as disparidades culturais tem maior impacto. Não há o que se falar de diferenças étnicas numa sociedade homogênea.



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Discriminação?

Sowell questiona a suposição de que disparidades demográficas na "representação" se devem a discriminação. Essa suposição é raramente testada contra os dados sobre disparidades nas qualificações; dá como exemplo que no ano de 2001, houveram mais de 16.000 estudantes ásio-americanos que tiveram resultados acima de 700 pontos no SAT (teste de aptidão escolar), enquanto menos de 700 estudantes negros tiveram resultados tão altos, apesar de haver várias vezes mais negros do que ásio-americanos.
Isso demonstra a influencia cultural ao invés da irrelevância como supõe o argumento. A etnia asiática é mais evoluida no aspecto educacional do que a africana, senda a africana colonizada por muito tempo. O desenvolvimento asiático é muito superior no quesito educação.

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Para ele, dados como esses são simplesmente ignorados ou "afogados" entre as afirmações de que discriminação "encoberta" explicaria a escassez de negros em instituições e ocupações que requerem um forte conhecimento de matemática.
Não vejo assim, um estudo sobre os candidatos da USP demostra algumas caracteristicas culturais favoráveis dos asiáticos (amarelos), enquanto os afrodescendentes (pretos) tem características desfavoráreis. Estas incluem as familiares, nos dois casos.

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Sowell argumenta que diferenças de costumes entre as diferentes populações e indivíduos não podem ser banidas da discussão como "estereótipos" ou por ser "culpar a vítima", pois a causa não é "culpa", e se eles são ou não vítimas é justamente a questão. A disparidade não é devida à uma discriminação, mas à legítimas diferenças de desempenho entre os grupos
Mas a etnia é um aspecto cultural, de descendencia de um povo. Não vejo a colonização e escravidão dos negros no Brasil e nos Estados Unidos como legítima. São questões culturais do nosso passado e que tiveram grande impacto atual, o que é corroborados pelas evidências empíricas das análises multiétnicas.

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Sowell aponta que grupos supostamente discriminados mostram dominância estatística sobre a a população majoritária em campos como esportes e entretenimento. Nesses campos, talentos individuais não requerem o nível de educação superior necessário a diversos outros campos de atuação.
Estão relacionados a talentos individuais e biológicos. Além de serem campos de pouca importância política no contexto social. Não se compara com a ciência que é promovida e feita nas universidades.

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Os os maoris não podem manter os neo-zealandeses brancos fora dos times esportivos do país, exceto por superá-los em desempenho no campo; os jogadores de beisebol negros dos EUA não podem impedir os jogadores brancos de bater os os home runs, mesmo que quatro dos cinco maiores totais de home runs tenham sido batidos por jogadores negros.
É irrelevanda a comparação entre esportes e ciência. A ciência é feita na universidade, é o campo de atuação dos cérebros. O que se constata é que não existem diferenças significativas entre as etnias no aspecto intelectual, já no biológico são muitas, o que pode justificar qualidades esportivas, sem descartar também o aspecto social.

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Disparidades estatísticas não provam nada sobre discriminação porque são comuns mesmo em situações nas quais não há nem mesmo um mecanismo que possibilite essa discriminação. O que é apontado como discriminação, na verdade seria, tal como esses casos, simplesmente diferentes resultados legítimos de desempenho na competição do mercado e instituições de ensino.
Estou vendo que o argumento principal é o de analogia entre esportes e universidades. Somente pelo aspecto social dessas áreas vemos que é inviável tal analogia, sem contar a qualificação biológica de uma e a intelectual de outra.

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Conclusões que se teria que tomar por casos similares, no que se refere às instituições de ensino, supondo que disparidade significa discriminação:

- a maioria dos malásios seriam vítimas das minorias chinesas na Malásia;

- a maioria dos nigerianos do norte seriam vítimas da minoria ibo;

- a maioria sinalesa seria vítma da minoria tamil no Sri Lanka;

-  numerosas outras maiorias seriam vítimas das minorias chettiar ou marwari em várias partes da Índia;

-  as maiorias brancas no Canadá ou EUA seriam vítimas das minorias japonesas.
Aqui está tudo misturado, ambiente acadêmico e ambiente esportivo.  :no:


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Resultados: diminui-se a qualidade dos profissionais, perde-se profissionais de alta qualidade, e gera-se conflito onde antes não havia

Thomas Sowell estudou programas de ações afirmativas de países como Índia, Malásia, Nigéria e Estados Unidos da América. O que ele concluiu é que esses programas tem nos melhores casos impacto desprezível nos grupos que objetivam ajudar. Em vez de benefícios para os grupos tidos como vítimas da maioria, essas políticas trouxeram perdas para toda a sociedade, tanto por não explorar todo o potencial acadêmico da população, quanto através de polarização entre os grupos e violência resultante.
É desconsiderado o aspecto social dos grupos com mais percentual de ingresso nas universidades.

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Dados diversos podem ser obtidos de uma variedade se fontes privadas nos EUA sugerindo que os negros americanos mais afortunados recebem uma parte desproporcional dos benefícios que iria para os negros como um todo nos EUA, da mesma forma que os malásios mais afortunados tendem a se beneficiar mais das ações afirmativas na malásia ou os intocáveis mais afortunados se beneficiam mais das ações afirmativas na Ìndia.
Vejo uma leitura errada dos dados. O principal fator das cotas é a igualdade étnica e não os pobres somente. Por vezes os negros mais qualificados são os que tem mais condições. Mas se estes entram nas universidades pelas cotas é devido a não conseguirem sem as cotas mesmo com boas condições.

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Costuma-se pensar que as cotas não tenham qualquer custo, por simplesmente trocarem os beneficiários, mas Sowell demonstra que isso não é verdade, e que o resultado na verdade pode é negativo. Um grupo pode perder maisdo que é ganho pelo outro, fazendo com que a sociedade como um todo perca no fim das contas.

Sowell exemplifica, "quando um grupo no qual 80% dos estudantes admitidos na faculdade iriam se formar perde admissões para um grupo no qual apenas 40% dos estudantes se formam, então o primeiro grupo precisa perder 800 graduados para que o segundo ganhe 400 graduados. Além disso, é comum que em muitos países os estudantes de menor qualificação se especializem em campos mais fáceis e menos remunerados, além de terem menor desempenho acadêmico; assim o primeiro grupo pode perder 800 graduados, concentrados em campos como matemática, ciências e engenharia, enquanto o segundo grupo ganha 400 graduados concentrados em campos como sociologia, educação e estudos étnicos".
Isso é o que acontece sem as cotas. Esses dados são tremendamente exagerados, mesmo sendo no caso americano é muito suspeito sem fontes. É uma afirmação vaga, um argumento de autoridade apenas.

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Não há apenas essa perda de eficiência, por pessoas menos qualificadas sendo escolhidas em detrimento de mais qualificadas, mas também ocorre de vários membros altamente qualificados de grupos não beneficiados por cotas abandonarem uma sociedade por terem tido reduzidas as suas chances, e com eles, vão as suas contribuições para a sociedade. Esse tipo de perda ocorreu na Malásia, na África do Sul, Fiji, na Ásia Central soviética, no leste da África e em diversos outras sociedades onde as habilidades desses emigrantes poderiam contribuir muito para a sociedade, eventualmente até para os que supostamente são "ajudados" por sistemas de cotas. Todos perdem.
Ninguém perde. Se os qualificados que não conseguem vaga nas universidades devido as cotas conseguem emigrar para outros países, então estão tendo um bom aproveitamento, por vezes muito superior. Assim são beneficiados os cotistas e os que foram estudar no exterior. Me lembra os princípio da economia internacional, com melhor aproveitamento para todos, com melhores alocações. Não é o fato de irem para outro país que estão prejudicando esse, estão participando de um mundo globalizado. O efeito deve ser o contrário.

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Há ainda os gravíssimos custos sociais em polarização entre os grupos, trazendo violência e mortes. Na Índia, houveram revoltas sangrentas; diversos brahmins se incendiaram em protesto contra as políticas que destruíram suas perspectivas.
A polarização sempre houve. Pode ocorrer essa violência, mas é por parte do grupo que deve ceder poder aos minoritários. Uma pena esses suícidas indianos, mas o sistemas de castas da Índia é muito perverso, e uma atitude assim de um fanático religioso não é muito de espantar.

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O Sri Lanka durante um bom tempo, até o meio do século XX, teve uma reputação exemplar como país no qual as relações entre as populações majoritárias e minoritárias. Isso mudou com décadas de guerras civis marcadas por horríveis atrocidades, onde morreram mais pessoas do que americanos em todos os anos da guerra do Vietnam, apeasar do Sri Lanka ser muito menor que os EUA.
E ele atribui isso a ações afirmativas? Quais os dados e fontes que confirmam isso? Argumento de autoridade apenas.

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Ao mesmo tempo, mesmo que se julgasse que a compensação aos negros compensasse toda essa perda para a sociedade em desenvolvimento, em harmonia, e até em vidas, há ainda o problema de que aqueles que se objetivava ajudar, acabam não sendo ajudados.
Não existem problemas reais com as cotas. É um discurso inflamado mas carente de fontes empíricas e confiáveis, atrelando causa e efeito.

