Então não podemos ensinar filosofia para crianças na escola? Seja de esquerda ou direita, alguns filósofos são proibidos para crianças? Sou totalmente a favor da obrigatoriedade de filosofia, inclusive na área de economia-política, nas escolas do país. Tem-se na verdade que falar de todos os possíveis filósofos para elas, pelo menos os principais em cada área do conhecimento humano.'
Escola é lugar de ensinar, não de educar, e filosofia não é disciplina e sim, doutrina. E escola não é lugar de doutrina. Educação e/ou doutrina deve ser atribuição apenas dos pais.
Calma lá, há Filosofias e filosofias.
Filosofia, se ensinada de forma inteligente, crítica e imparcial, isenta de doutrinação político-religiosa não é "doutrina"
Já, por exemplo, aquela filosofia que não passa de uma escolástica do marxismo, que vê vários pensadores antigos pré Karl Marx, como por exemplo Espinosa, como marxistas
avant la lettre, e cuja visão de mundo se resume a luta de classes até em esferas onde isso não faz o menor sentido. Essa sim é "doutrina"
Mas há que se ter cuidado, porque pode-se ler e ensinar mesmo Karl Marx ou Tomás de Aquino, mas não somente eles, e não reduzindo tudo a visão de mundo deles e os enxergando como santos e sua obra como revelação, mas sim de forma crítica, inteligente, como deve ser a leitura de todo filósofo, excluindo aí tipos como O de C e Marilena Chauí, que na minha opinião são a ralé mais rasteira da filosofia, o pior do pior que ela tem a oferecer.
E suspeito que gente como Ayn Rand, Julius Evola, Gramsci, Kristeva, Lacan (esse aí nem é filósofo) e mais uma duzia de outros, em sua maioria pós modernos, tambem possam fazer companhia as duas famigeradas figuras que já citei (com certeza Schopenhauer sugeriria "Hegel", gritando a plenos pulmões, com olhos injetados de fúria e o cabelo estilo Pointy-Haired boss eriçado).
Sobre os pós-modernos, leiam o que Sokal e Bricmont escreveram a respeito (U.S.: Fashionable Nonsense: Postmodern Intellectuals' Abuse of Science, U.K.: Intellectual Impostures, BR.: Imposturas Intelectuais). Acho que Sokal foi até educado e um tanto quanto contido frente ao nível absurdo de nonsense que eles mostram no citado livro.
Toda filosofia que tenta ajustar a fórceps uma visão de mundo e todo o resto (mesmo aquilo que não tem absolutamente nenhuma relação com a tal filosofia) às opiniões de um determinado filósofo ou corrente filosófica, não passa de uma escolástica bem ruim, ideologia pura e simples. Em outras palavras, o que imagino que o sergiombr tinha em mente quando usou o termo doutrina.
Muitos filósofos da idade média (e dos seculos I a V BCE) faziam isso: distorciam as idéias de seus filósofos antigos prediletos para ajusta-las melhor aquilo em que eles (os da idade média) acreditavam e em contra-parte demonizavam/desprezavam ou ignoravam por completo os demais cujas idéias eram muito refratárias, irredutíveis as deles...
Filósofos de esquerda e direita (Evola) e pós modernos fazem isso em larga escala. São os escolásticos dos Secs XX e XXI.
No entanto, alguns escolásticos, medievais ou não, escreveram algumas coisas interessantes (Por ex Duns Escoto, Agostinho, Okham, Avicena, Averróis, Bacon e muitos outros). Infelizmente acho que não posso dizer o mesmo de seus colegas modernos: se tem algum trigo escondido no joio deles, não vale o trabalho de separar, é muito joio para pouquissimo trigo, pouco benefício a se extrair para o tempo gasto lendo.
Ler Confúcio, Nagarjuna ou Kant (e um zilhão de outros de 1a linha) é melhor investimento.
Leibniz, que lia aos borbotões, dizia que buscava o melhor de qualquer livro que ele lesse (faz todo sentido para alguem de inclinações otimistas, o "Pangloss" de Voltaire).
Ouso discordar do grande polímata, contra-argumentando que em muitos casos não vale o custo-benefício.
Feitas essa ressalvas, acho que se deve sim, ensinar filosofia tanto a crianças quanto a adultos.
Finalmente, pode-se dizer que estou "pecando" da mesma forma que os que critico, por exemplo enaltecendo uns e descartando outros, conforme minhas inclinações e preferências?
Afirmo que não, pois por exemplo, por mais antipatia que tenha de religião, li, admiro e considero extremamente inteligentes Aquino, Agostinho, Avicenna, Nagarjuna e tantos outros e há muito o que se inspirar no que eles escreveram, como tambem em muitos de inclinação político-econômico-social (Bentham) e modernos como o Michel Onfray.
Então acho que trata-se de tentar julgar pela qualidade do que escreveram, independentemente de ousar discordar deles e não gostar do tema que discorrem.
Ou isso ou achar que Bach e Anitta estão no mesmo nível (ou a James Brown e Anitta se nos atermos somente ao funk)...