Porém, se a esmagadora maioria dos países usa barreiras de importação e adota o nacionalismo como diretriz fundamental de suas políticas, qualquer país que abra completamente seus mercados e adote políticas anti-nacionalistas será esmagado economicamente e geopoliticamente, como um cordeiro entre lobos.
Desde que se reconheça que uma transação comercial é algo mutuamente benéfico em qualquer circunstância, que é uma situação de ganha-ganha e não de ganha-perde (como é frequentemente assumido por socialistas),
O comércio entre pessoas
completamente livres com certeza é mutualmenet benéfico. Disso não há sombra de dúvida, ninguém aqui parece discordar.
O problema é que, para haver comércio, os entes envolvidos devem ter
meios de compra (dinheiro, produto para escambo, etc). Sem meios de compra, não há comércio.
Nos exemplos que você citou e nas explicações posteriores, parece que você se esqueceu desse detalhe tão vital. Vamos analisá-lo:
qualquer tipo de barreira comercial torna-se indefensável em termos de "proteger a nação".
A barreira em questão serve para garantir os
meios de compra que eu citei acima, vou detalhá-lo melhor com o exemplo que você deu:
Se o padeiro não quer comprar meu feijão por achar que ele próprio pode produzir o seu feijão, eu não estarei melhor se simplesmente parar de comprar pão dele e começar a me empenhar a produzir meu pão eu mesmo, como se por birra.
Se a maioria das pessoas (nem precisa ser todas) pararem de comprar o seu feijão por qualquer motivo, você simplesmente não terá dinheiro nenhum para comprar pão ou qualquer outra coisa dos demais. Automaticamente você deixará de comprar pão do padeiro por falta de dinheiro.
No caso em questão, como se trata de comércio entre indivíduos onde nehum tipo de restrição ou barreira pode ser imposta, a analogia com o comércio entre países termina aqui. O plantador de feijão iria procurar outra atividade onde possui mais vantagem comparativa e se dedicar a ela, sem nenhum tipo de barreira artificial dificultando a venda de sua produção para os demais.
Com os países (infelizmente) existe a possibilidade de se instaurar barreiras e restrições. Todos ganhariam mais se nãop houvessem essas barreiras, porém,
a partir do momento que a maioria dos países-clientes de um país A resolve implantar barreiras contra seus produtos, o país A ficará em pior situação se NÃO implantar barreiras contra os produtos concorrentes desses países do que se implantar. Embora todos os países saiam perdendo ao final, as perdas de um país em particular serão bem maiores se ele não "entrar no jogo" e implantar barreiras de importação também.
É a teoria dos jogos em ação.
Vamos analisar com mais detalhes um exemplo de relação comercial:
Brasil e EUA comercializam sem nenhuma barreira. O Brasil vende aço para os EUA, no qual ele tem vantagem comparativa, e EUA vendem ferramentas ao Brasil, na qual os EUA têm grande vantagem comparativa. Ambos se beneficiam desse comércio, pois podem adquirir aço e ferramentas de forma mais barata do que se fossem produzir sozinhos.
Porém, os EUA resolvem intaurar uma barreira contra o aço brasileiro (os motivos não importam agora), o que teremos?
Os consumidores americanos perdem, pois terão que comprar aço mais caro. Porém, milhões de empregos diretos e indiretos serão criados em torno da produção de aço americana, e milhões de empregos diretos e indiretos deixarão de existir no Brasil, já que seu aço não tem mais compradores. Os EUA perdem, porque esses milhões de empregos estariam melhor colocados em outras atividades onde eles possuem mais vantagem comparativa, porém o Brasil perde MUITO MAIS, pois milhões de pessoas perderão emprego e deixarão de ter renda aqui, embora possam ter aço mais barato que os EUA.
Para MINIMIZAR OS DANOS, o Brasil terá que implantar uma barreira contra a importação de ferramentas dois EUA. Ao fazer isso, todo ou parte do emprego e renda perdidos na indústria de aço seriam criados na indústria de ferramentas. Embora os brasileiros tenham que comprar ferramentas mais caras, terão razoavelmente mantidos os empregos e rendas que tinham na indústria de aço.
O esquema a seguir resume o caso:
Situação 1 - Ninguém implanta barreiras de importação => Ambos saem ganhando. Possuem emprego e renda em um determinado nível N e compram aço e ferramentas mais baratos.
Situação 2 - EUA implanta barreiras contra a importação do aço brasileiro => EUA perdem ao comprar aço mais caro e ganham ao ter emprego e renda em um nível bem maior do que N.
