A expressão "ferramenta de seleção", se me permite, soa a própria "mentalidade de cursinho". A universidade é mais uma escola onde o aluno vai APRENDER a se especializar numa determinada área. Essa super-valorização da universidade, como centro de excelência, demonstra uma mentalidade elitista e que pelos resultados, ainda que parciais, não corresponde a realidade.
Luz, se a universidade é uma escola onde o aluno vai aprender, não importando muito o preparo anterior, não poderíamos já adiantar o curso superior para onde hoje temos o colegial?
Se a principal preocupação com relação às cotas era o mal desempenho desses alunos em detrimento de outros mais bem preparados, a supor pelos resultados do vestibular, lançando no mercado profissionais desqualificados, penso podemos nos tranquilizar, ao menos, nessa parte.
Eu não acho tranquilizante. Parece que só vêem esses dados aí do Brasil, esquecem os dos outros países, e o eles dizem quanto aos nossos resultados.
Os dados dos outros países indicam que sim, que o preparo faz diferença. Os alunos se formam em maior número e em menos tempo quando não tem critérios de admissão facilitados.
Se aqui, não faz diferença o processo seletivo, todos tem o mesmo desempenho, isso não é "bom" porque é favoravel as cotas. É forte indício de que é como se no Brasil todos fossem cotistas, que o vestibular não averigua eficazmente o preparo.
Se o preparo tem diferenças em taxas de graduação, como é bastante lógico pensar e como é evidenciado pelos resultados de outros países, estamos ou "desperdiçando" as faculdades, colocando um monte de gente que não tem bom aproveitamento, demora para se formar e/ou não se forma tanto quanto seria o ideal; ou, se temos taxas de graduação aproximadas com as de outros países, o nível de formação desses profissionais é muito questionável.
Nenhuma dessas perspectivas é agradável, mesmo diante da aparentemente boa notícia de que os cotistas se dão bem. É meio como ficar contente porque o band-aid cobriu direitinho uma ferida num braço enquanto o outro foi arrancado e está jorrando sangue.
Mas outras questões sugem. Como por exemplo, o vestibular. Se os quotistas, que passam com médias tão inferiores, têm desepenho igual, algumas vezes, melhor que não cotistas - não é uma ferramenta eficaz. E precisa ser revista - esses resultados mostram que podemos estar perdendo a chande de especializar grandes talentos, elitizando a especialização. Isso sim, é muito mais preocupante, na minha opinião.
É também a minha preocupação, ainda que de outro jeito, se é que te entendi.
Uma outra possibilidade como você mesma sugeriu, menos pessimista, seria de que os cotistas acabam não tendo um nível de preparo menor, mas são todos considerados mais ou menos igualmente aptos aos cursos, apenas são preferenciais, como critério de desempate. Ou algo que na prática tenha mais ou menos esse mesmo efeito.