Autor Tópico: Banalmente humano  (Lida 27411 vezes)

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Offline Fabrício

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Re:Banalmente humano
« Resposta #300 Online: 25 de Maio de 2013, 15:21:34 »
e?

A Convenção de Genebra, na parte onde se diz que os países em guerra devem tratar os prisioneiros de forma humana, data de 1929, o que prova que havia preocupação com direitos humanos no mínimo 10 anos antes do início da Segunda Guerra, contradizendo a informação do Barata de que direitos humanos só começaram a ser observados depois dela.




Até o fim da II Guerra, não se tinham muitas informações sobre genocídios e campos de concentração, e foi a partir da criação da ONU e da declaração universal dos DH e tambem a partir do momento em que os Estados se tornaram signatários do grande acordo sobre o tema, é que se começou a verdadeira cobrança sobre as pessoas, países e organizações através das leis nacionais e internacionais.

Ok, houve um incremento da conscientização mundial a respeito do tema, o que não quer dizer que só a partir daí começou a preocupação com os direitos humanos. Já em 1929, no mínimo, haviam normas de como tratar os prisioneiros de guerra. Daí concluo que essa conversa de que as atrocidades nazistas eram "normais para a época", comparando-as com índios que cometem infanticídio, por exemplo, não cola.


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Offline Barata Tenno

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Re:Banalmente humano
« Resposta #301 Online: 25 de Maio de 2013, 15:49:43 »
E vice acha que em 1939 todo mundo tinha acesso e entendia o tratado de Genebra? Que ele era popular e o cidadão comum tinha acesso? Novamente, consciência de direitos humanos, e principalmente direitos dos inimigos era uma coisa nova, restrita a poucos setores intelectuais da sociedade.
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Offline Fabrício

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Re:Banalmente humano
« Resposta #302 Online: 25 de Maio de 2013, 16:55:27 »
E vice acha que em 1939 todo mundo tinha acesso e entendia o tratado de Genebra? Que ele era popular e o cidadão comum tinha acesso? Novamente, consciência de direitos humanos, e principalmente direitos dos inimigos era uma coisa nova, restrita a poucos setores intelectuais da sociedade.

Só coloquei a questão do Tratado de Genebra para demonstrar que a preocupação com os direitos humanos não se iniciou apenas após a guerra.

Mas independentemente disso, ninguém precisa conhecer o Tratado de Genebra para saber que o que foi feito com os judeus era moralmente condenável. Mesmo em 1939, mesmo com todas as circunstâncias que aconteceram na Alemanha.

Vou tentar resumir o meu ponto: eu concordo que circunstâncias como as que aconteceram na Alemanha podem acontecer novamente e grande parte da população pode cometer os mesmos crimes ou até piores. Não acho que os alemães sejam piores do que nenhum outro povo, pode acontecer em qualquer parte do mundo. Não digo que se acontecesse, hoje, eu seria um herói que daria a vida para defender as vítimas. Só afirmo que, se algumas coisa parecida com o holocausto acontecesse hoje, no Brasil, eu não participaria, a não ser em casos extremos, onde eu não tivesse outra opção. E tenho certeza de que pelo menos 90% dos foristas do CC também não.

Impossível afirmar se eu faria o mesmo em 1939, mesmo porque, como já foi dito, seria outra pessoa totalmente diferente. Concordo também que atualmente é muito mais fácil pensar desta forma, porque a guerra já acabou e mais de 60 anos já se passaram.

A única coisa que não posso concordar é relativizar o holocausto como se fosse "natural", devido ao tempo histórico, condições econômicas e doutrinação política. O que me incomoda é que fica nas entrelinhas, mesmo que não seja a intenção, a insinuação de que os nazistas e simpatizantes são nada mais do que frutos do seu tempo.

E decididamente eles não eram, eles tinham plena consciência da imoralidade do que faziam, só optaram por ignorar o fato de que estavam cometendo barbaridades para alcançar seu projeto de poder. Alguns alemães, mesmo vivendo no mesmo tempo e nas mesmas condições, não compactuaram com o massacre.

