Autor Tópico: Memética...De novo  (Lida 13997 vezes)

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Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #25 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 08:19:00 »
Não digo que a memética não faz nenhum sentido, até consigo ver uma correspondência com ela e outras teorias sociais, o sentido que "meme" é empregado me lembra muito o "fato social" empregado por Durkheim... mas usar essa linguagem ligada à biologia e à evolução darwiniana implica algumas coisas que não concordo... a adaptação, a essência biológica da sociedade e coisas do tipo.

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Offline VSR

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Re: Memética...De novo
« Resposta #26 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 18:38:10 »
Essa semana ando meio ocupado com questões da faculdade e estágio, mas quando resolver posto aqui, não tenho muito tempo de elaborar uma boa resposta... quem sabe amanhã ou quinta.
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Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #27 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 19:15:57 »
Tranquilo. Aqui as aulas começaram também. Fico no aguardo.

Offline Adriano

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Re: Memética...De novo
« Resposta #28 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 20:07:53 »
A informação tem tudo a ver com meme, na minha opinião. O crescimento da ciência da informação e das respectivas ciências que estudam a informação (sociologia, economia e política, por ex.) demonstram o peso da filosofia da informação para entender o atual mundo informacional em que vivemos.

Principalmente por ser o modelo computacional o utilizado como metáfora evolutiva dentre os líderes da memética, Dawkins e Dennett, também chamados de totalitaristas cibernéticos (Jaron Lanier).

Está certo. A memética terá que, mais cedo ou mais tarde, definir "informação" e especificar como ela é passada. Apenas creio que isso não seja absolutamente necessário no momento. A genética também precisa desta definição, mas trabalha muito bem com definições provisórias e pragmáticas. Além disso, a biologia evolutiva surgiu e se desenvolveu por quase 100 anos sem uma boa definição de informação e sem saber como ela era passada, apenas que era passada. Não vejo motivos para que a memética não faça o mesmo. Me parece que o mais atravanca o desenvolvimento da memética, tirando, é claro, a dificuldade inerente que é fazer pesquisas com humanos, é a própria Filosofia da Ciência, pois esta insiste em colocar limites rígidos e questões conceituais para o desenvolvimento de qualquer nova ciência. O fato é que se houvessem filósofos da ciência como os de hoje durante o nascimento do darwinismo, este não teria sido capaz de dar conta das questões postas e talvez não tivesse se desenvolvido.
A atual filosofia da ciência precisou fazer limitações mais enfáticas sobre a ciência devido a grande emergência da pseudo-ciência e mesmo da religião. Estes são os que conhecemos por memes viróticos e que atrasam o desenvolvimento dos bom programas científicos.

Eu não vejo problemas com a filosofia da ciência, justamente por encontrar uma grande aproximação desta com evolução, como no caso da epistemologia evolucionária e numa avaliação mais completa de toda a obra de Popper, que foi o principal destaque em filosofia da ciência. Os demais são ainda mais abertos quanto ao entendimento de ciência.

Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #29 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 20:27:49 »
Concordo que o surto de pseudo-ciências e religião, mas principalmente de relativismo epistêmico, nos faz ficar protetores da ciência e da busca por evidências. Mas infelizmente não foi possivel criar qualquer critério de demarcação aceitável. Popper, de fato, é um dos principais expoentes nesta tentativa de demarcar a ciência, mas dentro do critério dele as ciências históricas, como é boa parte da biologia evolutiva, não seriam consideradas ciência. Então seu critério falha. Além disso, Kuhn mostrou muito bem que o critério de falsificação não pode ser tão rigoroso quanto gostaríamos, senão TODA ciência seria falsa, pois não há ciência que dê conta de todos os fatos que deveria dar.
Também foi louvável a tentativa de Popper de uma epistemologia evolucionária, mas não nos devemos deixar enganar, ela não era um naturalista ou materialista. Estava mais próximo do dualismo ou espiritualismo em sua filosofia da mente.

Cabe lembrar também que não só a pseudo-ciência e a religião são memes viróticos, mas também a ciência, a filosofia, a sociologia e tudo o mais que seja culturalmente passado.

Offline Adriano

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Re: Memética...De novo
« Resposta #30 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 20:52:42 »
Memes viróticos são os aspectos culturais enviesados e problematicos para a humanidade. Tem uma citação de Dawkins que ele equipara os memes sadios com programas de softwares. Sendo assim, a filosofia e as ciências humanas, para mim, entrariam nesta classificação. Os demais são comparados com os vírus de computador mesmo.

