Exato.
Coitados...
Pensa assim porque pensa que a inferioridade seria uma condição fatal e eterna, porque vê as condições subalternas como um castigo da vida ou da Providência. Eu não vejo assim. O sol brilha para todos.
Para o Espiritismo, a superioridade é medida em moralidade e intelectualidade, e não só em intelectualidade. Quando os textos espíritas falam em banimento dos espíritos inferiores da Terra, eles se referem aos inteligentes e maus, ou seja, aqueles que têm consciência plena do mal que praticam; e não aos ignorantes.
Você disse "maus e inferiores". Pelo que você disse, separou as duas coisas.
Falha nossa.
Como já disse, eu não tenho a intenção de me aprofundar por hora na verdade final dos fatos, mas apenas tentar mostrar aos que quiserem ver que, uma das hipóteses que explicam os fatos (a espírita), não é imoral e racista como querem fazer crer.
Na boa: talvez esteja conseguindo o contrário.
Temos que semear. Quem sabe no futuro não germina? No calor da discussão a coisa não anda, e cada um firma o pé em seus pontos de vista. Mas quem sabe daqui há alguns anos, de cabeça fresca, não percebe-se a injustiça?
Contudo, eu vou lhe refazer a mesma pergunta que fiz acima. Responda por você mesmo: se você nascesse na Alemanha nazista, teria acreditado na propaganda de Hitler e teria sido cruel com os judeus? Você não passa de um produto do seu meio?
Você parece que está muito seguro de que fulano não mataria ninguém nesses ambientes porque é bom. Na verdade, pessoas boas podem fazer crueldades devido a uma característica boa que muitas delas têm: respeito a valores de hierarquia e disciplina. O "Experimento da Obediência de Stanley Milgram" é um exemplo de como pessoas "normais" mataram (de mentirinha) uma cobaia humana. A hierarquia tem o poder de diluir responsabilidades. Quanto ao meio, ele tem um peso, sim, que não deve ser desconsiderado, ainda que não dê a última palavra. Judith Rich Harris escreveu o livro "Diga-me com quem anda...", ed. Objetiva, onde fala o papel crucial do "turma" que os jovens escolhem para efetivamente a consolidar seu caráter. São 486 páginas. Ela não deu a última palavra na briga "Nature x Nurture", mas vale a pena lê-la. Uma série antiga, dos anos 70, a respeito da segunda guerra, tinha como um dos seus livros "A Juventude Hitlerista - mocidade traída", de H. W. Koch, ed. Renes, página 55 relata um grupo de jovens judeus-alemães (em 1933) frustrado em não ser aceito em tal mocidade. Marcialidade, palavras de ordem, espírito de corpo, uniforme garbosos, atividades ao ar livre. Tudo isso seduziu a muitos antes do racismo.
O respeito a hierarquia é uma realidade, e é justo que assim seja. Mas não existem as dissidências, as rebeliões? O que caracterizava o exército nazista não era o fato de existirem somente pessoas más, mas de a maioria ser má. Então o peso da opinião destes prevalecia. À medida que se substitui maus soldados por bons, o peso vai se equilibrando, até que finalmente se sobrepõe. Não é que não existam mais maus, mas, por serem minoria, se sentem deslocados e são obrigados a se camuflar. É isso que vemos hoje.
Mas a maldade não era uma característica só nazista; era principalmente lá. Dizem que a voz do governo representa os anseios do povo, pois este sempre fala aquilo que o povo quer ouvir. Se já assistiu ao documentário "Sob a Névoa da Guerra", com Robert McNamarra, há um trecho do filme em que se ouve uma gravação original, do presidente americano, em plena segunda grande guerra, mais ou menos assim (estou transcrevendo de memória):
"Neste Natal temos um milhão e setecentos mil soldados servindo no exterior. Em julho próximo, esse número será de cinco milhões. Os japoneses terão péssimas notícias num futuro não muito distante."O Presidente falava daquela forma porque era isso que a população queria ouvir, ou seja, que os japoneses seriam massacrados e Pearl Harbor vingada. Ninguém se lembrou se haviam mulheres ou crianças por lá. Ninguém se importava; eram japoneses e deviam sofrer.
Já em 2001, quando um ataque similar, de outra fonte, atingiu o World Trade Center e Pentágono, qual foi a reação do governo americano? Guerra, sem dúvida, mas com o objetivo de erradicar o Talibã e implantar uma democracia no país (e talvez outros motivos menos nobres). Por mais imperialista que fosse a América, nunca se cogitou em despejar uma chuva de bombas sobre a população civil, como fizeram no Japão. Consegue imaginar a reação da sociedade americana se o Bush fosse à televisão dizer que o Afeganistão teria péssimas notícias num futuro não muito distante?
À medida que o tempo avança, percebemos que as guerras, quando ocorrem, matam menos e se tornam mais humanas, onde as vidas são preservadas sempre que possível. E quem ousa tentar torturar ou maltratar prisioneiros é imediatamente punido. Lembra do casos dos soldados maltratando os prisioneiros iraquianos? Os bons aos poucos estão se tornando maioria no mundo.
