Eu tenho um modelo completo de visão sobre ciências e a epistemologia em geral, a quem interessar:
Na minha visão, as ciências se dividem basicamente entre subjetivas e objetivas. Cada ciência possui um "objeto de estudo", que é estudado por um "sujeito" (nós humanos, por enquanto).
Se o objeto de estudo existe e funciona por si só, sem depender ou ser influenciado pelo sujeito, então a ciência é objetiva. Exemplo: física e seus ramos.
Por outro lado, se o objeto de estudo é influenciável pelo sujeito, depende dele ou "é" o próprio sujeito (ainda que não seja o mesmo indivíduo, mas um semelhante), então trata-se de uma ciência subjetiva. Exemplos: sociologia, direito, linguística, psicologia, etc.
A gravidade funciona e sempre funcionará da mesma forma, quer a raça humana tenha compreendido ou não. A lua sempre irá girar em torno da Terra, que gira em torno do Sol, até que algo aconteça, mas este mecanismo não depende da vontade humana para existir, não importa se Marx acha que este sistema prejudica os pobres que deveriam ter mais sol que os ricos, por exemplo.
Já as teorias na área do Direito e Sociologia, dependem exclusivamente do momento histórico e do local em que elas são discutidas para terem "validade prática". (Eu sei que teorias da física atuais já foram consideradas inválidas no passado, mas o funcionamento do "objeto de estudo" permaneceu o mesmo e sempre permanecerá, porque a essência de um objeto não se altera, ao contrário do que ocorre, por exemplo, no Direito, onde o que se considera científico é também, automaticamente, o que tem validade na prática.)
E a matemática? e a lógica? Na minha visão, estas ciências são essencialmente subjetivas, pois é um modo que nós, sujeitos, temos para compreender corretamente o mundo objetivo (que é exterior à nossa consciência). Economia também é subjetiva, pois "valor" é algo atribuído pelo ser humano, e no momento em que a raça humana desaparecer, a Economia irá junto.
Uma explicação filosófica - eu parto do princípio de Descartes: penso, logo existo. A partir daí eu acredito que existe uma realidade objetiva que não é acessível diretamente pela minha mente, mas somente por meio da lógica, que é a base de todo conhecimento científico (ao contrário do conhecimento popular, pop-science ou pseudociência, que não exige rigor lógico já que o seu conteúdo varia conforme as questões humanas, subjetivas).
Dessa forma, eu vejo o mundo (a realidade) a partir da dicotomia sujeito/objeto, subjetivo/objetivo. Nós, sujeitos, podemos compreender o mundo objetivo por conta própria, ou nos comunicando entre si. Somos como ilhas, mas se o conhecimento é transmissível/comunicável/compartilhável entre nós, então "nós" (a parte pensante de nós) habitamos uma "dimensão virtual" diferente do mundo que nós tentamos compreender.
Esta "dimensão virtual" seria um "mundo subjetivo", o "mundo das idéias". Ele não existe de fato, mas para cada indivíduo ele passa a existir quando comunicamos conhecimento a respeito do mundo objetivo. Portanto, nós, seres pensantes que habitamos corpos físicos, existimos isolados do "mundo objetivo" e somos capazes de atuar (neste mundo real) por meio de nossos corpos, e entendê-lo por meio da lógica e da razão.
A ciência objetiva nos permite compreender o mundo objetivo por meio da lógica, que é uma ferramenta subjetiva que "nos força" a compreender e reconhecer uma verdade. Fazendo uma analogia: como você consegue enxergar o ônibus no qual você está andando? Por meio de um espelho ou reflexo nas vitrines da rua... essa seria a lógica. Nossa consciência nunca vai enxergar diretamente o ônibus, pois estamos dentro dele. É o que Platão quis dizer com sua história da sombra na caverna.
As ciências subjetivas, para mim, são mais ARTE do que ciência. E com isso eu não quero subestimá-las ou inferiorizá-las, mas somente colocá-las no seu devido lugar: humanizá-las. Não há nada mais humano do que exerçer sua própria essência.
O que eu rejeito fortemente é esta tendência acadêmica conhecida como "pós-modernismo", um fenômeno que ocorre muito nas ciências subjetivas: a tentativa de tratar como objetivo algo que, na essência, é subjetivo. Esse é o erro de muitos acadêmicos, profissionais e pessoas renomadas, em áreas como psicologia, sociologia e direito.
Para não me estender muito, vou apenas ilustrar o caso óbvio da psicologia: o ramo da psicologia é subjetivo por natureza, e a prova disso é que qualquer teste psicológico pode ter seus resultados alterados pelo próprio indivíduo que está sendo testado, basta que ele tenha informações sobre a metodologia do teste, compreender o que o psicólogo está avaliando e qual o raciocínio utilizado, e às vezes nem isso é necessário.
Livre arbítrio: essa é a essência do ser humano. É a variável que inutiliza qualquer tentativa de tratar como objeto aquilo que, por natureza, é subjetivo. No máximo, se consegue levar o estudo para o ramo da estatística, mas jamais haverá a previsibilidade e o controle rigoroso que encontramos nos estudos de Física, por exemplo.
Agora, se você não acredita em livre arbítrio, pode ignorar tudo o que eu escrevi acima, e aproveite para cometer quantos crimes quiser, já que você não seria responsável pelas suas próprias ações (a culpa seria sempre da condição social, da economia, de fatores genéticos, etc, qualquer coisa menos de você mesmo).
Alguns autores no qual me baseei para ter este modelo (pessoal) de compreensão sobre as ciências:
- Jurgen Habermas (desenvolveu a "teoria da razão comunicativa", onde o conhecimento seria produzido por meio da comunicação)
- C. P. Snow (autor do livro "The Two Cultures", que critica as diferenças entre as ciências objetivas e subjetivas no pensamento ocidental)
- Sokal (físico que, nos anos 90, "trollou" uma revista de ciências sociais com um artigo totalmente nonsense, que foi publicado como se fosse algo científico, ele fez isso para provar que falta cientificidade nas publicações de ciências sociais)
- Martin Buber (criou a "filosofia do diálogo", baseada na distinção entre "Eu-Vós", relação entre sujeitos, e "Eu-Isto", relação entre sujeito e objeto)
Termos para pesquisa no Wikipedia inglês: Science Wars, Epistemology, Metaphysics, Object_(philosophy), Subject_(philosophy), Free will, e todos os nomes dos autores já citados.