Não creio que seja apenas o mal uso do dinheiro alheio (nosso dinheiro) a principal causa dos problemas de uma empresa pública, afinal, em diversas empresas privadas, os responsáveis pela sua administração também estão trabalhando com o dinheiro alheio.
Não Dodo... Em uma empresa privada há um dono ou representante do dono que ganha bonus por margem e aumento de receita.
Muitas empresas dão participações no resultado, ações e comissionamento por margem/faturamento para funcionários comuns.
E a morte vem para uma empresa que não faz o seu papel. Diferentemente de um órgão público, que acabam injetando mais dinheiro.
Existe a percepção de que algumas instituições públicas sempre serão necessárias, independente dos seus resultados desastrosos, não por ser a competência o seu diferencial, mas sim por existir a garantia prevista em lei de que elas existam.
Isso não quer dizer que sejam necessárias. Quer dizer que são exigências.
Mas veja, existe muita margem de manobra. Na cidade de SP, alguns hospitais públicos estão delegando sua administração operacional para entidades como Einstein, Santa Marcelina e etc.., isto é, o atendimento médico é realizado sob a política de estado com funcionários públicos, e os serviços adminitrativos (atendentes, call center, informática, adm predial, etc..) podem ficar com empresas privadas.
Saúde, educação, previdência, segurança, entre outras coisas, são direitos garantidos pela própria constituição, devido a isso, é normal acharmos (nós, o povo) que sempre haverão escolas públicas, hospitais públicos, etc.
Mas como dito, não há ligação nenhuma entre uma coisa e outra. Eu posso ter esse direito respeitado e eventualmente o serviço ou parte dele ser feito por empresas privadas.
Não há nenhuma questão aqui.
Alguém duvida de que a previdência pública ainda existirá mesmo que os planos de previdência privada se tornem populares ao ponto de qualquer brasileiro poder ter um?
Vai existir, o que é equivocado. Na Holanda por exemplo, as empresas dão opções a seus funcionários de escolher entre por exemplo cinco empresas conveniadas para que eles façam seus depoósitos.
E essas empresas competem entre si e querem oferecer serviços melhores. O que você acha da correção que dão ao nosso FGTS por exemplo? típico de monopólio.
Com certeza isso não será devido a extrema competência da previdência pública, e sim pelo fato de que ela é imprescindível, pelo menos para uma parcela da população.
O que quero dizer é o seguinte:
podemos aceitar que uma empresa privada troque de mãos ou seja varrida do mercado pelos seus concorrentes, afinal essa é a regra do jogo e todos nós a conhecemos. Mas passa longe do senso comum da maioria aceitar a total indiferença do Estado no que tange as regras deste jogo, ainda mais quando os interessados são os que necessitam dos serviços oferecidos.
É imprescindícel que exista o serviço. Existe margem para definirmos quem poderá executá-lo, se funcionários públicos ou privados.
O que não pode é mantermos um sem número de instituições torrando dinheiro suado em uma país que se paga impostos altíssimos para obter serviços precários. Isso não tem cabimento.
Veja o caso da telefonia, o monopólio do Estado era ruim, mas o monopólio privado, se vier a acontecer, seria melhor?
Não pode voltar a ter monopólio e é por isso que existem as agencias reguladoras. Você vê algum indício de monopólio deste mercado?
Por exemplo, ontem liguei para minha operadora de tv (tv+tel+internet) e consegui um desconto de 50% sobre a assinatura nos próximos 6 meses, com a ameaça de ir para a TVA porque realmente essa estava com um preço mais em conta.
E eu saí da TVA há uns 3 anos por causa do preço.
Estes custos reduzidos seriam recebidos por nós de que maneira? Pela diminuição de impostos ou produtos mais baratos?
Houveram diversas privatizações no governo passado e, pelo menos no caso dos pedágios, a propaganda dizia assim:
"Pedágio só paga quem usa, o dinheiro dos impostos será revertido para a saúde, educação, seguraça."
A propaganda tinha como protagonista o ator Stênio Garcia, caso alguém não lembre.
Aqui me parece um caso onde somente uma parte do que foi prometido foi cumprido. No meu estado, as estradas com pedágios realmente estão um pouco melhores, pelo menos nos trechos que conheci antes e depois da implantação dos pedágios. Porém, tanto a saúde como a educação estão enfrentando os mesmos problemas de antes. Se por um lado economizamos, por outro parece que os problemas aumentam.
A privatização nos é oferecida como uma cornucópia de benesses infinita, mas ai que reside a minha dúvida:
se o governo esta economizando com ela, porque a conta dos impostos esta cada vez mais alta? E isso vem desde o FHC.
Em SP as estradas pedagiadas e controladas por empresas privadas tem um asfalto muito melhor e um serviço de atendimento excelente.
Mas Dodo, não há milagres mesmo.
A privatização não funciona se nossos governos escolhem aumentar gastos em outras áreas e insistir em contratar sem parar, fazendo com que os gastos sejam maiores do que as receitas.
A privatização elimina uma série de custos e normalmente aumenta a qualidade dos serviços, mas nossos governos tem que fazer o trabalho direito.
Costuma-se criticar o consenso de washington por alguns espantalhos. Mas ele não falava em privatização somente, tem a outra parte que é a disciplina fiscal. Ele não falava de deixar o mercado se auto-regular, e deixava claro a necessidade do governo controlar seus gastos. Nunca fizemos isso, o ponto principal, portanto não podemos dizer que esse consenso falhou para nós.
Aí se privatiza, se torra a grana sabe lá deus do céu aonde, o governo praticamente dobra seus gastos e continuamos quase na mesma... com a excessão de que, nesses órgãos privatizados, não haverá cabides financiados por mim, o governo vai ter seus impostos e não ter que injetar dinheiro, e provavelmente os serviços ficarão melhores.
Só vamos começar a pagar menos impostos no dia que o inferno congelar.