É mesmo perigoso achar que os nazistas "não eram humanos", como se fosse preciso ser de uma espécie à parte para fazer o que eles fizeram. Mas é igualmente perigos achar que tudo o que aconteceu foi fruto apenas do momento histórico, condições econômicas, orgulho ferido, etc. Isto tudo influiu, mas houve uma grande dose de decisão consciente de, mesmo sabendo que era errado, cometer o massacre dos judeus e outras etnias.
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Offline Barata Tenno

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Re:Banalmente humano
« Resposta #303 Online: 25 de Maio de 2013, 17:19:59 »
Fabrício, quem decide conscientemente matar uma população inteira sabendo que isso é  mal e reprovável é psicopata, o que você está dizendo é que 90% da população alemã era formada por pessoas com problemas psiquiátricos.  Não faz sentido. 

A preocupação com direitos humanos em pequenas camadas da sociedade existe desde que o mundo é mundo, o fato dessa preocupação existir não quer dizer que a população geral já havia absorvido e aceitado essas idéias. A maioria das pessoas era fruto do seu tempo, claro que haviam os psicopatas, os que efetivamente colocaram o plano em prática, planejando e executando, mas a maioria dos nazistas, apesar de saber por cima o que acontecia,  não participavam ativamente te do ocorrido.  Seria similar a quando dizem que se cada pessoa tivesse que matar a própria vaca haveriam bem mais vegetarianos. Todo mundo como carne, mas quantos tem estômago de matar a bichinha?
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Offline Moro

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Re:Banalmente humano
« Resposta #304 Online: 25 de Maio de 2013, 17:46:03 »
Dane-se a convenção, fariam a mesma merda com ou sem ela. Ainda hoje.  Creio que vocês ainda não realizaram isso.
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Offline FZapp

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Re:Banalmente humano
« Resposta #305 Online: 26 de Maio de 2013, 10:54:25 »
Fabrício, quem decide conscientemente matar uma população inteira sabendo que isso é  mal e reprovável é psicopata, o que você está dizendo é que 90% da população alemã era formada por pessoas com problemas psiquiátricos.  Não faz sentido. 
(...)

O que acontece é mais uma `psicose coletiva`, uma alienação onde uma bola de neve faz psicopatas dominarem e a maioria acaba apoiando por um 'efeito boiada', reforçado num círculo de violência onde ou faz parte do bando ou morre, e melhor morrer um 'maldito judeu' do que eu.

Em muitas ocasiões aconteceu isso na historia moderna; aliás, houve a massacre de Nankin nesse mesmo tempo, no lado oposto do planeta. O que assusta, impressiona e não deve se repetir é o procedimento, o massacre visto como um processo clínico de erradicação de uma praga, de uma doença (aliás, assim era citado). A crueldade se associou a um propósito governamental, e é isso que assustou no século XX, os diferentes exemplos de eliminação sistemática.

Em outros exemplos do século XX como na Sibéria, nos campos do Camboja ou em Ruanda, houve os mesmos exemplos de crueldade, mas no caso do nazismo a eficiência alemã lhe deu um toque especialmente assustador.
--
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Banalmente humano
« Resposta #306 Online: 26 de Maio de 2013, 18:29:55 »

Os nazistas poderiam ser análogos aos islamitas radicais, ou foram, até agora, um caso único na natureza da maldade?

Os alemães são confiáveis hoje, ou são nazistas no armário? Por que?

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #307 Online: 27 de Maio de 2013, 18:08:42 »
Voce não tem que escolher quem deve humanizar, pode se humanizar ambos, os nazistas não eram monstros alheios a humanidade, um ser diferente, fora dos padrões naturais. Acreditar nisso é perigoso, nos faz crer que isso nunca mais vai acontecer, que esse tipo de gente nem existe mais. Quando na verdade, o risco é bem grande e próximo. Reconhecer que pessoas comuns estão sujeitas e podem cometer atos horríveis é um primeiro passo para se manter a vigilancia constante.

