Naturalmente, precisarias nos dizer o que queres, o que consideras "satisfatório". A situação hipotética que colocastes é muito hipotética. E bastante inverossímil. Uma resposta adequada à esta questão, todos sabemos (acho), depende de um entendimento adequado de inércia (e não apenas dizer que "a aceleração da gravidade é a mesma para todos os corpos", ou que "pela segunda lei de Newton, g = a", o que não explica nada). Como sabemos, desde Piaget, que relações físicas como conservação e inércia são percepções que devem ser aprendidas (não nascemos com elas), seria altamente improvável que uma criança respondesse de forma "satisfatória" a uma questão destas. Esta questão altamente contra-intuitiva foi um grande desafio para mentes do porte de um Galileu, e se hoje achamos fácil é porque fomos ensinados a fazer considerações do ponto de vista privilegiado de quem tem, à sua disposição, todo um sistema didático para permitir que assim seja. Galileu teve que encarar estas coisas do zero, sem nenhum livro-texto lhe informando sobre inércia e força gravitacional. Isto é algo colossal, e a maioria de nós não estaria à altura. Quanto mais uma criança.
Certamente que uma resposta "satisfatória", neste caso, é uma que tenha caráter científico, isto é, que tenha eficácia preditiva (ainda que não quantitativamente pois trata-se, tão somente, de prever se os dois corpos chegam ao solo simultaneamente ou não) e que só possa ser refutada por alegações de caráter mágico, ou seja, alegações de fé ou provenientes de projeção de características estritamente mentais sobre o comportamento dos objetos envolvidos no fenômeno proposto.
Tenho que discordar, totalmente, de que os conceitos de inércia e conservação precisem ser inexoravelmente aprendidos. Qualquer idéia não conservativa, por exemplo, é pensamento mágico, pois em que se fundamenta a magia senão na idéia de que uma coisa possa surgir, absolutamente do nada, ou que possa desaparecer do tudo, completamente? Tenho convicção de que ninguém nasce pensando magicamente, mas aprende a pensar assim. O que parece é que algumas pessoas nascem com um tipo de "imunidade" ao pensamento mágico.
Conta-se que Galileu, aos 8 anos de idade, descobriu o isocronismo do pêndulo ao ver, na igreja (que bom que não prestava atenção na missa), um lustre balançando ao vento e comparando seu ciclo oscilatório com sua própria frequência cardíaca. Imagino que Galileu deve ter percebido a mesma resposta dessa criança em idade bem precoce também.
E não é uma situação hipotética. Aconteceu, de fato.
Feynman, ainda que se considerasse um garoto muito arguto, há ainda a falta de alguns elementos para se considerar a resposta dele. Por exemplo: o tamanho e a forma da pedra, a altura de onde seriam jogados os corpos e, por fim, o ângulo de ataque. Isso tudo para se considerar a resistência do ar sobre os corpos.
A pedra era um pedaço de granito irregular que cabia na palma da mão de um adulto sem, contudo, que o mesmo pudesse envolvê-la totalmente com a mão (devia ter entre 2 e 3 Kg de massa, não tenho certeza). O garfo era um garfo grande comum e os dois corpos seriam soltos de um terraço num sobrado (entre 6 e 8 metros de altura).
O relato que fiz neste tópico foi muito resumido. Houve o questionamento típico da pena ao que a criança respondeu:
A pena devia cair igual também, mas a pena é diferente. A pena não vale, ela nem cai direto. Para valer tem que cair direto, igual ao garfo e a pedra. Tem que ter outra explicação para a pena.
O garoto pode ter feito a afirmação baseada em uma experiência anterior, realizada apenas a título de curiosidade, onde ele constatou que dois outros objetos chegavam juntos ao solo, se fossem soltos de uma dada altura, simultaneamente.
Isto explicaria o porque da sua pronta e convicta resposta e também o porque que ele não demonstrou nenhuma surpresa pela proposta, pois que ela é de caráter nitidamente contra-intuitivo.
Ele não precisaria conhecer nem os termos físicos, nem seus significados e nem suas implicações (inércia, gravidade, resistência do ar, peso).
De fato, o garoto não conhecia nem os termos físicos, nem seus significados e nem suas implicações, mas também jamais havia feito a experiência antes. Isso nunca, nem sequer, lhe ocorrera. O motivo pelo qual o garoto demonstrou perplexidade pela dúvida do propositor é que ele(o menino), realmente, não conseguia ver o fenômeno de outra forma (pensava que todos deviam ver da mesma maneira que ele).