Autor Tópico: Semana atípica no Rio de Janeiro  (Lida 36890 vezes)

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Offline HeadLikeAHole

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #300 Online: 01 de Dezembro de 2010, 18:24:39 »
É claro! Os bandidos não são os culpados pelos seus crimes, vamos anistia(?)-los. Então vamos ter que perdoar todos os criminosos soltos e os já presos, não podemos cometer injustiças. E apenas os tementes a Deus serão perdoados, os que não tem fé são monstros que não merecem a liberdade.

Offline _tiago

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #301 Online: 02 de Dezembro de 2010, 08:06:07 »
Rio, drogas e violência,

Hélio Schwartsman

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As cenas de guerra no Rio de Janeiro evocam as soluções fáceis de sempre: colocar as Forças Armadas no morro até prender o último traficante (a favorita da direita) e descriminalizar as drogas (a campeã da esquerda).

Não discordo inteiramente. Acho que lugar de bandido perigoso é a cadeia mesmo e defendo a legalização de todos os entorpecentes. Receio, contudo, que, nenhuma dessas medidas, isoladamente ou mesmo em conjunto, constitua solução rápida para o problema da violência urbana, no Rio ou em qualquer outra cidade do país.

Em relação aos traficantes, o que temos é basicamente um problema de mercado. Estudo acadêmico citado na Folha de domingo estima que a indústria da droga empregue 16 mil pessoas na cidade do Rio de Janeiro (mais do que a Petrobras) e movimente R$ 633 milhões anuais (mais do que o setor têxtil no Estado).

A menos que, num passe de mágica, eliminássemos toda a demanda, para cada FB preso, surgirão três ou quatro jovens candidatos a substituí-lo. Muito provavelmente disputarão o posto à bala, tornando a situação ainda mais perigosa em alguns pontos estratégicos da cidade. A própria existência de milícias não é senão uma tentativa de certos membros de nossas valorosas polícias de morder um naco desse mercado.

Vale lembrar que, embora as autoridades paulistas o neguem até a morte, alguns estudiosos como a socióloga Camila Nunes Dias sustentam que um dos fatores que trouxeram relativa paz a São Paulo foi a unificação do comando do tráfico sob o PCC. A centralização não apenas acabou com as rixas entre criminosos como ainda impôs um rígido código de conduta aos bandidos. Quem cria confusão de graça é severamente punido.

Uma solução bastante cínica, portanto, seria ajudar alguma das organizações que disputam o tráfico no Rio a açambarcar o mercado, monopolizando o setor. A violência aparente, que é a percebida pela população, provavelmente se reduziria. O problema é que isso quase certamente agravaria um outro efeito pernicioso do tráfico, que é sua infiltração nas estruturas do Estado. Aqui, a ameaça ganha ares institucionais.

Os cartéis de drogas têm, como toda megacorporação, interesses a defender. A diferença entre os traficantes e executivos de grandes empresas é que os primeiros não precisam nem parecer que cumprem as leis. Enquanto uma multinacional contrata firmas de lobby e assessorias de imprensa na esperança de influenciar políticos e jornalistas, os cartéis simplesmente corrompem autoridades. Quem recusar a oferta pode ser eliminado.

O risco que o narcotráfico traz para a democracia foi uma das razões que levaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus colegas César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México) a fundar a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, que defende o fim da 'guerra contra as drogas' e mudanças paulatinas rumo à legalização. (É incrível como ex-autoridades passam a ver as coisas com clareza depois que deixam seus cargos).

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Offline Adriano

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #302 Online: 02 de Dezembro de 2010, 22:03:28 »
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Os cartéis de drogas têm, como toda megacorporação, interesses a defender. A diferença entre os traficantes e executivos de grandes empresas é que os primeiros não precisam nem parecer que cumprem as leis. Enquanto uma multinacional contrata firmas de lobby e assessorias de imprensa na esperança de influenciar políticos e jornalistas, os cartéis simplesmente corrompem autoridades. Quem recusar a oferta pode ser eliminado.
Outra importante consideração é o expressivo mercado consumidor espalhado por todas as classes sociais e em todo o mundo. As drogas fazem parte da cultura humana e a política de guerra as drogas ainda é uma política de guerra civil.


