Autor Tópico: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste  (Lida 12652 vezes)

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Offline Geotecton

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #125 Online: 19 de Maio de 2010, 01:48:36 »
Estou concordando que na sociedade atual temos uma tendência de gerar um  círculo vicioso entre pobreza e fertilidade. Não acho que é bom para pessoas pobres terem muitos filhos. Mas ainda acho que a melhor forma de quebrar este círculo é atacando a pobreza. Me parece muito mais eficaz e humano. No final das contas, os países que conseguiram diminuir o índice de fertilidade são aqueles que possuem um padrão de vida bom para a população. Desconheço casos de países com padrões de vida ruins conseguindo abaixar a natalidade.

Países com padrões de vida ruins são aqueles onde a democracia e a cidadania estão em estágio mais primitivo, o que propicia a formação e manutenção de uma ou mais classes que irão controlar o país. Geralmente são militares; grandes (e primitivos) burgueses, em especial do setor agrícola e grupos étnicos. A América Latina e a África apresentam muitos exemplos.

Acrescente-se o fato de que estes países em geral apresentam uma população semi-analfabeta e sob forte influência de religiões, que frequentemente são contrárias a programas de controle populacional.

Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #126 Online: 19 de Maio de 2010, 02:09:50 »
Buckaroo:

Estou concordando que na sociedade atual temos uma tendência de gerar um  círculo vicioso entre pobreza e fertilidade. Não acho que é bom para pessoas pobres terem muitos filhos. Mas ainda acho que a melhor forma de quebrar este círculo é atacando a pobreza. Me parece muito mais eficaz e humano. No final das contas, os países que conseguiram diminuir o índice de fertilidade são aqueles que possuem um padrão de vida bom para a população. Desconheço casos de países com padrões de vida ruins conseguindo abaixar a natalidade.

Não é mais "desumano" para os pobres receberem educação e recursos para planejamento familiar e economia doméstica do governo e assim terem menos filhos, do que é para as camadas mais ricas fazerem isso sem precisar desse tipo de ajuda. Eu acho mais desumano deixar de se fazer isso por ter quem dê um jeito de interpretar como "nazista", deixando as pessoas sofrerem e colocarem mais crianças no mundo para sofrerem com a a pobreza.

Quanto a eficiência, bem, acho que é só se imaginar certas coisas, como como seria para você levar sua vida se tivesse mais um, dois, três, quatro, cinco ou seis filhos. Depois imagine isso, só que sem ter o trabalho que tem, sem ter qualquer especialização. Ou você consegue alguma especialização gratuitamente, ou essa especialização vai representar menos comida na mesa durante algum tempo. Sem falar que, talvez fosse melhor em vez de investir esse tempo em especialização, ter uma dupla jornada de trabalho, ainda que isso signifique ficar mais estagnado nesse trabalho que não paga bem.

Isso já deve dar para ilustrar bem as dificuldades, mesmo sem fazer qualquer tipo de conta. Mas isso nem pára por aí. Além desse problema "atual", tem os efeitos inter-geracionais. Com esses filhos hipotéticos adicionais, você não só teria mais problemas para pagar as contas "agora", como teria menos para investir na formação dos filhos. Mesmo que conseguisse dar a eles uma boa alimentação, garantindo sua nutrição, proporcionar condições para um bom desenvolvimento cognitivo (há estudos mostrando que, quanto mais irmãos mais velhos uma pessoa tem, menor tende a ser o QI - mas as coisas já começam a "funcionar" estatisticamente mesmo para irmãos gêmeos como primeiro par de filhos de um casal), e algum lazer, além de vagas em boas escolas públicas até o ensino médio, isso não vai dar a eles mais garantias do que essa hipotética versão de você sem especialização profissional.

A coisa só se complica exponencialmente quando você deixa de observar apenas esse indivíduo hipotético e começa a pensar no efeito populacional de um monte de gente agindo da mesma maneira. Os seus três, quatro ou cinco filhos não terão só os problemas que você teve, mas serão agravados pela competição mais acirrada por trabalhos sem qualificação com os três, quatro, cinco ou seis filhos do seu irmão, da sua irmã, do seu primo, e das suas centenas de vizinhos. 