E mesmo nas ciências humanas existe muita coisa para ser filtrada que as ciências naturais tendem a ajudar. E ainda assim, a classificação entre ciências naturais e ciências humanas é tão arbitrária quanto genes e memes. Considerando que genes são o hardware e memes o software, não existe uma separação tão signitivativa.

E Popper adentrou as ciências humanas através da economia, além de forte influência política através de sua obra.
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Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #31 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 21:12:55 »
Concordo que a demarcação entre ciências humanas e naturais é arbitrária, mas infelizmente o próprio Popper não conseguiu dar conta disso e criou um limite de demarcação que não é mais aceitável. Que fique bem claro: não tenho nada contra demarcar a ciência, mas não vejo ainda nenhum bom critério.

Não conheço esta citação de Dawkins, mas discordo veementemente que se possa fazer esta classificação qualitativa e valorativa dos memes baseados em fundamentos memético. Dennett é bem claro em relação a isso. Se Dawkins fez esta distinção, foi baseado em suas próprias pré-concepções e não em nada que possa derivar da teoria memética. Memes são chamados de "viróticos" porque sua propagação pode ser estudada pelos modelos da epidemiologia, isso vale tanto para Religião quanto para Ciência. Ambos podem ser estudados pelo mesmo modelo de um vírus sendo transmitido em uma população. Não existe "memes bons" e "memes ruins" dentro do estudo memético, mas sim memes que são capazes de se propagar e por isso se tornam mais comuns, e memes que não são tão capazes, e por isso se tornam mais raros e tendem a desaparecer. Do mesmo modo é a biologia evolutiva e a genética de populações.

Offline Adriano

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Re: Memética...De novo
« Resposta #32 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 21:37:47 »
Tenho um entendimento diferente sobre memética. Já começo por discordar da teoria de gene egoísta e prefiro a de gene altruísta, que considera a evolução da ética e da estrutura social humana a partir da evolução.

Sendo assim considero as estruturas sociais construídas a partir destes memes estruturados em bons softwares. Os direitos humanos são um ótimo exemplo, assim como os estados e as nações.

A economia é a ciência elo entre as ciências naturais e as ciências humanas. E o modelo "computacional" que temos é o da espécie humana, onde a semelhança genética tem como base o 100% da nossa espécie. E a economia tem grande influência na biologia, seja na de Darwin através de Thomas Malthus, seja na de Dawkins, com base no fenótipo estendido. Podemos até considerar toda a civilização como parte deste fenótipo estendido.

Mas considero esta visão epidêmica da memética muito superficial. Sem contar que o ateísmo tem uma influência muito forte em Dawkins e Dennett.
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Offline Adriano

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Re: Memética...De novo
« Resposta #33 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 21:47:58 »
Citação de: Dawkins
A Ciência é um Vírus?

          Não. Não a menos que todos os programas de computador sejam vírus. Programas bons, úteis, se espalham porque as pessoas os avaliam, recomendam e repassam. Vírus de computador se espalham somente porque eles embutem as instruções codificadas: “Me espalhe”. Idéias científicas, como todos os memes, estão sujeitas a um tipo de seleção natural, e isto poderia parecer superficialmente como um vírus. Mas as forças seletivas que examinam as idéias científicas não são arbitrárias e caprichosas. Elas são regras de precisão, bem avaliadas, e não favorecem o comportamento egoísta insensato. Elas favorecem todas as virtudes expostas em livros padrão de ensino de metodologia: testabilidade, apoio de evidências, precisão, quantificabilidade, consistência, intersubjectividade, reproducibilidade, universalidade, progressividade, independência do ambiente cultural e assim por diante. A fé se espalha a despeito de uma total falta de qualquer uma destas virtudes.

