Conversava hoje sobre os tais Parâmetros Curriculares Nacionais com um professor do Estado.Contava-me ele como foi difícil a adaptação de sair de uma escola particular para a pública. Não apenas pela limitação dos alunos (que não anda muito diferente, já que os de escola particular não querem nada), ou pela infra-estrutura dos colégios (essa sim significativa); mas principalmente porque nas escolas do Estado está a pleno vapor a implantação do tal PCN+.
O que vem a ser isso? Bem, vocês podem ler por vocês mesmos os Parâmetros definidos para o ensino de Ciências da Natureza, Matemática e sua Tecnologias na página da SBF:
http://www.sbfisica.org.br/arquivos/PCN_CNMT.pdfÉ grande, mas instrutivo. E aterrorizante.
À primeira vista, parece um longo tratado sobre a importância da Interdisciplinaridade, sobre como os professores devem buscar recorrer à História, Filosofia, Poesia, e demais ciências naturais para explicar cada fenômeno físico. E sempre tentando contextualizar o aluno quanto ao período em que as descobertas foram feitas, dando assim uma cara mais humana e menos "quadrada" sobre as ciências. Não li o PCN+ de Matemática e Química, mas imagino que seja parecido.
Eu sempre gostei de Interdisciplinaridade. Modéstia à parte, já dava aulas assim antes da palavra virar moda nos círculos de pedagogos; e embora nem todos os alunos gostassem, tive lá meus sucessos significativos e continuava a fazê-lo. Uma das coisas que sempre dizia aos meus alunos - e nisso repetia o que meu pai me ensinara - é que não se deve estudar física e matemática tentando decorar fórmulas, mas sim compreendendo-as. Sempre tentei fazer os meninos verem que por trás daquela abstração existia um mundo muito real, com experiências muito reais a nortear aquele aparente emaranhado de letras e números.
Muito bem. No papel, o PCN+ é muito bonito. Então, o professor me mostrou o livro que, segundo ele, é o único escrito de acordo com os princípios do documento; ou, pelo menos, um que está de acordo com os fiscais e secretários de educação esperam que sejam os princípios do documento. Comecei a folhear o livro e vi que, realmente, continha referências aos mais diversos temas para melhor ilustrar certos fenômenos da Ótica, da Mecânica Ondulatória e demais partes correspondentes ao que no meu tempo de colégio se chamava "Física 2". E então eu reparo algo: o livro não traz exercício numérico nenhum. De fato, quase não tem nenhuma equação, a não ser uma ou outra mais fundamental.
Pergunto ao professor se esperava-se que o ele complemente o livro e forneça o material que está faltando. Ele diz que não; que deve deixar de lado as equações da Cinemática e da Termologia em troca de fazer os alunos apresentarem "pesquisas" caseiras e apresentar cartolinas bonitas. Quando ele tem que aplicar uma prova, o que quase nunca acontece, é orientado a usar as equaçõezinhas mais bestas, desde que tenha feito exercícios idênticos (não parecidos -
idênticos) em classe.
Fico um bocado perturbado. ISSO é o que estão ensinando às crianças nas aulas de Física? ISSO é o que os secretários entendem por Interdisciplinaridade? Como se espera que esses alunos se tornem os Engenheiros e Cientistas que o país precisa se o conteúdo de Exatas é reduzido a uma mera historinha entremeada com trechos de poesia e letras de música?
Está decidido. Meus filhos terão educação complementar em casa.