Mesmo sem colocar números no papel, acho que primeira perspectiva, sob o nível individual, deve deixar bem claro como o planejamento familiar, a lógica de se ter filhos apenas com alguma segurança financeira, faz sentido nesse nível "micro". É muito mais fácil prosperar investindo primeiramente na formação, do que tendo filhos na adolescência e/ou antes de conseguir uma boa segurança financeira, do que invertendo essa lógica. A combinação disso com a segunda perspectiva, deve também deixar claro como que, apesar de não se saber de países que tenham conseguido obter melhores condições de vida para a população a partir de políticas como essas que sugeri (e não saber não significa que não existam esses casos, pode ser só menos conhecido, só sendo lembrados os casos desumanos, como da China), a lógica aplicada apenas ao indivíduo já preveria algo nesse sentido, e só se fortalece quando se imagina os efeitos em nível populacional.





Essa talvez seja uma das coisas que mais me perturba. Essa lógica toda não é extremamente complexa, e no entanto, isso é um dos maiores tabus que existem. "Malthus" ou "malthusianismo" é praticamente um xingamento, e sem razão. Algumas vezes parece que as pessoas, entendem bem essa lógica, mas preferem ignorá-la simplesmente por ser mais socialmente aceitável ser contra essa "monstruosidade", mesmo que a custo do agravamento da pobreza e da miséria -- os verdadeiros monstros -- causado pela generalização dessa ignorância deliberada. Talvez com a racionalização interna de que, apesar disso, a pobreza ainda poderia eventualmente diminuir, ainda que bem mais incerta e lentamente. Mas como não é a pobreza deles, nem necessariamente dos filhos deles, então não são eles ou seus filhos a pagar o preço por essa posição mais "bonita", mais socialmente aceitável a se defender.



Não estou acusando ninguém de hipocrisia, é só um desabafo. É algo que me parece meio que necessariamente ocorre de vez em quando, uma vez que a lógica por trás disso é antiga e não muito complicada (aliás, é a mesma lógica que os sindicatos conhecem e usam para melhorar as condições de vida para os trabalhadores sindicalizados de um setor, através da marginalização de potenciais competidores (os não-sindicalizados) na base da canetada). E é difícil de se conformar com isso.   

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #127 Online: 19 de Maio de 2010, 02:11:36 »
Aliás, achei muito bom quando vi propagandas do governo federal sobre promoção do planejamento familiar. Só espero que as igrejas não tenham destruído isso ainda. Não vi muitas, nem ouvi falar muito mais disso.

Offline calvino

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #128 Online: 19 de Maio de 2010, 10:42:40 »
As reportagens dizem que as pessoas não estão aceitando as ofertas que aparecem de trabalho formal, registrado, com medo de perder a bolsa-família.


Veja a 2a. postagem do BluesBrothers no início do tópico:


Citar
Ouvido, João Lopes Araújo, vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, disse que a falta de mão-de-obra para a lavoura tornou-se crônica. O curioso é que, no caso do Bolsa Família, o trabalho registrado para a colheita de uma safra, por temporário, não põe em risco o benefício.
"Se a moralidade representa o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse, a economia representa o modo como ele realmente funciona" Freakonomics.

Offline Blues Brother

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #129 Online: 19 de Maio de 2010, 13:38:09 »

Vocês, quem?

Eu disse que o programa não oferece a possibilidade de recuperação da autonômia econômica e até agora você não me refutou quanto a isso, só fica repetindo que é melhor o miserável que recebe uma ajudinha do que o miserável que não recebe ajuda nenhuma, mas em nenhum momento se preocupou quanto a questão da dignidade, independência e liberdade econômica de quem participa de um programa que é um uma espécie de mesada permanente, que não reabilita as pessoas para o mercado de trabalho.

Programa social não altera relações de trabalho, de Marx a Hayek, todo mundo sabe disso.   

Eu mal li do tópico, mas do pouco que li, o DDV já falou mais que isso. Não se limitou a dizer que a esmola é melhor que nada no sentido de piedade, mas colocou o aspecto econômico da coisa, que dá maior independência e liberdade econômica do que se dependesse para viver apenas das oportunidades que prefere recusar se puder receber uma ajuda de 20 a 200 reais.

Então, tá, só para esclarecer:

a liberdade econômica destas pessoas dependerá inexoravelmente de uma mesada permanente, certo?