          Você pode achar elementos de epidemiologia na expansão de idéias científicas, mas será epidemiologia largamente descritiva. A expansão rápida de uma boa idéia pela comunidade científica pode até se parecer com a descrição de uma epidemia de sarampo. Mas quando você examina as razões subjacentes você descobre que elas são boas, satisfazendo os padrões exigentes do método científico. Na história da expansão da fé você achará pouco mais que epidemiologia, e ainda mais epidemiologia causal. A razão porque uma pessoa A acredita em uma coisa e uma B acredita em outra é simples e unicamente que A nasceu em um continente e B em outro. Testabilidade, apoio evidencial e tudo mais não é nem mesmo remotamente considerado. Para a crença científica, a epidemiologia vem meramente muito depois e descreve a história de sua aceitação. Para a crença religiosa, a epidemiologia é a causa raiz.
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Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #34 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 21:51:36 »
Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que a teoria do gene egoísta não é contrária a existência do altruísmo, mas sim uma explicação deste e de como ele pode ter surgido e se propagado dentro da visão tradicional da teoria da evolução. Não há nada nesta teoria que possa ser considerada oposta a existência da coperação e muito menos dos direitos humanos ou da idéia de "nação".

Concordo que a economia tem grande influência na biologia e creio que o maior exemplo nem é Malthus, mas Mills, pois para alguns a teoria Darwinista é só uma adaptação deste para a biologia. Mas é preciso deixar claro que, para Dawkins, o fenótipo estendido diz respeito apenas as modificações no ambiente e/ou no comportamento que são diretamente derivadas dos genes. Deste modo grande parte da cultura humana não poderia ser explicada por ela. Exatamente por este motivo ele criou a memética. Os memes vivem nos corpos criados pelos genes, mas não são determinados por estes. Dawkins deixa isso claro e até por isso foi criticado por sociobiólogos.

Não vejo qual o problema do ateísmo e muito menos qual a sua relação com a memética e com a visão epidêmica... Por favor explique. Não há nada de superficial nesta visão, ela é a memética...

Offline Adriano

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Re: Memética...De novo
« Resposta #35 Online: 21 de Fevereiro de 2011, 22:42:58 »
Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que a teoria do gene egoísta não é contrária a existência do altruísmo, mas sim uma explicação deste e de como ele pode ter surgido e se propagado dentro da visão tradicional da teoria da evolução. Não há nada nesta teoria que possa ser considerada oposta a existência da coperação e muito menos dos direitos humanos ou da idéia de "nação".
Claro que não. A idéia de Dawkins é justamente o contrário e ainda maior. Ele tem uma ótima ética e além de tudo é um excelente divulgador da ciência. Eu que não me expresso tão bem com os meus posts  :P

E digo mais, Popper no seu último livro, Em busca de um mundo melhor tem essa visão parecida com a de Dawkins, de que somos todos filhos de uma célula inicial que deu origem a vida.

E a elaboração do livro Fenótipo estendido é uma resposta as críticas que recebeu com o livro O gene egoísta. Gosto deste biocentrismo, embora o egoísmo, enquanto algo positivo, é uma característica humana observada por Adam Smith, num contexto da filosofia natural e do nascimento da economia.

Concordo que a economia tem grande influência na biologia e creio que o maior exemplo nem é Malthus, mas Mills, pois para alguns a teoria Darwinista é só uma adaptação deste para a biologia. Mas é preciso deixar claro que, para Dawkins, o fenótipo estendido diz respeito apenas as modificações no ambiente e/ou no comportamento que são diretamente derivadas dos genes. Deste modo grande parte da cultura humana não poderia ser explicada por ela. Exatamente por este motivo ele criou a memética. Os memes vivem nos corpos criados pelos genes, mas não são determinados por estes. Dawkins deixa isso claro e até por isso foi criticado por sociobiólogos.

Não vejo qual o problema do ateísmo e muito menos qual a sua relação com a memética e com a visão epidêmica... Por favor explique. Não há nada de superficial nesta visão, ela é a memética...

Eu estudei um aprofundamento entre a epistemologia popperiana e a teoria evolutiva. Esta é uma influência muito forte no autor. Principalmente por considerar que as teorias rivais competem entre si. E mesmo Kuhn ainda considera os aspectos ambientais para a mudança do que ele chama de paradigma. Popper apenas analisa com mais profundidade estas mudanças. O seu foco é a falseabilidade que se aplica mais as ciências naturais. Porém mesmo assim teve grandes contribuições a economia.

A grande influência e até mesmo o modelo de Popper foi Einstein e a produção da teoria da relatividade. Sem contar a origem matemática e lógica da sua filosofia que lhe deu sustentabilidade acadêmica.

