usuários de substâncias psicotrópicas fazem uso de tantos eufemismos de conotação mística e/ou estética para mascarar a sua busca por satisfação hedônica?
Pois olha rapaz, não sei por que isso acontece. O que posso lhe dizer é que eu conheci um grande número de pessoas na época (frequentava fóruns) que deixavam claro sua busca por recreação, por experiencias psicodelicas simplesmente por deleite, no entanto conheci gente também que estava estudando o tema afundo, estudando a gênese das plantas, suas relações culturais e antropológicas, aprendendo inclusive sobre suas estruturas quimicas para não dar um tiro no escuro. Eu não tive tempo nem vontade de aprofundar tanto, tanto assim meu conhecimento como alguns que conheci, mas enquanto estive com meu foco nessa pesquisa vivenciei muito deste contexto dos que se consideram "psiconautas" os que navegam pelo caminhos internos. É lógico que se pode e se deve fazer isso sem uso de substâncias, mas uma grande quantidade de experiências me trouxe (como eu ja disse ali em cima) maturidades que qualquer bom observador compreenderia que eu não acessaria de outra forma (naquele momento), seria isso uma aceleração? Será que eu iria chegar nisto de outra forma?
É triste pensar que supostamente a palavra "auto-pesquisa" seja considerada de teor místico/religioso.
Exatamente por isso que eu gostaria de saber quantos aqui já arriscaram-se em experimentar algumas alucinações e alterações que podem (ou não) trazer benefícios ou malefícios para a própria percepção da vida. Mas pelo jeito o pessoal não gosta muito desse tipo de coisa. Como eu disse, hoje estou em outro momento e considero esse um ciclo que já se acabou. Não brinco mais com minhas sinapses.
Mas só finalizando. Eu deixei claro que sim, adorava navegar na pira psicodélica, na viagem derretida e colorida, mas naturalmente, quando se acessa certos níveis da mente nesse tipo de experiência, sabe-se que isso é só um bônus, que a quantia de insights uteis, pessoais é imensa. E da mesma forma que pode vir uma experiencia colorida e feliz, você pode acessar um lado muito obscuro do seu inconsciente, aí e que entram as Bad trips, ou as "peias" como chamam os mais apaixonados pelo tema. Onde você vai suar frio confrontando todos os seus monstros internos, seus medos, suas loucuras.
Vale um fragmento de relato aqui:
"...Tomei apenas um pequeno gole da Ayahuasca que havia ganhado, foi muito pouco, estava sozinho e só queria ter uma ideia da concentração desta e seus efeitos quando utilizada sozinho, sem amigos ou interferências... Em determinado momento a sensação corpórea estava muito intensificada, sentia cada célula, cada órgão, cada molécula, sentia o sangue correndo com intensidade em cada veia (como nas pinturas de Alex Grey), depois de um período indefinido de tempo percebi a vida, o mundo e eu mesmo passando numa espécie de fast foward, como um timelapse acelerado, e me vi de fora, não fora do corpo, mas como se assistisse eu mesmo por uma tela, meu corpo ali deitado na cama estática, havia morrido. Veja então pela janela o sol subindo, a lua subindo, as nuvens passando, o tempo passando, então acelera mais, a decomposição acontece em meu corpo, como naqueles documentários da bbc de um animal se fundindo ao solo, e restando apenas meu esqueleto, as paredes da casa caindo, sendo destruidas, novas casas se construindo ao redor, o ambiente mudando, árvores crescendo e outras morrendo e o universo seguindo em frente. Numa cena alegórica bizarra do meu ser ficando ali, apenas o pó e tudo seguindo..."
Não foi exatamente uma bad-trip, mas vivenciar isso pessoalmente em primeira pessoa é algo que vale a pena. Difícil de descrever.
Será que os que buscam isso querem só prazer? Ou depois de ter uma experiencia dessa, voltariam a usar? Talvez percebam que, para aquele momento de maturação mental e psicológica, mesmo uma experiencia assustadora possa ser mais util do que uma cerveja ou vinho com os amigos em um bar.
Talvez não seja hedonismo místico.