Porque se a questão é simplesmente proporcionar às pessoas a opção de recusar ofertas de trabalho ruins, dar uma mesada permanente resolve a questão muito bem.

Agora, se o lance for tratar adultos como adultos, daí mesada permanente não resolve nada, certo?

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #130 Online: 19 de Maio de 2010, 21:04:06 »
As reportagens dizem que as pessoas não estão aceitando as ofertas que aparecem de trabalho formal, registrado, com medo de perder a bolsa-família.


Veja a 2a. postagem do BluesBrothers no início do tópico:


Citar
Ouvido, João Lopes Araújo, vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, disse que a falta de mão-de-obra para a lavoura tornou-se crônica. O curioso é que, no caso do Bolsa Família, o trabalho registrado para a colheita de uma safra, por temporário, não põe em risco o benefício.


Isso não quer dizer que eles saibam disso. Por isso, como dizia a outra notícia, e talvez essa mesma, preferem trabalhar sem registro.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #131 Online: 19 de Maio de 2010, 21:16:47 »

Vocês, quem?

Eu disse que o programa não oferece a possibilidade de recuperação da autonômia econômica e até agora você não me refutou quanto a isso, só fica repetindo que é melhor o miserável que recebe uma ajudinha do que o miserável que não recebe ajuda nenhuma, mas em nenhum momento se preocupou quanto a questão da dignidade, independência e liberdade econômica de quem participa de um programa que é um uma espécie de mesada permanente, que não reabilita as pessoas para o mercado de trabalho.

Programa social não altera relações de trabalho, de Marx a Hayek, todo mundo sabe disso.   

Eu mal li do tópico, mas do pouco que li, o DDV já falou mais que isso. Não se limitou a dizer que a esmola é melhor que nada no sentido de piedade, mas colocou o aspecto econômico da coisa, que dá maior independência e liberdade econômica do que se dependesse para viver apenas das oportunidades que prefere recusar se puder receber uma ajuda de 20 a 200 reais.

Então, tá, só para esclarecer:

a liberdade econômica destas pessoas dependerá inexoravelmente de uma mesada permanente, certo?

Porque se a questão é simplesmente proporcionar às pessoas a opção de recusar ofertas de trabalho ruins, dar uma mesada permanente resolve a questão muito bem.

Agora, se o lance for tratar adultos como adultos, daí mesada permanente não resolve nada, certo?

Enquanto as coisas se mantiverem como estão, quanto a oferta de emprego e as condições, sim, mas isso não é "inexorável". Até porque, conforme as pessoas gastam esse pouco dinheiro a mais que recebem, devem ir fortalecendo a economia local. Não que apenas isso baste.

Quanto a tratar adultos como adultos, bem, a bolsa família, como o nome sugere, tem como critério as crianças (daí ser família, não bolsa-adulto/indivíduo), embora essas não possam ser beneficiárias diretas, sendo os adultos de fato a receber o dinheiro. Mas não sei se a ajuda a essas famílias implica em estar se deixando de tratar os recipientes responsáveis como adultos. Não acho que ela seja feita da melhor maneira possível, e acho que é feita de forma que até assume que sejam responsáveis, "adultos", demais. Acho que deveriam haver mais e melhores contrapartidas para se receber essa ajuda, como em alguns dos textos que citei.

Offline calvino

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #132 Online: 19 de Maio de 2010, 22:32:00 »
Isso não quer dizer que eles saibam disso. Por isso, como dizia a outra notícia, e talvez essa mesma, preferem trabalhar sem registro.

Você a parte em que os cafezais estão virando pasto porque eles não querem trabalhar?
Aqui no nordeste há muitos assistentes sociais que visitam a casa dessas pessoas explicando detalhadamente os benefícios do governo. Inclusive considero a maioria dos serviços públicos nordestinos melhores do que os de Rio Claro - SP onde cresci (uma das cidades com maior renda per capita do estado).