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Depois que as cotas acabaram nas universidades do estado da Califórnia, o número de estudantes negros aumentou. Menos negros vão para Berkeley, e mais vão para oustras faculdades, nas quais eles conseguem passar por critérios admissão iguais para todos, e esses estudantes tem maior chance de se formar, em vez de serem simplesmente figurantes que eventualmente desistiam ou fracassavam.
Imagino a situação americana como muito diferente. Lá deve mesmo existir um preconceito com os cotista, o mesmo que ocorre aqui com as universidade particulares. Mesmo um bom aluno dessas é prejudicado pela reputação da universidade. Mas penso ser diferente a situação no Brasil. Reflexo de culturas diferentes.

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Sempre que os critérios de admissão são os mesmos todas as raças, os resultados nos testes de aptidão são similares, e as taxas de graduação são também similares. Quando há padrões diferentes de admissão, há grandes diferenças entre os testes de aptidão de negros e brancos, bem como grandes diferenças nas taxas de graduação.

Num caso, na Universidade de Colorado, o SAT médio dos estudantes negros era inferior ao dos estudantes brancos em mais de 200 pontos: apenas 39% dos estudantes negros se graduaram, contra 72% dos estudantes brancos.

Na Universidade de Colorado, em Denver, a diferença do SAT era de apenas 30 pontos: 50% de todos os estudantes negros e 48% dos estudantes brancos se graduaram.
Demostra existir uma diferença de aproveitamento. Mas mesmo assim, no caso da Universidade do Colorado o número absoluto de negros formados deve ser maior. O foco é a oportunidade para negros, verificando o motivo do menor aproveitamento destes e não voltando a exclui-los.

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Os benefícios tendem a se estender rapidamente para muito além daqueles que se intencionava compensar pela situação ancestral ou atual, chegando a até haver uma relação inversa entre os que a necessidade de ajuda e os benefícios na prática.

Coisas bizarras vão acontecendo. Sowell diz que desonestidade está sempre junta com esse tipo de política. Os princípios não condizem com as ações. A idéia geral abre precedentes para coisas injustificáveis por qualquer sofrimento que os negros tenham tido, como por exemplo, a admissão de estudantes brancos num colégio público de São Francisco em detrimento de sino-americanos melhor qualificados que também tentaram se matricular. Em alguns casos, critérios extra-curriculares obscuros e irrefutáveis passam a contar pontos para admissão, como "liderança", ou "superação de adversidades". Na Índia, argumentou-se que certos critérios ajudariam a "impedir que criaturas insignificantes sem personalidade se tornassem engenheiros ou doutores".
Apenas critérios morais, qualificações muito discutíveis e tendenciosas. Claro que se existem as cotas então as notas não são mais prioridades. Julgar isso como negativo é uma falácia circular, pois utiliza como argumento a própria conclusão.

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Os negros também perdem: não só não são ajudados, como perdem em credibilidade e dignidade

Sowell lembra do fato histórico que vem sido apagado da memória das pessoas devido às ações afirmativas: a maioria dos negros nos EUA saíram por si próprios da pobreza nas décadas anteriores à revolução dos direitos civis dos anos 60 e do começo das ações afirmativas nos anos 70.

Isso vai sendo levado ao esquecimento, com as ações afirmativas, e os negros vão então cada vez mais sendo vistos por toda população, tanto pelos seus amigos quanto pelos racistas, como incapazes, que devem os seus avanços à caridade do governo, e lhes é tirada a oportunidade de  conquistar o mesmo respeito que outros grupos ganharam ao saírem por si mesmos da pobreza, ao se tornarem pessoas mais produtivas, que contribuem com a sociedade. Para Sowell, as ações afirmativas tem o efeito de uma moratória do reconhecimento das conquistas dos negros, que supostamente deveriam ajudar.
Esse desmérito é relativo ao que as pessoas acham do programa. As pesquisas aqui indicam uma certa divisão do público, embora o tema ainda seja muito discutido e divida opiniões em toda a sociedade. Mas o resultado prático de negros com formação superior está acima de qualquer preconceito. O resultado no mercado de trabalho é bem superior do que estes ausentes da universidade, com ou sem preconceito.

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Os estudantes negros admitidos por padrões inferiores acabam tendo uma taxa maior de fracasso acadêmico, e aqueles que foram admitidos pelos padrões iguais aos de todos os outros tem suas credenciais postas sempre vistas com desconfiança gerada pelos padrões diferentes de admissão dados às minorias. Numa época em que a universidade de Harvard admitia mais da metade dos filhos de ex-alnos, essas admissões especiais eram desproporcionalmente representados entre os estudantes que fracassavam.
Não é coerente comparar padrões étnicos com os biologicos de pais para filhos.

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Alternativas

Para Sowell, é necessário admitir que temos limitações, mas que mesmo assim podemos fazer muito mesmo dentro dessas limitações. "Na América, ao menos, a história demonstrou dramaticamente que isso pode ser feito pois já foi feito". Ele aponta para tremendos progressos econômicos e sociais ocorridos no começo do século XX por alguns dos mais pobres e considerados menos promissores segmentos da população.
Mas as desigualdades étnicas permanegem muito grandes, e dentro dos modelos atuais de estados de direitos preocupados com a igualdade material, seria um retrocesso abandonar tais medidas que superam o paradgima de direito formal, uma igualdade idealizada apenas.

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No começo do século passado, apenas cerca da metade dos negros americanos eram alfabetizados; judeus viviam abarrotados em favelas piores do que as atuais. Os judeus, tinham resultados de QI consideravelmente baixos (70 pontos, mesmo os ashkenazi). Os sino-americanos estavam numa situação tal que inspiraram a expressão "não tem a chance de um china", para se referir a alguém enfrentando uma situação contra todas as probabilidades de se suceder bem.
Óbvio que o desenvolvimento econômico trouxe uma melhoria para todos. Mas o fato é que ainda tem muito para ser feito, ainda mais num país de grandes desigualdades como o Brasil. E nisso se diferencia muito dos Estados Unidos.

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O que ocorreu, antes dos programas de ações afirmativas dos anos 70, não foi simplesmente transferência de benefícios do resto da população para esses grupos - que na melhor das hipóteses, tem ganho zero - mas progresso social e econômico real, com os membros mais pobres contribuindo para o avanço da sociedade como um todo, com a sua educação crescente, ascenção profissional. Esse crescimento foi dramaticamente maior do que o que ocorreu depois da implementação das ações afirmativas.
Falacioso essa afirmação, pois sempre há uma alocação dos indivíduos em outras instituições, de acordo com o seu alcance. Ocorre porém que as ações afirmativas buscam uma qualificação por toda a sociedade, o que até poderia ocasionar uma queda momentânea na produtividade econômica, admitindo essas informação como reais. Mas o ganho humano é muito maior, com mais chances a grupos disprivilegiados. Mas isso para quem não nega que os negros são disprivilegiados, como os dados empíricos mostram no Brasil.

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Sowell acredita que a esse progresso todo é ignorado, ou mesmo desdenhado como simplesmente "não fazer nada", por não ser tão interessante aos políticos, ativistas e intelectuais que ganham em posar como moralmente superiores ao denunciar a socieadde. A pobreza dos negros foi reduzida até a metade, antes das açõesa afirmativas, não tendo diminuido muito mais desde então, mas isso parece não importar.
Não tem nada provando essa relação de causa e efeito entre as cotas e a situação dos negros. Eu conheço informações contrárias, a de benefícios das ações afirmativas. Com ilustres exemplos. Mas as cotas tem o foco nas universidades e tem resultados a longo prazo.

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________________________________________________
Penso que eu tenha representado bem fielmente as posições de Thomas Sowell, mas admito que pode ter alguma coisa ou outra questionável. Não acho que deva ter, só estou admitindo que posso não ter tido cuidado suficiente. É difícil que seja, porque é quase uma tradução frankensteiniana, ainda que eu tenha me esforçado um pouco para reordenar nesses tópicos e escrever eu mesmo.
Gostei da tradução, fiquei interessado pelo texto.  :)  Espero ter contribuído com as críticas.  :|
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Offline Thufir Hawat

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #4 Online: 29 de Novembro de 2007, 23:42:04 »
Adriano, só vou comentar esse pedaço aqui:

Citação de: Adriano
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Dados diversos podem ser obtidos de uma variedade se fontes privadas nos EUA sugerindo que os negros americanos mais afortunados recebem uma parte desproporcional dos benefícios que iria para os negros como um todo nos EUA, da mesma forma que os malásios mais afortunados tendem a se beneficiar mais das ações afirmativas na malásia ou os intocáveis mais afortunados se beneficiam mais das ações afirmativas na Ìndia.
Vejo uma leitura errada dos dados. O principal fator das cotas é a igualdade étnica e não os pobres somente. Por vezes os negros mais qualificados são os que tem mais condições. Mas se estes entram nas universidades pelas cotas é devido a não conseguirem sem as cotas mesmo com boas condições.
Quem está fazendo uma leitura errada dos dados é você, ao supor que os negros abastados não conseguiriam entrar na universidade sem as cotas só por que são negros[1].
O que o Sowell mostra é que o resultado final das cotas é auxiliar uma parcela da população que não precisa desse auxílio, dado que não há diferença no desempenho escolar durante o ensino fundamental e médio entre negros e brancos (das mesmas classes sociais) nos EUA[2].
Ou seja, no fim das contas o efeito das cotas não se traduz em progresso sócio econômico para os negros pois tende a se concentrar na parte da população negra que já tem padrão de vida elevado (em relação à média). 


