E Malthus ressurge novamente. Que cara teimoso...
O aumento de natalidade é uma conseqüência da pobreza, não o contrário.
Não é uma dicotomia, ambos são verdade.
Se pobres tem muitos filhos, mais do que podem sustentar, a pobreza deles aumenta, e aumenta muito.
Primeiro, pobres tem menos acesso à informação e à anti-concepcionais. Segundo, qualidade de vida ruim normalmente leva à aumento de fertilidade, desde que haja comida suficiente. Mesmo em países outrora ricos, onde as pessoas são educadas, costuma haver um boom populacional depois de guerras ou grandes catástrofes. Parece ser o tal instinto de preservação dos genes em ação. A única medida realmente efetiva e não desumana para conter a natalidade que conheço é melhorar a qualidade de vida da população e dar à eles acesso à informação.
Acredito que junto a programas como o bolsa-família, além do fornecimento de qualificação profissional e/ou de algum trabalho necessário para o estado (mas sem interesse na iniciativa privada) que não exija muita qualificação, deveriam haver cursinhos de conscientização básica sobre o fato de que os filhos representam sim um custo de vida, que quanto mais filhos se tem ganhando menos, pior será a qualidade de vida para todos, incluindo para esses filhos, sobre como é mais fácil conseguir progredir na vida se tendo menos gastos (como com filhos), para então poder ter um ou outro filho e poder dar a ele uma vida muito mais digna. Junto a isso, o fornecimento gratuito de contraceptivos de longo prazo (aqueles implantes subcutâneos de duração anual).
O ensino básico também deveria incluir noções de economia doméstica.
Mas vale lembrar que como a economia não é uma soma-zero (como muitos adoram lembrar), não necessariamente os filhos das camadas mais pobres tenderão à ficar mais pobres.
Tenderão sim. Poderia se imaginar uma situação maravilhosa ideal em que isso não aconteceria, mas a tendência é essa, infelizmente. Quanto mais a sociedade se negar a enxergar isso mais se piora as coisas.
Mais pessoas significa também mais mão-de-obra, mais pessoas para trabalhar e movimentar a economia.
Então, acha que se os pobres tiverem ainda mais filhos, quanto mais, melhor?
Isso supõe que houvesse um problema de falta de mão-de-obra entre os pobres, quando o que há é justamente um problema de
excesso de oferta de mão-de-obra, que joga o valor da mão-de-obra lá embaixo. A mão-de-obra ofertada não só não é pouca, como sobra, é superior, excede, a demanda por essa mão-de-obra. Isso é desemprego. Pobreza. Cada vez maior de acordo com o crescimento desse excedente da mão de obra.
Mais riqueza pode ser gerada, e se todos tiverem oportunidades e houver uma distribuição justa, não necessariamente a pobreza aumenta com uma fecundidade maior de pobres.
A geração de riquezas amenizará tão mais o problema quanto menor for a população afligida pela pobreza, mesmo se desconsiderarmos a lógica que expliquei anteriormente, que, em outras palavras, é sobre como o aumento populacional diminui necessariamente as oportunidades, o que acarreta na distribuição injusta (porém natural) de riquezas.
Pobres são mais férteis tanto aqui como em Uganda ou na Europa.
E no entanto, eles não estão melhorando sua situação de vida de acordo com quanto mais férteis forem. Mais provavelmente o contrário, e certamente, todas as outras variáveis se mantendo as mesmas.
E se é tão mais vantajoso ser pobre e depender de Bolsa Família, eu não sei por que diabos eu passo tantas horas programando pra outras pessoas em um escritório fechado. Eu poderia ficar curtindo a vida em uma praça, ou então fazendo filhos sem parar para ganhar benefícios do governo.
Realmente os críticos desses programas algumas vezes falam como se eles dessem uma vida de marajá para os assistidos, como se todo mundo fosse ficar satisfeito recebendo essa ajuda e desistir de trabalhar. Algumas vezes sustentando com alguma anedota de um vizinho dum amigo de um primo, ou achar ter visto pessoalmente algum mendigo num shopping center.
De qualquer forma, esses programas têm muito a melhorar, e talvez até quanto a algum grau de "relaxamento" demasiado que possa haver, dado ao estado comparativamente muito melhor de receber essa ajuda, em vez de não ter nada, ou trabalhar por migalhas.