Duvido que esses assistentes sociais não passem informações. Aliás, conheço 03. Elas andam com várias ofertas de emprego debaixo do braço. Empregos para os quais não se necessita graduação (realidade da maior parte da população aqui). Elas sempre voltam com as vagas disponíveis para a casa, enquanto as ruas estão abarrotadas de homens fortes e aparentemente sadios e ociosos. Acho isso tão estranho.
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Offline CyberLizard

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #133 Online: 19 de Maio de 2010, 23:07:02 »
Buckaroo:

Estou concordando que na sociedade atual temos uma tendência de gerar um  círculo vicioso entre pobreza e fertilidade. Não acho que é bom para pessoas pobres terem muitos filhos. Mas ainda acho que a melhor forma de quebrar este círculo é atacando a pobreza. Me parece muito mais eficaz e humano. No final das contas, os países que conseguiram diminuir o índice de fertilidade são aqueles que possuem um padrão de vida bom para a população. Desconheço casos de países com padrões de vida ruins conseguindo abaixar a natalidade.

Não é mais "desumano" para os pobres receberem educação e recursos para planejamento familiar e economia doméstica do governo e assim terem menos filhos, do que é para as camadas mais ricas fazerem isso sem precisar desse tipo de ajuda. Eu acho mais desumano deixar de se fazer isso por ter quem dê um jeito de interpretar como "nazista", deixando as pessoas sofrerem e colocarem mais crianças no mundo para sofrerem com a a pobreza.

Quanto a eficiência, bem, acho que é só se imaginar certas coisas, como como seria para você levar sua vida se tivesse mais um, dois, três, quatro, cinco ou seis filhos. Depois imagine isso, só que sem ter o trabalho que tem, sem ter qualquer especialização. Ou você consegue alguma especialização gratuitamente, ou essa especialização vai representar menos comida na mesa durante algum tempo. Sem falar que, talvez fosse melhor em vez de investir esse tempo em especialização, ter uma dupla jornada de trabalho, ainda que isso signifique ficar mais estagnado nesse trabalho que não paga bem.

Isso já deve dar para ilustrar bem as dificuldades, mesmo sem fazer qualquer tipo de conta. Mas isso nem pára por aí. Além desse problema "atual", tem os efeitos inter-geracionais. Com esses filhos hipotéticos adicionais, você não só teria mais problemas para pagar as contas "agora", como teria menos para investir na formação dos filhos. Mesmo que conseguisse dar a eles uma boa alimentação, garantindo sua nutrição, proporcionar condições para um bom desenvolvimento cognitivo (há estudos mostrando que, quanto mais irmãos mais velhos uma pessoa tem, menor tende a ser o QI - mas as coisas já começam a "funcionar" estatisticamente mesmo para irmãos gêmeos como primeiro par de filhos de um casal), e algum lazer, além de vagas em boas escolas públicas até o ensino médio, isso não vai dar a eles mais garantias do que essa hipotética versão de você sem especialização profissional.

A coisa só se complica exponencialmente quando você deixa de observar apenas esse indivíduo hipotético e começa a pensar no efeito populacional de um monte de gente agindo da mesma maneira. Os seus três, quatro ou cinco filhos não terão só os problemas que você teve, mas serão agravados pela competição mais acirrada por trabalhos sem qualificação com os três, quatro, cinco ou seis filhos do seu irmão, da sua irmã, do seu primo, e das suas centenas de vizinhos. 


Mesmo sem colocar números no papel, acho que primeira perspectiva, sob o nível individual, deve deixar bem claro como o planejamento familiar, a lógica de se ter filhos apenas com alguma segurança financeira, faz sentido nesse nível "micro". É muito mais fácil prosperar investindo primeiramente na formação, do que tendo filhos na adolescência e/ou antes de conseguir uma boa segurança financeira, do que invertendo essa lógica. A combinação disso com a segunda perspectiva, deve também deixar claro como que, apesar de não se saber de países que tenham conseguido obter melhores condições de vida para a população a partir de políticas como essas que sugeri (e não saber não significa que não existam esses casos, pode ser só menos conhecido, só sendo lembrados os casos desumanos, como da China), a lógica aplicada apenas ao indivíduo já preveria algo nesse sentido, e só se fortalece quando se imagina os efeitos em nível populacional.