Brasil perde ao ter emprego e renda em um nível muito menor que N, embore continue tendo aço e ferramentas mais barato (porém com menos dinheiro para comprá-los).
Resumo: EUA perdem, Brasil perde muito mais.
Situação 3 - Brasil implanta barreiras de importação contra as ferramentas norte-americanas => Brasil perde ao ter ferramentas mais caras, e ganha ao ter emprego e renda em um nível bem maior do que N.
EUA perdem ao ter emprego e renda em um nível bem menor do que N, embora continue tendo aço e ferramentas mais baratos.
Resumo: Brasil perde, EUA perde muito mais.
Situação 4 Ambos implantam bareiras de importação contra os produtos do outro => Ambos perdem ao ter um dos produtos mais caros, embora ambos consigam manter o nível de emprego e renda em N.
Resumo: Brasil perde, porém bem menos qua na situação 2. EUA perdem, embora bem menos qua na situação 3.
Ou seja, a partir do momento que um país coloque barreiras de importação contra os produtos de outros, os danos serão minimizados se o outro também colocar barreiras, embora ambos saiam perdendo comparativamente a não haver barreira nenhuma.
Só porque a economia do mundo real envolve muito mais elementos do que um padeiro e um plantador de feijão trocando bens entre si não significa que ela siga uma lógica diferente. A lógica é a mesma.
É a mesma, porém resguardando as diferenças importantes (as pessoas não deixam de comprar umas das outras devido a barreiras artificiais, apenas quando não vêem vantagens comparativas) que existem e mostrando
todas as faces da analogia, e não apenas uma (você esqueceu de citar como fica a renda do plantador de feijão, por exemplo).
O discurso estatista/nacionalista comete outro erro tão ou mais grave: tenta falar em termos de "nações" comerciando umas com as outras. Nações são meras abstrações. Não são entidades com interesses e necessidades próprias e que são capazes de comerciar umas com as outras para satisfazer tais interesses. É uma distorção da linguagem política que leva a uma compreensão errada de como as coisas realmente funcionam: quando se diz que "os EUA" "não querem" comerciar livremente produtos agrícolas com outros países, isso quer dizer apenas que o governo dos EUA não quer que os produtores de lá comerciem livremente com pessoas de outros países. Antes de serem restrições à outras nações, o embargo à Cuba e barreiras sobre importações são restrições do governo dos EUA sobre os habitantes desse país. Duvido muito que os habitantes dos Estados Unidos - ou de qualquer país, só peguei os EUA como exemplo - se recusassem a comprar e vender de pessoas vivendo fora das linhas do país podendo fazer negócio melhor com elas se tivessem liberdade para tanto.
Correto.
Se alguém conseguir fazer os governos de todos os países abandonarem as barreiras contra importação, o mundo será ficará melhor. Até lá, cada país procurará minimizar os danos sofridos ao impor barreiras de importação contra quem já pratica.
Dessa forma, aquilo que se chama de "interesse nacional" não é mais do que o interesse da classe de burocratas que tem poder de usar da força sobre os indivíduos. Interesse esse que tem por base, mais comumente, a pressão de certos grupos e meras birras de caráter nacionalista. De qualquer forma, o que importa é que nações não têm interesses. Só indivíduos tem interesses.
Correto.
Enfim, o raciocínio estatista fica menos atraente quando colocado da maneira correta, sem o uso dessas distorções: se o governo dos EUA aponta armas para a cabeça dos habitantes deste país os forçando a comprar e vender de uma forma que não fariam caso fossem livres, então é melhor para toda a população brasileira que os governantes do Brasil imitem os dos EUA e apontem armas para a cabeça dos brasileiros, para que eles comprem e vendam de uma forma que não fariam caso fossem livres.
Gostei. Vou recolocar a frase de forma mais "abrangente":
Se o governo dos EUA aponta armas na cabeça de seus habitantes, impedindo-os de comprar o aço mais barato do Brasil em troca de mais empregos para mais pessoas norte-americanas, os habitantes do Brasil sairão de uma situação
aço barato/ferramentas baratas/N empregos e renda para uma situação
aço barato/ferramentas baratas/ empregos e rendas bem menores do que N. Embora ainda possam comprar ferramentas mais baratas, terão bem menos renda para fazê-lo. O governo brasileriro então aponta armas na cabeça dos habitantes e os impede de comprar as ferramentas mais baratas dos EUA. Com isso, os habitantes brasileiros terão que comprar ferramentas mais caras, embora os empregos e a renda sejam mantidas nos níveis anteriores.