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O risco que o narcotráfico traz para a democracia foi uma das razões que levaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus colegas César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México) a fundar a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, que defende o fim da 'guerra contra as drogas' e mudanças paulatinas rumo à legalização. (É incrível como ex-autoridades passam a ver as coisas com clareza depois que deixam seus cargos).
A "guerra" informacional ainda é a melhor opção. Não é a toa que FHC está sendo muito elogiado na imprensa internacional.  :brasil:


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Para FHC, é fundamental diminuir a procura pelas drogas. Segundo ele, é preciso que as "classes média e alta", além de “todos que consomem”, ajudem no combate ao tráfico. “Isso (recuperação do território no Alemão) não vai por si mesmo resolver a diminuição do consumo”, disse, apontando a necessidade de campanhas e outras medidas de apoio aos dependentes. “Quando todo mundo fica contente pelo que aconteceu no Rio é porque o Estado está recuperando o monopólio da força naquela área. Precisa ver se vai recuperar em um conjunto maior”, questiona.

O ex-presidente citou como um bom exemplo de enfrentamento as medidas adotadas por Portugal, que conseguiu reduzir de "maneira mais notável" o consumo. “Descriminalizaram todas as drogas, o que não quer dizer legalizar”, afirmou.
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Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Dbohr

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #303 Online: 02 de Dezembro de 2010, 22:36:45 »
Acabo de voltar de uma palestra com Chico Alencar e Marcelo Freixo (ambos do PSOL-RJ) sobre segurança pública. Foram extremamente técnicos em suas exposições, apontando tudo aquilo que já se vem falando neste tópico: que é preciso enfrentar a barbárie com a força SIM; que as UPPs são boas, porém incompletas como modelo de segurança; que sem cidadania não tem chance de consertar a situação no Rio; que a sujeira na política e nas polícias dá margem para toda sorte de desvios como as milícias por exemplo; e que não se pode perder de vista que talvez só tenha havido uma mudança de estratégia por causa da Copa e das Olimpíadas. 

Offline André Luiz

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #304 Online: 03 de Dezembro de 2010, 07:23:24 »


Afinal morreram quantos na operaçao?

Fala-se do alivio das comunidades por nao ter havido uma carnificina

Mas ja vi umas fotos cabeludas

Offline DDV

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #305 Online: 04 de Dezembro de 2010, 01:03:18 »
Confesso que fiquei decepcionado com o tão propalado poder do tráfico carioca. Os todo-poderosos traficantes dos quais se falavam em letras de funks, orkuts, filmes, imprensa e nas argumentações dos maconhistas nem deram graça para as forças de segurança.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline André Luiz

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #306 Online: 04 de Dezembro de 2010, 07:14:45 »
Com a trilha Ho Chi Minh feita pelo PAC até eu fugiria

 :lol:

Offline Geotecton

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #307 Online: 04 de Dezembro de 2010, 08:59:07 »
Confesso que fiquei decepcionado com o tão propalado poder do tráfico carioca. Os todo-poderosos traficantes dos quais se falavam em letras de funks, orkuts, filmes, imprensa e nas argumentações dos maconhistas nem deram graça para as forças de segurança.

Assim como os VCs não eram páreo, em campo aberto, para o exército estadunidense no conflito asiático do final dos anos 60.

Mas ainda assim levaram a melhor.
Foto USGS

Offline DDV

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #308 Online: 04 de Dezembro de 2010, 12:11:25 »
Confesso que fiquei decepcionado com o tão propalado poder do tráfico carioca. Os todo-poderosos traficantes dos quais se falavam em letras de funks, orkuts, filmes, imprensa e nas argumentações dos maconhistas nem deram graça para as forças de segurança.

Assim como os VCs não eram páreo, em campo aberto, para o exército estadunidense no conflito asiático do final dos anos 60.

Mas ainda assim levaram a melhor.

Os VC conseguiram segurar os EUA, ao contrário do tão falado tráfico carioca. Nem uma guerrilhazinha de nada conseguiram...


NOTA: se formos olhar em proporção de mortos, as forças americanas levaram a melhor no Vietnã (10 VC mortos para cada americano). Mas todo esse sacrifício dos VC foi suficiente para desgastar a campanha americana e levar a opinião pública a desaprovar a guerra, o que os levou à desistência.