Essa talvez seja uma das coisas que mais me perturba. Essa lógica toda não é extremamente complexa, e no entanto, isso é um dos maiores tabus que existem. "Malthus" ou "malthusianismo" é praticamente um xingamento, e sem razão. Algumas vezes parece que as pessoas, entendem bem essa lógica, mas preferem ignorá-la simplesmente por ser mais socialmente aceitável ser contra essa "monstruosidade", mesmo que a custo do agravamento da pobreza e da miséria -- os verdadeiros monstros -- causado pela generalização dessa ignorância deliberada. Talvez com a racionalização interna de que, apesar disso, a pobreza ainda poderia eventualmente diminuir, ainda que bem mais incerta e lentamente. Mas como não é a pobreza deles, nem necessariamente dos filhos deles, então não são eles ou seus filhos a pagar o preço por essa posição mais "bonita", mais socialmente aceitável a se defender.



Não estou acusando ninguém de hipocrisia, é só um desabafo. É algo que me parece meio que necessariamente ocorre de vez em quando, uma vez que a lógica por trás disso é antiga e não muito complicada (aliás, é a mesma lógica que os sindicatos conhecem e usam para melhorar as condições de vida para os trabalhadores sindicalizados de um setor, através da marginalização de potenciais competidores (os não-sindicalizados) na base da canetada). E é difícil de se conformar com isso.   

Não sou contra a educação e conscientização. Acho isso tudo bastante importante, tanto que na minha primeira postagem sobre o assunto mencionei a falta de informação como um dos fatores por trás disso. Acho que educação, conscientização e acesso à anti-concepcionais são muito importantes para que todos tenham o direito de realizar o planejamento familiar que considerar mais adeqüado. O acesso à educação é uma das coisas que as pessoas precisam para viver melhor. Jamais acharia isso desumano. E concordo que na nossa sociedade, criar uma criança até a fase adulta é dispendioso. Não há como negar isso do ponto de vista da economia familiar.

Entretanto, o maior problema que vejo no Malthusianismo, na verdade, é uma tendência à reduzir as causas de muitas coisas complexas e MACRO-ECONÔMICAS à uma matemática ingênua como se riqueza nova não pudesse ser produzida para compensar o aumento populacional justamente com a ajuda destas novas pessoas que surgiram. Isso pode ser visto mais facilmente em sociedades agrícolas, onde uma pessoa à mais significa mais um para ajudar no cultivo da terra e gerar mais comida. Não estamos em uma sociedade agrícola, mas em tese a mesma lógica pode ser aplicada. As novas pessoas podem ser absorvidas pela sociedade de modo que elas produzam coisas novas, trabalhando em qual área tiverem maior aptidão. Com o nível de produtividade por trabalhador existente hoje, NA TEORIA, deveria ser um problema ainda menor do que foi no passado.

Eu não nego que se a população chegar à um nível crítico, acabaremos esbarrando em limites de recursos do próprio planeta. Mas ainda não é o caso. Atualmente já produzimos mais comida do que seria necessário para alimentar todas as pessoas do mundo. Pelo menos aqui onde moro, existe uma quantidade grande de imóveis vazios devido à especulação e novos imóveis também podem ser construídos sem tantos problemas. EM TESE as pessoas podem ser empregadas em novas atividades produtivas justamente de modo à suprirem em conjunto as próprias necessidades que possuem.

Eu escrevi "em tese" no parágrafo anterior justamente porque sei que na prática as coisas não acontecem assim, mas justamente por motivos políticos e econômicos possíveis de serem superados. Os problemas de desemprego e tudo o mais que temos hoje não é algo natural, é um problema bastante específico da sociedade atual. Resolver isso é uma questão de invocar políticas que dêem mais oportunidades para as pessoas.

Offline Blues Brother

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #134 Online: 20 de Maio de 2010, 12:51:15 »
Buckaro,

Os defensores do Bolsa-Família normalmente argumentam que:

a) É melhor um miserável que recebe auxílio do que o miserável que não recebe nenhum auxílio.

b) O Bolsa-Família fortalece a economia permitindo que pessoas pobres consumam.

Não faço nenhuma objeção aos dois itens acima.

Minha crítica é a seguinte:

a) O programa deveria enfatizar a reintegração dos beneficiados ao mercado de trabalho, por meio de parcerias com a iniciativa privada, combinando auxílio financeiro com capacitação profissional. Considero isso o mínimo.

b) Se o programa acabar amanhã, as pessoas que até então contribuíam com a economia, obviamente, deixarão
de contribuir, uma vez que não terão recursos financeiros para continuar consumindo. Por isso, no longo prazo, a contribuição do Bolsa-Família para com a economia interna tenderá a simplesmente desaparecer.