[1]Aliás, isso é que é preconceito.
[2]De acordo com os estudos utilizados pelo autor de Freakonomics.

E esse aqui:

Citação de: Adriano
É irrelevanda a comparação entre esportes e ciência. A ciência é feita na universidade, é o campo de atuação dos cérebros. O que se constata é que não existem diferenças significativas entre as etnias no aspecto intelectual, já no biológico são muitas, o que pode justificar qualidades esportivas, sem descartar também o aspecto social.
Concordo que não é um argumento muito bom, mas a questão que está por trás é fundamental: A universidade deve ser um centro de excelência, e para isso deve calcar-se no mérito, o que implica que o critério de seleção de quem entra ou não na universidade é fundamental para garantir seu papel como centro de excelência.
Tomadas as devidas proporções, o esporte é (ou deveria ser) semelhante, só os melhores jogadores são selecionados.

EDIT:correções
« Última modificação: 30 de Novembro de 2007, 00:13:50 por Thufir Hawat »
Archimedes will be remembered when Aeschylus is forgotten, because languages die and mathematical ideas do not. "Immortality" may be a silly word, but probably a mathematician has the best chance of whatever it may mean.
G. H. Hardy, in "A Mathematician's Apology"

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #5 Online: 30 de Novembro de 2007, 00:09:57 »
E só pra terminar, essa história de:
Citação de: Adriano
O principal fator das cotas é a igualdade étnica e não os pobres somente
não faz o menor sentido. Isso equivale a dizer que a política de cotas tem por objetivo principal meramente tornar a universidade "mais negra"[1], e não promover o progresso sócio-econômico de uma determinada parcela da população. Quer dizer, aplicar as cotas por uma simples questão estética... faça-me o favor  ::).

E se assim for, se o objetivo das cotas é tão vazio, então que se aplique políticas de cotas nos esportes também. tornemos os esportes "mais brancos", por estética, simetria, escolha o que quiser.

[1]O que por si só é desprovido de sentido, afinal a universidade não tem cor.
« Última modificação: 30 de Novembro de 2007, 00:12:58 por Thufir Hawat »
Archimedes will be remembered when Aeschylus is forgotten, because languages die and mathematical ideas do not. "Immortality" may be a silly word, but probably a mathematician has the best chance of whatever it may mean.
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Offline Barata Tenno

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #6 Online: 30 de Novembro de 2007, 01:08:50 »
Realmente interessante...... Os descendentes de japoneses e chineses chegaram ao Brasil tão pobres quanto são os negros hoje...... e foram tão discriminados quanto....

Hoje são , proporcionalmente , maioria nas universidades...... Porque?



« Última modificação: 30 de Novembro de 2007, 01:11:09 por Barata Tenno »
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline Buckaroo Banzai

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #7 Online: 30 de Novembro de 2007, 08:59:21 »
Não sei se eles chegaram tão pobres (Afinal, vieram como imigrantes voluntários, não escravos sem direito a posse), nem se foram tão discriminados. Nunca ouvi falar na escola ou em qualquer lugar em assuntos de discriminação e etc, exemplos como "se você vê um grupo de nipo-descendentes numa rua, você não deve ir para o outro lado ou mudar de rua se estiver na esquina, porque eles não são todos da yakuza".

Offline Buckaroo Banzai

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #8 Online: 30 de Novembro de 2007, 09:06:24 »
Adriano, só vou comentar esse pedaço aqui:

Citação de: Adriano
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Dados diversos podem ser obtidos de uma variedade se fontes privadas nos EUA sugerindo que os negros americanos mais afortunados recebem uma parte desproporcional dos benefícios que iria para os negros como um todo nos EUA, da mesma forma que os malásios mais afortunados tendem a se beneficiar mais das ações afirmativas na malásia ou os intocáveis mais afortunados se beneficiam mais das ações afirmativas na Ìndia.
Vejo uma leitura errada dos dados. O principal fator das cotas é a igualdade étnica e não os pobres somente. Por vezes os negros mais qualificados são os que tem mais condições. Mas se estes entram nas universidades pelas cotas é devido a não conseguirem sem as cotas mesmo com boas condições.
Quem está fazendo uma leitura errada dos dados é você, ao supor que os negros abastados não conseguiriam entrar na universidade sem as cotas só por que são negros[1].

Sim, é simplesmente ridícula essa afirmação de que os negros não conseguem entrar sem a ajuda das cotas. Eles entram de acordo com as notas do vestibular, não há discriminação racial.

A menos, claro, que hajam câmeras de segurança vendo quais são os estudantes negros, dando zoom nos nomes, anotando, e depois descartando essas provas. Ou talvez na hora de recolher, já vão para pilhas diferentes.








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Citação de: Adriano
É irrelevanda a comparação entre esportes e ciência. A ciência é feita na universidade, é o campo de atuação dos cérebros. O que se constata é que não existem diferenças significativas entre as etnias no aspecto intelectual, já no biológico são muitas, o que pode justificar qualidades esportivas, sem descartar também o aspecto social.
Concordo que não é um argumento muito bom, mas a questão que está por trás é fundamental: A universidade deve ser um centro de excelência, e para isso deve calcar-se no mérito, o que implica que o critério de seleção de quem entra ou não na universidade é fundamental para garantir seu papel como centro de excelência.
Tomadas as devidas proporções, o esporte é (ou deveria ser) semelhante, só os melhores jogadores são selecionados.


Na verdade, não se sabe de diferenças biológicas significativas de modo geral, que fossem responsáveis pela desproporção na "representação" racial nos diferentes esportes. É questão igualmente de tradição e preparo. Por exemplo, dizem que os quenianos tem um gene tal que melhoraria o desempenho em certos tipos de corrida, mas algo como 70% da população européia também o tem, se não me esqueço.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #9 Online: 30 de Novembro de 2007, 09:12:08 »

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Ele também argumenta que a diversidade por diversidade apenas é algo sem sentido. Países etnicamente homogêneos como o Japão se dão muito bem, em diversos aspectos melhor que os EUA, então a diversidade, a representação étnica homogênea ou proporcional em todas as atividades ou estratos sociais não é algo essencial para o avanço da sociedade, não devendo ser artificialmente implementada.
O fato do Japão ser homogêneo não interfere em nada na avaliação de sociedades multiculturais. A sociedade americana, tanta quanto a brasileira, já são etnicamente heterogêneas, o que significa que as disparidades culturais tem maior impacto. Não há o que se falar de diferenças étnicas numa sociedade homogênea.

Qual é o "impacto" da heterogeneidade étnica nas "representações" em diversos campos de atuação?

Se há 80% de pasteleiros asiáticos, e apenas 20% de pasteleiros brancos e negros, eles produzem, no total, menos pastéis do que o mesmo número de pasteleiros em homogeneidade racial? Ou a sociedade se beneficia mais de pastéis produzidos por pessoas com cores e feições diferentes? Ou que seja, cujos ancestrais vieram de países diferentes, que tiveram costumes, idiomas diferentes? Como?

Eu não vejo por que valeria para médicos ou físicos mais do que para pasteleiros, sambistas ou futebolistas.

 

Offline Buckaroo Banzai

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #10 Online: 30 de Novembro de 2007, 09:18:44 »
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Conclusões que se teria que tomar por casos similares, no que se refere às instituições de ensino, supondo que disparidade significa discriminação:

- a maioria dos malásios seriam vítimas das minorias chinesas na Malásia;

- a maioria dos nigerianos do norte seriam vítimas da minoria ibo;

- a maioria sinalesa seria vítma da minoria tamil no Sri Lanka;

-  numerosas outras maiorias seriam vítimas das minorias chettiar ou marwari em várias partes da Índia;

-  as maiorias brancas no Canadá ou EUA seriam vítimas das minorias japonesas.
Aqui está tudo misturado, ambiente acadêmico e ambiente esportivo.  :no:

Não está misturado não. São disparidades no desempenho acadêmico e econômico.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #11 Online: 30 de Novembro de 2007, 10:43:22 »
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Discriminação?

Sowell questiona a suposição de que disparidades demográficas na "representação" se devem a discriminação. Essa suposição é raramente testada contra os dados sobre disparidades nas qualificações; dá como exemplo que no ano de 2001, houveram mais de 16.000 estudantes ásio-americanos que tiveram resultados acima de 700 pontos no SAT (teste de aptidão escolar), enquanto menos de 700 estudantes negros tiveram resultados tão altos, apesar de haver várias vezes mais negros do que ásio-americanos.
Isso demonstra a influencia cultural ao invés da irrelevância como supõe o argumento. A etnia asiática é mais evoluida no aspecto educacional do que a africana, senda a africana colonizada por muito tempo. O desenvolvimento asiático é muito superior no quesito educação.

Não.

É freqüentemente dito que os negros estão menos nas faculdades porque são discriminados.

Esse contexto deixa implícito (algumas vezes explícito) que seria algo como, negros com desempenho igual ou melhor, perdendo vagas para brancos e asiáticos. Mas não é o que ocorre, os testes de preparo para o curso não costumavam considerar a raça.

Só é irrelevante esse ponto para quem considera que as universidades devem ser primeiramente "centros de homogeneidade racial", e que o fator acadêmico, preparar os melhores profissionais, é algo secundário.




