Não é isso que está em discussão. Eu nunca falei que o sofrimento alheio não existe. E sim eu falei que certas ações (diga-se alimentar as massas sem lhe fornecer educação) no futuro gerará mais sofrimento ainda.
E o apelo emocional parece que é para tentar obscurecer isso, de que o sofrimento atual elimina qualquer possibilidade de conseqüências futuras.
Você diz que não devemos conter o sofrimento hoje para não gerar mais sofrimento no futuro.
Se entendi sua lógica, você quer dizer que sofrimento é ruim e mais pessoas passando por sofrimento é pior, portanto você advoga pela minimização da quantidade de pessoas que sofre.
Bom, se pusermos os limites éticos de lado podemos resolver isso facilmente. Basta matar todas as pessoas que sofrem. Acabar com sua angústia dando um tiro na cabeça de cada uma. Isso certamente reduz a quantiidade de pessoas infelizes e preserva os recursos natuarais do planeta para o futuro, impedindo que mais pessoas se tornem infelizes. É a famosa ética utilitarista.
Você acha essa medida correta? Por que?
Bom, talvez você prefira adotar uma solução mais discreta: deixar as pessoas que passam fome morrer de fome. O efeito é o mesmo, mas você não precisa apertar nenhum gatilho. Eu me pergunto é que diferença um utilirista como você, que julga os méritos éticos de uma ação pelo valor de seu resultado, vê entre dar um tiro em quem passa fome e recusar comida a quem passa fome.
Quem é que no futuro vai assumir a responsabilidade pelo bolsa-família? O governo finge que dá educação exigindo matrícula, e finge que melhora o ensino abaixando as médias. Mas a gente sabe muito bem onde isso vai acabar e que o ensino no Brasil (principalmente o público) é terrível multiplicado por péssimo. Em 2050 não vai nem mais existir trabalho braçal feito por pessoas, os empregos vão necessitar puramente de intelecto. A gente simplesmente vai ignorar essa realidade?
Você é que está ignorando a realidade:
Taxa de fecundidade cai e população brasileira mantém tendência de envelhecimento, apura IBGE.
Taxa de fecundidade fica abaixo do nível de reposição, aponta IBGEEssa explosão populacional que você está prevendo não vai existe, a tendência da população brasileira é se estabilizar e cair. Esse fenômeno já vem acontecendo há décadas.
Quanto à sua previsão de que até 2050 não haverá mais trabalho braçal, gostaria de saber como você chegou a essa conclusão. Consultou as estrelas? Os búzios? As cartas?
Vocês que gostam tanto de usar de emoções como argumentos, deveriam de tentar sentir empatia por pessoas que existirão no futuro. Afinal, muitos aqui não conhecem diretamente ninguém no nordeste, e ainda sim imaginam o sofrimento deles. Não deve de ser tão difícil de imaginar o sofrimento de alguns que haverá daqui a algumas décadas no Brasil...
Curioso esse critério ético é esse de colocar uma pessoa que não existe e pode nem vir a existir a frente de uma que já existe. Mas se isso é lógico então pense o seguinte: por mais que uma pessoa sofra, em geral ela prefere agüentar o sofrimento e se conservar viva do que morrer. Caso contrário todos esses sertanejos sofredores da sua imaginação (que supostamente só sofrem, coitados, não tem nenhum prazerzinho em suas vidas, nenhum momentinhozinho de felicidade) praticariam suicídio. Sendo assim, se me permite arriscar qual seria a opinião dos sertanejos de 2050, eles também preferem a vida à morte. Ao rejeitar comida a seus pais e avós hoje, você nega aos futuros sofredores o direito de nascer um dia. Ao deixar uma pessoa morrer de fome, você não mata apenas ela, mas toda sua futura linhagem, todas as pessoas que poderiam ser suas descendentes, mas não vão mais nascer. Sendo assim, se você privilegia a empatia por quem ainda não nasceu, pelo seu próprio ponto de vista você é um genocida.