 

Offline Unknown

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #135 Online: 21 de Maio de 2010, 11:32:48 »
a) O programa deveria enfatizar a reintegração dos beneficiados ao mercado de trabalho, por meio de parcerias com a iniciativa privada, combinando auxílio financeiro com capacitação profissional. Considero isso o mínimo.
Acho que a reportagem abaixo mostra o que você gostaria que se espalhasse mais pelo Brasil. E, pelo menos no meu ponto de vista, reforça a posição do DDV quando ele afirmou que o Bolsa-Família está fazendo com que as pessoas busquem remunerações mais altas para se arriscar a perder o benefício. Em geral, os salários mostrados na reportagem são bem acima (mais ou menos o dobro) dos casos citados anteriormente no tópico.

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Empresa abre porta de saída do Bolsa Família

Parceria entre a construtora Odebrecht e o governo federal já treinou 8,3 mil beneficiários do programa de transferência de renda


Panorama da construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira: porta de saída para o Bolsa Família

Em outubro do ano passado, Laudinéia Queiroz matriculou-se no Acreditar, programa de capacitação profissional da construtora Odebrecht. Depois de quatro meses desempregada, queria trabalhar como zeladora na construção da usina de Santo Antônio, no rio Madeira, em Porto Velho. Aos 30 anos, a ex-doméstica se formou e disputou a vaga com 40 candidatos. Para ganhar o emprego, valeu-se de um diferencial inusitado: uma carteirinha do Bolsa Família. A vantagem de Laudinéia no processo seletivo surgiu de um acordo assinado no início do ano passado entre a Odebrecht e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).De acordo com ele, os beneficiários do programa de transferência de renda têm prioridade para fazer matrícula em cursos profissionalizantes e na contratação de novos funcionários. Pouco mais de um ano depois de entrar em vigor, a parceria foi levada para nove obras da Odebrecht e já formou mais de 8,3 mil beneficiários do Bolsa Família, sendo que mil deles foram contratados pela construtora. Agora, o governo federal quer usar o projeto como modelo a ser replicado em outras empresas, como a Vale e a CSN. “A iniciativa é boa”, disse Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Alguns chamam de porta de saída do Bolsa Família, mas prefiro falar em porta de entrada para o mercado de trabalho”.


Ao lado da família, a zeladora Laudinéia posa no portão de casa: benefício do Bolsa Família pode ir para uma pessoa mais necessitada

Laudinéia não é a única funcionária da construção da usina de Santo Antônio a usar o Bolsa Família para entrar no mercado de trabalho. Das 28 mil pessoas que passaram pelo Acreditar em Porto Velho, cerca de 10% recebem algum tipo de complemento de renda do governo federal. Destes, 545 foram contratados. Apesar de representar apenas 5% do total dos funcionários da obra, a contratação acarreta numa mudança radical na vida dessas pessoas. Laudinéia é uma delas. Há cinco anos, recorreu ao Bolsa Família para complementar os R$ 700 que o marido ganhava como instalador de outdoor nas ruas de Porto Velho. O dinheiro do bico não era suficiente para colocar comida na mesa, comprar roupas para a família e pagar a educação dos três filhos. O benefício de R$ 130 ajudou a melhorar as coisas, mas não era suficiente. “Foi um período difícil”, afirmou. Desde que foi contratada para trabalhar na obra, em janeiro, a zeladora não depende mais do benefício. Além do salário de R$ 888, Laudinéia tem plano de saúde e ganha uma cesta básica da empresa. Com o dinheiro extra, quer reformar a casa de apenas um quarto e garantir uma educação melhor para os filhos. “Meu benefício já pode ser usado por outra pessoa mais necessitada”, disse.