O ateísmo de Dawkins não tem problema algum, pelo contrário, ele é o grande "papa" do ateísmo atualmente. Eu mesmo sou um grande admirador  :D
Porém o ateísmo é muito mais profundo e antigo do que essa simples negação das atuais religiões devido a ética incipiente destas.

Eu prefiro a abordagem popperiana de ciência, de teorias (memeplexos) que rivalizam entre si, no qual as melhores teorias vencem, assim como as espécies na busca da sobrevivência.
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Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #36 Online: 22 de Fevereiro de 2011, 13:16:41 »
Acho que concordo com você, mas com o cuidado de ao dizer que "as melhores teorias vencem" deve ser deixado claro que são as melhores em se replicar e não as melhores em algum sentido ético ou moral. Uma péssima idéia no sentido ético pode ser uma ótima replicadora, a xenofobia é talvez o melhor exemplo disso.

Quanto ao texto de Dawkins, está claro que segundo a memética até a ciência pode ser estudada pelos modelos epidemiológicos, só que, para ELE, o ambiente que os memes científicos se adaptam é um "bom" ambiente, pois é derivado de padrões científicos. No entanto, retorno ao que eu falei: isso é um juízo valorativo DELE e não da memética. A memética, enquanto ciência, não deve dizer qual ambiente é moralmente bom e qual não é, assim como a biologia, enquanto ciência, não deve fazer tais juízos de valor. E programas de computador podem sim ser tratados como vírus, não há problema nenhum com isso, eles só não são vírus de computador, mas sim vírus sociais. Veja o surgimento das redes sociais (orkut, facebook, twitter), eles mostram uma expansão claramente virótica. Mas isso não quer dizer que são bons ou ruins, apenas que são bons replicadores sociais.

Offline Feliperj

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Re: Memética...De novo
« Resposta #37 Online: 22 de Fevereiro de 2011, 13:27:03 »
O problema é que o bom ambiente ou o ambiente ruím, o bom meme e o meme ruím dependen da visão de alguém sobre algo. Ou seja, é uma definição arbitrária.

Abs
Felipe

Offline Adriano

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Re: Memética...De novo
« Resposta #38 Online: 22 de Fevereiro de 2011, 13:38:03 »
Acho que concordo com você, mas com o cuidado de ao dizer que "as melhores teorias vencem" deve ser deixado claro que são as melhores em se replicar e não as melhores em algum sentido ético ou moral. Uma péssima idéia no sentido ético pode ser uma ótima replicadora, a xenofobia é talvez o melhor exemplo disso.
A xenofobia é um meme derivado do patriotismo e do nacionalismo. A idéia por trás da xenofobia é que os estrangeiros irão prejudicar o desenvolvimento do país. Eu ainda aposto da construção de "civilizações" meméticas, como o próprio entendimento de espécie que temos. A estruturação da sociedade humana é o que estudamos nas ciências humanas. A linguagem ainda é a base da diferenciação da informação memética e da informação genética e do nascimento da história na sociedade humana, que iniciou-se através da invenção da escrita.
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Offline VSR

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Re: Memética...De novo
« Resposta #39 Online: 27 de Fevereiro de 2011, 14:46:13 »
Bom... tentarei explicar agora o que acho...
Até consigo aceitar algumas coisas da memética, mas ela faz algumas implicações que discordo.
Para começar essa idéia de adaptação e "evolução", acho que tais conceitos no aspecto social são puramente sociológicos e não naturais, acho difícil estabelecer algo e dizer "para esse ambiente é melhor ser X do que Y", se formos para a adaptação no sentido biológico mesmo seria algo mais sobrevivência mesmo, a adaptação que mais ajuda na sobrevivência, e nuam sociedade não é bem assim, já que a sobrevivência é apenas o primeiro passo, e acima disso a coisa começa ficar um tanto quanto "relativista", é fácil dizer que pessoas da classe média vivem melhor que mendigos, mas não tem com dizer que vivem melhor do que  monges budistas. Eu entendo que a memética não diz bem isso, talvez o meme tenha que se adaptar ao ambiente social, mas isso acaba distanciando a teoria desse principio biológico...

outra coisa que me incomoda é que uma conseqüência da memética é admitir que exista de fato uma "essência biológica na cultura" a cultura seria um resultado de trocas de memes e adaptações deles aos meios, mas vejo a cultura como uma criação puramente social, os "memes" ou fatos sociais apenas teriam sentido dentro da própria estrutura da sociedade pois são criações internas à elas e não idéias "adaptadas"...

