Bom, pra falar a verdade este tópico deve estar aí há uns três meses e eu acabo de entrar nele pela primeira vez. Só de ver o título me dava preguiça...

O único motivo que me fez entrar aqui pela primeira vez e ler por alto todas as quatro páginas foi o nome do autor, que só fui reparar agora. Bom, como disse o Buckaroo lá atrás, não sei se foi o Q, mas que roubaram a senha dele roubaram

.
Ou se não roubaram eu realmente estou surpreso, pelo que lí dele em outros tópicos. Na condição de um ex-miserável (de acordo com as categorizações da ONU) que só a pouco mais de um ano saiu da classe E e só a poucos meses ingressou (mais ou menos) na classe C, conforme já relatado num desses tópicos por aí... Jus, na boa, você não tem a mínima idéia do que está falando. Mas não sabe nem de perto mesmo.
É bem verdade, nunca pedi dinheiro... mas não acho que você considere pedir carona a motoristas de ônibus para vender "Serenata de Amor=3 por 1 real, Bis da Lacta=
'10 Bis' por 1 real, amendoin Santa Helena=R$0,50" algo muito diferente disso. (Edit: só depois de escrever isto eu percebi que ao longo do tópico você mencionou vendedores de bala como os que "não se esforçam de verdade").
Well, então eu posso me considerar a manifestação física e inegociável da grande falha do seu raciocínio. Hoje sou um
quase típico membro da classe média: renda
per capita de R$850,00; todos os bens duráveis típicos (PC, DVD, impressoras a laser e a jato, TV nova, microondas...); roupas de relativa qualidade (Hering, Adidas, OLK, Taco...), novas; alimentação equilibrada e farta incluindo carne, leite, frutas (quase) todos os dias; boas (na real: ótimas) perspectivas de melhora ainda maior em um futuro muito próximo. Logo, você vai dizer que
sou do grupo dos que se esforçaram para ter uma vida minimamente digna.Por outro lado, se você me encontrasse há três anos ou mais iria se deparar com um sujeito de roupas muito surradas; e se viesse em minha casa naquela época talvez perguntasse sobre como um sujeito pode viver apenas com uma geladeira velha, uma tv pifando e um fogão que só funciona em uma boca e talvez se espantasse de ver que eu estava feliz por ter ovo pra comer (não era todo dia que me dava a esses luxos); me perguntaria sobre o porquê deu não ter ido pra faculdade naquele dia e se eu o considerasse muito meu amigo (daqueles dos quais não se tem vergonha por nada) eu diria: "porra seu Jus, sabe o que que é, eu tô sem dinheiro pra passagem e, você sabe comé né? não dá pra ir a pé de Ricardo de Albuquerque até o Maracanã..."; caso contrário eu inventaria uma desculpa qualquer, envergonhado e gaguejando, com o olhar cabisbaixo e marejado.
E aí, com este relato todo que mais parece um
ad misericordium (mas eu juro que não é) a gente encontra um problema crucial na sua tese, Jus: eu não sou nem um pouco menos vagabundo (ou mais esforçado) hoje do que era há 3 anos; todavia há três anos você me consideraria um vagabundo (não foi bem essa a palavra... qual foi? folgado?). Diria que eu não consiguia um bom emprego porque não me esforçava o suficiente e que se eu realmente quisesse eu encontraria soluções pra me manter na faculdade. Estaria enganado Jus, você não faz a mínima idéia de como é "fácil", "simples", "tranquilo" mudar de estrato social, conseguir um bom emprego não tendo bons dentes e nem boa pele, chegar na faculdade e assistir a aula sem ter o livro que o professor passou e que custava 60 reais e sem ter como tirar xerox que é mais caro ainda; e pensar que a única maneira de conseguir um bom emprego é continuar estudando... mas que a única maneira de continuar estudando é arrumar um bom emprego (oh Tostines, quem te inventou?). Se você soubesse o quanto você não teria aberto este tópico, e se você algum dia souber (que deus o valha) você volta aqui e pede pra apagarem esta joça.
Aliás: como disse muito bem o Fabulous (ler as opiniões de cada um neste tópico me causou uma série de surpresas) eu não consegui alguma melhora por conta de ser mais esforçado do que outros que vão morrer na miséria... não Jus: eu sou daqueles que precisaram ser craques, dos quais o Fabulous falou aí atrás, e mesmo sendo craque (e bota craque nisso, acredite; pode me achar pedante o quanto quiser, mas você vai ter que ralar muito pra encontrar alguém com a mesma capacidade de aprendizagem e raciocínio que eu) as coisas não foram nem a milésima parte do simples que você quer fazer parecer.
1- Em primeiro lugar, é extremamente comum mendigos serem pessoas com algum grau de desordem mental.
2- Essas desordens podem ser causa ou consequência da mendicância.
2a - Se for causa, não vale o folgado citado em posts anteriores
2b - Se for consequência, provavelmente não vale o folgado citado nos posts anteriores, já que a desordem pode ser uma defesa da mente para não encarar a situação em que essa pessoa está
3- Essas pessoas têm quase que invariavelmente problemas com a família. Isso é meio evidente pois uma situação onde pais/irmãos não interferem em uma situação desta é relevante.
4- Histórico: Provavelmete mal formado, provavelmente os pais não deram a mínima para seu estudo, provavelmente proveniente de família miserável.
Este ponto faz com muitas vezes não consigamos sentir empatia, porque essas pessoas vieram de mundos distintos do nosso.
5- A mendicancia é uma situação degradante. Das pessoas que sobraram de 1..4, não sei quantas tem opção de falar, OK, não quero o sub sub emprego oferecido e prefiro mendigar
6- São seres humanos como nós... se eu tivesse uma história parecida, provavelmente terminaria em uma situação parecida
Perfecto.
Não sei de onde você tirou essa afirmação. 1000,00 exige muitas vezes mais do que o segundo grau completo, ser mais do que um analfabeto funcioal, ou ter boa aparência para vender em uma loja.
Muito importante Agnóstico, ter lembrado o papel da boa aparência na conquista de empregos minimamente bons; uma pessoa que não teve acesso à saúde dentária na infância, que sempre se alimentou (durante infãncia e pré-adolescência, quando não era moral que se cobrasse "esforço" delas) de carboidrato e óleo (alimentação barata não é sempre uma escolha) não vai conseguir uma boa aparência perdida na primeira esquina, nem se se esforçar muito para isso.
O cara pode resolver ser empregado de alguém, e se destacar ao ponto de ser indispensável ao seu empregador. Pode ainda prestar concurso público, e por mais que haja abusos e corrupção na seleção, não se tem como separar todas as vagas para apadrinhamento. Se o cara se esforçar realmente, decerto que será aprovado.
Ele pode ainda resolver ter um negócio próprio ou ser profissional liberal. Igualmente ele terá que se esforçar, mas além disso, terá que desenvolver um lado carismático forte, o que também só demanda esforços.
Não quero dizer que fazendo isso tais pessoas se tornarão ricas, mas sem dúvidas, não serão pedintes folgados.
Você só podia estar brincando nesta resposta: "se tornar empregado doméstico de forma que se tornasse indispensável?"
what means it? 
Você espera que a tal empregada vire especialista nas gastronomias norueguesa, finlandesa, baiana, tailandesa, húngara, chinesa, sergipana e mexicana tendo passado toda a vida cozinhando arroz, feijão e batata-frita? Sério, porque nem sei exatamente o que uma empregada doméstica precisaria fazer pra se tornar "indispensável" aos seus patrões a ponto de pelo menos ter poderes para negociar um salário que pelo menos a permitisse pagar uma escola decente para o filho e quebrar o ciclo de mão-de-obra não qualificada.
"pode fazer concurso"?