Com o dinheiro que sobre do salário de R$ 888, Laudinéia quer reformar a casa de um cômodo na zona leste de Porto Velho

O programa que o governo federal pretende replicar em outras empresas começou a ser desenhado há quatro anos, quando a Odebrecht passou a estudar o mercado de trabalho de Porto Velho. O objetivo era saber se, entre os 300 mil habitantes, havia mão de obra para executar a obra. O estudo revelou o oposto: 10% da população não tinha emprego, nenhuma qualificação e a região nunca havia tido experiência com construção civil pesada. Sem ninguém para capacitá-los, a Odebrecht viu-se obrigada a criar o Acreditar. “Nosso negócio não é educação, é construção”, afirmou Antonio Cardilli, responsável administrativo e financeiro da Odebrecht. “Mas a alternativa ao Acreditar era trazer gente de fora do Estado para trabalhar na obra”. Com investimento total de R$ 30 milhões, as primeiras turmas do programa chegaram às salas de aula no início de 2008. Pouco depois, o projeto despertou a atenção de Patrus Ananis, então ministro do Desenvolvimento Social. Numa conversa com Marcelo Odebrecht, diretor-presidente da construtora, Ananias sugeriu uma parceria. “Ficou acertado que onde quer que a empresa tenha uma obra, vai criar um projeto de capacitação e priorizar os beneficiários do Bolsa Família”, disse Cardilli.


Obra da usina de Santo Antônio, no rio Madeira: 5% dos 10 mil funcionários saíram do programa de transferência de renda

A ideia foi seguida à risca. De Porto Velho, o programa Acreditar foi parar em Jeceaba, no interior de Minas Gerais, onde a Odebrecht está fazendo uma fábrica para a Vallourec & Sumitomo Tubos. O programa está presente também em Triunfo, na região metropolitana de Porto Alegre, que vai abrigar uma planta de eteno verde da Braskem. Ao todo, são nove cidades com o projeto que privilegia os beneficiários do Bolsa Família. Nas próximas semanas, mais cinco municípios devem engordar essa lista. O processo de seleção funciona sempre da mesma forma: a construtora manda um comunicado para o MDS para informar que dará início a uma obra e que precisa de trabalhadores com um perfil pré-definido. Com essas informações, o governo monta uma lista dos beneficiários da região. Se duas pessoas com a mesma capacitação disputarem a mesma vaga, seja no curso ou na empresa, leva aquela que for beneficiária do Bolsa Família. Ao todo, 66 mil pessoas passaram pelo programa Acreditar, 12% do Bolsa Família. “O programa não resolve o problema da miséria, ele ajuda a pessoa a sobreviver”, disse José Bonifácio Pinto Junior, diretor da Odebrecht e responsável pela construção de Santo Antônio. “Temos casos emocionantes de gente que ganhava R$ 120 do Bolsa Família e passou a ganhar mais de R$ 1 mil na construtora”.


Sentada no sofá de casa, Kellen espera ser aprovada no curso da Odebrecht para realizar o sonho de ter a carteira de trabalho assinada

Encostada no batente da porta da casa de madeira numa área de invasão na zona leste de Porto Velho, Kellen da Costa Veiga, 29 anos, não vê a hora de fazer parte dessa lista de pessoas que mudaram radicalmente de vida. Se conseguir, vai realizar um sonho antigo: ter a carteira de trabalho assinada pela primeira vez. Nascida em Manicoré, no Amazonas, cidade de 46 mil habitantes entre Manaus e Porto Velho, ela se mudou para a capital de Rondônia há 10 anos para acompanhar a família. Separada e desempregada, cobra R$ 12 para fazer a unha das mulheres da vizinhança. “Num mês de bastante movimento, consigo tirar R$ 400”, disse ela. Para ajudar a criar os três filhos, recebe do governo mais R$ 134 do Bolsa Família. Kellen se inscreveu duas vezes no Acreditar antes de ser chamada para fazer o curso básico, em meados de abril deste ano. Se for contratada, já sabe o que fazer com o salário de R$ 650 mais benefícios: vai melhorar a casa de um cômodo onde vive e tentar dar uma educação melhor para os filhos. “Quero poder dar a eles a chance de completar a escola, coisa que nunca consegui”, disse Kellen. “É uma oportunidade para que eles nunca precisem entrar no Bolsa Família”.


