Menores e mais fracos, 'baixinhos' do Barça desafiam padrões do futebol Com média de 1,77m e 73,2kg, jogadores do time catalão mostram que não é preciso força física para ter sucesso nos gramadosHouve uma época em que a seleção brasileira desafiou os adversários ‘ousando’ colocar em campo atletas franzinos. Foi o que aconteceu em 1970, na Copa do Mundo do México. "Quando a gente ia enfrentar os times europeus, eu tinha impressão de que ia jogar contra gigantes", lembra Tostão, um dos ‘baixinhos’ daquela super ofensiva equipe que deu espetáculo e conquistou o tri mundial com Clodoaldo, Gérson, Rivelino, Jairzinho e Pelé, além do próprio Tostão, do meio para a frente.
Atualmente, em uma época na qual, mais do que nunca, o porte físico é determinante no futebol, outro time desafia as tendências e prova que é possível encher os olhos dos torcedores e conquistar títulos sem abusar da força. É o Barcelona.
Assim como a lista de títulos da equipe catalã nos últimos anos, chama a atenção a ficha dos seus jogadores. De 15 dos atletas mais usados pelo técnico Pep Guardiola nessa temporada, apenas cinco têm mais de 1,80m e só três pesam mais que 80kg. Na média, o time tem 1,77m e 73,2kg. O Manchester United, adversário do Barça na final da Champions League, por exemplo, tem média de 1,81m e 78,2 kg.
Enquanto o United deve ter dois ‘cães de guarda’ à frente de sua defesa Carrick e Fletcher - na final da Champions e o Real Madrid apelou para três jogadores fortes para tentar bater o Barça nas semis do mesmo torneio Pepe, Lass Diarra e Xabi Alonso -, o time de Guardiola joga com Xavi e Iniesta na intermediária e apenas Busquets fugindo da regra. Das três peças-chave do esquema do Barcelona, Xavi, Iniesta e Messi, nenhum possui mais que 1,70m e 70kg.
"Voltou-se a valorizar o atleta habilidoso, leve e que joga trocando passes e driblando. Isso estava cada vez mais em desuso. Um time que tem jogadores muito altos e fortes não vai conseguir jogar tocando a bola, driblando. O Barcelona é hoje o que o Brasil representou na nossa época", diz Tostão.
Veja os dados de 15 dos principais atletas do Barcelona:Valdés - 1,83m e 78 kg Busquets - 1,89m e 73 kg Messi 1,69m e 67kg Dani Alves - 1,73m e 64 kg Iniesta - 1,70m e 65 kg Maxwell 1,77m e 81kgPiqué - 192m e 85 kg Xavi - 1,70m e 68 kg Adriano 1,72m e 67kgPuyol - 1,78 cm e 80 kg Pedro - 1,69m e 64 kg Mascherano 1,74m e 86kgAbidal 1,86m e 75 kg Villa - 1,75m e 69kg Keita 1,83m e 77kg(Fonte: Uefa.com)
Mas como desde a Copa de 70, após 40 anos de evolução do biótipo do jogador profissional, uma equipe ainda consegue ter sucesso fugindo tanto do padrão dominante no futebol?
"É uma característica de jogo que favorece o biótipo do atleta do Barça. São jogadores mais leves, muito mais habilidosos, tendo como característica principal o toque de bola, o domínio. O jogo deles é baseado em uma movimentação muito grande", analisa o especialista Turíbio Leite de Barros, doutorado em fisiologia do exercício.
"E são jogadores na maioria experientes. Uma das grandes queixas dos jogos contra o Real recentemente era de que eles - o Barcelona - tinham muita malandragem e em qualquer trombada e choque físico mais forte já caiam meio que simulando jogadas violentas. Acho que eles encontraram um mecanismo baseado na malandragem e na experiência para se defender", completa.
Para Tostão, o Barcelona pode influenciar o mundo do futebol e ajudar a acabar com uma "crescente supervalorização da ciência do esporte". O craque considera exagerado o cuidado com o físico do atleta hoje em dia. Já Turíbio acredita que alguns jogadores realmente precisam de cuidados especiais.
"Está mesmo existindo uma supervalorização. Não é todo jogador que precisa ter esse ganho de massa muscular, esse programa de fortalecimento. Mas depende das características de cada um. O Kaká, pelo estilo de jogo, precisa ter esse tipo de estrutura, porque não é um driblador, não é um jogador ágil. Ele joga em direção ao gol, se impondo fisicamente. Ao contrário do Neymar, que é um jogador leve e precisa ter essa leveza", explica o especialista.
Ambos concordam, porém, que é preciso mais que jogadores rápidos e leves para se criar novos Barças. "A Espanha e o Barcelona juntaram jogadores que são baixos, leves e que são muito bons. Está havendo uma coincidência de gerações. Mas não adianta ser baixo e leve e não ser diferenciado. O mais importante não é o tamanho, e sim o talento para jogar bola", diz Tostão "Construir um estilo de jogo com esse material humano é ótimo. Mas essa não é a realidade do futebol. Você vai ter sempre condição de mesclar jogadores rápidos com jogadores mais fortes", concluiu Turíbio.
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