Bom dia pessoal,
Entrei neste "Clube Cético" apenas para poder conversar neste tópico.
Em primeiro lugar quero dizer que a memética não tem relação NENHUMA com o evolucionismo cultural de Herbert Spencer e outros. Este evolucionismo, que foi refutado por Franz Boas e outros, falava do progresso da cultura em termo de "melhoramento", de modo que seria possível inferir um valor qualitativo para diferentes culturas. Isso não existe mais. A memética fala em evolução no sentido darwinista, ou seja, evoluir não quer dizer melhorar. Além disso, suas analogias são baseadas na genética das populações e na epidemiologia, áreas que nem mesmo existiam na época de Spencer.
Respondendo à pergunta inicial deste tópico, quero dizer que para a memética não é problema absolutamente NENHUM a existência de populações que mantêm o mesmo estado por milhares de anos exatamente do mesmo modo que para a biologia não é problema nenhum a existência de formas vivas que mantêm o mesmo estado por milhões de anos (talvez bilhões, no caso de bactérias). Do mesmo modo que não há obrigação de evoluir (no sentido de MUDAR e não de melhorar) na biologia, não há também na memética. A analogia vale aqui também.
Por último quero comentar que a memética não é apenas uma troca de verbetes, se fosse ela não seria tão ODIADA nos círculos das ciências humanas e sociais. A idéia de que a cultura e copiada e segue as mesmas regras que a evolução biológica está LONGE de ser uma implicação comum. A grande novidade dela é que podemos usar os modelos matemáticos da biologia evolutiva e da epidemiologia para estudar a cultura. Algo que nunca foi feito antes.
OBS: O falsificacionismo popperiano não funciona em boa parte da biologia evolutiva, que não é capaz de fazer previsões. Nenhum biólogo consegue dizer como determinada forma de vida vai evoluir em seguida (a não ser em experimentos de laboratório MUITO controlado onde ele pode dar um bom palpite estatístico). Mas quando a evolução ocorre ele pode explicar porque ocorreu daquele modo. O mesmo com a memética. Os modelos tradicionais de Epistemologia foram pensados para dar conta da química, física e matemática. O surgimento e fortalecimento da biologia como “hard science” praticamente acabou com a Filosofia da Ciência tradicional e criou a Filosofia da Biologia (e, por conseqüência, a Filosofia da física, da química, da matemática etc.)
Grande abraço,
Gustavo.