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline André Luiz

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #309 Online: 04 de Dezembro de 2010, 12:39:36 »
Os EUA tinham que pisar em ovos, ja para o Vc a guerra era total

Offline Felius

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #310 Online: 04 de Dezembro de 2010, 19:45:58 »
Fora que, a população local do vietinam odiava os EUA, a população local aqui do Rio, no momento presente, diria que não pouco graças aos filmes do padilha, estão com uma aceitação boa as forças que invadiram. A policia do Rio de Janeiro também conhece BEM mais a região do que os soldados americanos conheciam o Vietnam. Os vietnamitas se viam como defensores da patria contra um inimigo externo, as forças criminosas do Rio tão nisso pelo glamour e dinheiro. Baixas do lado dos policias seriam bem mais aceitas que baixas no soldados americanos, pelo público civil em casa. No primeiro, eles estão morrendo para retomar um território tomado por forças criminosas, no outro estão morrendo longe de casa, para defender uma ideologia que podem nem se importar sobre. Além do que, Vietnam tem um área RIDICULAMENTE maior que as favelas do Rio.
"The patient refused an autopsy."

Offline Geotecton

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #311 Online: 04 de Dezembro de 2010, 20:22:10 »
Confesso que fiquei decepcionado com o tão propalado poder do tráfico carioca. Os todo-poderosos traficantes dos quais se falavam em letras de funks, orkuts, filmes, imprensa e nas argumentações dos maconhistas nem deram graça para as forças de segurança.

Assim como os VCs não eram páreo, em campo aberto, para o exército estadunidense no conflito asiático do final dos anos 60.

Mas ainda assim levaram a melhor.

Os VC conseguiram segurar os EUA, ao contrário do tão falado tráfico carioca. Nem uma guerrilhazinha de nada conseguiram...

A minha analogia VCs/traficantes foi no sentido de que o que ocorreu foi a perda de uma batalha com um recuo tático. A "guerra" propriamente dita está longe de acabar.


NOTA: se formos olhar em proporção de mortos, as forças americanas levaram a melhor no Vietnã (10 VC mortos para cada americano). Mas todo esse sacrifício dos VC foi suficiente para desgastar a campanha americana e levar a opinião pública a desaprovar a guerra, o que os levou à desistência.

Eu não tenho dúvida que se os EUA realmente usassem todo o poder humano que dispunham, eles teriam revertido e ganho a guerra. Mas o custo em termos financeiros e humanos seria estrondoso.
« Última modificação: 04 de Dezembro de 2010, 20:24:24 por Geotecton »
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Offline Geotecton

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #312 Online: 04 de Dezembro de 2010, 20:23:49 »
Os EUA tinham que pisar em ovos, ja para o Vc a guerra era total

Em parte sim. Mas ocorreram inúmeros casos de uso de força contra a população civil, como no caso dos bombadeiros pelos B-52, tanto é que mais de 1,5 milhão morreram.
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Offline Luiz Souto

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #313 Online: 05 de Dezembro de 2010, 00:07:51 »
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Não Haverá Vencedores

Marcelo Freixo      
Ter, 30 de novembro de 2010 14:06

Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública do Rio terá de passar pela garantia dos direitos dos cidadãos da favela


Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de uma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outro tempo e lugar.
Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida.

Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa.

As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.

O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue, sim, é real, porque prevalece na segurança pública a lógica da guerra. O Estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores.

Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, não faz tanto tempo assim, nesta mesma gestão do governo estadual, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo.

Tem sido assim no Brasil há tempos. Essa lógica da guerra prevalece no Brasil desde Canudos. E nunca proporcionou segurança de fato. Novas crises virão. E novas mortes. Até quando? Não vai ser um Dia D como esse agora anunciado que vai garantir a paz. Essa analogia à data histórica da 2ª Guerra Mundial não passa de fraude midiática.

Essa crise se explica, em parte, por uma concepção do papel da polícia que envolve o confronto armado com os bandos do varejo das drogas. Isso nunca vai acabar com o tráfico. Este existe em todo lugar, no mundo inteiro. E quem leva drogas e armas às favelas?

É preciso patrulhar a baía de Guanabara, portos, fronteiras, aeroportos clandestinos. O lucrativo negócio das armas e drogas é máfia internacional. Ingenuidade acreditar que confrontos armados nas favelas podem acabar com o crime organizado. Ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo não resolve.

Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza -onde há poder e dinheiro. E, na origem da crise, há ainda a desigualdade. É a miséria que se apresenta como pano de fundo no zoom das câmeras de TV. Mas são os homens armados em fuga e o aparato bélico do Estado os protagonistas do impressionante espetáculo, em narrativa estruturada pelo viés maniqueísta da eterna "guerra" entre o bem e o mal.

Como o "inimigo" mora na favela, são seus moradores que sofrem os efeitos colaterais da "guerra", enquanto a crise parece não afetar tanto assim a vida na zona sul, onde a ação da polícia se traduziu no aumento do policiamento preventivo. A violência é desigual.

É preciso construir mais do que só a solução tópica de uma crise episódica. Nem nas UPPs se providenciou ainda algo além da ação policial. Falta saúde, creche, escola, assistência social, lazer.

O poder público não recolhe o lixo nas áreas em que a polícia é instrumento de apartheid. Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública terá de passar pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos da favela.

Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de "guerra"- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.

Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário...

Marcelo Freixo, professor de história, deputado estadual (PSol-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

{Publicado na Folha de São Paulo, no domingo, 28 de novembro de 2010]

 
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline Geotecton

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #314 Online: 05 de Dezembro de 2010, 00:18:22 »
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Não Haverá Vencedores

Marcelo Freixo      
Ter, 30 de novembro de 2010 14:06
[...]
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de "guerra"- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.

Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário...

Marcelo Freixo, professor de história, deputado estadual (PSol-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

[Publicado na Folha de São Paulo, no domingo, 28 de novembro de 2010]

Sem entrar no mérito, mas como é que o autor chegou a este número?

Pesquisa ou "achismo ideológico"?
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Offline Luiz Souto

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #315 Online: 05 de Dezembro de 2010, 00:20:04 »
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A Crise no Rio e o pastiche midiático

Luiz Eduardo Soares      
Ter, 30 de novembro de 2010 14:41

Policial mira sua arma sobre a favela
Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço- o por ética - supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu-, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor.
Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto - ou sob tanta pressão - quanto os jornalistas.

Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:

(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.

(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido - em uma palavra, banido-, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?

(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei "as aspas" que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, "especialistas", lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas -nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam.

Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.

Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na seqüência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:

(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?

Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia.  Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?

Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, seremos condenados às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.

A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.

A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.

(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?

Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos "arregos" celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.

Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la - isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia - teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.

Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.

Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas - mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente.

O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida em que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas.

Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.

(c) O Exército deveria participar?

Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.

E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.

(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?

Claro. Mais uma vez.

(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o "espírito cooperativo", ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.

Palavras Finais

Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa

"Mutirões pela Paz", que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com "p" minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do tenente coronel Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.

O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios - as bandas podres das polícias - prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.

Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção?

Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?

As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea.

O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável.

Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.

E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.

Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.

O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.

Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.

Luiz Eduardo Soares é mestre em Antropologia, doutor em Ciência Política com pós-doutorado em Filosofia Política. Foi secretário nacional de Segurança Pública (2003) e coordenador de segurança, justiça e cidadania do estado do RJ (1999/2000).

27-Nov-2010

Fonte: Correio da Cidadania

 
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #316 Online: 05 de Dezembro de 2010, 00:24:28 »
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Não Haverá Vencedores

Marcelo Freixo      
Ter, 30 de novembro de 2010 14:06
[...]
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de "guerra"- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.

Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário...

Marcelo Freixo, professor de história, deputado estadual (PSol-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

[Publicado na Folha de São Paulo, no domingo, 28 de novembro de 2010]

Sem entrar no mérito, mas como é que o autor chegou a este número?

Pesquisa ou "achismo ideológico"?

Bom, dá para fazer uma contagem de quantos meninos estão no tráfico dentro da população da favela. Se tem 150mil habitantes, haveria 1500 traficantes representando 1%. No caso esses números são próximos dos reais ?
--
Si hemos de salvar o no,
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Offline Luiz Souto

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #317 Online: 05 de Dezembro de 2010, 00:33:35 »
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Não Haverá Vencedores

Marcelo Freixo      
Ter, 30 de novembro de 2010 14:06
[...]
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de "guerra"- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.

Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário...

Marcelo Freixo, professor de história, deputado estadual (PSol-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

[Publicado na Folha de São Paulo, no domingo, 28 de novembro de 2010]

Sem entrar no mérito, mas como é que o autor chegou a este número?

