A ascensão e queda de Lula, aos olhos da mídia estrangeiraPublicações exaltaram euforia no fim dos anos 2000 e comemoram condenação agora
6.abr.2018 às 2h00
No dia 2 de abril de 2009, o então presidente americano Barack Obama disse uma frase que ficaria famosa
(
http://www1.folha.uol.com.br/bbc/2009/04/544567-obama-diz-que-lula-e-o-politico-mais-popular-da-terra.shtml), referindo-se ao então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva: “Esse é o cara. Eu amo esse cara. Ele é o político mais popular do mundo.”
Seis meses depois, a revista Newsweek publicou uma matéria (
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2610200911.htm) intitulada: “O brasileiro Lula: o político mais popular do mundo” Lula estava em Nova York para participar da Assembleia-Geral da ONU, e a revista afirmava que as câmeras poderiam estar focando Barack Obama ou autocratas controversos como Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad, “mas a maior estrela será o ex-torneiro mecânico barbudo e brusco: o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.”
“Com sua liderança, o Brasil resistiu à crise financeira global melhor do que qualquer outro país: nenhum banco
quebrou, a inflação está baixa e a economia voltou a crescer”.
Nove anos depois, o “político mais popular do mundo” teve sua prisão decretada (
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/04/morodecreta-prisao-de-lula-ex-presidente-tem-ate-17h-de-6a-para-se-entregar.shtml).
A imprensa estrangeira, que tanto incensara o líder brasileiro, havia mudado radicalmente o tom.
A revista britânica The Economist retratou a ascensão e queda do Brasil com suas capas do Cristo Redentor decolando em 2009 (
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2009/06/579975-economia-do-brasil-esta-pronta-para-crescer-de-novo-diz-economist.shtml) e caindo em 2013 (
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/09/1347724-brasil-estragou-tudo-questiona-revista-economist.shtml).
“Em relação a políticas sociais inteligentes e aumentar o consumo doméstico, o mundo em desenvolvimento tem
muito mais a aprender com o Brasil do que com a China” dizia a revista do cristo em alta.
“Lula está certo ao dizer que seu país merece respeito, e ele merece muito da adulação que recebe. Mas ele também
tem sido um presidente sortudo, colhendo os frutos de um boom de commodities e partindo de uma base sólida para
crescimento construída por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.”
Bem antes disso, na véspera da primeira eleição de Lula, a bíblia do empresariado global se desmanchava em elogios.
No artigo “O significado de Lula”, a Economist afirmava:
“A primeira coisa a dizer é que uma vitória para o senhor da Silva seria um triunfo para a democracia brasileira. Em
uma região que foi governada durante muito tempo por generais ou aristocratas, isso seria impensável pouco tempo
atrás. A história de vida de Lula é uma saga de mobilidade social digna de uma novela.
O PT, “em vez de teoria marxista, luta por democracia radical e justiça social em um país profundamente desigual”.
Na quinta-feira (5), após a decisão do Supremo que tornava inevitável a prisão de Lula, mas ainda antes da ordem do juiz Sergio Moro, a revista dizia que a pena longa (
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2018/04/ordem-de-prisao-mergulha-brasil-no-caospolitico-diz-wp.shtml), que poderia começar a qualquer momento, parecia “desproporcional”.
“Isso importa porque Lula continua a ser reverenciado pelos brasileiros mais pobres por causa dos programas sociais
que implementou”, acrescentando que sua prisão seria histórica para a democracia brasileira.
Mas concluía defendendo a operação Lava Jato (
https://www1.folha.uol.com.br/especial/2014/petrolao/). “A despeito dos riscos e falhas, a ofensiva anticorrupção é um avanço”
Em 2010, o Financial Times, na véspera da vitória de Dilma na eleição, dizia que “aparentemente, o Brasil nunca esteve tão bem”
O colunista Gideon Rachman, no mesmo FT, comparava Lula a Mandela. “Lula não conseguiu ter o mesmo reconhecimento global e santidade secular que Nelson Mandela. Mas os mitos de Mandela e Lula têm algo em comum. Em ambos os casos, uma emocionante luta pessoal se fundiu a uma envolvente história nacional, transformando um único homem em um símbolo potente da transformação de um país.”
“Apesar de todas as ressalvas inevitáveis, Lula vai merecer muito dos elogios e da fanfarra que cercam sua aposentadoria”.
Em editorial publicado nesta quinta-feira (5), o FT comemorava a condenação de Lula, afirmando que ela demonstra que “ninguém está acima da lei no Brasil”.
“E Lula tampouco é o santo que frequentemente dizem que ele é.”
E relativiza as conquistas do governo Lula. “Durante seus mandatos, de 2003 a 2011, a proporção de brasileiros vivendo na pobreza caiu pela metade. São conquistas notáveis. Mas não são mais notáveis do que o que aconteceu em países com governo centrista como Chile e Peru, e muitos outros países sul-americanos que também se aproveitaram do boom dos preços das commodities. A presidência de Lula pode ter sido mais carismática que a deles, mas os resultados não foram muito diferentes.”
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2018/04/a-ascensao-e-queda-de-lula-aos-olhos-da-midia-estrangeira.shtml