Mas quando eu me referi à existência de crentes, eu me referi a pessoas que alegam terem visto ou terem tido algum tipo de contato, e não aqueles que simplesmente imaginaram um ser que nunca viram.
O metódo científico busca evidências à prova de falhas.
Evidências empíricas, você quer dizer. Só essas são garantidamente à prova de falhas. O problema é que nem tudo pode ser constatável de forma empírica, e nem por isso são menos críveis. Imagine, por exemplo, um série de assassinatos com um único suspeito possível de ser o serial killer, mas nenhuma evidência empírica. Vai deixar de tirá-lo de circulação só porque não flagrou ele assassinando alguém?
Pode ter sido um espírito que a matou.

Sim, você deveria deixá-lo livre se não há provas empíricas...
E é melhor você não vir falar de "testemunhas". É incontável o número de relatos de testemunhas que contradiz as evidências empíricas. Seria um tiro no próprio pé se você viesse falar disso...
Dá pra crer que não se pega AIDS com um simples contato físico sem uma evidência empírica que prove isso? E vamos esperar o mundo derreter (evidência empírica) para só depois nos preocuparmos com o aquecimento global? Eu concordo que as evidências empíricas devam ser desejadas e buscadas, pois são realmente a prova de falhas. Mas se nos limitarmos a elas, não vamos dar um passo a frente por falta de segurança. Não é esse o caminho, penso.
Não entendi. Há evidências dos efeitos da poluição...
Isso me lembra até uma piada (só para descontrair):
Um homem desconfiava que a mulher o traía e contratou um detetive para segui-la. Então um dia ela estava num ponto de ônibus, quando um carro parou e apanhou ela. O detetive ligou para o celular do marido e foi narrando tudo.
- Doutor, eles estão indo para uma direção aonde só tem motéis - disse o detetive.
- Vai contando - disse o marido.
- Ih doutor, eles pararam na entrada do motel.
- Vai contando.
- Ih doutor, eles entraram no motel.
- Vai contando.
- Ih doutor, eles entraram com o carro numa das garagens. Tem uma árvore aqui do lado que se eu subir dá pra ver dentro do quarto. Espera que eu vou subir.
- Ok, mas vai contando.
- Ih doutor, ele está tirando a roupa dela.
- Vai contando.
- Ih doutor, ela está tirando a roupa dele.
- Vai contando.
Nesse momento o homem vai e fecha a cortina do quarto. E o detetive então diz:
- Ih doutor, o homem fechou a janela. Não dá pra ver mais nada.
E o marido então lamentou:
- Droga! Essa dúvida é que me mata!
Não deu pra ver o fato consumado, então como crer nele, não é mesmo? rsrsrs... Fico pensando na quantidade de céticos cornos que podem existir nesse mundo. 
Mas para ser justo, o espiritismo seria algo assim:
- Doutor, vi a sua mulher com outro homem. Mas eu os perdi de vista.
- Mas descobriu alguma coisa?
- Isso é evidência que eles se esconderam em outra dimensão. Essa dimensão é assim e assado, o chão é feito disso e os rios daquilo...
Historicamente, relatos de testemunhas são o meio mais ineficaz de se comprovar algo.
Concordo. Mas o que fazer quando só se tem isso?
Desconfiar?
O erro é achar que um número maior de testemunhas significa que as probabilidades de ser verdade aumentam. Um número imenso de testemunhas, não havendo prova palpável, é suspeito.
E não é como um caso de assassinato sem evidências. É um fenômeno que ocorre continuamente, e as evidências cabíveis continuam a não aparecer...
Aliás, toda a ciência moderna se baseia na aniquilação do fator humano, e tem desmistificado tudo no qual era fundamentado em relatos.
Concordo em parte. A ciência se baseia se não na aniquilação, pelo menos na minimização da influência humana, que é falha. Mas para desmistificar tudo o que é baseado em relatos precisa antes arrumar algo que fundamente melhor.
Temos muitas coisas boas. O que nunca vai acontecer é achar algo melhor contra o "argumento especial". Por exemplo:
- Deus não deixa evidências para testar nossa fé.
- Espíritos vivem em outra dimensão.
São efeitos que fogem às provas. O que na verdade parece uma explicação "lógica" para explicar a falta de evidências, vista por outro ângulo, é uma resposta escapista.
Um exemplo é o experimento do "tronco no lago Ness", um teste repetido algumas vezes em programas sobre fenômenos paranormais ou lendas urbanas. Um tronco é largado na água, de forma que tenha dois pedaços para fora. Um indivíduo que faz parte do teste aciona um gatilho ao meio da multidão, alegando ter visto um réptil. Não demora muito e todos começam a enxergar o monstro do lago. O que claro, não passou de imaginação coletiva.