Eu entendi isso. Entendo seu ponto de vista, só discordo dele. Não me agrada a ideia de flertar com a psicopatia. Acho arriscado. Não confio nessa estratégia de aproximação. Ou melhor, confio mais no distanciamento pela "demonização" do que na aproximação pela da humanização. Confio mais no poder da aversão, não como regra geral, mas ao menos se tratando de barbáries. E não acho que isso nos faça crer que aquilo nunca mais vai acontecer. Acho mais fácil repetir o que parece banal do que o que o não parece. Enfim, não me parece boa ideia mudar a impressão que o nazismo deixou sem ter muita convicção da eficiência disso. Bom, é a impressão que eu tenho.

Offline _tiago

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Re:Banalmente humano
« Resposta #308 Online: 27 de Maio de 2013, 18:19:45 »

Eu entendi isso. Entendo seu ponto de vista, só discordo dele. Não me agrada a ideia de flertar com a psicopatia. Acho arriscado. Não confio nessa estratégia de aproximação. Ou melhor, confio mais no distanciamento pela "demonização" do que na aproximação pela da humanização. Confio mais no poder da aversão, não como regra geral, mas ao menos se tratando de barbáries. E não acho que isso nos faça crer que aquilo nunca mais vai acontecer. Acho mais fácil repetir o que parece banal do que o que o não parece. Enfim, não me parece boa ideia mudar a impressão que o nazismo deixou sem ter muita convicção da eficiência disso. Bom, é a impressão que eu tenho.

Não é que alguém tem que flertar com aquilo, sentir aversão ou desgosto, demonizar ou se distanciar daquela barbárie. A questão é que os nazistas eram pessoas comuns e, como tais, sujeitas a cometer absurdos pelos motivos mais banais. Assim como qualquer pessoa comum: eu e você, o clube cético inteiro. As pessoas são as mesmas há, no mínimo 10.000 anos. Se hoje estamos "vacinados" contra babariedades, é porque ocorreu o nazismo.
Aliás, não é um evento isolado da humanidade a ideia de trucidar inimigos e nações inteiras. É só pensar o que foi feito com os índios por toda a América. Isso nem 200 anos antes. Inclusive, o nazismo foi apenas uma das diversas limpezas étnicas do século passado.

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #309 Online: 27 de Maio de 2013, 18:35:43 »

Eu entendi isso. Entendo seu ponto de vista, só discordo dele. Não me agrada a ideia de flertar com a psicopatia. Acho arriscado. Não confio nessa estratégia de aproximação. Ou melhor, confio mais no distanciamento pela "demonização" do que na aproximação pela da humanização. Confio mais no poder da aversão, não como regra geral, mas ao menos se tratando de barbáries. E não acho que isso nos faça crer que aquilo nunca mais vai acontecer. Acho mais fácil repetir o que parece banal do que o que o não parece. Enfim, não me parece boa ideia mudar a impressão que o nazismo deixou sem ter muita convicção da eficiência disso. Bom, é a impressão que eu tenho.

Não é que alguém tem que flertar com aquilo, sentir aversão ou desgosto, demonizar ou se distanciar daquela barbárie. A questão é que os nazistas eram pessoas comuns e, como tais, sujeitas a cometer absurdos pelos motivos mais banais. Assim como qualquer pessoa comum: eu e você, o clube cético inteiro. As pessoas são as mesmas há, no mínimo 10.000 anos. Se hoje estamos "vacinados" contra babariedades, é porque ocorreu o nazismo.
Aliás, não é um evento isolado da humanidade a ideia de trucidar inimigos e nações inteiras. É só pensar o que foi feito com os índios por toda a América. Isso nem 200 anos antes. Inclusive, o nazismo foi apenas uma das diversas limpezas étnicas do século passado.

E quem nos garante que não é a "demonização" que nos mantém "vacinados"? Quem nos garante que não é a visão demonizada que temos do nazismo e não o nazismo em si o que tem nos mantido distantes dele? Vale a pena a pena pagar para ver? É isso o que estou questionando.

Offline _tiago

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Re:Banalmente humano
« Resposta #310 Online: 27 de Maio de 2013, 18:55:43 »
Você quer garantia do quê? Vale a pena pagar pelo quê? Eu só disse que aquilo foi cometido por pessoas comuns.

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #311 Online: 27 de Maio de 2013, 19:14:33 »
Você quer garantia do quê? Vale a pena pagar pelo quê? Eu só disse que aquilo foi cometido por pessoas comuns.

