Só não entendi o que tem a ver pensamento mágico com o caso.
Ainda não, Derfel? Depois de tudo que eu já disse? Lamentável! Suponho que você só poderá perceber essa relação quando conhecer a dedução do garoto, assim como os chamados efeitos relativísticos são difíceis de serem aceitos por uma mente que não conhece o que os fundamenta. Para essa mente, os efeitos relativísticos é que parecem mágica.
Sem dados é um pouco difícil chegar a qualquer conclusão. A partir de um fragmento de história sobre um hipotético menino, você quer que digamos qual foi a explicação que ele deu sobre a queda dos corpos. Você disse que o caso ocorreu mesmo, quer que acreditemos sem que haja uma prova do ocorrido além da sua palavra. Ou seja, quer que tenhamos um ato de fé na sua narrativa (o que, por si só, já contraria toda a sua filosofia). Eu, pelo meu lado, estou disposto a acreditar que tal fato realmente ocorreu, como um benefício da dúvida e por crer que não teria motivos para criar tal história. Ainda assim, pelo que se pode extrair do texto, o garoto mesmo ficou surpreso pela surpresa do experimentador e a resposta inicial dele fora que é assim porque não poderia ser de outro jeito. Há uma resposta dada depois, mas não sabemos qual foi e não temos condições de saber sem conhecer, pelo menos, toda a bagagem cultural do menino, o seu acesso a informações, sua visão de mundo e mesmo os desenhos animados que ele assistia. O pensamento mágico, e aqui deixo de tentar compreender a sua definição e passo a usar a minha mesmo, baseada em Stevens Jr., não necessariamente estaria ausente: o garoto poderia dizer que os objetos caem assim porque essa é uma lei de Deus, por exemplo.
Pensar cientificamente (e aqui uso minha definição de pensamento científico, baseada na ciência e no método científico) não é estar livre do pensamento mágico, ainda que este último não deva ser considerado (ou tentar não ser) ao se analisar um problema na descrição da natureza. Ambos os tipos de pensamento, em maior ou menor grau, formam a Weltanschauung de um indivíduo. Newton via no universo uma harmonia e uma precisão que denotavam para ele a existência de um criador, que era um dos muitos pensamentos mágicos que ele tinha.
O que seria esse pensamento mágico? Seria a crença em uma divindade?
Não necessariamente. Aliás, não objetivamente, porque a crença em divindades é, apenas, uma das consequências do exercício do pensamento mágico e não esse pensamento em si. Eu já disse que pensamento mágico é o que resulta da projeção de propriedades de natureza mental sobre o universo observado. Lembra? É o oposto do pensamento científico. O pensamento dos alquimistas sobre como supunham que o universo funcionava era mágico, não necessariamente uma crença em divindades.
Mas aí sua definição aparenta mais como Weltanschauung que como pensamento mágico. Em outro tópico você ainda deixa a entender que cachorros pensariam cientificamente por serem ateus.
Se você perguntasse o porquê dos dois objetos chegarem ao chão ao mesmo tempo, ele não poderia dizer que era assim que Deus quis que acontecesse?
Não poderia e não foi o que o menino disse. Muito pelo contrário. Alguém que pretendesse contra-argumentar a dedução do menino, este sim, teria que recorrer a argumentos deste tipo. E se deus não quiser que os corpos caiam juntos? E se os corpos mesmos não quiserem cair juntos? Entende? O menino diria: se deus existisse ele poderia fazer isso, mas deus não existe e os corpos não têem vontade própria. Começo a notar que, talvez, eu tenha mesmo sido muito rígido com você, Derfel. Estou percebendo que sua desatenção não provém de má fé. Eu já tinha explicado isso aqui:
Como não poderia? Ele pode não ter dito, mas isso não significa que não poderia ter dito. Mas aqui você trás uma informação nova: o menino era ateu. Ainda assim poderia haver um pensamento mágico: ele poderia dizer que é da natureza de todos os corpos caírem em uma mesma velocidade. Ou, como Newton fez quando não conseguiu explicar a gravidade, dizer que é uma força.
A resposta do menino impressionou tanto o propositor da pergunta que ele, quando entendeu, exclamou: como nunca pensei nisso antes!
Procure não fazer especulações antes de saber a resposta, porque é quase inevitável que, agindo assim, você pense magicamente também.
Mas não é isso que você quer que façamos no tópico? Especulemos sobre uma resposta de um garoto, enquanto você faz suspense e todos nós de bobos?