Luiz, eu concordo com o que você diz e é por isso que durante a discussão eu deixei claro que não são os enteógenos que iluminam as pessoas, além de entender a necessidade óbvia de uma preparação do individuo em relação a este tipo de experiencia. Talvez não seja uma preparação visando o melhor aproveitamento em uma viagem "psicodelica", mas sim a observação dos conteudos da mente, para que quando estes forem liberados por visões em uma experiencia como essa, o individuo não se sinta perdido.
Além disso essas experiencias frequentemente desencadeiam o medo e o terror, principalmente quando há a ego-perda e o individuo tem a sensação de estar morrendo. Porém é um fato que essas experiencias podem ser muito proveitosas para qualquer um que deseja se conhecer sinceramente e não tenha receio do que irá encontrar dentro de si. Além disso é necessário um conhecimento em relação à propria saude para que a experiencia não desencandeie um surto psicotico.
No meu caso especificamente eu sempre me interessei pelos misterios da mente, já li muito sobre psicologia, investiguei minha mente em estado de vigilia e durante o sono por anos, e só depois de ter amadurecido muito ( hoje estou com 25 anos ) e quando achei que estava realmente preparado eu experimentei um enteógeno pela primeira vez, então eu quero deixar claro que não sou o menino bobinho drogado que não sabe o que está fazendo. Uma experiencia como essa é tão forte e tão esclarecedora que o individuo dificilmente tem vontade de te-la em um curto espaço de tempo novamente, alguns de fato ficam tão assustados ou maravilhados que uma só experiencia é suficiente para que transformem sua vida para sempre.
O mais importante nessas experiencias é exatamente o foco onde chegamos na discussão agora. Como vinhamos dizendo o conteudo mental de que estamos conscientes é bastante limitado, e todo esse conteudo jorra da mente inconsciente de maneira "automatica", portanto nós, e mesmo os seres humanos da antiguidade, funcionam de maneira quase "mecanica", as tendencias que nos são naturais e que guiam nossas vidas nos moldam de tal maneira que quando na idade adulta costumamos perder totalmente o senso de liberdade, ainda mais nos dias atuais onde temos que trabalhar insaciavelmente para sustentar a nós mesmos e a nossa familia, e o pouco tempo que nos resta queremos nos divertir.
Vou colocar aqui duas definicoes baseadas na psicologia Jungiana a respeito do inconsciente pessoal e coletivo para que vocês entendam melhor a que me refiro quando digo que os enteógenos causam a "liberação" de conteudos reprimidos, fazendo com que nossa vida se torne mais equilibrada.
"O Inconsciente Pessoal ou Individual é, de acordo a Carl Gustav Jung, aquela camada mais superficial de conteúdos, cujo marco divisório com o consciente não é tão rígido. É uma camada de conteúdos que se acha contígua ao consciente. Estes conteúdos subjazem no inconsciente por não possuírem carga energética suficiente para emergir na consciência. Correspondem àqueles aspectos que em algum momento do desenvolvimento da personalidade não foram compatíveis com as tendências da consciência e foram, portanto reprimidas. Também estão, no inconsciente pessoal, percepções subliminares, ou seja, aquelas que foram captadas pelos nossos sentidos de forma subliminar, que nem nos demos conta de termos contato com o fato em si. Conteúdos da memória que não necessitam estar presentes constantemente na consciência estão presentes no inconsciente pessoal. Todos estes conteúdos formam no Inconsciente Pessoal um grande banco de dados que poderão surgir na consciência a qualquer momento."
"Inconsciente coletivo: Jung amplia o conceito de inconsciente em sua teoria. Ele não via apenas o movimento consciente – inconsciente que caracteriza o inconsciente pessoal; ele acreditava também que novos conteúdos poderiam surgir do inconsciente, sem nunca terem sido conscientes, como novas idéias e situações psíquicas futuras. A este novo movimento chamou de Inconsciente coletivo. Podemos observar exemplos disso em nosso cotidiano, quando frente a certos problemas surgem soluções surpreendentes. Muitos “gênios” da nossa história, que fizeram grandes descobertas e criações podem ter tido suas idéias nascidas no inconsciente. Jung acreditava que assim como o corpo possui uma evolução histórica, a mente também possui. Nesta compreende-se o desenvolvimento biológico, pré-histórico e inconsciente da mente do homem desde a sua forma primitiva, que assemelhava-se à dos animais. Esta evolução histórica da psique caracteriza o inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo está disponível a todos os homens de maneira igual, em qualquer lugar do mundo, ou seja, não é uma aquisição individual. Os seus conteúdos – os arquétipos – são “condições prévias” à formação psíquica em geral. O inconsciente coletivo é composto por imagens do passado ancestral, imagens míticas, predisposições ou potencialidades no responder ao mundo tal como os antepassados.Seus conteúdos independem da experiência pessoal. Consideremos por exemplo, o medo que sentimos de cobra, do escuro. Isto ocorre porque nossos antepassados experimentaram tais medos ao longo de muitas gerações. Herdamos, então, a predisposição de temer as serpentes, e cada uma a vivenciará a seu modo, considerando a experiência pessoal. O homem nasce com muitas predisposições para pensar, sentir, agir de maneiras específicas, e as expressões de tais predisposições dependem inteiramente das experiências do indivíduo."