Para não passar uma impressão de "tábula rasa" e completa maleabilidade da personalidade, penso que, no que a genética de uma índole conta para esse tipo de coisa, o que provavelmente ocorre é que certos contextos políticos/sociais podem ser favoráveis para que os piores tipos de pessoa consigam posições hierarquicamente importantes, que acabam determinando o rumo das coisas. E as demais, mesmo que não completamente favoráveis (ou mesmo totalmente cientes), são naturalmente passivas.
Uma das críticas ao "experimento da prisão de Stanford", é que Zimbardo, que conduziu a coisa, não deixou a coisa se desenrolar naturalmente, mas incentivou o lado mal dos participantes. Há ainda possibilidade de viés de auto-seleção, a situação do experimento já despertar maior interesse em alguns com certas disposições. Mas ainda que essas coisas mostrem falhas no desenho do experimento e limitações nas conclusões originais, ainda podem ser exemplo justamente disso que eu disse, os piores conseguindo posições estratégicas num ambiente favorável.
"Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar... Já não restava ninguém para protestar."
Eu mesmo não sabia, geralmente essa citação não explicita o contexto, mas esse texto não foi inventado por alguma pessoa qualquer, se baseando livremente de forma abstrata nesse contexto histórico, para dar lição de moral. Martin Niemoller foi de fato alguém que presenciou a perseguição, e foi complacente, até que ele virou também alvo da perseguição. Ele foi preso por não apoiar suficientemente os nazistas, mas sobreviveu e acabou sendo libertado com o fim da guerra. Acho que é mais fácil empatizar com ele, mas também talvez sirva de "ponte" para se imaginar como poderia ser se por acaso tivesse maior afinidade ideológica com o nazismo, e acabasse se alistando para ter alguma função no governo, policial ou militar.