A Associação Americana de Antropologia (AAA) recentemente fez uma pequena alteração na redação de um de seus documentos principais. Embora pouco extensa, a mudança provocou uma grande repercussão, porque “ciência” foi a principal palavra retirada. Para o público leigo, o assunto chegou na forma de uma reportagem do New York Times, no dia 9 de dezembro, intitulada: “Antropologia é ciência? Declaração aprofunda um conflito”. A “declaração” referida é o plano de intenções de longo prazo da associação. Antes ele dizia que o objetivo da entidade era “promover o avanço da antropologia como a ciência que estuda a humanidade em todos os seus aspectos”. Agora diz que “os propósitos da associação devem ser a promoção do avanço do entendimento público da humanidade em todos os seus aspectos”. Em mais dois pontos do texto a palavra “ciência” foi removida. Ela subsiste, no entanto, em outros documentos importantes da AAA, como sua declaração de princípios.
http://revistapesquisa.fapesp.br/2011/03/16/antropologia-n%C3%A3o-%C3%A9-ci%C3%AAncia/Alguns proponentes das Ciências Sociais clássicas (excluo, portanto, as ditas ~ciências sociais aplicadas~) parecem cada vez menos preocupados com uma validação de seus estudos como científicos, em um sentido mais positivista como o de Merton, justamente por serem críticos das próprias noções racionalistas, cartesianas ou iluministas. A aparente reformulação dos paradigmas kuhnianos por Habermas demonstra esse clima intelectual, essa preocupação maior com sua metodologia interna e com suas ferramentas de apreensão da realidade.
O interessante, creio eu, é que muitos teóricos estão mais preocupados com os discursos sobre a ciência (Foucault), desconstrução (Derrida), investigação do capital simbólico e cultural (Bourdieu), visualizar as estruturas da produção científica humana e criticar a tal objetividade científica do que atingir o
status de ciência, como almejavam os positivistas.