O pensamento ateu é muito engraçado.. Riem do pensamento religioso, mas no fundo os dois carregam alta dose de pensamento mágico.
Pra minha própria surpresa eu mais ou menos concordo com o Micrômegas.
O problema da consciência é mesmo muito, muito difícil. E desconcertante.
Algumas pessoas, incluindo filósofos, parece que porque a Ciência se frusta quando intenta construir hipóteses puramente materialistas para explicar a origem da consciência, fundamentadas em fenômenos e propriedades conhecidas do universo, acabam apelando para explicações muito forçadas. De muitas maneiras semelhantes a forma como pessoas religiosas querem explicar a origem e existência de tudo.
Mas do religioso se espera mesmo o pensamento mágico: é aceitável que ele se satisfaça com a resposta "foi Deus" e não dê o próximo passo óbvio e questione quem foi o Criador de Deus, ou como é possível que Deus tenha sempre existido, ou como é possível que algo venha a ser do nada, ou de onde e como Deus obteria seus ilimitados poderes mágicos...
Mas estas são as mesmas perguntas que fazemos em relação ao próprio universo, às próprias leis que regem este universo, questões estas que o pensamento mágico responde com "foi Deus".
Mas quando se observa que à hipótese deísta ainda caberiam as mesmas questões e perplexidades que dirigimos à REALIDADE do universo, constata-se que o pensamento mágico nada responde. Serve apenas para substituir a sábia percepção da própria ignorância por uma tola, porém reconfortante, ilusão de entendimento.
A melhor resposta quando não se tem nenhuma continua sendo um prudente e honesto "não sei".
Aí eu sou obrigado a concordar com o Micrômegas: a hipótese "funcionalista" ou me foi mal explicada ou é uma piada que não se leva a sério. Isso é completamente indistinguível de puro pensamento mágico.
Me refiro a alguém propor que a causa da consciência não sejam fenômenos físicos, fenômenos naturais que existam por si só, mas uma abstração, um algoritmo, procedimentos, uma espécie qualquer de ritual de passos que por magia poderiam despertar a vida em coisas inanimadas como chips de silício. Sem nem mesmo que se tente estabelecer uma hipótese explicativa baseada em causa/efeito de fenômenos cientificamente reconhecidos, demonstrando a relação entre uma dada sequência qualquer de ações abstratas e o fenômeno consciência.
Ora, isso é exatamente o mesmo que acreditar em "simpatias".
Você quer atrair dinheiro em 2018? Tente o seguinte algoritmo:
1 - Vista uma roupa branca na virada do ano.
2 - Com uma peça verde.
3 - Parta um limão em cruz à meia noite.
4 - Jogue um pedaço por seu ombro direito.
5 - Chupe os outros 3.
6 - Dê 3 pulinhos!
Se você é capaz de duvidar que tal sequência condicione a sua prosperidade no próximo ano, não tem como aceitar que fluxos específicos de cargas elétricas em dispositivos eletrônicos ( ou os mesmos fluxos agora com fluidos em um hipotético computador hidráulico ) podem ser geradores da consciência nessa máquina. Quer dizer, não as cargas elétricas em si, os campos eletromagnéticos e sua interação com a natureza material da máquina, fenômenos quânticos ocorrendo no âmago da matéria, ou coisa que o valha, mas magicamente o algoritmo, uma abstração que nem é um fenômeno em si mesmo, porém uma ideia na cabeça de alguém que só faz sentido e tem significado enquanto ideia quando interpretada por um outro cérebro que observa o comportamento da máquina comandada pelo algoritmo.
Sem o observador humano a semântica do algoritmo não existe. Existiria um sistema e fenômenos eletromagnéticos ocorrendo no sistema.
Pois esta semântica é algo puramente abstrato e não algo em si mesmo, assim como a semântica ( interpretação mágica ) das ações propostas na simpatia acima descrita.