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Sowell argumenta que diferenças de costumes entre as diferentes populações e indivíduos não podem ser banidas da discussão como "estereótipos" ou por ser "culpar a vítima", pois a causa não é "culpa", e se eles são ou não vítimas é justamente a questão. A disparidade não é devida à uma discriminação, mas à legítimas diferenças de desempenho entre os grupos
Mas a etnia é um aspecto cultural, de descendencia de um povo.

Ele certamente não nega isso.


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Não vejo a colonização e escravidão dos negros no Brasil e nos Estados Unidos como legítima.

Provavelmente ninguém afirma o contrário.


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São questões culturais do nosso passado e que tiveram grande impacto atual, o que é corroborados pelas evidências empíricas das análises multiétnicas.

Isso não diz nada quanto aos candidatos menos preparados deverem ser escolhidos preferencialmente para cursar faculdade em detrimento daqueles mais preparados.


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Sowell aponta que grupos supostamente discriminados mostram dominância estatística sobre a a população majoritária em campos como esportes e entretenimento. Nesses campos, talentos individuais não requerem o nível de educação superior necessário a diversos outros campos de atuação.
Estão relacionados a talentos individuais e biológicos. Além de serem campos de pouca importância política no contexto social. Não se compara com a ciência que é promovida e feita nas universidades.

Por que o esporte e o entretenimento são menos importantes no contexto social? Alguém poderia dizer justamente o contrário, e ser igualmente válido ou mais, veja só:

"o entrenimento e os esportes são mais importantes no contexto social da diversidade étnica, pois é no esporte e no entretenimento que os indivíduos de uma sociedade se confraternizam amistosamente. Os esportes e o entretenimento de uma forma geral sempre contiveram aspectos muito importantes da identidade cultural dos povos, daí é de absoluta importância que haja representatividade multiétnica homogênea nessas áreas, pois são elas que acabam sendo responsáveis pela perpetuação da identidade de um povo, bem como sua aceitação social pelos demais. Sem ela, o povo perde a sua identidade, e com isso sua auto-estima coletiva, e temos então como resultado uma sociedade multi-étnicamente empobrecida, o que traz um impacto devastador para todos os membros da sociedade".


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Disparidades estatísticas não provam nada sobre discriminação porque são comuns mesmo em situações nas quais não há nem mesmo um mecanismo que possibilite essa discriminação. O que é apontado como discriminação, na verdade seria, tal como esses casos, simplesmente diferentes resultados legítimos de desempenho na competição do mercado e instituições de ensino.
Estou vendo que o argumento principal é o de analogia entre esportes e universidades. Somente pelo aspecto social dessas áreas vemos que é inviável tal analogia, sem contar a qualificação biológica de uma e a intelectual de outra.

O ponto da comparação dos esportes e do meio acadêmico é apenas demonstrar que a discriminação não é a causa da disparidade, e sim preparo.

Ao mesmo tempo, o autor considera que, tal como não importa a homogeneidade racial nos esportes, não importa na faculdade, e sim o preparo, que resulta em melhor desempenho, e no final beneficia a toda sociedade, até mesmo quem ficou de fora - tanto negros quanto brancos, pois não são só os negros que ficam de fora da faculdade, mas brancos, na maioria, simplesmente por serem a maioria em números absolutos.

"O social"  ganha com mais e melhores profissionais de qualquer cor ou pedigree, não com menos e e piores profissionais multi-étnicos.



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Resultados: diminui-se a qualidade dos profissionais, perde-se profissionais de alta qualidade, e gera-se conflito onde antes não havia

Thomas Sowell estudou programas de ações afirmativas de países como Índia, Malásia, Nigéria e Estados Unidos da América. O que ele concluiu é que esses programas tem nos melhores casos impacto desprezível nos grupos que objetivam ajudar. Em vez de benefícios para os grupos tidos como vítimas da maioria, essas políticas trouxeram perdas para toda a sociedade, tanto por não explorar todo o potencial acadêmico da população, quanto através de polarização entre os grupos e violência resultante.
É desconsiderado o aspecto social dos grupos com mais percentual de ingresso nas universidades.

Não é; ele diz tanto que são negros ricos que entram no lugar dos brancos e asiáticos pobres em boa parte do tempo. Que já poderiam competir de igual para igual, como demonstrado.

Fora isso, a faculdade não é o único meio possível de ascenção social não é a faculdade, e menos ainda se entrar na faculdade com menor preparo para demorar mais para concluir o curso ou simplesmente bombar, como é o padrão que ele detectou também.

Isso só faz com que todos percam no sentido "social". Os negros serão vistos como incompetentes (e boa parte das pessoas não vai ver isso como produto das cotas, acredite), e suas credenciais são postas em dúvida, mesmo a daqueles que não se beneficiaram de cotas, porque os empregadores não teriam como ficar verificando isso sempre.


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Dados diversos podem ser obtidos de uma variedade se fontes privadas nos EUA sugerindo que os negros americanos mais afortunados recebem uma parte desproporcional dos benefícios que iria para os negros como um todo nos EUA, da mesma forma que os malásios mais afortunados tendem a se beneficiar mais das ações afirmativas na malásia ou os intocáveis mais afortunados se beneficiam mais das ações afirmativas na Ìndia.
Vejo uma leitura errada dos dados. O principal fator das cotas é a igualdade étnica e não os pobres somente. Por vezes os negros mais qualificados são os que tem mais condições. Mas se estes entram nas universidades pelas cotas é devido a não conseguirem sem as cotas mesmo com boas condições.

Isso é ridículo e já foi comentado.



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Costuma-se pensar que as cotas não tenham qualquer custo, por simplesmente trocarem os beneficiários, mas Sowell demonstra que isso não é verdade, e que o resultado na verdade pode é negativo. Um grupo pode perder maisdo que é ganho pelo outro, fazendo com que a sociedade como um todo perca no fim das contas.

Sowell exemplifica, "quando um grupo no qual 80% dos estudantes admitidos na faculdade iriam se formar perde admissões para um grupo no qual apenas 40% dos estudantes se formam, então o primeiro grupo precisa perder 800 graduados para que o segundo ganhe 400 graduados. Além disso, é comum que em muitos países os estudantes de menor qualificação se especializem em campos mais fáceis e menos remunerados, além de terem menor desempenho acadêmico; assim o primeiro grupo pode perder 800 graduados, concentrados em campos como matemática, ciências e engenharia, enquanto o segundo grupo ganha 400 graduados concentrados em campos como sociologia, educação e estudos étnicos".
Isso é o que acontece sem as cotas. Esses dados são tremendamente exagerados, mesmo sendo no caso americano é muito suspeito sem fontes. É uma afirmação vaga, um argumento de autoridade apenas.

Você não tem dados nem lógica a seu favor para argumentar o contrário; que o preparo não importa, e que as pessoas admitidas por padrões inferiores se dão tão bem quanto as pessoas admitidas com maior rigor, não acarretando ineficiência (prejuducial a sociedade toda) nem nada. Em outras palavras, tudo que tem é fé nas cotas. Motivada por um desejo altruísta e louvável, mas que infelizmente acaba tendo o resultado contrário, como revalam os fatos.



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Não há apenas essa perda de eficiência, por pessoas menos qualificadas sendo escolhidas em detrimento de mais qualificadas, mas também ocorre de vários membros altamente qualificados de grupos não beneficiados por cotas abandonarem uma sociedade por terem tido reduzidas as suas chances, e com eles, vão as suas contribuições para a sociedade. Esse tipo de perda ocorreu na Malásia, na África do Sul, Fiji, na Ásia Central soviética, no leste da África e em diversos outras sociedades onde as habilidades desses emigrantes poderiam contribuir muito para a sociedade, eventualmente até para os que supostamente são "ajudados" por sistemas de cotas. Todos perdem.
Ninguém perde. Se os qualificados que não conseguem vaga nas universidades devido as cotas conseguem emigrar para outros países, então estão tendo um bom aproveitamento, por vezes muito superior.

Quer dizer que se os especialistas de diversas áreas debandam de um país ou região, fica tudo na mesma para o "social"? Não precisamos de médicos, de engenheiros, etc? O que importa é que sejamos apenas multi-étnicos, e isso é o fator mais importante no social?





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O Sri Lanka durante um bom tempo, até o meio do século XX, teve uma reputação exemplar como país no qual as relações entre as populações majoritárias e minoritárias. Isso mudou com décadas de guerras civis marcadas por horríveis atrocidades, onde morreram mais pessoas do que americanos em todos os anos da guerra do Vietnam, apeasar do Sri Lanka ser muito menor que os EUA.
E ele atribui isso a ações afirmativas? Quais os dados e fontes que confirmam isso? Argumento de autoridade apenas.

A etnia tamil (minoria) veio ao Sri Lanka e rapidamente conquistou boas colocações sócio-econômicas (e/ou já vieram com elas). Até a metade do século 20 não tinham havido conflitos étnicos entre eles e os sinhaleses, o que passou a ocorrer depois de ações políticas preferencias para os sinhaleses, começando com cotas nas universidades nos anos 70.


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Ao mesmo tempo, mesmo que se julgasse que a compensação aos negros compensasse toda essa perda para a sociedade em desenvolvimento, em harmonia, e até em vidas, há ainda o problema de que aqueles que se objetivava ajudar, acabam não sendo ajudados.
Não existem problemas reais com as cotas. É um discurso inflamado mas carente de fontes empíricas e confiáveis, atrelando causa e efeito.

