Quando não há a evidência científica, pode-se crer ou descrer de duas formas: cegamente ou filosoficamente.
Eu digo que dá para crer nos espíritos filosoficamente porque a quantidade de relatos, filmes, fotos, fatos históricos, sem falar do material de (até então) suposta procedência mediúnica, e até e principalmente relatos e casos de fora do Espiritismo, como os Doutores Fritz da vida, ou os João's de Deus, eventos de igrejas carismáticas ou pentescostais, etc..., todas essas coisas em conjunto já dá para concluir que somente a explicação espiritual é capaz de resolver todas as dificuldades na delimitação do fenômeno. Eu nem preciso tomar como artigo de fé que todos os casos sejam legítimos, ou mesmo que a maioria o seja, mas apenas que nem todos poderiam ser falsos sob o ponto de vista da manifestação espiritual. Nesse caso dá para dizer que um único corvo branco prova que nem todos são negros. E podes crer que há vários corvos brancos nesse bojo.
Já o dragão da garagem, por exemplo, não dá para crer filosoficamente, e porquê? Porque não há sequer um único relato (além do de Sagan, claro) de alguém que tenha alegado ter visto o tal dragão; nem mesmo um que possamos argumentar que é falso. Então podemos descrer filosoficamente dessa alegação de que exista esse dragão.
Outro exemplo de descrença filosófica: algumas pessoas, especialmente nos Estados Unidos, têm medo da comunicação com os espíritos ou das assombrações (aquelas que vemos no Discovery), por medo de que os espíritos pudessem lhes fazer algum mal grave. Muitos acabam fugindo das casas mal-assombradas. A doutrina espírita ensina (ainda que essa possa não ser a única explicação possível) que os espíritos são proibidos de fazer algum mal diretamente a alguém (matar ou ferir gravemente), mas apenas indiretamente (nos inspirando ou inspirando alguém a fazê-lo) e a história parece confirmar isso, pois não há sequer um único relato de alguém que tenha sido morto diretamente por um espírito, nem mesmo um para podermos alegar que foi falsamente atribuído a espíritos. É estranho, pois se a pessoas inventam de suas mentes os demônios, porque não inventariam também supostos assassinatos ou aleijamentos? Enfim... O próprio Allan Kardec evocou em uma das suas reuniões um espírito de um assassino que foi qualificado de "verdadeiro monstro" e, a menos da quebra de alguns lápis, da perda de algumas folhas de papel e possivelmente alguns arranhões nos assistentes e no médium, nada aconteceu. Uma família, inclusive, o evocou em casa durante mais ou menos 30 dias. Então, é possível descrer filosoficamente da alegação de que espíritos, em existindo, possam nos fazer males físicos graves diretamente e aí eliminar uma das preocupações de segurança ao provocar as manifestações. Essa também, portanto, deixa de ser uma descrença cética para se tornar uma descrença filosófica, efetuada após análise racional dos fatos disponíveis.
Claro que é uma descrença indutiva (tão criticado o indutivismo!!!); o fato de ninguém nunca ter relatado uma morte por uma ação espiritual direta não prova que nunca ocorrerá; o fato de nunca ninguém ter relatado um encontro com um dragão na garagem não prova que nunca relatarão; mas também, o fato de ninguém nunca ter relatado ter pegado AIDS com a proximidade com o doente não prova que nunca ocorrerá, mas nem por isso vamos pregar o isolamento absoluto dos doentes de AIDS porque há a possibilidade de ocorrer algo que nunca na história ocorreu. Essas crenças ou descrenças podem não possuir ainda o status de verdades absolutas, mas possuem certamente o status de verdades práticas; e até aparecer algo que as contradigam, podem ainda carregar esse status, como carregou a Física Classica antes da Relatividade.
Já a crença ou descrença sem filosofia, ou seja, sem base lógico-racional, serão crença ou descrença cega. No caso da crença, chama-se simplesmente crença cega, pois faz-se questão de crer sem entender, renunciando explicitamente a filosofia, por várias razões: porque quer, porque faz bem ao coração, porque acha lindo, etc... Já a descrença cega possui um nome especial: chama-se ceticismo; ela também faz questão de rejeitar sem exame tudo aquilo que não pode ser percebido pelos 5 sentidos, ou seja, tudo aquilo que ainda não alcançou o status de verdade científica. Só esquecem de considerar que existe um sexto sentido: a inteligência.
Um abraço.