Isto me lembra uma passagem do livro "O Maior Espetáculo da Terra", onde Dawkins relata um episódio envolvendo um colega seu durante um vôo. Este colega está mostrando seu estudo a um passageiro vizinho de poltrona, muito interessado, envolvendo as mudanças em espécies que foram isoladas uma da outra. O referido passageiro parece bastante curioso até o momento em que o colega de Dawkins diz que seu estudo trata-se da Teoria da Evolução. O passegeiro curioso não mais fica curioso, e passa a assumir uma atitude empedernida, como se alguém lhe tivesse insultado.
E é por aí: episódios como este, e também como o presente aqui no fórum, tornam explícita a incapacidade de aprender quando se está com rabo preso com o doxa. E o fato de que boa parte da cultura mundial tem por preceito propalar o direito à crença como algo inquebrantavelmente respeitoso, indiferentemente de argumentação sóbria, é um sinal evidente de que vivemos em uma época, ainda, obscurantista, ao se permitir que uma atitude visivelmente limitante do conhecimento seja tolerada e mesmo incentivada. Concordo muito com Sam Harris quando diz que um de nossos maiores desafios, enquanto intelectuais e formadores (até certo ponto) de opiniões, é ultrapassar o respeito que se tem pela fé alheia. É claro que o respeito deve ser indiscutivelmente uma constante, mas isto não impede que mostremos, respeitosamente, a sandice por de trás da mitologia sistematizada levada a sério (como é o caso das religiões). Não precisamos chegar no mesmo tipo de discurso do excelente Pat Condell (por meras razões psicológicas de se manter o interloctor disposto a conversar), mas certamente uma confrontação saudável deveria estar ao alcance de todos os minimamente preocupados com uma cultura que endossa o obscurantismo depauperante do diálogo e do conhecimento.