É fato que a preferência por grupos étnicos em vez de preparo/desempenho acarreta perda de eficiência. O que está fazendo é negação e tentando varrer os dados desagradáveis para baixo do tapete, na esperança de que se tentar mais uma vez, com pensamento bem positivo, acreditando mesmo, tudo dê certo.

Nas escolas médicas da Índia, apenas 22% dos admitidos sob cotas completaram o curso em tempo, contra 78% daqueles que foram admitidos por critérios normais. [Fonte, mais Sowell]]http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9C0CE2DC1639F932A35754C0A966958260&sec=&spon=&pagewanted=2][Fonte, mais Sowell]


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Depois que as cotas acabaram nas universidades do estado da Califórnia, o número de estudantes negros aumentou. Menos negros vão para Berkeley, e mais vão para oustras faculdades, nas quais eles conseguem passar por critérios admissão iguais para todos, e esses estudantes tem maior chance de se formar, em vez de serem simplesmente figurantes que eventualmente desistiam ou fracassavam.
Imagino a situação americana como muito diferente. Lá deve mesmo existir um preconceito com os cotista, o mesmo que ocorre aqui com as universidade particulares. Mesmo um bom aluno dessas é prejudicado pela reputação da universidade. Mas penso ser diferente a situação no Brasil. Reflexo de culturas diferentes.

Você acredita que o preparo não conta muito e inventa explicações ad hoc para o que demonstra o contrário.


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Sempre que os critérios de admissão são os mesmos todas as raças, os resultados nos testes de aptidão são similares, e as taxas de graduação são também similares. Quando há padrões diferentes de admissão, há grandes diferenças entre os testes de aptidão de negros e brancos, bem como grandes diferenças nas taxas de graduação.

Num caso, na Universidade de Colorado, o SAT médio dos estudantes negros era inferior ao dos estudantes brancos em mais de 200 pontos: apenas 39% dos estudantes negros se graduaram, contra 72% dos estudantes brancos.

Na Universidade de Colorado, em Denver, a diferença do SAT era de apenas 30 pontos: 50% de todos os estudantes negros e 48% dos estudantes brancos se graduaram.
Demostra existir uma diferença de aproveitamento. Mas mesmo assim, no caso da Universidade do Colorado o número absoluto de negros formados deve ser maior. O foco é a oportunidade para negros, verificando o motivo do menor aproveitamento destes e não voltando a exclui-los.

Não entendi o "mas". Sim, o número de negros formados em Colorado é maior, justamente onde não há cotas. Porque as pessoas entram de acordo com o preparo.

O que esses dados dizem é, simplesmente, que o preparo é altamente relevante para o desempenho acadêmico. Onde negros e brancos são admitidos por critérios iguais, tem desempenhos iguais. Se há admissão mais amena, há ineficiência, menos formados.

O que as cotas fazem é trocar alunos bem preparados, que conseguiriam se formar em profissões importantes e bem pagas, pelos menos preparados, que mais provavelmente não conseguirão se formar.



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Os benefícios tendem a se estender rapidamente para muito além daqueles que se intencionava compensar pela situação ancestral ou atual, chegando a até haver uma relação inversa entre os que a necessidade de ajuda e os benefícios na prática.

Coisas bizarras vão acontecendo. Sowell diz que desonestidade está sempre junta com esse tipo de política. Os princípios não condizem com as ações. A idéia geral abre precedentes para coisas injustificáveis por qualquer sofrimento que os negros tenham tido, como por exemplo, a admissão de estudantes brancos num colégio público de São Francisco em detrimento de sino-americanos melhor qualificados que também tentaram se matricular. Em alguns casos, critérios extra-curriculares obscuros e irrefutáveis passam a contar pontos para admissão, como "liderança", ou "superação de adversidades". Na Índia, argumentou-se que certos critérios ajudariam a "impedir que criaturas insignificantes sem personalidade se tornassem engenheiros ou doutores".
Apenas critérios morais, qualificações muito discutíveis e tendenciosas.
Os critérios raciais também são discutíveis e tendenciosos, e apenas pretensamente morais.

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Os negros também perdem: não só não são ajudados, como perdem em credibilidade e dignidade

Sowell lembra do fato histórico que vem sido apagado da memória das pessoas devido às ações afirmativas: a maioria dos negros nos EUA saíram por si próprios da pobreza nas décadas anteriores à revolução dos direitos civis dos anos 60 e do começo das ações afirmativas nos anos 70.

Isso vai sendo levado ao esquecimento, com as ações afirmativas, e os negros vão então cada vez mais sendo vistos por toda população, tanto pelos seus amigos quanto pelos racistas, como incapazes, que devem os seus avanços à caridade do governo, e lhes é tirada a oportunidade de  conquistar o mesmo respeito que outros grupos ganharam ao saírem por si mesmos da pobreza, ao se tornarem pessoas mais produtivas, que contribuem com a sociedade. Para Sowell, as ações afirmativas tem o efeito de uma moratória do reconhecimento das conquistas dos negros, que supostamente deveriam ajudar.
Esse desmérito é relativo ao que as pessoas acham do programa. As pesquisas aqui indicam uma certa divisão do público, embora o tema ainda seja muito discutido e divida opiniões em toda a sociedade.

Não, o desmérito é relativo a imagem que fica dos negros só conseguirem se suceder bem com esmolas, com gente pegando mais leve porque são uns coitadinhos incapazes.


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Mas o resultado prático de negros com formação superior está acima de qualquer preconceito.

Esse resultado positivo É um preconceito. Os fatos verificados, demonstram o fracasso das cotas.

E os negros eram capazes de obter formação superior sem as cotas. Afirmar o contrário já é outro preconceito humilhante. Eles são tão capazes quanto qualquer branco no mesmo grau de preparo. O fato de haver mais brancos melhor preparados que negros só importa se temos uma visão etnocentrista da sociedade. Se não vemos as raças, são todos pessoas, uns com mais, outros com menos preparo. Sendo que os que tem menos preparo hoje, há pouco tempo atrás, já tinham conseguido por si sós avanços surpreendentes, mesmo sem leis a seu favor, mesmo até com seu avanço sendo ilegal em alguns lugares.







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Os estudantes negros admitidos por padrões inferiores acabam tendo uma taxa maior de fracasso acadêmico, e aqueles que foram admitidos pelos padrões iguais aos de todos os outros tem suas credenciais postas sempre vistas com desconfiança gerada pelos padrões diferentes de admissão dados às minorias. Numa época em que a universidade de Harvard admitia mais da metade dos filhos de ex-alnos, essas admissões especiais eram desproporcionalmente representados entre os estudantes que fracassavam.
Não é coerente comparar padrões étnicos com os biologicos de pais para filhos.

É coerente, a essência é simplesmente a mesma: favorecer a entrada de pessoas a despeito do menor grau de preparo, em detrimento de outras menos preparadas.

Não tem nada a ver com biologia. Simplesmente se não há uma "peneira" inicial fina o bastante, entra gente que não sai depois. Que bomba no meio do caminho. Que ocupou vagas que poderiam ter formados profissionais nesse mesmo período, desperdiçando recursos, prejudicando a socidade.

Esses candidatos que poderiam ter feito melhor aproveitamento, simplesmente não eram da etnia certa para o projeto de engenharia étnica da nação.

 
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Alternativas

Para Sowell, é necessário admitir que temos limitações, mas que mesmo assim podemos fazer muito mesmo dentro dessas limitações. "Na América, ao menos, a história demonstrou dramaticamente que isso pode ser feito pois já foi feito". Ele aponta para tremendos progressos econômicos e sociais ocorridos no começo do século XX por alguns dos mais pobres e considerados menos promissores segmentos da população.
Mas as desigualdades étnicas permanegem muito grandes, e dentro dos modelos atuais de estados de direitos preocupados com a igualdade material, seria um retrocesso abandonar tais medidas que superam o paradgima de direito formal, uma igualdade idealizada apenas.

Não, como os dados demonstram, as cotas são retrocesso. Porque fazem que a sociedade como um todo perca em eficiência, e dá tratamento diferencial para as raças, o que é indesejável.



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O que ocorreu, antes dos programas de ações afirmativas dos anos 70, não foi simplesmente transferência de benefícios do resto da população para esses grupos - que na melhor das hipóteses, tem ganho zero - mas progresso social e econômico real, com os membros mais pobres contribuindo para o avanço da sociedade como um todo, com a sua educação crescente, ascenção profissional. Esse crescimento foi dramaticamente maior do que o que ocorreu depois da implementação das ações afirmativas.
Falacioso essa afirmação, pois sempre há uma alocação dos indivíduos em outras instituições, de acordo com o seu alcance. Ocorre porém que as ações afirmativas buscam uma qualificação por toda a sociedade, o que até poderia ocasionar uma queda momentânea na produtividade econômica, admitindo essas informação como reais. Mas o ganho humano é muito maior, com mais chances a grupos disprivilegiados.

Não, os grupos mais pobres sempre tem melhores chances numa sociedade que é, ao todo, mais rica, não necessariamente mais igual. Por isso as pessoas pobres mudam para países ricos, e não para países onde todos sejam igualmente pobres.


