Sklogw,
Aqueles textos não são nem de longe racistas, por um motivo bem simples: o racista considera a superioridade da raça pela raça (lembra da eugenia?), já o espiritismo considera a superioridade da raça pelo espírito.
Como eu já disse antes, a qualidade da árvore se reconhece pelos seus frutos. Através deles é que podemos apontar superioridade ou inferioridade e o que é fato, seja ou não fortuito, é que as raças (ou etnias ou qualquer outro nome que queiram dar) têm diferenças de performances nas diferentes áreas. As estatísticas dizem isso. Por que temos cotas para negros, por exemplo? Por que o Japão e a Alemanha, depois de quase que completamente destruídos nas guerras, hoje são potências mundiais; enquanto que a África, por mais de cinco séculos (no mínimo), não sai daquela mesmice? Alguma razão há. É fortuito? Eu não ousaria afirmar isso.
Voltando ao tema, segundo o racista, a África é subdesenvolvida por causa de um problema com a raça, que não seria inteligente. Se ocorresse de a raça européia se misturar com a raça negra, segundo o racista, a raça européia degeneraria. A propaganda de Hitler dizia que os saudáveis deveriam procurar outros saudáveis para contrair núpcias. O próprio Kardec chegou a dizer, de forma oposta mas significando a mesma coisa, que pelo corpo, as raças menos avançadas só se melhorariam com o cruzamento com raças mais avançadas, mas deixou em aberto se a raça mais avançada não degeneraria. Para o racista, ainda, os caracteres de superioridade são compreendidos como sendo a inteligência e as condições físicas. Alguém inteligente, saudável, forte e cruel, por exemplo, seria considerado como sendo pertencente à raça superior pelos racistas.
Já para o Espiritismo, apesar de também afirmar que os corpos evoluem (ou degeneram) pelos corpos, ele também diz que o principal elemento formador dos caracteres de uma raça é o grau de adiantamento dos espíritos que a tem composto. Então, se uma raça é inferior em algum aspecto, não é ao corpo que se deve essa inferioridade, mas a seus espíritos. E por falta de uso de determinada faculdade, esta tenderia a se degenerar; a se atrofiar geneticamente, com o passar das gerações, de forma que os corpos se tornariam não bem aptos a determinada atuação mesmo quando habitados por espíritos que possuam tais faculdades.
Segundo o Espiritismo, as raças podem tanto avançar como degenerar, de acordo com o gênero de espíritos que as habitam. Se uma raça que hoje é superior for sistematicamente habitada, por várias gerações seguidas, por espíritos atrasados, com o tempo, as habilidades cerebrais que havia nela se desenvolvido, se atrofiarão, por falta de uso. De maneira oposta, se uma raça que hoje é inferior começar a ser habitada por espíritos superiores, depois de algumas gerações essa raça terá a supremacia, porque a faculdade tenderá a se desenvolver impulsionada pela necessidade dos espíritos em usá-la.
Por isso, por exemplo, é injusto quando comparam as idéias racistas de Hitler com as idéias de Kardec. Segundo o Espiritismo, ainda que Hitler tivesse obtido sucesso, exterminado todas as outras raças e ficasse somente a raça ariana, como ele queria fazer, a igualdade permaneceria por pouco tempo, pois os espíritos retornariam e as diferenças raciais tenderiam a ser restabelecidas impulsionadas pelas diferenças entre estes. Pelo mesmo motivo e, ao contrário do racismo que desaconselha a miscigenação, o Espiritismo a incentiva, de modo a acelerar o processo de adaptação das raças. Se uma raça precisa degenerar pela queda da qualidade dos espíritos que a habitarão, essa degeneração ocorrerá mais rápido com a miscigenação. Por outro lado, se uma raça tende a avançar pela melhoria da qualidade dos espíritos que a habitarão, a miscigenação acelera o processo. Então, no Espiritismo, a miscigenação é incentivada, ao invés de ser desaconselhada. Ao contrário do racismo que afirma que o abastardamento degenera a raça boa, embora possa melhorar a raça menos boa, o Espiritismo não sabe dizer o que ocorrerá, por não poder prever o gênero de espíritos que habitarão a nova raça miscigenada.
E por fim, para o Espiritismo, a verdadeira superioridade de um indivíduo, assim como de um povo ou de uma raça, se reflete em inteligência e moralidade. É preciso ser inteligente e bom para ser considerado superior pelo Espiritismo. Isso significa que, de acordo com o exemplo acima, uma raça inteligente, forte, saudável, mas cruel, é considerada inferior pelo Espiritismo; enquanto que uma raça inteligente e boa, embora doente e fraca, pode ser considerada superior. Você deve ter reparado que, quando Kardec falou sobre a superioridade ou inferioridade das raças, ele nunca levou em conta o elemento físico, a saúde, a resistência, a força. Isso tudo é irrelevante para o Espiritismo. Ele sempre mediu a superioridade em inteligência e moralidade. Somente isso.
Desculpe-me, mas as diferenças são enormes e não há como não notar. Em primeiro lugar estão as diferenças entre o que cada um considera superior ou inferior. E depois o fato de que o racista considera que os corpos só evoluem pelos corpos; e o Espiritismo considera que os corpos evoluem principalmente pelos espíritos (embora o elemento corporal exerça certa influência). A Eugenia, por exemplo, é uma teoria absolutamente sem sentido para o Espiritismo, enquanto que para o racista, ela é verdadeira e fundamental.
Por isso, continuo repetindo, os textos não são racistas sob nenhum aspecto, a menos que haja um outro significado para racismo que eu desconheça.
Um abraço.