Evidências empíricas quanto às ações afirmativasSowell argumenta tenazmente contra as ações afirmativas. Ele demonstra que suas bases práticas e morais não se sustentam; que os seus resultados não apenas deixam de beneficiar aqueles que se intencionava ajudar, mas são na verdade nocivos, isso em todos os lugares em que foram postas em prática. Alguns podem estar pensando; "racista". É um reflexo infelizmente comum. Mas o próprio Thomas Sowell é negro, e não é, definitivamente, racista, ainda que credite em muito a situação a um desempenho inferior dos negros em certas áreas.
Ele não defende que seja um resultado de uma incapacidade biológica, mas algo comum em casos de migração, pobreza, e etc. Sobre isso ele também escreveu um estudo (citado e elogiado por Steven Pinker, argumentando contra teorias de psicologia evolutiva de que o judaísmo seria uma estratégia de adaptação biológica de grupo), questionando o livro "bell curve", e apontando que por exemplo, em apenas uma geração os negros tem o mesmo QI de uma geração anterior de brancos (efeito Flynn), o que levanta sérias dificuldades para uma causa biológica para essa disparidade, uma vez que os negros são geneticamente os mesmos que os da geração anterior, bem como os brancos.
A causa, ele defende, é cultural, diferenças de costumes e valores: desprezo pelo conhecimento acadêmico, apreço por violência, etc - que ele defende ser uma cópia da cultura "branca" de certos "caipiras" (
rednecks), em vez de algo genuinamente negro, como muitas vezes alguns defendem.
Ele também argumenta que a diversidade por diversidade apenas é algo sem sentido. Países etnicamente homogêneos como o Japão se dão muito bem, em diversos aspectos melhor que os EUA, então a diversidade, a representação étnica homogênea ou proporcional em todas as atividades ou estratos sociais não é algo essencial para o avanço da sociedade, não devendo ser artificialmente implementada.
Discriminação?Sowell questiona a suposição de que disparidades demográficas na "representação" se devem a discriminação. Essa suposição é raramente testada contra os dados sobre disparidades nas qualificações; dá como exemplo que no ano de 2001, houveram mais de 16.000 estudantes ásio-americanos que tiveram resultados acima de 700 pontos no SAT (teste de aptidão escolar), enquanto menos de 700 estudantes negros tiveram resultados tão altos, apesar de haver várias vezes mais negros do que ásio-americanos.
Para ele, dados como esses são simplesmente ignorados ou "afogados" entre as afirmações de que discriminação "encoberta" explicaria a escassez de negros em instituições e ocupações que requerem um forte conhecimento de matemática.
Sowell argumenta que diferenças de costumes entre as diferentes populações e indivíduos não podem ser banidas da discussão como "estereótipos" ou por ser "culpar a vítima", pois a causa não é "culpa", e se eles são ou não vítimas é justamente a questão. A disparidade não é devida à uma discriminação, mas à legítimas diferenças de desempenho entre os grupos
Sowell aponta que grupos supostamente discriminados mostram dominância estatística sobre a a população majoritária em campos como esportes e entretenimento. Nesses campos, talentos individuais não requerem o nível de educação superior necessário a diversos outros campos de atuação.
Os os maoris não podem manter os neo-zealandeses brancos fora dos times esportivos do país, exceto por superá-los em desempenho no campo; os jogadores de beisebol negros dos EUA não podem impedir os jogadores brancos de bater os os
home runs, mesmo que quatro dos cinco maiores totais de
home runs tenham sido batidos por jogadores negros.
Disparidades estatísticas não provam nada sobre discriminação porque são comuns mesmo em situações nas quais não há nem mesmo um mecanismo que possibilite essa discriminação. O que é apontado como discriminação, na verdade seria, tal como esses casos, simplesmente diferentes resultados legítimos de desempenho na competição do mercado e instituições de ensino.
Conclusões que se teria que tomar por casos similares, no que se refere às instituições de ensino, supondo que disparidade significa discriminação:
- a maioria dos malásios seriam vítimas das minorias chinesas na Malásia;
- a maioria dos nigerianos do norte seriam vítimas da minoria ibo;
- a maioria sinalesa seria vítma da minoria tamil no Sri Lanka;
- numerosas outras maiorias seriam vítimas das minorias chettiar ou marwari em várias partes da Índia;
- as maiorias brancas no Canadá ou EUA seriam vítimas das minorias japonesas.