Sério Jus, você acha que é molezinha passar em concurso público? Sobretudo quando você não teve meios de cursar um curso superior? Se se esforçar passa? Tá brincando, né? Acabei de passar num Jus, eram 10.000 candidatos se esforçando por 25 vagas... No outro eram 2.700 se esforçando por 13 ( e olha que este foi dos menos concorridos que peguei). Acredite, aqui se esforçar também não basta.
Ele pode ainda resolver ter um negócio próprio ou ser profissional liberal. Igualmente ele terá que se esforçar, mas além disso, terá que desenvolver um lado carismático forte, o que também só demanda esforços.
Em outras palavras: vai ter que ser um craque, pelo menos, bem como o Fabulous disse. E pra ser profissional liberal ainda vai ter que ter graduação.
Você acredita ser verdadeira a hipótese de que:
O único determinante da pobreza ou riqueza de um indivíduo é o esforço próprio do indivíduo ?
Ou de outra forma:
A causa exclusiva do sucesso ou fracasso financeiro do indivíduo é o seu esforço pessoal e as suas escolhas pessoais?
Sim e sim. Acredito piamente que o único fator realmente determinante quanto a alguém ser um verdadeiro miserável ou um que tenha condições de viver dignamente seja seu próprio esforço.
Tentando entender sua resposta pra ir mimir que tô com soninho:
1 - Josefa D'agostin Strauss nasceu no Leblon, filha de Mário Hoffnem Straus e Maria D'agostin Strauss. Estudou até o fim da adolescência no Anglo. Hoje faz Direito na FGV (integralmente bancada pelos pais) pela manhã e parte da tarde, sai da faculdade e vai a pé para a academia de ginástica de um amigo da família, onde trabalha (no Rio Sul) das 15H às 21H e ganha 800 por mês, mais VR e Plano de Saúde.
2 - Josicleide Barbosa de Sousa nasceu no Jorge Turco, estudou na Escola Municipal Maurício Velinda da Fonseca, depois no Itália, estudava na UERJ até Julho mas trancou porque não conseguia chegar a tempo nas aulas já que só era liberada do trabalho como balconista numa drogaria no Riachuelo às 19 horas e suas aulas começavam às 18 horas, tendo perdido várias aulas e provas até desistir do sonho de se formar. Trabalha 8 horas por dia. Ganha 450 reais mais passagem, cuida da irmã mais nova e da avó com este dinheiro.
A razão do fracasso de uma e do sucesso da outra está no esforço e nas escolhas pessoais? Morri.

Ah!!! O mais importante eu não disse: concordo com você. Acho que ninguém tem obrigação de ajudar aos pobres da forma que você propõe: não quer dar esmola, não dê (esmolas eu também raramente dou ou daria); não quer comprar uma balinha só pra ajudar, não compre; não quer dar um quilo de alimento ou pagar uma coxinha, não pague. Sério, concordo.
Acho que a sua obrigação termina ao pagar impostos (partindo da premissa que você os pague corretamente, no que eu quero crer). O resto deveria ser parte do Estado.
O problema é que por aquí as pessoas que reclamam de pagar impostos demais geralmente não pagam todos os que devem e quando pagam um pequeno percentual do que deveriam ainda ocorre de um montante deste valor ser subtraído no meio do caminho. Então é óbvio que no fim das contas acaba faltando dinheiro ao Estado para cuidar do que é da alçada dele.