Neste caso, porque não é mais espírita, já que, ao que parece, nasceu e foi criado nesse meio?
Minha inaptidão à hierarquia e autoridades. Sem sacanagem.
No Espiritismo não há hierarquia e autoridade. O pensamento é livre. Se se afiliar a uma casa espírita, entretanto, enquanto estiver nela, deverá respeitar a autoridade da casa. Veja o meu caso, por exemplo, não freqüento centros e estou aqui opinando em favor do Espiritismo. Meu pensamento é livre e só solidarizo com quem concordo.
Será que se nascesse no Afeganistão teria 4 esposas e seria adepto do terrorismo e candidato ao suicídio?
O perfil de um homem-bomba está mais para um bom soldado (isto os alemães eram) do que para psicopata. O horror dos nazista é que ... eles eram pessoas normais. Não era fácil equipará-los a monstros. Se for olhar por esse lado, cristão antigos também tinham comportamento suicida análogo ao dos homens-bomba ao encarar a arena. Pelo menos só matavam a eles mesmos.
A regra do bem e do mal não está aí. A regra do bem e do mal está na máxima do Cristo
"fazer aos outros o que gostaria que nos fizessem; e não fazer aos outros o que gostaríamos que não nos fizessem".
O homem-bomba muçulmano não pensa no bem de quem ele explode, mas apenas no seu próprio bem ou do seu povo. É egoísta, pois pensa que está indo para o Paraíso e mandando ímpios para o inferno. Os nazista idem; não pensavam no bem das raças inferiores, mas somente no bem deles próprios e do seu povo. Já os cristãos primitivos não. A única coisa que queriam era poder professar livremente a sua crença e morreram antes de renunciar às suas convicções.
Não podemos colocá-los no mesmo nível. Todo mundo que tem um inimigo a quem odeia pode ser qualificado de mau. Os próprios cristãos atuais são maus porque odeiam a Satanás. Pensam no bem para si e para os seus, mas não se importam com a sorte dos demônios.
As pessoas são o que são.
Complexas e multifacetadas. Podendo compartimentar vários aspectos de suas vidas em setores diferentes. "Enterrem as correntes", de Adam Hochschild, ed. Record. Traz o caso interessante de um grande filantropo inglês que se considerava "casado com todas as viúvas e pai de todos os órfãos". No século XX, sua estátua foi finalmente pichada com o nome de seu ofício: "traficante de escravos". Ele nunca esteve num negreiro, apesar de viver deles. A distância do mal faz com que não o sintamos muitas vezes. Koch relatou o horror de soldados-crianças nazista prisioneiras de guerra ao, por acidente, descobrirem os corpos semi-carbonizados que estavam dentro de uma câmara.
Ninguém é culpado pelo mal que desconhece. Mas somos culpados pela indiferença, quando está no nosso poder evitar.
Um espírito superior, em contato com essas coisas, pode até se deixar influenciar num primeiro instante, mas por indiferença. Mas ao entrar pela primeira vez em contato com um ínfimo facho de luz, ele o segue. Já um espírito inferior não. Você mostra a luz e ele não a segue. Você tenta explicar que matar pessoas inocentes, crianças, etc... é errado e ele arruma mil e uma justificativas para praticar o mal contra elas.
Num documentário da BBC de Londres Auschwitz, um produtor que já fizera muitos documentários sobre a segunda guerra relatou a principal diferença entre soldados soviéticos e japoneses dos alemães. Os dois primeiros diziam:" eu tinha de obedecer, senão morria", os últimos: "eu achava que era certo". Eles não estavam querendo justificar o mal: achavam que estavam fazendo atos bons.
Percebeu? Mais uma vez a regra para se diferenciar o mal do bem é a máxima do Cristo acima. Não se importavam com a sorte ou sofrimento alheio. Leia a questão 919 do LE. Essa questão explica como diferenciar o bem do mal nas nossas ações.
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Supondo que hoje eu sou muito rebelde, amarro uma bomba no corpo, e pego alguns refens e ameaço explodir. A polícia chega, e consegue me impedir, matando-me. Mais tarde, quando estiver mais esclarecido, não direi que o soldado que me matou me fez mal, mas um bem, protegendo-me de mim próprio e a outros. Eu defendo ações desse tipo, porque defenderia contra mim próprio, se fosse o agressor. Situação diversa é se ele tivesse me dominado e me matado na carceragem, covardemente. Entende a diferença?
Por isso o nazismo prosperou na Alemanha e definhou em outros países onde surgiram movimentos similares.
Diga em quais prosperou e quais regimes fascistas, não. Limito-me à Europa.
Eu tenho um documentário gravado do canal History Channel que fala de outros movimentos pequenos que surgiram nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Bélgica. O nome do documentário é A Vida de Hitler. Mas não está comigo, eu emprestei. Esses movimentos nunca chegaram a prosperar e ganhar destaque.