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Mas isso para quem não nega que os negros são disprivilegiados, como os dados empíricos mostram no Brasil.

*respira fundo*

Nem sei se deveria responder a essas afirmações de retórica pura. "Privilegiado", tem diversos significados. Os negros no Brasil, não são economicamente privilegiados, na maioria. Mas tem privilégios no tratamento legal. 



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Sowell acredita que a esse progresso todo é ignorado, ou mesmo desdenhado como simplesmente "não fazer nada", por não ser tão interessante aos políticos, ativistas e intelectuais que ganham em posar como moralmente superiores ao denunciar a socieadde. A pobreza dos negros foi reduzida até a metade, antes das açõesa afirmativas, não tendo diminuido muito mais desde então, mas isso parece não importar.
Não tem nada provando essa relação de causa e efeito entre as cotas e a situação dos negros.

Não tem como se beneficiar a sociedade ou a indivíduos exigindo-se menos preparo dos indivíduos para o que seria normalmente considerado necessário para alguma coisa.


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Eu conheço informações contrárias, a de benefícios das ações afirmativas. Com ilustres exemplos.

Quais são os exemplos e as informações contrárias?



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Mas as cotas tem o foco nas universidades e tem resultados a longo prazo.

Trocando bem estar das pessoas e progresso econômico (que eventualmente ajudaria até as minorias desfavorecidas, como se deu até antes das cotas) por homogeneidade racial pura e simplesmente. Estética.


Offline Buckaroo Banzai

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #12 Online: 30 de Novembro de 2007, 10:52:07 »
CORREÇÃO:


Num caso, no melhor campus da universidade do Colorado em Boulder, o SAT médio dos estudantes negros era inferior ao dos estudantes brancos em mais de 200 pontos: apenas 39% dos estudantes negros se graduaram, contra 72% dos estudantes brancos.

Já na Universidade de Colorado, em Denver, a diferença do SAT era de apenas 30 pontos: 50% de todos os estudantes negros e 48% dos estudantes brancos se graduaram.

Offline Alegra

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #13 Online: 30 de Novembro de 2007, 11:17:07 »
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Isso vai sendo levado ao esquecimento, com as ações afirmativas, e os negros vão então cada vez mais sendo vistos por toda população, tanto pelos seus amigos quanto pelos racistas, como incapazes, que devem os seus avanços à caridade do governo, e lhes é tirada a oportunidade de  conquistar o mesmo respeito que outros grupos ganharam ao saírem por si mesmos da pobreza, ao se tornarem pessoas mais produtivas, que contribuem com a sociedade. Para Sowell, as ações afirmativas tem o efeito de uma moratória do reconhecimento das conquistas dos negros, que supostamente deveriam ajudar.

 <_< Interessante....


Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Thufir Hawat

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #14 Online: 30 de Novembro de 2007, 13:37:27 »
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Citação de: Adriano
É irrelevanda a comparação entre esportes e ciência. A ciência é feita na universidade, é o campo de atuação dos cérebros. O que se constata é que não existem diferenças significativas entre as etnias no aspecto intelectual, já no biológico são muitas, o que pode justificar qualidades esportivas, sem descartar também o aspecto social.
Concordo que não é um argumento muito bom, mas a questão que está por trás é fundamental: A universidade deve ser um centro de excelência, e para isso deve calcar-se no mérito, o que implica que o critério de seleção de quem entra ou não na universidade é fundamental para garantir seu papel como centro de excelência.
Tomadas as devidas proporções, o esporte é (ou deveria ser) semelhante, só os melhores jogadores são selecionados.


Na verdade, não se sabe de diferenças biológicas significativas de modo geral, que fossem responsáveis pela desproporção na "representação" racial nos diferentes esportes. É questão igualmente de tradição e preparo. Por exemplo, dizem que os quenianos tem um gene tal que melhoraria o desempenho em certos tipos de corrida, mas algo como 70% da população européia também o tem, se não me esqueço.
Pois é, como eu disse, o conceito de mérito também está por trás dos esportes, daí a analogia do Sowell, e é fundamental à universidade se esta pretende ser um centro de excelência.
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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #15 Online: 30 de Novembro de 2007, 17:09:56 »
Interessante. E olhem só o que saiu agora na internets:

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Juiz entende que cota para negro é ilegal e garante igualdade em vestibular


A Justiça Federal de Santa Catarina garantiu vaga a um candidato branco ao curso de geografia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) no próximo vestibular, incluídas aquelas destinadas aos candidatos negros.

O juiz Carlos Alberto da Costa Dias, da 2ª Vara Federal de Florianópolis, em decisão desta quinta-feira (29/11), considerou que a reserva de vagas prevista em resolução do conselho universitário da instituição e no edital do vestibular viola o princípio constitucional da igualdade.

A sentença tem efeitos apenas em relação ao autor da ação e a UFSC pode recorrer. Procurada, a universidade não tinha conhecimento da decisão até o momento, mas deve se manifestar ainda nesta sexta (30).

O estudante entrou com um mandado de segurança contra a UFSC alegando que a reserva de vagas estabelecida em normas da universidade é ilegal e abusiva.

Na UFSC, 30% das vagas do próximo vestibular terão destinação previamente definida —20% para candidatos que tenham cursado o ensino fundamental e médio integralmente em escolas públicas e 10% para candidatos auto declarados negros, que também não tenham cursado escolas privadas.

Para o magistrado, a distinção é contrária à Constituição. “A supressão de vagas ao ‘não-negro’ viola o princípio constitucional da igualdade, sem que haja real fator para privilegiar o denominado ‘negro’, em detrimento do denominado ‘não-negro’”, afirmou.

Segundo ele, não é possível identificar com precisão quem é negro no Brasil. “Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos da América, a miscigenação entre os denominados ‘brancos’ e ‘negros’ torna a identificação por fenótipo absolutamente inconsistente”, argumenta.

Além disso, “o processo seletivo americano não é baseado constitucionalmente no princípio da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”, havendo seleção de candidatos com aptidão para determinados esportes, por exemplo. “Se há dívida social —como de fato há— não é exclusivamente com o negro, mas com toda a universalidade dos que estejam socialmente em desvantagem”, diz o juiz.

Ainda segundo o magistrado, o maior obstáculo ao acesso do negro ao ensino superior não seria a condição de negro, “mas o fato de o ensino público anterior ao vestibular ser de má-qualidade e a sua condição social, eventualmente, não possibilitar dedicação maior aos estudos, ou outros fatores que devem ser melhor estudados e debatidos”.

Na sentença, ele entende que é possível eleger um grupo de pessoas a fim de diminuir desigualdades sociais, como é o caso do percentual de vagas para portadores de deficiência em concursos públicos. Isso porque, o fator “deve ser pertinente, guardar relação de causa e efeito, ser determinante, explicar o motivo por que se considera aquele grupo ou categoria inferior”.

Sexta-feira, 30 de novembro de 2007

fonte: http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/45036.shtml
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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #16 Online: 30 de Novembro de 2007, 17:19:31 »

A decisão não parece dizer respeito as cotas sócio-econômicas já que poderiam ser enquadradas aqui: Na sentença, ele entende que é possível eleger um grupo de pessoas a fim de diminuir desigualdades sociais, como é o caso do percentual de vagas para portadores de deficiência em concursos públicos. Isso porque, o fator “deve ser pertinente, guardar relação de causa e efeito, ser determinante, explicar o motivo por que se considera aquele grupo ou categoria inferior”.

Offline Adriano

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #17 Online: 01 de Dezembro de 2007, 08:43:43 »
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Ação afirmativa traz eficiência econômica, diz especialista americano

23/9/2006 - Luciano Rodrigues - O Globo - Brasil

RIO - Economista da Universidade de Michigan - instituição que, há três anos, esteve no centro de uma decisão crucial da Suprema Corte americana sobre ações afirmativas - Thomas Weisskopf estudou as experiências de EUA e Índia na concessão de cotas a grupos marginalizados. Seu último livro, sobre esse tema, avaliou custos e benefícios das ações afirmativas. A principal vantagem, diz Weisskopf, é dar diversidade à elite, criando uma democracia vibrante e uma economia mais eficiente. Mas há custos, como a violação do princípio da igualdade de todos perante a lei. Weisskopf veio ao Rio semana passada participar da 2ª Conferência Internacional da Rede de Estudos sobre Ações Afirmativas.

Na sua opinião, qual é a importância das ações afirmativas?

THOMAS WEISSKOPF: Para mim, sua função mais importante é mudar o perfil da elite. Isso significa trazer para posições de poder, no governo, nos negócios, na educação, membros da comunidade que estão muito sub-representados e que têm sido marginalizados. As ações afirmativas tentam capacitar essas pessoas para posições de maior poder. E o conceito de capital social é muito importante. Ou seja, propiciar uma rede social de contatos que crie oportunidades de emprego, de negócios. Os economistas falam do capital humano, que vem da qualificação profissional e da educação. Mas destacam também o conceito de capital social. O capital humano trata do que você conhece. O capital social, de quem você conhece. Os membros de grupos dominantes têm mais acesso às pessoas importantes, eles circulam mais facilmente nos círculos de poder, seja do governo, das empresas ou da academia. Mas as pessoas de grupos marginalizados não têm amigos, parentes ou qualquer contato a quem possam recorrer em busca de oportunidades. As ações afirmativas tentam disseminar o capital social e, também, em certa medida, disseminar o capital humano, entre os grupos que têm sido privados disso. E também capacitar membros desses grupos que, se tiverem acesso a boas escolas, poderão conquistar bons empregos e, assim, mudar o perfil da elite. Esse é o objetivo principal: criar uma elite mais diversificada e, assim, um sistema político mais justo, uma democracia mais vibrante, ter algum ganho de igualdade e, também, em certas situações, ter mais eficiência.