Já entendi a ideia. Eu usei "garantias" apenas como força de expressão. O que pergunto é que base há para supor que a visão de que o holocausto foi algo banal é mais eficiente em evitar que um novo holocausto ocorra do que a visão de que o holocausto não foi algo banal?

Offline _tiago

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Re:Banalmente humano
« Resposta #312 Online: 27 de Maio de 2013, 19:24:18 »
Eu não disse que o holocausto foi uma coisa banal, não cheguei nem perto de afirmar coisa parecida. Eu disse que ele foi cometido por pessoas comuns. Explique-se melhor, por favor.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Banalmente humano
« Resposta #313 Online: 27 de Maio de 2013, 22:42:20 »
Voce não tem que escolher quem deve humanizar, pode se humanizar ambos, os nazistas não eram monstros alheios a humanidade, um ser diferente, fora dos padrões naturais. Acreditar nisso é perigoso, nos faz crer que isso nunca mais vai acontecer, que esse tipo de gente nem existe mais. Quando na verdade, o risco é bem grande e próximo. Reconhecer que pessoas comuns estão sujeitas e podem cometer atos horríveis é um primeiro passo para se manter a vigilancia constante.

Eu entendi isso. Entendo seu ponto de vista, só discordo dele. Não me agrada a ideia de flertar com a psicopatia. Acho arriscado. Não confio nessa estratégia de aproximação. Ou melhor, confio mais no distanciamento pela "demonização" do que na aproximação pela da humanização. Confio mais no poder da aversão, não como regra geral, mas ao menos se tratando de barbáries. E não acho que isso nos faça crer que aquilo nunca mais vai acontecer. Acho mais fácil repetir o que parece banal do que o que o não parece. Enfim, não me parece boa ideia mudar a impressão que o nazismo deixou sem ter muita convicção da eficiência disso. Bom, é a impressão que eu tenho.

Você não acha mais fácil repetir um mesmo erro por ignorar ideologicamente suas causas?

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #314 Online: 28 de Maio de 2013, 22:27:18 »
_tiago, eu não disse/quis dizer que você disse aquilo, apenas resumi (mal) a ideia. Explicando melhor, se temos aceitado espontaneamente a demonização é porque temos dificuldade de engolir outro tipo de explicação. O que me parece um bom sinal, pois demonstra o nosso assombro. Algo que considero útil cultivar. A aversão que aquilo nos causa pode ser o caminho para evitar que volte a acontecer. Não sabemos.

Buckaroo, sim, eu acho mais fácil reptir um erro quando se desconce as causas, só não tenho convicção de que as causas daquilo sejam assim tão claras. Tivessem demonizado em vez de humanizar a psicopatia talvez a história fosse diferente.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Banalmente humano
« Resposta #315 Online: 28 de Maio de 2013, 23:10:09 »
Buckaroo, sim, eu acho mais fácil reptir um erro quando se desconce as causas, só não tenho convicção de que as causas daquilo sejam assim tão claras. Tivessem demonizado em vez de humanizar a psicopatia talvez a história fosse diferente.

Quando/quem "humanizou a psicopatia"? Será que o que foi feito não foi justamente demonização da "psicopatia inerente aos judeus"?

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #316 Online: 29 de Maio de 2013, 17:05:32 »
Buckaroo, sim, eu acho mais fácil reptir um erro quando se desconce as causas, só não tenho convicção de que as causas daquilo sejam assim tão claras. Tivessem demonizado em vez de humanizar a psicopatia talvez a história fosse diferente.

Quando/quem "humanizou a psicopatia"?
A Alemanha nazista ao encarar aquilo com normalidade em vez de assombro. [1]

Citar
Será que o que foi feito não foi justamente demonização da "psicopatia inerente aos judeus"?
E dos ciganos, homossexuais, doentes mentais, deficientes e outros? Talvez, mas pela ideologia de superioridade racial parece que não. É mais plausível que a "depuração" da raça fosse o principal motivador.