Ou seja, é um método não confiável. E quando há envolvimento emocional (criatura mística do lago, ou sobreviver a morte) tornasse exponencialmente mais desvalorizado. E outro erro é achar que o número de pessoas torna o relato mais confiável.
Uma coisa é o relato e outra a sua interpretação. Se alguém chega para mim e diz que viu um duende, eu não vou acreditar que ela tenha realmente visto um duende, mas posso perfeitamente acreditar que ela viu algo que interpretou como sendo um duende. O "pé na realidade" é que a pessoa crê ter visto algo, e a partir desse fato pode-se fazer as mais diversas conjecturas, das mais prováveis às menos prováveis.
E espíritos é a mais improvável...
Suponho que para nos ancestrais era muito importante para a sobrevivência os relatos de outros indivíduos. E aí temos esse instinto que nos impede, nossas emoções nos impedem de ignorar um sujeito na televisão que diz ter visto um disco-voador...
Se só uma pessoa disser, eu vou duvidar fortemente. Mas se mais pessoas afirmarem terem visto a mesma coisa, eu vou duvidar na razão inversa ao número de pessoas que afirmam terem visto. E se essas pessoas não se conhecerem então, a minha dúvida diminuirá mais ainda. Mas repare que eu vou duvidar menos que ele realmente tenha visto algo. Daí a concluir que o que eles viram teria sido um disco-voador vai grande distância. E não, isso não é falácia ad numerum ou ad populum porque eu não estou afirmando que era um disco voador só porque a maioria acreditava ser um disco voador, mas apenas acreditando no relato de que elas viram algo, sem em princípio interpretar o que seria esse algo.
O erro é que você não está sequer confiando nos relatos delas, e sim acreditando na interpretação delas. O erro é acreditar em "foi um disco-voador, eu vi", elas viram um borrão que se parecia com um disco-voador.
Ninguém duvida que centenas de pessoas no show do John Edward vejam um medium falando com familiares mortos. O que se questiona é se "eu ouvi um o... o... or... isso, como você disse querida, Orácio!!" não é uma ilusão.
Fora que os fenômenos paranormais mais populares são bem toscos e banais. Mover objetos? Falar com os mortos? Previsões do futuro? Fracamente, nós sabemos que são truques, mágicos fazem muito melhor e são assumidamente utilizadores de truques falsos. Porque os médiuns não conseguem fazer algo que nenhum mágico (e não precisa ser um grande mágico) consiga fazer? Porque os fenômenos mediúnicos parecem compartilhar das mesmas limitações terrestres de simples mortais, e ainda sim são vistos como fantásticos? Isso é motivo para suspeitar.
Qualquer fenômeno físico pode ser imitado ou falsificado, donde é muito difícil diferenciar os legítimos da charlatanice. Qualquer um pode fazer.
Ninguém iria questionar um médium que saísse voando pela rua feito superman de ter poderes. O problema é que os médiuns não saem voando por aí, e sim "entortam colheres". Repito: isso é suspeito.
Mas o que não se consegue imitar é o gênio de alguém, pelo menos não por muito tempo. Muitas vezes se reconhece uma identidade pela própria tacanhice que lhe seja própria. Por isso, todas as mensagens, todas as comunicações, por mais esdrúxulas que possam ser, são objetos de estudo úteis para formar convicção.
Existem mágicos que fazem isso. E eles assumem que não tem poderes. Muitos deles se fingem de médiuns, enganam uma platéia inteira, e depois simplesmente revelam o truque.
Segundo que isso é subjetivo. Existem "equação matemática" para a personalidade de alguém? Não, depende da interpretação de uma pessoa emocionalmente instável. Você não acha suspeito as evidências dependerem de coisas duvidosas?
Imagina se um político falasse "a economia melhorou no meu governo. Pode perguntar para minha avó", você não passaria a acreditar que a economia
não melhorou devido as evidências toscas que ele apresentou?
Convenhamos. Olhe para ídolo da mediunidade como... Uri Geller. O sujeito entorta colheres. Entorta colheres! Sabe aqueles kits de mágicas para crianças de 5 à 8 anos? Neles ensina como entortar colheres. Porque milhões de adultos acreditam nesse sujeito? São adultos, crescidos, e ainda sim acreditam profundamente em um truque de mágica para crianças (literalmente). E é por isso que relatos de testemunhas não são confiáveis...
