Geo, no caso da Zica, afinal já estavam aqui há mais de quinze dias.
No caso dos assaltos, não me referia às ocorrências costumeiras no Rio de Janeiro, e sim ao grupo alvo, atletas, dirigentes, familiares, etc. Acho que vc não acompanhou o noticiário; não ficou sabendo do papelão dos nadadores americanos.
As entrevistas e comentários pipocaram pelo mundo, inclusive matéria feita sobre o assunto, nos Estados Unidos, com os americanos escandalizados com aquela farsa.
Na festa de encerramento, à qual o comparecimento não era obrigatório, poucos partiram com o fim de sua competição. O que se viu foi muita gente, mesmo debaixo de chuva, manifestando alegria, descontração e muitos aplausos.
Bom, eu estive lendo alguma coisa que o Washington Pravda e o New York Pravda andaram escrevendo sobre os Jogos.
Em geral aquele discursozinho mal informado e desinformador, superficial, repleto de clichês e preconceitos, que é característico dessa imprensa de terceira quando se debruça sobre o terceiro mundo. Não há porque esperar que o leitor dessas baboseiras se torne mais bem informado sobre o Rio e o Brasil do que o foi sobre as motivações para uma aventura militar criminosa no Iraque ou o real genocídio perpetrado naquele país.
E aquela bobagem sobre o biscoito Globo é um exemplo emblemático disso.
Mas contrariando clichês e expectativas, eu na verdade não sei qual foi a mágica que fizeram, mas a Lagoa Rodrigo de Freitas nunca esteve tão limpa. A água estava realmente cristalina, parecia piscina.
Na minha cidade há um pequeno clube de vela. Pequeno mesmo. Pequeno em tudo. No clube só há um bar e uma modesta marina, e não chega a ter nem 200 sócios. Conheço bem porque minha família era sócia do clube vizinho, o "Brasileiro", onde eu mesmo, quando criança, tive uma breve experiência com o iatismo. Mas logo nas primeiras regatas com o meu bravo Optimst, velejando com ( contra ) filhos daqueles verdadeiramente lendários iatistas do clube vizinho, já deu pra cair na real: eu não tinha o menor jeito praquilo.
O clube a que me refiro é menos conhecido pelo nome do que pelo apelido. É o 'Sailing', uma verdadeira usina de campeões.
No bar há um sino. Quando alguém do Sailing vence uma competição de expressão eles tocam o velho sino anunciando uma rodada de graça pra todo mundo.
E acredite, este sino já tocou muito.
Os velejadores do Sailing conquistaram, quase que literalmente, incontáveis títulos brasileiros e sulamericanos. Se não me engano são seis ou sete campeonatos europeus e vários campeonatos dos Estados Unidos. E são DEZENAS de campeonatos e vice-campeonatos mundiais, em várias classes. O Sailing conquista medalhas nos Jogos Pan Americanos desde a década de 50, e, nos JOGOS OLÍMPICOS, são simplesmente 15 medalhas!
Sendo a última essa de ouro, agora, conquistada pela dupla Kunze e Martine Grael.
Para se ter uma ideia, em toda a América Latina, apenas 3 países ganharam mais medalhas olímpicas do que o Sailing: México, Cuba e o próprio Brasil.
E não estou com isso, claro, me referindo apenas às medalhas conquistadas pelos iatistas destes países, mas ao total de medalhas em todas as modalidades em todas as olimpíadas disputadas.
E aí você já está se perguntando: "mas o que isto tem a ver?"
Eu explico: talvez você nunca tenha ouvido falar nesse "modesto" clube, mas, no mundo inteiro, no mundo da vela, todos conhecem o Sailing. Se alguém for lá para o outro lado do mundo e mencionar o Sailing para algum velejador australiano, ele com certeza conhece e sabe onde fica.
Além disso a vela é um esporte que tem a particularidade de que, no alto nível, é preciso conhecer profundamente a raia e regime de ventos de onde se vai competir. É por isso que os atletas não chegam na véspera, nem com semanas de antecedência. Eles precisam vir muitos meses antes. É comum, para uma Olimpíada, que os velejadores cheguem vários anos antes dos Jogos e fiquem treinando na raia.
A título de exemplo, na classe 49erFX, na qual Martine ( eleita melhor velejadora do mundo em 2014 ) e Kunze são campeãs mundiais e agora olímpicas, as meninas da Nova Zelândia que ficaram com a prata, já moravam e treinavam no Sailing há quase três anos. E as dinamarquesas que pegaram o bronze já moravam há meses em Niterói e também tinham sua base no Sailing.
O mesmo com as espanholas que ficaram em quarto.
Dezenas ( talvez centenas ) de velejadores de todo o mundo já estavam no Rio de Janeiro há muito tempo, treinando para os Jogos, quando o New York Pravda "informava" a seus leitores sobre os perigos que os iatistas correriam, "quando chegassem", de contrair as mais terríveis doenças contagiosas na super contaminada Baía de Guanabara.
É claro que ninguém está afirmando que a baía é limpa, muito menos despoluída, mas a maior parte do que foi noticiado era extremamente exagerado, para não dizer totalmente falso. Quase tão falso quanto o assalto que sofreu o nadador fanfarrão, uma história fantasiosa que os jornais americanos compraram de pronto.
Os competentes profissionais destes prestigiosos "tablóides" foram incapazes de descobrir que a baía tem 400Km² de área, 16 municípios em seu entorno, e que não é homogeneamente poluída em toda a sua extensão. Existindo inclusive praias que são liberadas para banho quase durante todo o tempo.
Só ontem, em um artigo, ( já não lembro se no NYT ou no Post ), reconheceram que ninguém ficou doente e que realmente não parecia haver este perigo.
Mas deveria mesmo ser muito difícil para um jornalista descobrir aquilo que velejadores do mundo inteiro, incluindo os americanos, sabem: que dinastias de campeões como as famílias Soffiati e Grael vivem e treinam diariamente na raia que seria utilizada nos Jogos e nenhum morreu por causa disso. Nem ainda ficou doente. Nem uma micosezinha sequer.
O mesmo se pode dizer da Zika. Eu imagino o esforço de jornalismo investigativo necessário para se descobrir que as chamadas Olimpíadas de verão, quando realizadas no hemisfério Sul, acontecem na verdade no INVERNO. Justamente quando a incidência do Aedes cai a um mínimo.
Talvez, no Washington Pravda, ninguém tenha tido a ideia de consultar a Secretaria Municipal de Saúde. Poderiam ter se informado ( e informarem ) que em todo o mês de julho foram registrados apenas 249 casos suspeitos de zika em toda a região metropolitana, com mais de 12 milhões de habitantes.
E que, uma semana antes do início das Olimpíadas, houve apenas um único caso de zika!
No mesmo período foram confirmados 36 casos autóctones na Flórida, sendo 5 deles só em Miami Beach.
Ou seja, um gringo de Miami Beach que deixou de vir às Olimpíadas com medo da doença, por estar muito bem informado, correu 5 vezes mais risco de contrair zika na pequena parte da cidade conhecida como Miami Beach do que toda a região metropolitana do Rio de Janeiro.
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/08/miami-beach-tem-5-casos-locais-de-zika-confirma-governo-da-florida.html