Resultados: diminui-se a qualidade dos profissionais, perde-se profissionais de alta qualidade, e gera-se conflito onde antes não haviaThomas Sowell estudou programas de ações afirmativas de países como Índia, Malásia, Nigéria e Estados Unidos da América. O que ele concluiu é que esses programas tem nos melhores casos impacto desprezível nos grupos que objetivam ajudar. Em vez de benefícios para os grupos tidos como vítimas da maioria, essas políticas trouxeram perdas para toda a sociedade, tanto por não explorar todo o potencial acadêmico da população, quanto através de polarização entre os grupos e violência resultante.
Dados diversos podem ser obtidos de uma variedade se fontes privadas nos EUA sugerindo que os negros americanos mais afortunados recebem uma parte desproporcional dos benefícios que iria para os negros como um todo nos EUA, da mesma forma que os malásios mais afortunados tendem a se beneficiar mais das ações afirmativas na malásia ou os intocáveis mais afortunados se beneficiam mais das ações afirmativas na Ìndia.
Costuma-se pensar que as cotas não tenham qualquer custo, por simplesmente trocarem os beneficiários, mas Sowell demonstra que isso não é verdade, e que o resultado na verdade pode é negativo. Um grupo pode perder maisdo que é ganho pelo outro, fazendo com que a sociedade como um todo perca no fim das contas.
Sowell exemplifica, "quando um grupo no qual 80% dos estudantes admitidos na faculdade iriam se formar perde admissões para um grupo no qual apenas 40% dos estudantes se formam, então o primeiro grupo precisa perder 800 graduados para que o segundo ganhe 400 graduados. Além disso, é comum que em muitos países os estudantes de menor qualificação se especializem em campos mais fáceis e menos remunerados, além de terem menor desempenho acadêmico; assim o primeiro grupo pode perder 800 graduados, concentrados em campos como matemática, ciências e engenharia, enquanto o segundo grupo ganha 400 graduados concentrados em campos como sociologia, educação e estudos étnicos".
Não há apenas essa perda de eficiência, por pessoas menos qualificadas sendo escolhidas em detrimento de mais qualificadas, mas também ocorre de vários membros altamente qualificados de grupos não beneficiados por cotas abandonarem uma sociedade por terem tido reduzidas as suas chances, e com eles, vão as suas contribuições para a sociedade. Esse tipo de perda ocorreu na Malásia, na África do Sul, Fiji, na Ásia Central soviética, no leste da África e em diversos outras sociedades onde as habilidades desses emigrantes poderiam contribuir muito para a sociedade, eventualmente até para os que supostamente são "ajudados" por sistemas de cotas. Todos perdem.
Há ainda os gravíssimos custos sociais em polarização entre os grupos, trazendo violência e mortes. Na Índia, houveram revoltas sangrentas; diversos brahmins se incendiaram em protesto contra as políticas que destruíram suas perspectivas.
O Sri Lanka durante um bom tempo, até o meio do século XX, teve uma reputação exemplar como país no qual as relações entre as populações majoritárias e minoritárias. Isso mudou com décadas de guerras civis marcadas por horríveis atrocidades, onde morreram mais pessoas do que americanos em todos os anos da guerra do Vietnam, apeasar do Sri Lanka ser muito menor que os EUA.
Ao mesmo tempo, mesmo que se julgasse que a compensação aos negros compensasse toda essa perda para a sociedade em desenvolvimento, em harmonia, e até em vidas, há ainda o problema de que aqueles que se objetivava ajudar, acabam não sendo ajudados.
Depois que as cotas acabaram nas universidades do estado da Califórnia, o número de estudantes negros aumentou. Menos negros vão para Berkeley, e mais vão para oustras faculdades, nas quais eles conseguem passar por critérios admissão iguais para todos, e esses estudantes tem maior chance de se formar, em vez de serem simplesmente figurantes que eventualmente desistiam ou fracassavam.
Sempre que os critérios de admissão são os mesmos todas as raças, os resultados nos testes de aptidão são similares, e as taxas de graduação são também similares. Quando há padrões diferentes de admissão, há grandes diferenças entre os testes de aptidão de negros e brancos, bem como grandes diferenças nas taxas de graduação.
Num caso, na Universidade de Colorado, o SAT médio dos estudantes negros era inferior ao dos estudantes brancos em mais de 200 pontos: apenas 39% dos estudantes negros se graduaram, contra 72% dos estudantes brancos.
Na Universidade de Colorado, em Denver, a diferença do SAT era de apenas 30 pontos: 50% de todos os estudantes negros e 48% dos estudantes brancos se graduaram.
Os benefícios tendem a se estender rapidamente para muito além daqueles que se intencionava compensar pela situação ancestral ou atual, chegando a até haver uma relação inversa entre os que a necessidade de ajuda e os benefícios na prática.