Ui... essa doeu!
E mais uma vez: o "pé na realidade" que eu digo é a existência dos relatos das testemunhas, e não o valor dos relatos das testemunhas. Esses relatos, independentemente do valor, são pontos de partida para investigações.
Essa investigação existe desde que a humanidade existe, pois a crença em espíritos é presente em todas as civilizações desde que o ser humano passou a existir.
Nós sabemos o que faz as pessoas acreditarem em espíritos. Nós temos mágicos que imitam com truques a telecinese, ou que imitam com truques como falar com os mortos. Nós já sabemos os mecanismos desses fenômenos.
No caso dos espíritos, ninguém os imaginou. Com o fenômeno das mesas, a primeira ideia era de que se tratava de uma causa inteiramente física. Somente quando a observação mostrou que os movimentos mostravam sinais de inteligência, a ideia teve que ser revista. O ideomotor (citado acima) também não é capaz de resolver todas as fases do fenômeno e então uma nova tese teve que ser elaborada, e assim sucessivamente.
O que aí já há dois problemas:
- Qual o método para se julgar que são movimentos inteligentes?
Se fôssemos a Marte e encontrássemos lá um vaso de barro com um desenho rudimentar de um ser estranho caçando um animal estranho. Esse vaso teria surgido ao acaso ou teria uma causa inteligente?
Uma resposta pertinente, ainda que falsa, a uma pergunta feita, é prova de manifestação inteligente. Mas concordo que há casos em que há dúvidas e que há casos em que há "forçação" de barra para se enxergar movimentos inteligentes.
Encontraram uma montanha em marte com um rosto humano "obviamente" feito por alienígenas. O que na verdade não passam de formas aleatórias que lembram um rosto, como rosto em núvens. Tanto que outras fotos tiradas depois mostraram que o rosto era devido a um efeito de luz e sombra, a montanha de verdade nem se parecida com um rosto.
Um "vaso em marte" seria como um espírito resolver equações matemáticas de uma folha. Dificilmente alguém questionaria que aquilo foi obra de um ser inteligente. O problema é exatamente isso, existem inúmeras provas, mas nenhuma com qualidade.
- Se fosse comprovadamente determinado tal coisa, a ciência simplesmente diria "objetos se movem de forma inteligente", nada de pessoas em dimensões paralelas...
Aí não vale a Navalha de Ockam? Se há uma movimentação inteligente, há uma causa inteligente. Supor "pessoas em dimensões paralelas" é mais complexo que supor que objetos pensam por si próprios? Eu particularmente não acho.
Sim, é.
Se um objeto é vermelho, não atribuímos sua causa a uma pessoa com uma lanterna vermelha apontada para o objeto e que essa pessoa reside em outra dimensão. Dizemos apenas que o objeto emite a cor vermelha.
Outro exemplo seria nativos atribuindo a chuva a um homem gigante chorando no céu. Percebe como a questão "formas humanas" está sempre presente nas explicações precoces.
É isso que eu chamo de "pé na realidade", ou seja, as teorias serem elaboradas com base em algo que seja seguramente real. E só podemos ter certeza que algo é seguramente real a partir da observação, porque na teoria pura e simples, sem base empírica, não há essa segurança. Sem isso, a chance de a investigação dar em nada é muito grande. Com isso, a investigação pode até não dar em nada, mas o risco disso acontecer é bem menor.
Não há pé na realidade.
Nós conhecemos os mecanismos instintivos pelos quais os seres humanos vêem outros seres humanos onde não há nada. Olhando para manchas aleatórias na Lua, pessoas enxergam o "homem da lua". Olhando para um objeto se mexendo sozinho, pessoas entendem como "uma pessoa invisível fez isso"...
Não existe prova cabível de fenômenos mediúnicos. Na verdade, é exatamente o oposto. Todas as evidências se resumem relatos ou fenômenos subjetivos. E isso é algo para se desconfiar. Porque há tantas evidências para um mesmo fenômeno, mas todas consecutividade são muito fracas. É suspeito.
Vocês continuam mal-interpretando o que eu estou querendo dizer com "pé na realidade". O "pé na realidade" é a existência do fenômeno dito mediúnico, e não a sua interpretação, que pode mesmo levar à conclusão de que não se tratava de um legítimo fenômeno mediúnico. Entende?
A existência do fenômeno é apenas o ponto de partida para a investigação/discussão.
Um abraço.
O fenômeno já foi investigado. Mas ainda sim ele continua a ser usado como evidência...