Mas é claro que a demonização também pode levar à barbárie, assim como o endeusamento e a humanização. Tudo pode, não há fórmulas infalíveis. :/

[1] Meu questionamento à humanização do nazismo (e coisas do tipo) reside na semelhança que vejo nessa atitude, embora bem intencionada, com aquela. Creio que isso possa levar mais facilmente à busca por justificativas do que por conscientização. Algo que individualmente pode não ter grandes consequências, mas coletivamente sim. Por isso prefiro deixar o nazismo (e coisas do tipo) onde está.

Também porque não consigo atribuir esse tipo de coisa a gente normal, enquanto torço para que, seja a demonização ou humanização desse tipo de coisa, cada um a seu jeito, contribua para que haja mais gente normal no mundo. :/

Offline _tiago

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Re:Banalmente humano
« Resposta #317 Online: 29 de Maio de 2013, 17:57:01 »
_tiago, eu não disse/quis dizer que você disse aquilo, apenas resumi (mal) a ideia. Explicando melhor, se temos aceitado espontaneamente a demonização é porque temos dificuldade de engolir outro tipo de explicação. O que me parece um bom sinal, pois demonstra o nosso assombro. Algo que considero útil cultivar. A aversão que aquilo nos causa pode ser o caminho para evitar que volte a acontecer. Não sabemos.


Mas quem aceitou "espontaneamente a demonização"? Se você se refere ao experimento de Milgran, você tá se confundindo. O estudo é apenas a melhor explicação para o que ocorreu, o que não inviabiliza o surgimento de outras. Não é uma questão de "dificuldade de engolir outro tipo de explicação". 

Outra, chamar o evento de "demonização" ou qualquer outra impressão nossa acerca de qualquer evento NÃO se relacionam com a explicação dos mesmos. Se todos os alemães fossem psicopatas o assombro seria o mesmo, pois qualquer explicação não se relaciona com nossos eventuais sentimentos acerca do ocorrido.

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #318 Online: 29 de Maio de 2013, 18:25:45 »
_tiago, eu não disse/quis dizer que você disse aquilo, apenas resumi (mal) a ideia. Explicando melhor, se temos aceitado espontaneamente a demonização é porque temos dificuldade de engolir outro tipo de explicação. O que me parece um bom sinal, pois demonstra o nosso assombro. Algo que considero útil cultivar. A aversão que aquilo nos causa pode ser o caminho para evitar que volte a acontecer. Não sabemos.


Mas quem aceitou "espontaneamente a demonização"?

Todo mundo. :P  A maioria das expressões sobre o nazismo em falas, textos, filmes, documentários e tal, ao menos a mim, passam essa impressão.

Citar
Se você se refere ao experimento de Milgran, você tá se confundindo. O estudo é apenas a melhor explicação para o que ocorreu, o que não inviabiliza o surgimento de outras. Não é uma questão de "dificuldade de engolir outro tipo de explicação". 

Outra, chamar o evento de "demonização" ou qualquer outra impressão nossa acerca de qualquer evento NÃO se relacionam com a explicação dos mesmos. Se todos os alemães fossem psicopatas o assombro seria o mesmo, pois qualquer explicação não se relaciona com nossos eventuais sentimentos acerca do ocorrido.

Não questionei nada disso. Tudo o que questionei foi a crença na maior eficiência da humanização do nazismo proposta pelo texto inicial do tópico em relação sua aparentemente espontânea demonização desde que veio a conhecimento público.

Offline _tiago

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Re:Banalmente humano
« Resposta #319 Online: 30 de Maio de 2013, 22:11:45 »
A humanização do nazismo, conforme o texto inicial, significou dizer que quem cometeu aquelas barbaridades foram pessoas comuns, com nada malevolamente extraordinário em suas mentes. O que raios você entendeu do texto pra dizer "crença na maior eficiência da humanização do nazismo"? Não estou entendendo a sua abordagem.

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #320 Online: 03 de Junho de 2013, 19:55:10 »
A humanização do nazismo, conforme o texto inicial, significou dizer que quem cometeu aquelas barbaridades foram pessoas comuns, com nada malevolamente extraordinário em suas mentes. O que raios você entendeu do texto pra dizer "crença na maior eficiência da humanização do nazismo"? Não estou entendendo a sua abordagem.