O que o senhor quer dizer com eficiência?

WEISSKOPF: Do ponto de vista institucional, a diversidade garante mais eficiência. Nos Estados Unidos, recentemente, quando houve um questionamento legal sobre as ações afirmativas, os militares se posicionaram a favor dessas políticas. Nas posições mais baixas na hierarquia militar há muitos afro-americanos e muitos latino-americanos, porque esses grupos não têm muitas outras oportunidades econômicas. Então, a elite dos militares quer ações afirmativas porque entende que é importante ter mais oficiais desses grupos. Os militares argumentam que, se o perfil dos líderes refletir o perfil da base, o Exército funcionará melhor. Não é só uma questão de eqüidade, de justiça ou de democracia, pode ser uma questão de eficiência, de melhor performance das instituições.

E isso significa também melhor performance econômica?

WEISSKOPF: Sim, isso vale para a economia também. Em 2003, a Suprema Corte americana julgou o mais importante caso sobre ações afirmativas em 25 anos. Alguns estudantes processaram a Universidade de Michigan, que é a minha universidade, contra as ações afirmativas. Numa decisão apertada, por cinco votos a quatro, a Suprema Corte decidiu que a universidade poderia dar preferências a afro-americanos, a latino-americanos e nativos americanos, sob o argumento de que uma missão legítima do sistema educacional era promover a diversidade, ou seja, formar alunos de diferentes origens que pudessem servir melhor, nas suas profissões, ao governo, às empresas, ao país. A Suprema Corte, nesse caso, foi influenciada pelos militares e também pelos empresários. Eles apresentaram seus argumentos ao tribunal dizendo que precisavam das ações afirmativas porque os alunos formados nas universidades vão trabalhar nas suas companhias, e é melhor para os negócios ter pessoas de diferentes grupos étnicos e raciais. Eles disseram: nós precisamos de mais diversidade para termos eficiência em nossas empresas. Uma sociedade em que um grupo ocupa a maior parte das posições importantes é uma sociedade deficiente. Isso não é bom para a democracia, para a igualdade, para a eficiência e não é bom para os negócios. Quando as empresas americanas praticam ações afirmativas, fazem isso para atender aos seus próprios interesses. Elas percebem que isso é importante para que sejam mais eficientes.

Esses são os benefícios em termos econômicos?

WEISSKOPF: Sim, e há muitos outros benefícios. Em termos políticos, a democracia funciona melhor quando pessoas de diferentes grupos são reconhecidas, têm voz e ocupam posições importantes. Há benefícios na legitimidade e na eficiência da democracia. E há também benefícios econômicos. Se há grupos a quem são negadas oportunidades, isso significa que há pessoas talentosas, com potencial produtivo, que estão sendo ignoradas. Se forem criadas oportunidades via ações afirmativas, será possível identificar essas pessoas e trazê-las para o sistema econômico, onde antes elas eram descartadas. Os membros de grupos que historicamente foram discriminados vivem em bairros pobres, freqüentam escolas piores, têm menos contatos e, a menos que recebam alguma prioridade para entrar em boas universidades e, assim, conseguir bons empregos, eles não terão as oportunidades. Então, há sim, ganhos econômicos em potencial. Meus estudos na Índia e nos Estados Unidos encontraram evidências de que as ações afirmativas alcançaram alguns desses objetivos econômicos e políticos. Nos anos 50, as posições de liderança nos negócios, no governo e entres os militares eram basicamente masculinas e brancas. Isso mudou completamente, a diversidade hoje é muito maior. É não é coincidência que isso tenha ocorrido justamente depois de as políticas de ações afirmativas terem sido implementadas no país. Houve ganhos significativos também na Índia, apesar de seus programas de ação afirmativa, talvez por se tratar de um país mais pobre, não tenham funcionado tão bem quanto nos EUA. As políticas desse tipo, para serem eficazes, exigem recursos, para que se faça uma seleção adequada de quem vai se beneficiar das prioridade e para criar programas de apoio, nas instituições de ensino, direcionados aos alunos que tenham uma base educacional muito fraca.

O Brasil não é tão pobre quanto a Índia, mas tem muita desigualdade de renda. E está em debate aqui a criação de cotas sociais, em vez de cotas raciais. As políticas para melhorar a distribuição de renda devem ser similares às usadas para lidar com a desigualdade racial?

WEISSKOPF: É importante fazer distinção, mesmo que em muitos países haja uma correlação, ou seja, pessoa que são de grupos étnicos marginalizados tendem a ser os mais pobres em termos de padrões socioeconômicos. Mas os problemas são completamente distintos. Ações afirmativas, sejam em educação ou no acesso ao emprego, tendem a criar oportunidades para pessoas de grupos marginalizados que, dentro dos seus grupos, já estão entre os mais bem-sucedidos. No acesso à universidade, por exemplo, estamos falando de estudantes que já completaram o Ensino Médio e podem ao menos cogitar cursar a educação superior. As ações afirmativas, então, selecionam alguns indivíduos que já são os melhores no seu grupo, que vêm de famílias que pelo menos conseguiram enviar seus filhos a escolas razoáveis. Estamos falando a pessoas que vivem nas áreas urbanas, com acesso a algumas escolas decentes. Não estamos falando dos mais pobres, porque estes não vão sequer terminar o Ensino Médio. A mesma lógica vale para o mercado de trabalho no serviço público: as ações afirmativas vão selecionar entre os que têm qualificaçao suficiente para aquele emprego. Mas a maioria dos membros desses grupos marginalizados vivem na pobreza, têm uma educação muito ruim e sequer poderão tentar os benefícios da ação afirmativa. As ações afirmativas não vão ajudar os mais pobres entre os pobres, pelo menos não diretamente. Podem ajudar indiretamente, se colocarem mais negros em posição de poder que, no governo ou no setor privado, tomem decisões que favoreçam à massa de negros que não são tão afortunados. Mas é preciso ter políticas diferentes. Para lidar com as desigualdades de renda, são ncessárias políticas que sejam dirigidas aos mais pobres entre os pobres. Políticas de bem estar social, de educação, de oportunidades de empregos, uma vasta gama de programas, incluindo não apenas membros dos grupos discriminados, mas também o conjunto dos pobres. Para lidar com exclusão racial e étnica, é preciso ações afirmativas. São medidas complementares: dois objetivos diferentes, dois tipos diferentes de políticas. Ambas são necessárias.

No Brasil, há a preocupação de que a discriminação aumente caso sejam levadas adiante políticas de ação afirmativa. O que podemos aprender das experiências americana e indiana?

WEISSKOPF: Esse tipo de preocupação também surgiu nos EUA e na Índia. Os argumentos usados pelos críticos das ações afirmativas são sempre muito simliares. O primeiro argumento é que é injusto, porque os indivíduos devem ser tratados unicamente como indivídios, sem qualquer tipo de preferência devido a sua origem ou etnia. Eu chamo esse tipo de preferência de discriminação positiva, dirigida àqueles que, no passado, sofreram discriminação negativa. Mas os críticos argumentam que discriminação é sempre discriminação e que é imoral. E é verdade que, num mundo ideal, não deveríamos discriminar. É por isso que eu gosto de avaliar as ações afirmativas em termos de custos e benefícios. E um dos custos é a violaçao de um importante princípio: não tratar as pessoas de forma diferente por causa de suas identidades étnicas ou raciais. Mas também vejo benefícios e é preciso levá-los em conta. Os críticos às ações afirmativas pensam apenas nos custos. E sustentam ainda que essas políticas podem aumentar a discriminação. Eles argumentam que, mesmo quando se tenta propiciar uma discriminação positiva, por meio de cotas ou preferências, na verdade está se criando uma maior consciência da diferença na sociedade. E, com isso, reforçando o hábito de tratar as pessoas de maneira diferente conforme sua cor ou sua raça. É uma questão empírica saber o quanto isso é um problema. Na Índia, já havia uma consciência de casta muito forte. As ações afirmativas de certa forma intensificaram essa consciência. E hoje vemos uma multiplicação de demandas por parte de castas que não foram originalmente beneficiadas. Então eu consideraria isso um custo, mas eu não acho que esse custo e outros custos, no caso da Índia, sejam superiores aos benefícios propiciados pelas ações afirmativas. Nos Estados Unidos, as ações afirmativas foram mais bem sucedidas.

Qual foi o erro da experiência indiana nesse aspecto?

WEISSKOPF: Nos Estados Unidos há um esforço enorme para não separar os beneficiados pelas ações afirmativas dos demais estudantes. Não é possível saber, nas universidades, quem foi beneficiado, até porque o processo de admissão dos alunos leva em conta diferentes critérios, não se trata apenas de um teste de qualificação, muitas outras questões são levadas em conta. Na Índia, são duas diferentes seleções. A admissão é feita por testes de qualificação simples. Há uma seleção aberta, para todos os candidatos, há uma lista separada para os dalits (também conhecidos como intocáveis) e uma terceira lista para os membros das tribos. Além disso, os estudantes são separados nos alojamentos da universidade, para facilitar a logística da ajuda econômica que o governo concede aos beneficiados pelas cotas.

