Uma outra pergunta aos espíritas do fórum...qual o papel da lógica na doutrina espírita ? Pq lógica é uma palavra tão utilizada pelos Kardecistas ?
A lógica é uma ferramenta útil para as coisas que não se pode averiguar com os próprios olhos. Aplicando-a, não elimina-se, mas reduz-se radicalmente o risco de erro. É como uma lanterna iluminando um caminho que não se conhece.
A lógica é uma ferramenta da Filosofia, e como o Espiritismo faz menção de ser, e se esforça para ser Filosófico, o uso da lógica é mandatório nas análises das comunicações, porque não existe risco zero de mistificações. Por isso o Espiritismo fala muito de lógica, porque do contrário ele não poderia se considerar um sistema filosófico. Os Espíritos permitem as mistificações a fim de provarem a atenção dos grupos quanto ao uso da razão, e quem abdicar de usá-la é bom preparar-se para ser enganado durante todo o tempo em que afrouxar o exame. O próprio Allan Kardec sofreu uma mistificação em público, algo que inclusive o deixou muito contrariado, que pode ser lido na conversa abaixo:
O Falso São LuísO erro, portanto, está em achar que as comunicações, se boas hoje, serão sempre boas dali para frente, ou que as reuniões se acham sempre protegidas das mistificações pelos espíritos superiores. Todas precisam passar por exame, e para esse exame, deve-se usar de lógica.
Mas voltando ao assunto, há dois modos de se conhecer algo: cientificamente ou filosoficamente, ou melhor dizendo, empiricamente ou racionalmente.
Empiricamente é fácil conhecer, e não é preciso nenhum esforço racional. Eu sei que o Sol brilha e aquece a Terra porque eu o vejo todos os dias sobre a minha cabeça brilhando e aquecendo a Terra. Eu não posso duvidar que o Sol fosse capaz de brilhar, eu não preciso elaborar teorias que provem que o Sol é capaz de brilhar, eu não preciso convencer ninguém que o Sol é capaz de brilhar, eu não preciso saber porque ele brilha, eu não preciso saber o mecanismo que o faz brilhar, quem o colocou na posição em que está situado ou como ele foi parar lá. Eu sei que ele pode brilhar porque eu o vejo brilhando. É simples e fácil e o último dos ignorantes pode conhecer empiricamente.
No entanto, conhecer filosoficamente já não é tão fácil, porque exige esforço racional. Eu posso ver que o sol brilha, mas o que o faz brilhar é uma especulação filosófica que parte de um fato positivo, aceito e inegável: o sol brilha (é o "pé na realidade" que eu havia dito em outro tópico). Então teorias podem ser formuladas para explicar esse brilho, e elas devem ser submetidas a crivo lógico, que ocorre principalmente quando as teorias são submetidas às críticas. Somente as teorias que sobreviverem intactas às críticas podem permanecer como possibilidade de verdade, ou como hipóteses válidas. Quem não usar crivo lógico crerá da mesma forma, mas a crença não terá nenhuma consistência; será uma crença cega.
Se há mais de uma hipótese possível, que obedece todos os rigores lógicos, pode-se dizer que a verdade ainda não pode ser conhecida, e que há apenas hipóteses mais ou menos prováveis a que os homens se aliarão conforme as julgarem mais ou menos prováveis. Contudo, se há somente uma hipótese possível para um problema, pode-se dizer que essa hipótese é a verdade, ainda que o objeto não tenha sido detectado empiricamente. Um exemplo disso é o tão alardeado Bóson de Higgs. O acelerador de partículas almeja detectá-lo empiricamente, mas filosoficamente a sua existência é a única coisa capaz de explicar logicamente as observações já feitas. Se houvesse possibilidade teórica de existir outra partícula diferente, capaz de igualmente explicar logicamente as observações já feitas, o Bóson de Higgs seria meramente hipotético e só alguma outra observação empírica poderia descartar ou comprovar a existência de alguma(s) dela(s).
No Espiritismo o exemplo mais conhecido de
"única hipótese possível" é a reencarnação, que, embora não constatada empiricamente ao ponto de não restarem dúvidas aos mais céticos, é a única explicação possível capaz de conciliar logicamente todos os fatos já observados empiricamente até agora. Mas há outras.
Um abraço.