Depois de se inscrever duas vezes no Acreditar, Kellen foi chamada para fazer o curso: salário de R$ 650 para sair do Bolsa Família

Criado em 2004 pelo governo Lula, o Bolsa Família sempre foi cercado de controvérsia. Para alguns especialistas, ele é imprescindível para a sobrevivência de 12,5 milhões de famílias em situação de pobreza (renda per capital menor do que R$ 140 por mês) ou extrema pobreza (renda per capital menor do que R$ 70 por mês). “Ele garante um direito fundamental, constitucional, que é o direito à alimentação”, disse ao iG Patrus Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social, antes de se licenciar do cargo no final de abril. Além disso, o programa de transferência de renda ajudou a aumentar o poder de consumo de regiões, como o Nordeste -- todos os meses, o programa despeja cerca de R$ 10 bilhões no mercado em todo o Brasil. Esse é o lado bom do programa. O ruim é que ele sempre foi criticado pelo caráter assistencialista – para parafrasear o presidente Lula, o Bolsa Família dá o peixe, mas não ensina a pescar. Ou seja, não oferece aos seus beneficiários uma porta de saída do ciclo vicioso da pobreza. “Parcerias como o Acreditar vão ajudar as pessoas a atravessar as pesadas portas do mercado de trabalho”, disse ao iG Ronaldo Coutinho Garcia, secretário do MDS. “Estamos conversando com empresas como a Vale e a CSN para criar algo parecido”. Procuradas pela reportagem, Vale e CSN confirmaram o interesse no projeto, mas disseram que ele ainda encontra-se em estágio inicial.


Alunos usam na prática o que aprenderam na sala de aula do curso de armador: mais de 43 mil inscritos em Porto Velho

Essa não é a primeira vez que a iniciativa privada cria um projeto de capacitação que atende os beneficiários do Bolsa Família. Em 2008, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic) criou o Programa Próximo Passo, cujo objetivo é capacitar 185 mil pessoas em 240 municípios brasileiros para trabalhar nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. A diferença para o programa da Odebrecht? O investimento de R$ 115 milhões será feito pelo Ministério do Trabalho. Até hoje, já foram capacitados 45 mil pessoas e, nos próximos meses, deve chegar a 60 mil. “É um projeto bom para todo mundo: para a pessoa que tem uma oportunidade de se inserir no mercado de trabalho, para o governo que cria a porta de saída para o Bolsa Família, para as empresas que contratam mão de obra qualificada, para aumentar a renda das pessoas”, disse ao iG José Carlos Martins, vice-presidente do Cbic. Os beneficiários do Bolsa Família não deixam o programa assim que assinam o contrato e a carteira de trabalho. Como a maior parte desses projetos de capacitação é voltado para a construção civil, que vive de fases de obras, o governo estendeu por dois anos o período de concessão até que o beneficiário mostre que estabilizou a vida profissional. Para quem já esperou tanto tempo para sair da pobreza, a porta de saída para o programa de transferência está logo ali.


Mais de 66 mil alunos passaram pelas salas de aula do programa Acreditar espalhados por nove cidades em todo o Brasil

http://economia.ig.com.br/empresa+abre+porta+de+saida+do+bolsa+familia/n1237628999902.html

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Offline Blues Brother

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Re: Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #136 Online: 21 de Maio de 2010, 14:21:55 »
Ótimo exemplo, Unknown!

Neste caso não há o que criticar, os responsáveis pela parceria estão de parabéns. 

As pessoas recebem ajuda para deixar definitivamente a situação de miséria.

Ou seja, recuperam sua autonomia. Era disso que eu tanto falava!

Offline _tiago

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Re:Benefício social prejudica atividade rural do Nordeste
« Resposta #137 Online: 26 de Janeiro de 2014, 08:23:12 »
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/01/1403009-forca-de-trabalho-encolhe-no-nordeste.shtml

Citar
Força de trabalho encolhe no Nordeste
(...)
 BENEFÍCIOS SOCIAIS

Para o economista Miguel Pinho Bruno, estudioso do mercado de trabalho, a maior oferta de educação e benefícios sociais deu opções para jovens e adultos.

"Em vez de aceitar imediatamente um emprego de baixa remuneração, a pessoa pode ficar na escola ou recorrer a algum programa social."

Ele é cauteloso, porém, ao relacionar os programas de renda, como o Bolsa Família, à redução da força de trabalho no Nordeste, porque os dados sobre isso ainda são precários.

Ana Luiza Neves não acredita nessa hipótese: "A evidência empírica mostra que o impacto desses programas no mercado de trabalho é quase nulo".

 

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