"A sucessão presidencial de 2010 converteu o Bolsa Família numa unanimidade.
Neste ano, o benefício vai chegar às casas de 12,5 milhões de famílias.
De olho nos votos dessa clientela, nem o presidenciável da “oposição”, José Serra, se anima a criticar o programa.Ao contrário, o candidato tucano diz que, se eleito, vai ampliá-lo.Sob os méritos do Bolsa Família, porém, sobrevive um vício que o governo não logrou sanar: o desestímulo ao trabalho formal.Com receio de perder o benefício, lavradores do Nordeste esvaziam as fazendas. É o que conta o repórter Fernando Canzian, em notícia levada às páginas da Folha.
Os trabalhadores fogem do emprego formal também para não perder o direito à aposentadoria especial antecipada.
Os candidatos a esse tipo de aposentadoria –aos 55 anos para as mulheres e 60 para homens— são classificados como “segurados especiais”.
Registrada a carteira, viram “assalariados rurais”. E tem de contribuir à Previdência por 13 anos ou trabalhar mais cinco antes de se aposentar com o salário mínimo.Daí a opção de muitos trabalhadores por fugir do mercado formal. A falta de mão-de-obra leva as fazendas a se adaptar.
O repórter esteve em Brejões, município baiano assentado a 281 km de Salvador. Ali, fazendas que se dedicavam ao cultivo de café migram para a pecuária.
Canzian relata: "Propriedades que antes tinham até 800 mil pés de café e empregavam mais de 170 pessoas na safra estão virando pastos, geridos por menos de dez pessoas".Ouvido, João Lopes Araújo, vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, disse que a falta de mão-de-obra para a lavoura tornou-se crônica. O curioso é que, no caso do Bolsa Família, o trabalho registrado para a colheita de uma safra, por temporário, não põe em risco o benefício.
A despeito disso, a clientela prefere não correr o risco. Ouça-se, por exemplo, Juceli de Jesus Alves, 47 anos:
"É melhor contar com o certo [o Bolsa Família] do que com o incerto". Mãe de nove filhos, Juceli trabalhava, na semana passada, numa fazenda de Brejões.Trabalho informal, sem anotação na carteira de trabalho. Por quê? “Medo”, disse Juceli, que recebe R$ 134 mensais do Bolsa Família."
Fonte:
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2010-05-01_2010-05-31.html