Adotando a ausência da figura paterna como causa principal, o mesmo se aplica a filhos de mães solteiras, viúvas, separadas ou casadas com homens que passam longos períodos ausentes devido ao trabalho ou de pais simplesmente distantes, embora fisicamente presentes e de forma mais ou menos uniforme em todas as camadas sociais? E, embora majoritários no ambiente carcerário, que porcentagem esses representam no montante de filhos com figura parterna ausente?
Os dados parecem coerentes com o "grau" de ausência paterna: grave mesmo é quando o pai some no mundo ou evita a convivência com o filho, deixando na criança uma mensagem muito clara e renitente de "não me importo com você". Isso é presumivelmente pior que pai falecido, já que no segundo caso a criança tem mais condições de assimilar a razão da ausência. Já os pais relapsos ou que viajam muito tendem a causar danos mais moderados, e inclusive são meio que "padrão" na sociedade.
Eu concordo que parecem coerentes sim, mas acredito que se isolássemos outro aspécto do mesmo grupo, por exemplo, social, econômico, cultural, os dados pareceriam coerentes no mesmo grau que a ausência de uma figura paterna. E digo isso porque, não raro, encontro explicações com ênfase em diferentes aspéctos para os mesmos comportamentos, às vezes contraditórias, mas que parecem bastante coerentes isoladamente. De forma que parece impossível diversas vezes isolar de fato os aspéctos abordados.
Outra evidência importante é a do "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Frequentemente acontece que os pais que dão conselhos mas não os seguem encontram dificuldade em convencer os filhos de sua validade. Ou seja, a atitude observada no pai/mãe chega a ser mais importante que a ensinada.
Uma das minhas maiores implicâncias com a psicologia é justamente essa intromissão na educação, gerando pais inseguros e cheios de culpa. Um verdadeiro bombardeio de contradições para deixar qualquer um paralisado. Tudo pode traumatizar a criança, de um presente até um castigo na hora errada. Não me estranha que encontrem dificuldade em convencer os filhos, já que eles mesmos não estão seguros, sejam ou não exemplares. A conduta vacilante é que me parece um grande problema.
Falando por mim, meus pais nem sempre seguiam os conselhos que davam, coisa que, aliás, só fui perceber quando cresci e descobri que eles eram humanos e não os super-heróis que eu pensava, sempre tão seguros e cheios de razão sobre tudo, porque eram convincentes. E isso me bastou para validar seus conselhos.
E a psicologia está tão enraizada que é quase tão espontânea quanto respirar. Como é que se cria um filho num mundo onde todos acham que sabem melhor do que você como fazê-lo sem uma boa dose de ceticismo com todas essas fórmulas que explicam tudo, cada qual apontando numa direção diferente? Difícil!
Enfim, não é que a psicologia seja inútil. A psiquiatria que o diga. Nunca teve uma clientela tão grande.

A sério, eu leio, observo, analiso, levo em consideração e inclusive, elaboro minhas próprias teses intuitivamente, é meio inevitável, só não consigo me convencer completamente.