Pesquisa ou "achismo ideológico"?

Os números terminados em 90 ou 99 tem um impacto psicológico ( é só ver as ofertas de R$..,99) , e acho que foi usada aqui como figura de retórica mais do que um dado estatístico,
Mas se levarmos em conta que o complexo do Alemão têm 30 mil residências e o cálculo era de que haveriam escondidos lá 600 traficantes, teríamos ,para em torno de 120 mil habitantes ( 4 habitantes/casa). 0,5% envolvidos com o tráfico. Um grupo com tamanho de 1 a 2 % de uma população , desde que armado e organizado ,pode controlá-la.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Dbohr

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #318 Online: 05 de Dezembro de 2010, 08:22:20 »
Uma que ouvi no rádio e me deixou muito satisfeito é que as centrais de Gatonet foram desmanteladas pela polícia para em seguida as operadoras começassem a vender pacotes na legalidade. E olhem só, tinha fila dando volta! Um cidadão entrevistado pela CBN declarou: "não sou bandido, quero pagar pelas coisas que uso. Mas eu era obrigado pelo tráfico a fazer gatonet".

:ok:

Offline Geotecton

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #319 Online: 05 de Dezembro de 2010, 08:30:06 »
Uma que ouvi no rádio e me deixou muito satisfeito é que as centrais de Gatonet foram desmanteladas pela polícia para em seguida as operadoras começassem a vender pacotes na legalidade. E olhem só, tinha fila dando volta! Um cidadão entrevistado pela CBN declarou: "não sou bandido, quero pagar pelas coisas que uso. Mas eu era obrigado pelo tráfico a fazer gatonet".

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Offline Derfel

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #320 Online: 05 de Dezembro de 2010, 08:47:32 »
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Não Haverá Vencedores

Marcelo Freixo      
Ter, 30 de novembro de 2010 14:06
[...]
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de "guerra"- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.

Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário...

Marcelo Freixo, professor de história, deputado estadual (PSol-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

[Publicado na Folha de São Paulo, no domingo, 28 de novembro de 2010]

Sem entrar no mérito, mas como é que o autor chegou a este número?

Pesquisa ou "achismo ideológico"?

Nem pesquisa nem achismo. É uma hipérbole e uma figura de retórica, acho que fica claro no texto, com o objetivo de dizer que a imensa maioria é honesta. Algo como dizer para "não jogar o tonel fora por causa de uma maçã podre".

Offline Derfel

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #321 Online: 05 de Dezembro de 2010, 08:50:37 »
Não tinha visto ainda as respostas do Fzapp e do Luiz Souto. :)

Offline Geotecton

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #322 Online: 05 de Dezembro de 2010, 08:53:18 »
Nem pesquisa nem achismo. É uma hipérbole e uma figura de retórica, acho que fica claro no texto, com o objetivo de dizer que a imensa maioria é honesta. Algo como dizer para "não jogar o tonel fora por causa de uma maçã podre".

Eu não tenho dúvida que o autor usou de figuras de linguagem.

O ponto é que, ao meu ver, esta porcentagem de honestos não existe em lugar nenhum.


P.S.

Pode ser apenas que o meu cinismo esteja re-aflorando após um longo estado de dormência.
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Offline uiliníli

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #323 Online: 05 de Dezembro de 2010, 11:03:32 »
Concordo, Geo. Entretanto eu acho que o Freixo ainda está certo em dizer que proporcionalmente há mais gente honesta nas favelas do que nos nossos parlamentos.

Offline FZapp

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Re: Semana atípica no Rio de Janeiro
« Resposta #324 Online: 05 de Dezembro de 2010, 11:25:12 »
Nem pesquisa nem achismo. É uma hipérbole e uma figura de retórica, acho que fica claro no texto, com o objetivo de dizer que a imensa maioria é honesta. Algo como dizer para "não jogar o tonel fora por causa de uma maçã podre".

Eu não tenho dúvida que o autor usou de figuras de linguagem.

O ponto é que, ao meu ver, esta porcentagem de honestos não existe em lugar nenhum.


P.S.

Pode ser apenas que o meu cinismo esteja re-aflorando após um longo estado de dormência.

Porcentagem de deshonestos é diferente de porcentagem de traficantes, cuidado...
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