Em primeiro lugar, em quase 20 anos de diferença pode passar muita água debaixo da ponte. Se a expectativa de vida fosse 60 anos, significaria que, em média, um terço da população já seria constituída de elementos novos. Mas em se tratando de exército, a mudança é ainda mais radical, pois os soldados são em sua grande maioria constituídos de pessoas jovens. Somente os generais são mais antigos. Eram crianças ou nem tinham nascido em 1914 e eram soldados ou militantes nazistas em 1933. Isso sem falar que muitos morreriam a partir de 1914, que era somente o início da guerra.
Que seja 33%, então. Uma cifra muito grande para ser ignorada. Todos viraram monstros ou coniventes? Ah! Não esqueça de separar o exército alemão das SS. É a esta última a que pertencem a maioria dos crimes de Guerra. O General Rommel, por exemplo, foi um exemplo de virtude militar.
Não viraram. Já eram. Só não tinham tido a oportunidade de manifestar. Já disseram que, se quiser avaliar o caráter de uma pessoa, repare, não como ela lhe trata, mas como trata os que lhes estão abaixo (os garçons, faxineiros, motoristas, inimigos, etc...). E já disse que não era a totalidade do povo alemão, mas a maioria. Isso seria injustiça contra Einstein e contra os vários alemães que se insurgiram contra o regime.
Tinham simpatia pelos judeus, mas ódio pelos russos.
O texto fala do ódio dos russos contra os judeus. Não de alemães contra russos. Estavam em guerra, sim. Mas nada fala de ódio viceral.
Não importa... Ódio contra quem quer que seja; que tenha ou que venha a ter contra quem quer que ameace seu bem estar e interesses. A simples indiferença para a sorte alheia, como já disse, é um mal.
A propaganda nazista só fez com que o ódio também se estendesse aos judeus.
Achavam os eslavos inferiores, mas o maior ódio era contra o comunismo soviético. Objeto de ódio podem ser fabricados de forma mais fácil do que imagina.
Não na nossa cabeça, não é mesmo? Nem na minha, nem na sua.
Já aquele que não é anti-semita, não odiará a russos, judeus, negros ou a qualquer grupo etnico a que seja incitado contra.
"Blink - A decisão num piscar de olhos", Malcolm Gladwell, ed. Rocco, página 89. Traz um experimento interessante no qual o autor, um mulato, atribuiu qualidades mais positivas a brancos do que a negros. Ele mesmo se espantou com seu "auto-preconceito". Obviamente ele fez isso em nível inconsciente, pois os negros pouco aparecem com bons atributos na mídia americana Ou tão bons atributos quanto os brancos. Sua dica para se livrar do "preconceito inconsciente" é justamente conviver com minorias em seu dia-a-dia e ver suas boas qualidades. Por isso a segregação em guetos, é um dos primeiros passos para criar um objeto de ódio. Na Idade Média, judeus estavam apartados, deu no que deu. Curiosamente, As primeiras investidas contra os cátaros fracassam, pois a população local "ortodoxa" se pôs a favor deles e botou a inquisição pra correr. Os cátaros estavam integrados plenamente: podiam ser seus amigos, parentes, filhos....
O erro é o erro aonde quer que ele esteja. O nosso problema é que só enxergamos o erro aonde nos interessa.
Como você me fez uma pergunta que não era originalmente a mim, tomo essa liberdade:
Ainda de acordo com a experiência do presídio, suponha que logo após os alunos tivessem tido uma aula de reflexão, onde teriam sido discutidas as atitudes de cada um, os acertos e os erros. Suponha até que os excessos tenham sofrido uma punição qualquer. Suponha então que a experiência seja feita uma segunda vez com os mesmos alunos, mas desta vez mais instruídos e experientes. Você acha que o comportamento seria igual ao da primeira vez, ou os alunos guardas teriam mais experiência e tato no trato com os presos fictícios? Eis aí a função da reencarnação.
Ainda de acordo com a experiência do presídio, suponha que logo após os alunos tivessem tido uma aula do perigo que os detentos representam. Suponha até que os excessos tenham recebido prêmios. Suponha então que a experiência seja feita uma segunda vez com os mesmos alunos, mas desta vez mais cientes do "bem" que faziam à sociedade castigando delinqüentes malvados para que nunca ficassem tentados a reincidir. Você acha que o comportamento seria igual ao da primeira vez, ou os alunos guardas teriam mais experiência e rigor com os presos fictícios? Eis aí a função da propaganda. (Ou de uma reencarnação mal planejada)
Depende do nível de comprometimento dos alunos com o seu próximo. Alguém que não deseja mal ao próximo não cairia numa conversa dessas; assim como alguém que só se importa consigo mesmo talvez não visse sentido na minha versão de segunda aula. Tudo depende do ser humano que assistiria a aula.
Um abraço.