Coisas bizarras vão acontecendo. Sowell diz que desonestidade está sempre junta com esse tipo de política. Os princípios não condizem com as ações. A idéia geral abre precedentes para coisas injustificáveis por qualquer sofrimento que os negros tenham tido, como por exemplo, a admissão de estudantes brancos num colégio público de São Francisco em detrimento de sino-americanos melhor qualificados que também tentaram se matricular. Em alguns casos, critérios extra-curriculares obscuros e irrefutáveis passam a contar pontos para admissão, como "liderança", ou "superação de adversidades". Na Índia, argumentou-se que certos critérios ajudariam a "impedir que criaturas insignificantes sem personalidade se tornassem engenheiros ou doutores".
Os negros também perdem: não só não são ajudados, como perdem em credibilidade e dignidadeSowell lembra do fato histórico que vem sido apagado da memória das pessoas devido às ações afirmativas: a maioria dos negros nos EUA saíram por si próprios da pobreza nas décadas anteriores à revolução dos direitos civis dos anos 60 e do começo das ações afirmativas nos anos 70.
Isso vai sendo levado ao esquecimento, com as ações afirmativas, e os negros vão então cada vez mais sendo vistos por toda população, tanto pelos seus amigos quanto pelos racistas, como incapazes, que devem os seus avanços à caridade do governo, e lhes é tirada a oportunidade de conquistar o mesmo respeito que outros grupos ganharam ao saírem por si mesmos da pobreza, ao se tornarem pessoas mais produtivas, que contribuem com a sociedade. Para Sowell, as ações afirmativas tem o efeito de uma moratória do reconhecimento das conquistas dos negros, que supostamente deveriam ajudar.
Os estudantes negros admitidos por padrões inferiores acabam tendo uma taxa maior de fracasso acadêmico, e aqueles que foram admitidos pelos padrões iguais aos de todos os outros tem suas credenciais postas sempre vistas com desconfiança gerada pelos padrões diferentes de admissão dados às minorias. Numa época em que a universidade de Harvard admitia mais da metade dos filhos de ex-alnos, essas admissões especiais eram desproporcionalmente representados entre os estudantes que fracassavam.
AlternativasPara Sowell, é necessário admitir que temos limitações, mas que mesmo assim podemos fazer muito mesmo dentro dessas limitações. "Na América, ao menos, a história demonstrou dramaticamente que isso pode ser feito pois já foi feito". Ele aponta para tremendos progressos econômicos e sociais ocorridos no começo do século XX por alguns dos mais pobres e considerados menos promissores segmentos da população.
No começo do século passado, apenas cerca da metade dos negros americanos eram alfabetizados; judeus viviam abarrotados em favelas piores do que as atuais. Os judeus, tinham resultados de QI consideravelmente baixos (70 pontos, mesmo os ashkenazi). Os sino-americanos estavam numa situação tal que inspiraram a expressão "não tem a chance de um china", para se referir a alguém enfrentando uma situação contra todas as probabilidades de se suceder bem.
O que ocorreu, antes dos programas de ações afirmativas dos anos 70, não foi simplesmente transferência de benefícios do resto da população para esses grupos - que na melhor das hipóteses, tem ganho zero - mas progresso social e econômico real, com os membros mais pobres contribuindo para o avanço da sociedade como um todo, com a sua educação crescente, ascenção profissional. Esse crescimento foi dramaticamente maior do que o que ocorreu depois da implementação das ações afirmativas.
Sowell acredita que a esse progresso todo é ignorado, ou mesmo desdenhado como simplesmente "não fazer nada", por não ser tão interessante aos políticos, ativistas e intelectuais que ganham em posar como moralmente superiores ao denunciar a socieadde. A pobreza dos negros foi reduzida até a metade, antes das açõesa afirmativas, não tendo diminuido muito mais desde então, mas isso parece não importar.
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Penso que eu tenha representado bem fielmente as posições de Thomas Sowell, mas admito que pode ter alguma coisa ou outra questionável. Não acho que deva ter, só estou admitindo que posso não ter tido cuidado suficiente. É difícil que seja, porque é quase uma tradução frankensteiniana, ainda que eu tenha me esforçado um pouco para reordenar nesses tópicos e escrever eu mesmo.
Referências
"Quotas on trial", Thomas Sowell
"Quotas on trial: part II", Thomas Sowell
"Empirical evidence on affirmative action", Thomas Sowell
Resenha de "bell curve", por Thomas Sowell
"Race and IQ Again", review de "the Reality of Human Differences", por Mark Nathan Cohen