Quanto ao ponto inicial do tópico? Alguém ainda defende que as características tributárias e salariais brasileiras são os fatores excelentes para explicar as diferenças de preços entre os produtos mais variados no mercado nacional e no mercado externo?
Sem dúvida. A minha empresa é um caso típico.
Também: a hipótese pouco erudita de que um mercado consumidor menos forte, com uma massa muito grande de trabalhadores que não podem consumir muito além do básico (ou em grande parcela nem isto) é realmente tão estranha assim?
Não é uma tese erudita. É mais um fator para elevar o custo, pois quanto menor for o mercado em termos de poder aquisitivo, maior será o custo unitário, em tese.
No entanto eu não conheço nenhum caso onde existam salários com valores elevados e que tenham sido alcançados por lei. Se fosse assim tão simples, todos os governos do mundo fariam isto.
Ou será que pode dar mais auxílio à tarefa de explicar o porquê de nosso PS3 custar o dobro do mesmo aparelho na Dinamarca (que tem impostos mais altos, seja qual for o tipo de taxação), de nossos pacotes de TV por assinatura custarem o dobro de pacotes similares ou mais completos na Argentina (que tem impostos similares e salários muito mais altos) e de nossos planos de telefone móvel serem os maiores de toda a América Latina do que menções a diferenças tributárias que não sobrevivem a uma rápida demonstração dos fatos?
Voce comparou os percentis de impostos, taxas, contribuições e encargos brasileiros com os de outros países Donatello?
Vamos, por exemplo, analisar os números do Brasil com os da Alemanha e do Japão, para os a) impostos que incidem sobre pessoas jurídicas, b) impostos que incidem sobre pessoas físicas, c) encargos trabalhistas e previdenciáros (que são, em sua maioria, de responsabilidade das pessoas jurídicas) e d) impostos sobre consumo. Os números são os seguintes, em percentis:
Brasil: a) 34,00; b) 0,00 a 27,50; c) 31,00; d) 17,00 a 25,00.
Alemanha: a) 29,80; b) 0,00 a 45,00; c) 15,00 a 26,00; d) 7,00 a 19,00.
Japão: a) 40,69; b) 5,00 a 50,00; c) 0,00; d) 5,00.
a) Aparentemente o Brasil se situa entre a Alemanha e o Japão. Mas isto é só aparentemente, porque tais impostos, no Brasil, incidem sobre o faturamento e não sobre o lucro, o que geralmente representa uma enorme diferença.
b) O Brasil está muito abaixo dos outros dois. Mas só vou fazer um comentário porque não é o tema do tópico em tela. A base de cobrança do IRPF é muito estreita, de tal modo que alguns pagam muito imposto; muitos pagam um pouco e a maioria não paga nada.
c) O Brasil está acima dos outros dois. Para as empresas que usam "trabalho intensivo" isto representa um custo muito elevado, como é o caso da minha empresa.
d) Novamente o Brasil está acima dos outros. E afirmo que o percentil brasileiro está defasado, pois, por exemplo, na energia elétrica é cobrado 29,00% de ICMS.
E: em se tendo vencido (aparentemente) a etapa dos "nossos tributos são muito altos e nossos salários idem" e em se assumindo ou não que em um mercado mais amplo (digo, em que haja um maior percentual de indivíduos que tenham capacidade de comprar itens excedentes, supérfluos e luxuosos) se torne possível assumir margens menores de lucro e ainda assim obter um resultado líquido maior, quais outras explicações os empresários e executivos do CC poderiam usar como alternativa à que vinha sendo utilizada até agora?
Eu mantenho a minha conclusão de que o conjunto de impostos, contribuições, encargos e taxas é de alto impacto no preço final dos produtos e dos serviços. E, o que é tão ruim quanto, além de eu pagar bastante em impostos, eu ainda tenho que arcar com as despesas com os serviços privados de educação, saúde, segurança e previdência.