Desculpe a demora, tive que me ausentar.  :ok:

Entendi o mesmo que você, só não concordo que essa seja necessariamente a melhor perspectiva. Ao contrário, na verdade, pois simula um realismo que pode não passar de pessimismo. A humanização, assim como a demonização, é só uma perspectiva dos fatos. Não quer dizer que explique o que de fato ocorreu, como ou porque.

Não sabemos qual delas mais se aproxima da realidade ou se podem evitar que aquilo se repita. Tudo o que sabemos é que a visão mais aceita do nazismo é sua demonização, o que significa dizer que aquilo foi encarado como consequência da demência coletiva.

Se isso serve apenas para nos dizer que determinadas circunstâncias levam à demência, mas não nos diz como evitar uma e outra coisa, não nos fornece nada de útil. Apenas mina nossas expectativas. E essa não é uma boa psicologia.

É ingênuo supor que estamos suficientemente maduros para humanizar o nazismo sem nos deixar contaminar. Se somos fruto do meio, tão susceptíveis às circunstâncias e nossa sanidade depende da visão que temos dos fatos, essa não parece ser a melhor forma de encará-los.

Entre a banalidade do mal e a imaginação heroica, fico com essa. Eleva o nível de exigência. Chega a ser até meio inquietante a fácil aceitação daquela. Se o cérebro é moldável, não precisamos de superpoderes para evitar isso, só treino, repetição.

Offline _tiago

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Re:Banalmente humano
« Resposta #321 Online: 09 de Junho de 2013, 19:26:25 »
Entendi o mesmo que você, só não concordo que essa seja necessariamente a melhor perspectiva. Ao contrário, na verdade, pois simula um realismo que pode não passar de pessimismo. A humanização, assim como a demonização, é só uma perspectiva dos fatos. Não quer dizer que explique o que de fato ocorreu, como ou porque.
Você está se confundindo (ou me confundindo!). Ainda que uma explicação pretenda simular post hoc um fato do mundo, concluir que por isso ela é um pessimismo não faz sentido, pois dizer que algo é pessimista além de não explicar nada, não passa de uma impressão subjetiva dos fatos. Pior, quando você os acusa de serem demônios, isso no máximo é um xingamento!
Quando aqui se comentou o experimento de Milgram e foi dito que quem cometeu aquelas atrocidades eram pessoas comuns (é isso que você chama de humanização?), está-se expondo uma explicação para um fato e não produzindo julgamentos acerca do mesmo. São duas instâncias de análise distintas. Se você discorda da explicação, ao menos exponha os erros dela ou traga alguma outra baseada em ideias que se sustentem, e não essa repetição vazia de que os nazistas eram dementes momentâneos da história.

Não sabemos qual delas mais se aproxima da realidade ou se podem evitar que aquilo se repita. Tudo o que sabemos é que a visão mais aceita do nazismo é sua demonização, o que significa dizer que aquilo foi encarado como consequência da demência coletiva.
Você tem algo concreto, um estudo, ou só essa opinião sua vaga de que, num momento histórico x, à despeito de tudo o que constitui uma pessoa, elas se transformaram em demônios dementes? Você tem algum argumento lógico que permita essa sua inferência?

Se isso serve apenas para nos dizer que determinadas circunstâncias levam à demência, mas não nos diz como evitar uma e outra coisa, não nos fornece nada de útil. Apenas mina nossas expectativas. E essa não é uma boa psicologia.
Quais circunstâncias levam a demência coletiva? Com fontes, por favor. E porra, a maneira mais básica de se buscar alguma utilidade é, antes, explicar o funcionamento do seu objeto de estudo. Isso é óbvio.
E novamente, bom ou ruim são impressões subjetivas acerca dos fatos. Não explicam nada, não demonstram coisa alguma.

É ingênuo supor que estamos suficientemente maduros para humanizar o nazismo sem nos deixar contaminar. Se somos fruto do meio, tão susceptíveis às circunstâncias e nossa sanidade depende da visão que temos dos fatos, essa não parece ser a melhor forma de encará-los.
Meu, que você entende por humanizar? Outra, uma explicação explica, não contamina ninguém. Só por que me convenço de uma explicação não vou me tornar nazista, puta viagem.
 