Nos Estados Unidos, os negros são minoria. Mas, no Brasil, são a maioria da população. Como fazer políticas de ação afirmativa para a maioria?

WEISSKOPF: Para a política de ações afirmativas funcionar bem, o modelo ideal é que siga três critérios: ser concentrada num grupo pequeno, muito facilmente indetificável e que tenha sido historicamente marginalizado. Talvez por isso as ações afirmativas tenham funcionado melhor nos Estados Unidos do que na Índia ou do que venham a funcionar no Brasil. Em sociedades multiculturais, esse é um dilema. Mas creio que um princípio a seguir é que as políticas de ação afirmativa não devam garantir uma parcela de cotas exagerada, superior a 50%, nas universidades. É muita interferência com o princípio geral de que as pessoas devem ser tratadas igualmente. É um recibo para que haja contestação. Além disso, se a parcela de beneficiários é menor, é possível ter um programa mais eficiente, dando suporte a esses alunos. Se as cotas forem muito amplas, há mais riscos de os custos da política superarem seus benefícios.

As políticas de ação afirmativa são vistas como uma alternativa temporária. Mas, nos Estados Unidos, estão em vigor há quatro décadas. O que é considerado temporário?

WEISSKOPF: Por princípio, as políticas de ação afirmativa são temporárias, porque são desenhadas para aumentar a representação dos grupos marginalizados. Então, se a política é bem-sucedida, em determinado momento ela não é mais necessária. Da mesma forma, se a ação afirmativa não provocar resultados, não há porquê levá-la adiante. Ou seja, por princípio, é temporária. A questão é saber por quantos anos. De maneira realística, estamos falando de 50 a cem anos. No mínimo, é peciso levar adiante as ações afirmativas por duas gerações.

http://www.lpp-uerj.net/olped/AcoesAfirmativas/exibir_opiniao.asp?codnoticias=18153
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Offline Thufir Hawat

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #18 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:09:52 »
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WEISSKOPF: Por princípio, as políticas de ação afirmativa são temporárias, porque são desenhadas para aumentar a representação dos grupos marginalizados. Então, se a política é bem-sucedida, em determinado momento ela não é mais necessária. Da mesma forma, se a ação afirmativa não provocar resultados, não há porquê levá-la adiante. Ou seja, por princípio, é temporária. A questão é saber por quantos anos. De maneira realística, estamos falando de 50 a cem anos. No mínimo, é peciso levar adiante as ações afirmativas por duas gerações.

Uma reforma bem feita do sistema educacional (fundamental e médio) público poderia ser feita e avaliada em menos da metade do tempo mínimo que ele sugere que as cotas necessitam. E seria bem mais eficiente ao atingir não apenas negros, mas toda uma parte da população desfavorecida e discriminada por sua condição social independente de cor.
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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #19 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:12:30 »
Sem mencionar o que talvez sejam as duas principais vantagens:

1) tentaria resolver o problema real (as dificuldades de formação básica e profissionalizante das populações menos favorecidas) em vez de maquiá-lo via facilitação de ingresso no ensino superior; e

2) não alimentaria o racismo, nem o tornaria oficial.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Adriano

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #20 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:17:11 »
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WEISSKOPF: Por princípio, as políticas de ação afirmativa são temporárias, porque são desenhadas para aumentar a representação dos grupos marginalizados. Então, se a política é bem-sucedida, em determinado momento ela não é mais necessária. Da mesma forma, se a ação afirmativa não provocar resultados, não há porquê levá-la adiante. Ou seja, por princípio, é temporária. A questão é saber por quantos anos. De maneira realística, estamos falando de 50 a cem anos. No mínimo, é peciso levar adiante as ações afirmativas por duas gerações.

Uma reforma bem feita do sistema educacional (fundamental e médio) público poderia ser feita e avaliada em menos da metade do tempo mínimo que ele sugere que as cotas necessitam. E seria bem mais eficiente ao atingir não apenas negros, mas toda uma parte da população desfavorecida e discriminada por sua condição social independente de cor.

Uma coisa não impede a outra. As cotas são de 20%, até atingir uma proporção de 50% aproximadamente, que seria com o ensino equitativo e eficiente para todas as etnias e classes sociais, então as cotas já estariam sendo superadas de forma natural.
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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #21 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:20:22 »
Deixando de lado outros questionamentos, de onde vem esse número de 50%?  Não há sequer uma fronteira nítida entre negros e brancos, muito menos uma informação confiável de que 50% da população são "negros" (e supostamente os outros 50% são brancos e outras minorias que não mereçam cotas?)
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Thufir Hawat

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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #22 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:26:22 »
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WEISSKOPF: Por princípio, as políticas de ação afirmativa são temporárias, porque são desenhadas para aumentar a representação dos grupos marginalizados. Então, se a política é bem-sucedida, em determinado momento ela não é mais necessária. Da mesma forma, se a ação afirmativa não provocar resultados, não há porquê levá-la adiante. Ou seja, por princípio, é temporária. A questão é saber por quantos anos. De maneira realística, estamos falando de 50 a cem anos. No mínimo, é peciso levar adiante as ações afirmativas por duas gerações.

Uma reforma bem feita do sistema educacional (fundamental e médio) público poderia ser feita e avaliada em menos da metade do tempo mínimo que ele sugere que as cotas necessitam. E seria bem mais eficiente ao atingir não apenas negros, mas toda uma parte da população desfavorecida e discriminada por sua condição social independente de cor.

Uma coisa não impede a outra. As cotas são de 20%, até atingir uma proporção de 50% aproximadamente, que seria com o ensino equitativo e eficiente para todas as etnias e classes sociais, então as cotas já estariam sendo superadas de forma natural.
Não, mas uma reforma bem feita do ensino público tornaria as cotas profundamentes desnecessárias, de tal forma que sua aplicação não teria mais efeito que o de uma gota num oceano, principalmente se as cotas precisam de um tempo mínimo de aplicação mais que duas vezes maior que o de uma boa reforma do ensino (que ainda por cima tem outras vantagens).
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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #23 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:30:09 »
Deixando de lado outros questionamentos, de onde vem esse número de 50%?  Não há sequer uma fronteira nítida entre negros e brancos, muito menos uma informação confiável de que 50% da população são "negros" (e supostamente os outros 50% são brancos e outras minorias que não mereçam cotas?)
Pra começar que essa divisão de 50% é extremamente enganosa, pois implica que a sociedade possa ser bem dividida entre negros e não-negros, o que não apenas é mentira dado o número de etnias presentes no planeta (ou mesmo num só país) como ignora o fato de que outras etnias e/ou grupos culturais e/ou classes sociais além dos negros também possam ser afetados pela discriminação.
« Última modificação: 01 de Dezembro de 2007, 09:33:21 por Thufir Hawat »
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Re: [Português]Ações afirmativas e a verdadeira realidade social
« Resposta #24 Online: 01 de Dezembro de 2007, 09:33:48 »
Deixando de lado outros questionamentos, de onde vem esse número de 50%?  Não há sequer uma fronteira nítida entre negros e brancos, muito menos uma informação confiável de que 50% da população são "negros" (e supostamente os outros 50% são brancos e outras minorias que não mereçam cotas?)
Que tal o IBGE? Nos critérios estatísticos utilizados entram na classificação de negros os pretos e pardos. Todos os demais estudos tem como base primária os dados do censo do IBGE.

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WEISSKOPF: Por princípio, as políticas de ação afirmativa são temporárias, porque são desenhadas para aumentar a representação dos grupos marginalizados. Então, se a política é bem-sucedida, em determinado momento ela não é mais necessária. Da mesma forma, se a ação afirmativa não provocar resultados, não há porquê levá-la adiante. Ou seja, por princípio, é temporária. A questão é saber por quantos anos. De maneira realística, estamos falando de 50 a cem anos. No mínimo, é peciso levar adiante as ações afirmativas por duas gerações.

Uma reforma bem feita do sistema educacional (fundamental e médio) público poderia ser feita e avaliada em menos da metade do tempo mínimo que ele sugere que as cotas necessitam. E seria bem mais eficiente ao atingir não apenas negros, mas toda uma parte da população desfavorecida e discriminada por sua condição social independente de cor.

Uma coisa não impede a outra. As cotas são de 20%, até atingir uma proporção de 50% aproximadamente, que seria com o ensino equitativo e eficiente para todas as etnias e classes sociais, então as cotas já estariam sendo superadas de forma natural.
Não, mas uma reforma bem feita do ensino público tornaria as cotas profundamentes desnecessárias, de tal forma que sua aplicação não teria mais efeito que o de uma gota num oceano, principalmente se as cotas precisam de um tempo mínimo de aplicação mais que duas vezes maior que o de uma boa reforma do ensino (que ainda por cima tem outras vantagens).
Claro que uma reforma bem feita no ensino público seria a melhor medida. Porém as cotas não atrapalham esse reforma, por isso mesmo são medidas provisórias, contando com a melhoria do ensino para extingui-las.

Existe um trabalho da UNESCO, que demonstra o racismo no ensino público também. E a evasão escolar muito maior entre os negros.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

 

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