Di, é curioso, mas ontem mesmo estava lembrando, nem sei o que me levou a isso, no mais famoso caso de xenofobia de que me recordo no futebol brasileiro: o caso Desabato X Grafite. Xenofobia do qual ao meu ver o Desabato foi vítima, entenda-se. Já tinha postado minha opinião sobre este caso em um outro tópico sobre discriminação, mas pra mim foi o seguinte:
São Paulo x Quilmes, jogo decisivo da Libertadores de 2005, público de exatos 38.733 aficcionados, a maioria deles bambis, digo, sãopaulinos, provavelmente algumas centenas de maricones, digo, hermanos... Antes do jogo as canções entoadas pelos são paulinos são gratificantes exemplos de cordialidade cosmopolita, coisas como
Ei argentino, seja bem vindo, todos os amigos, los hermanos, juntos comigo ou
Corintiano, vamos pra escola juntos, depois vamos trabalhar, mas esta partida podes crer que eu vou ganhar; isso sem falar no clássico dos clássicos em todos os estádios brasileiros:
Eu vi, eu vi, eu vi um avião, e nele tava escrito 'O Tricolor é campeão'...
Porra, foi mal, delirei: acho que na verdade eram quase 38.733 pessoas cantando músicas onde argentinos eram viados, cariocas eram mendigos, corintianos eram analfabetos criminosos, palmeirenses eram uns imundos italianos filhos da puta... Os poucos argentinos não deixavam para trás e já entoavam em coro o xingamento que ia ficar famoso naquela noite. A mãe do juiz foi saudada pela multidão bilíngue assim que o sujeito pôs os pés no gramado, bem como las madres dos respectivos conterrâneos do FZapp.
Ahhh, claro, mas assim como há quem tente tirar o seu da reta dizendo que o Clube Cético é uma coisa e a Band é outra e que a responsabilidade que nós exigimos pra eles nós não fazemos questão alguma de ter pode ser que alguém diga:
ahhh, mas 60 mil torcedores são uma coisa, e 22 jogadores são outra.Sendo assim, eu tenho absoluta certeza de que a atuação dos 22 atletas vinha sendo da mais singela polidez,
por obséquio caro cavalheiro de camisa listrada com cores chamativas, poderia ter a bondade de na pŕoxima entrada tomar um pouco de cuidado para não acertar meu joelhinho? (claro que isto dito em um portuñol esforçado),
claro que sim meu nobre continentâneo, e já que temos agora a oportunidade deste circunlóquio deixe-me solicitar que, quando estiver com os seus, dê-lhes os meu abraços afetuosos.
Mas claro que não, porra!!! Festival de hijo de una puta pra lá, vai tomar no cu pra ca, maricón pra lá, na mesma jogada segundo relatado nos próprios autos o Grafite tinha mandado o argentino praticar a sodomia passivamente, aí o argentino resolveu que também tinha direito à sua cota de, como é que a lei chama isso? injúria.
Pronto, armou-se o circo, o Morumbi ficou em silêncio, horrorizado, ninguém mais chamou argentino de maricón, nem carioca de vagabundo, nem corintiano de traficante, a polícia entrou, lá vai um cabrón algemado... como é que pode os argentinos serem tão racistas?