E que culpa tem os negros e os índios de serem parte da população mais pobre do país?[/quote
Difícil estipular, mas desprezível no que concerne a essa discussão, pode-se considerar que seja nenhuma.
- Mesmo assim sendo, isso não justifica cotas raciais;
- mesmo que se pudese de alguma forma concluir que justifica, o fato disso ser considerado justo, não implica que dará certo e ajudará a quem se pretende ajudar.
Ninguém está dizendo que o direito dos brancos será suprimido. Só que é preciso cuidar de quem mais precisa de ajuda. Por exemplo, eu não me sinto prejudicada por não fazer parte do programa de assistência da universidade. Sei que outras pessoas precisam e, se não tivessem a assistência, não teriam condições de estudar (só um exemplo para mostrar que dar atenção especial a uns não significa tirar o direito dos outros).
Na verdade há sim uma relativização dos direitos, que nem condeno totalmente, apenas acho que cotas, especialmente raciais, são uma forma tosca e nociva de se fazer isso.
Pode ser que para você a política de cotas tenha sido irrelevante, mas ao mesmo tempo pode ser que por cotas raciais, pessoas mais pobres, mais necessitadas tenham perdido a vaga para pessoas com melhores condições financeiras, de estudo e competição, que tinham a "raça certa".
Pode ser que, por cotas para quem veio da escola pública, alunos menos dedicados tenham entrado no lugar de alunos mais capacitados e não necessariamente ricos, cujos pais e eles próprios se sacrificaram bastante para poder pagar um ensino melhor que o fornecido pelo estado.
Esse tipo de critério é sim uma relativização dos direitos, não é algo "absoluto", como "agora brancos e ricos não podem mais estudar em faculdades públicas", é mais sutil, mas ainda é.
Não vejo grande problema nisso apenas (ainda que "relativização de direitos" não seja defensável para toda situação que se imaginar), poderia ser mais ou menos como o direito de receber alguma ajuda do governo em caso de extrema necessidade; só quem está bem paupérrimo mesmo leva. O principal problema é que o método como isso é feito é ineficiente, segundo estudos dos resultados dessas políticas pelo mundo todo.
E que privação sofreram os negros, numa sociedade altamente miscigenada como a nossa? Não podemos usar os EUA ou a África do Sul como exemplo para tratar a nossa sociedade. Eles sofreram com a escravatura e isso é uma dívida impagável. Criar separatismos para tentar justificar as atrocidades cometidas é cometer um crime justificado por outro.
Bom, você mesmo já respondeu. A escravidão foi uma privação que reflete na vida dos negros até hoje. Além da dívida que temos com a população indígena também. Sobre criar separatismos... bom, acredito que já vivemos em um mas em nome da "boa convivência" isso não é assumido.
Não há um separatismo racial muito mais signficativo que o "separatismo sócio-econômico". É o poder aquisitivo que separa as pessoas, e não leis anisonômicas restringindo coisas de acordo com grupos étnicos. A situação poderia ser exatamente a mesma se só houvessem brancos no Brasil, o mesmo "separatismo", só não haveriam as cores de pele diferente mais ou menos associadas incidentalmente. Seria ainda ruim, mas é sob essa ótica que o problema é melhor visto, não como algo racial.
Não que não hajam problemas raciais, que não devam ser combatidos, mas é um exagero supor que essa disparidade se deva a uma discriminação racial.
Pessoas oriundas de diferentes "linhagens" com histórias diferentes, umas de mais sorte, outras de mais injustiça, vivem hoje em relativa privação, apesar da (até recentemente) igualdade de direitos (conseguida um pouco mais antigamente, mas ainda recentemente).
O histórico dos antepassados de certas pessoas justifica preferências para os descendentes deles quanto a políticas de ajuda social?
E mais importante: cotas nas universidades vão proporcionar ganhos sociais? Dão certo para alguma coisa que seja? Os resultados ao redor do mundo sugerem que isso é muito raro.
Uai, no caso dos negros e dos índios são eles que passaram/passam dificuldades socioeconomicas e isto está relacionado ao histórico dos antepassados. E o mais importante é ajudar estas pessoas que estão sofrendo de privações, não importando se são negras, indígenas, amarelas, brancas, etc... no caso do Brasil, coincidentemente, as cotas beneficiariam mais a população negra e indígena que estão, em maior número, entre as de pior condição socioeconomica.
Cotas sócio-econômicas fariam isso, "por coincidência", sem o risco de criar injustiças, como beneficiar a negros mais ricos em detrimento de brancos, índios e asiáticos pobres, sem criar essa divisão racial grotesca que cada vez mais assombra a sociedade.
Ouvi dizer num desses tópicos que já foi cogitado até ter a "raça" no RG... como se fosse um pedigree... zeus me livre... parece tão século XIX... depois disso, estrelas para judeus e triângulos para homossexuais, quem sabe...
Sinceramente não conheço o sistema de cotas em outros países. Aliás, bem superficialmente o dos EUA. Eu acho que eles tiveram ganhos, apesar da sociedade parecer bastante segregada (mas a nossa também é). Mas nem vou comentar porque não tenho conhecimento suficiente.
Reforço a recomendação de dar uma lida na primeira mensagem, sobre os resultados das cotas ao redor do mundo. Boas intenções só não bastam, e podem acabar sendo até mais nocivas do que más intenções se causam uma "cegueira" quanto a políticas que se espera que possam ajudar, mas que na verdade prejudicam.
Bom, eu ainda sou a favor das cotas mas não tenho como não concordar com as suas outras observações. Eu só queria que as pessoas se opusessem mais às injustiças sociais que algumas etnias sofrem. Eu vi um monte de artistas, antropólogos e outros estudiosos fazerem críticas pesadíssimas às cotas. Mas cadê os mesmos para comprar briga pela população pobre que NÃO consegue se inserir no mercado de trabalho e na vida social, em geral?
O "problema" que eu vejo com esse tipo de perspectiva é que, como eu disse, poderia ser que vivêssemos na mesmíssima situação sócio-econômica, mas só houvessem brancos. Ou negros. Ainda assim, a faculdade "não é para todos", não há vagas para todos, e infelizmente, não há nem empregos para todos. Haveriam aqueles que estariam "de fora", só que seriam da mesma cor que os "incluídos". Ao menos se teria uma perspectiva melhor sobre os problemas.
Não acho que ninguém ache que as coisas estejam boas como estão, o problema é achar que, "porque são negros", índios ou o que forem, é parte da causa atual de estarem na situação na qual estão. Quando é "economia pura", não discriminação. De forma geral todos acham que algo tem que ser feito para melhorar a vida de quem precisa, só que não faz sentido "isolar" algum grupo por alguma característica visual e achar que ela tem algo significativo a ver com a situação sócio-econômica a ser resolvida, e que essa característica tem que ser levada em consideração nas políticas para melhorar a vida das pessoas.
Comprar briga mesmo, com o mesmo empenho com que criticam as cotas... e não ficar apenas lançando artigos dentro de universidades. Isso me revolta porque faz parecer que realmente as coisas tem que ficar como estão, para algumas pessoas.
Se você ler um pouco mais sobre os efeitos trágicos das cotas, para as pessoas que se pretendia ajudar, inclusive, pode mudar de opinião sobre a insistência dos que são contrários a elas.
Certamente há também os que simplesmente preferem que as coisas continuem como estão, ou que gostariam até que piorassem, mas esses nem são necessariamente os contrários às cotas.