Dilma pressiona o PMDB a ser governoNa transição entre o governo Lula e o governo Dilma, o PMDB está finalmente pagando o preço de ser governo. Ao contrário de sua antítese, o PFL, que na mudança do regime militar para a democracia virou oposição sem nunca ter deixado de ser governo, o PMDB passou os 25 anos seguintes no governo sem nunca ter deixado de ser oposição.
Nos anos José Sarney, tinha o PMDB dos quatro anos e o PMDB que defendia cinco anos de mandato para o presidente. Em 1989, tinha candidato próprio, Ulysses Guimarães, mas logo se dividiu entre o PMDB de Collor e o PMDB de Lula. Na eleição seguinte, cristianizou Orestes Quércia para aderir a Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, conseguiu a proeza de ter vários ministros no governo FHC e apoiar Luiz Inácio Lula da Silva. Na mudança de tucanos para petistas, o PMDB manteve praticamente o mesmo número de ministros e segurou quase todos os diretores de estatais.
Há quase três décadas é assim que o PMDB faz política: primeiro, se divide para apostar em cara e coroa, depois a face perdedora se cola à vitoriosa, mas sempre de forma fragmentada. Com isso, os presidentes da República tiveram de conviver com vários PMDBs, mesmo quando o partido estava oficialmente no governo, como nos segundos mandatos de FHC e de Lula. Havia o PMDB do Senado e o da Câmara, o de Jáder Barbalho e o de Pedro Simon, o de Minas e o do Paraná, o dos governadores do Nordeste e o dos governadores em geral, cada qual pedindo sua fatia de cargos e verbas em troca de apoios muitas vezes esporádicos nas votações do Congresso.
Na eleição desse ano, no entanto, duas coisas mudaram. Primeiro, o PMDB se coligou formalmente com o PT. Depois, o eleitor derrotou ícones do oposicionismo peemedebista, como Jarbas Vasconcelos, em Pernambuco. Perdeu também quem pensou com a cabeça de antigamente, como Geddel Vieira Lima, governista em Brasília e oposicionista na Bahia.
O maior golpe na velha prática, no entanto, veio agora, na montagem do governo. Em silêncio, a presidenta eleita Dilma Rousseff acabou com a divisão. Para evitar a fragmentação de vários PMDBs, que costuma resultar em múltiplas chantagens, ela seguiu a decisão que fez de Michel Temer seu vice, e o nomeou como único interlocutor do partido. Ou seja, as pressões internas batem agora em Temer e os pedidos que finalmente chegam ao governo passam a ser decisão do partido e não de um grupo.
Dois episódios foram reveladores de como deverá ser a relação a partir de agora. O primeiro foi a noticiada indicação do ex-ministro Hélio Costa à Presidência de Furnas. Apresentada a Dilma como obra da bancada mineira, a indicação tinha a chancela de notáveis do partido. A presidenta agradeceu o nome de Hélio Costa e pediu um documento da bancada oficializando o fato. O argumento de Dilma não poderia ser mais legítimo: ela quer o compromisso no papel porque precisa de todos os votos dos aliados no Congresso. Resultado: Furnas deverá continuar com o PMDB, mas os deputados mineiros ainda discutem o nome que terão de subscrever. Podem, inclusive, ficar com o do ex-ministro das Comunicações, mas pelo menos saberão que terá sido por desejo e compromisso político deles.
A outra nomeação em suspenso é a do quase ministro Moreira Franco. Moreira não tem, no Congresso, votos a entregar a Dilma. Alguns integrantes da equipe de transição vazaram aos jornalistas que ele faria parte da “cota pessoal” do vice-presidente eleito. Como essa cota não existia até aquele momento, Moreira se explicou dizendo que não queria a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Se o novo governo continua a desconhecer os ministros do PMDB, isso se deve ao partido e não à presidenta. No jogo de pressões que precede a nomeação de um ministro, o PMDB fez como de costume: vazou cotas, ministérios, nomes e apoios. Se não conseguiu ainda anunciar os ministros foi porque não entregou a lista com os apoios que Dilma contará no Congresso. E se a lista ainda não ficou pronta, é porque o PMDB, acostumado a se dividir para ganhar, dessa vez precisa de consenso interno para poder levar. Esse é o preço de deixar de ser oposição.
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