Entre a banalidade do mal e a imaginação heroica, fico com essa. Eleva o nível de exigência. Chega a ser até meio inquietante a fácil aceitação daquela. Se o cérebro é moldável, não precisamos de superpoderes para evitar isso, só treino, repetição.
Uma explicação passa longe, mas muito longe, de um julgamento moral. A explicação de que eram pessoas comuns, como você e eu, NÃO significa que estamos tornando o evento aceitável. Cara, veja, são duas situações distintas. Quando você diz que deveríamos encarar os fenômenos de outra forma, isso é um julgamento moral. É você olhando um evento e formando uma opinião acerca do mesmo. Diferente disto é uma explicação possível ao que ocorreu.

Offline AlienígenA

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Re:Banalmente humano
« Resposta #322 Online: 11 de Junho de 2013, 19:29:23 »
_tiago, em vez de abordar ponto a ponto, fugiu tanto do que eu pretendia, vou tentar respondê-lo de forma livre, para tentar esclarecer melhor.  :ok:

A visão que predominou do nazismo, conforme o texto, foi sua demonização, (o que concordo, também creio que essa é a visão predominante do nazismo), segundo ele, por um conforto canalha, (o que discordo, achei meio absurdo até [1]), e precisamos mudar isso. (o que questiono [2]).

[1] Por que não supor que o que levou a isso foi apenas uma reação espontânea diante de fatos aterradores como é natural? A reação mais comum não é ficar buscando parentesco com os criminosos, por exemplo, principalmente, os mais brutais, que aparecem no noticiário. Quem é que normalmente busca entender o que leva alguém a atear fogo numa vítima porque essa tinha pouco dinheiro? É apenas empatia o que geralmente nos faz buscar parentesco com a vítima em vez do criminoso e não um conforto canalha. Quando falamos do nazismo é natural que as primeiras imagens que nos venham a mente sejam as dos prisioneiros nos campos de concentração, das vítimas, sua dor e sofrimento e não a dos algozes. A demonização, portanto, não é canalha ou confortável, não necessariamente, é quase sempre apenas espontânea.

[2] Aceito que a demonização do nazismo, como descrita no texto, não seja a melhor perspectiva dos fatos, de que havia algo nato, monstruoso no âmago daquela gente, só não tenho certeza que essa seja a mais comum, mas como creio que a monstruosidade também possa ser aceita (que é o que chamo de demência) ou recusada, aceito a demonização sob essa descrição. A intenção não é xingá-los, apenas enfatizar o grau de aversão à opção deles. Não é como se não houvesse escolha. Eles tinham opção, tanto que houve quem optou pelas escolhas difíceis. Pensar diferente, para mim, é sim desculpá-los e justificá-los.

É isso o que questiono. E principalmente, o efeito disso. Não acho boa ideia voltar a atenção para o que nos leva a fazer escolhas fáceis. Prefiro concentrá-la no que nos leva a fazer escolhas difíceis. É isso o que precisamos aprender, aquilo nós já sabemos. Em oposição à "banalidade do mal" temos a proposta da "imaginação heroica". Um estudo sobre o que leva alguns a agirem enquanto a maioria fica paralisada, os heróis do quotidiano, já que, acho que todos concordamos, não há porque supor que haja algo nato no âmago das pessoas. Proposta por proposta, fico com essa. E apenas por prudência.
« Última modificação: 11 de Junho de 2013, 20:18:21 por DOUBT »

Offline Moro

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Re:Banalmente humano
« Resposta #323 Online: 13 de Julho de 2013, 22:27:50 »
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/mg/2013-07-12/holocausto-brasileiro-60-mil-morreram-em-manicomio-de-minas-gerais.html

O holocausto brasileiro


Citação de: o que fazem pessoas normais
Não era uma coisa determinada, não existia uma ordem (para matar). As coisas foram se banalizando. Um funcionário via que outro fazia tal coisa com o paciente e repetia. As pessoas deixaram as coisas acontecerem. Não tinha essa coisa de vamos fazer com essa finalidade. Era exatamente por omissão”, comentou
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne


 

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