Francamente, é incoerência demais que você expõe.
Na Física, você pode criticar e duvidar de qualquer teoria que afirme ser possível viajar no tempo, mas jamais pode duvidar de coisas básicas e óbvias como a gravidade, a eletricidade, o magnetismo, etc. São verdades incontestáveis, portanto a Física é uma ciência objetiva, mesmo que na Idade Média os físicos desconhecessem estas verdades, elas sempre existiram, nunca mudaram e nunca mudarão.
O que se entende como "gravidade" e "interação eletromagnética" mudou ao longo do tempo. Podemos manter a mesma palavra, mas nossa visão sobre elas mudaram. Então não acredito que sejam "verdades incontestáveis".
Mas é claro, se alguém testar, seja agora ou daqui a mil anos, que Força da gravidade = mMG/R^2 a baixas velocidades e energias, ou seja, no contexto de fenômenos em que ela foi descoberta, espera-se que o resultado seja o mesmo, e nesse sentido são "resultados objetivos". Mas incorretos, mesmo assim.
No mais, talvez comente mais depois, porque agora tenho que ir dormir.
Podemos duvidar de tudo o que pensamos, mas não podemos duvidar do que realmente existe lá fora (da nossa mente). Então o drama humano é: como saber se o que pensamos que existe, realmente existe?
Você acabou de afirmar que não podemos duvidar do que existe "lá fora" (da mente). Então não tem drama humano nenhum aqui: sabemos que o que "pensamos" existe ou não, aferindo sistemática e constantemente (idealmente, em tempo real -- ainda podemos chegar lá) com o que está fora da mente. Este é o processo empírico. Basicamente, nada que pensamos, sem alimentação empírica, existe. De fato, só "pensamos" a realidade quando ela constrói nossos pensamentos. "Pensar" realidades é a representação delas na máquina cognitiva. A alternativa a isso é a transcendência mágica.
E não podemos descartar a possibilidade de evidências empíricas para isso, claro (deve ser...), embora visse haver uma verdadeira batalha de acúmulo de evidências para tanto, visto que o repertório de evidências de nossa INexistência transcendente já se faz grande demais e sem exceções. Se um artefato altamente imaginário como o boson de Higgs e seu éter e seu mecanismo, por exemplo, um remendo de remendo de remendo, ad hoc ultrasuperposto, produto do mais inveterado pensamento desejoso, puder realmente existir, então, há possibilidade de sermos trancendentes. Mas seria preciso confirmação independente, de outro(s) ponto(s) de vista, uma "triangulação", porque a própria máquina cognitiva tem que ser investigada e analisada em seu processo físico-complexo de geração de pensamentos e teorias, isso em conjunto com análises empíricas dos processos e sistemas físicos com que tal máquina interage, para que se verifique se a mesma não já tinha, de fato, elementos empíricos suficentes para a dedução. É preciso um sistema cognitivo mais amplo, abrangente que o humano para isso.
Descartes nos deu uma resposta completa, partindo do seguinte raciocinio: primeiramente ele duvidou de tudo que sabia, de modo que pudesse ver o mundo de uma perspectiva totalmente nova, vazia de qualquer noção pré-concebida. Dessa forma, ele chegou à primeira conclusão: penso, logo, existo. A partir daí, ele começou a estabelecer verdades sólidas e confiáveis, baseadas na lógica.
Resposta completa????? Duvidou de tudo o que sabia????? Não duvidou! Não duvidou do mais importante: de si mesmo. Não viu o mundo de perspectiva nova coisíssima nenhuma. A crença na alma foi corrente em toda a história e, muito provavelmente, até na pré-história, pelos processos já incorporados que deram surgimento à comunicação do tipo humana, gráfica, que permite deixar registros mais permanentes mas que já se embasava em processos de pensamento linguístico do tipo que gera fantasmas como o "eu". Ele não teve pioneirismo algum nessa "primeira conclusão", ela é automática na máquina humana. Chega mesmo a ser o que poderíamos chamar de covardia, armadilha perversa da natureza (dentro da mesma perspectiva mágica associada a tal ilusão). A máquina humana não tem meio autônomo nenhum de, sequer, considerar a questão. O processo de realimentação empírica do pensamento de algumas aberrações cognitivas humanas (pensadores científicos) foi o que libertou a máquina humana(algumas, claro) desse fantasma.
Descartes tinha um problema terrível diante de si. De fato, muitos foram na onda do absurdo dele (e até ele mesmo!) mas essa declaração axiomática da "primeira das obviedades" ele declarou, como um brado de salvação de si mesmo, exatamente pelo fato de já perceber que não era verdade. Ele entendeu que criaturas vivas não eram mais que máquinas, mas, o homem, ele mesmo, nãããão, isso ele não conseguiu suportar e, num "feito" 'pequeno-estagirítico', disse uma coisa ridícula na qual TODOS que não eram pensadores científicos já acreditavam, mas, na forma de uma sentença de filosofia natural, como o que seria, hoje, algo científico, pareceu muito mais respeitável, ...e novo até! Foi, justamente, por reconhecer que não era verdade que ele declarou! Ninguém mais viu isso? Esse, o conflito de Descartes.
"Verdades sólidas e confiáveis, baseadas em lógica" me foi útil para me divertir bastante. Obrigado.
A lógica é a ferramenta mais confiável que temos para saber o que é real ou não, pois ela sustenta a si mesma. Mas, como toda ferramenta, ela pode ser mal utilizada.
Mas para aprender a usar uma "ferramenta" corretamente é preciso "instrução" (leia-se doutrinação). Ou, por outra, o "aprendizado" de uso é inato, indepedente. De sorte que lógica não serve para nada além do que já está verificado empiricamente. Se se tentar aplicar lógica em pensamentos puros, tal pode ser definido como o "mal uso da ferramenta" (de fato, usar lógica, dessa forma, é mal uso da mente). Então, a ferramenta mais confiável é o processo empírico.
Além do mais, uma coisa que é confiável porque sustenta a si mesma padece de um defeito *lógico* (hahahaha...) que chamam de circularidade. Lógica não serve nem para ela própria.
Para que seja confiável, a lógica deve ser baseada em fundamentos irrefutáveis (como "penso, logo, existo"). Do contrário, podemos criar pseudociência, utilizando a lógica sobre premissas falsas. Por exemplo: partindo da idéia falsa de que extraterrestres abduzem todas as pessoas que hoje estão desaparecidas, eu posso criar uma explicação completa e lógica (em si mesma) sobre este "fenômeno", inclusive explicando por que ainda não conseguimos provar claramente a existência de alienígenas na terra.
A lógica é como uma cola que forma estruturas de conhecimento, mas para estas estruturas serem confiáveis, devem repousar sobre uma base sólida. Essa base são as premissas. E um cético como eu, gosta de questionar tudo com a intenção de fazer a discussão retornar às bases sólidas para, a partir daí, criar novos conhecimentos sólidos e confiáveis.
Mas nada disso invalida o que existe objetivamente "lá fora" da nossa mente, independentemente de sabermos ou não. Esse é o drama humano de "saber se o que sabe é real". Isso é ciência.
Quer dizer que a coisa toda se iniciou na dúvida sistemática de tudo e criou um monstro que, "para ser científico", tem que se basear em fundamentos irrefutáveis?
Em resumo, porque estou escrevendo isso com alguma pressa, a única base sólida que sustenta lógicas funcionais e úteis são produtos empíricos, não premissas. ISSO é ciência.