até vejo relevância nas idéias meméticas, mas apenas quando elas se "adaptam" às idéias mais sociológicas, perdendo um pouco o caracter biológico e genético, mas então ela acaba perdendo aquilo que "tem de mais", se aproximando de outras teorias sociais como a da escola sociológica francesa ou estruturalista, que ao meu ver, levariam vantagem sobre a memética por usar um linguajar próprio para a cultura, algo criado pelo social e que se reflete sobre o social...
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Offline Feliperj

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Re: Memética...De novo
« Resposta #40 Online: 27 de Fevereiro de 2011, 18:57:04 »
O problema da memética é que ela é uma pseudo-ciência. Não é falseável(muito interpretativa), o seu conceito principal é mal definido e infinitamente recursivo sobre si mesmo.

Se outro tivesse porposto esta "teoria científica", estaria na fogueira até hj!!! Mas como foi o big Richard, estão todos batendo palmas e trabalhando duro nela, criando outras coisas, como os themes(achei patética a palestra da susan sobre o tema), propostos pela Suasan.....

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Re: Memética...De novo
« Resposta #41 Online: 09 de Março de 2011, 10:05:58 »
O problema da memética é que ela é uma pseudo-ciência. Não é falseável(muito interpretativa), o seu conceito principal é mal definido e infinitamente recursivo sobre si mesmo.

Se outro tivesse porposto esta "teoria científica", estaria na fogueira até hj!!! Mas como foi o big Richard, estão todos batendo palmas e trabalhando duro nela, criando outras coisas, como os themes(achei patética a palestra da susan sobre o tema), propostos pela Suasan.....

Abs
Felipe

Feliperj,

Você está seguindo e terminologia Popperiana, mas deveria saber que ela está ultrapassada. Por esta terminologia a Biologia Evolutiva também não é falseável e grande parte da física já foi falseada!! No entanto, sabemos muito bem que ambas são ciências "hard" e muito bem fundamentadas, o que significa que o problema é com a Filosofia de Popper. A Memética é tão "não falseável" quanto à biologia evolutiva!! Que fique claro: não estou fazendo uma crítica à biologia evolutiva, mas sim ao falsificacionismo de Popper.

Além disso, se você pegar a fundo a biologia, verá que o conceito de "gene" também não é bem definido. São usadas atualmente na biologia cerca de 20 definições diferentes. A definição clássica de gene como um exon que codifica uma proteína não é boa nem mesmo para a biologia molecular (!!!!), pois nem todos codificam uma proteína (alguns são apenas sinais de controle e outros codificam mais de uma proteína) e há suspeita que os introns tenham papel a desempenhar no caso de códons que podem ser transcritos em diferente aminoácidos (códons redundantes). Além disso tudo, por mais famosa que seja esta clássica definição de gene, ela EM NADA serve para a biologia evolutiva, que usa outra definição em termos de informação e não de "coisa física". Os memes são igualmente definidos em termos de informação.

Por último, qual o problema de ser recursivo? O  conceito de "cultura" também o é... o conceito de "palavra" também... o conceito de "conteito" então nem se fala... E o conceito de "físico" é recursivo? Pois ele só pode ser expresso por um ser físico e de maneira física. Qual o problema? O meme é, ele mesmo, um meme. Qual o problema? A "palavra" é ela mesma uma palavra... e... ??

OBS: Embora seja uma das defensoras mais famosas, concordo que Susan Blackmore atrapalha mais do que ajuda a memética!

Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #42 Online: 09 de Março de 2011, 10:16:15 »
Bom... tentarei explicar agora o que acho...
Até consigo aceitar algumas coisas da memética, mas ela faz algumas implicações que discordo.
Para começar essa idéia de adaptação e "evolução", acho que tais conceitos no aspecto social são puramente sociológicos e não naturais, acho difícil estabelecer algo e dizer "para esse ambiente é melhor ser X do que Y", se formos para a adaptação no sentido biológico mesmo seria algo mais sobrevivência mesmo, a adaptação que mais ajuda na sobrevivência, e nuam sociedade não é bem assim, já que a sobrevivência é apenas o primeiro passo, e acima disso a coisa começa ficar um tanto quanto "relativista", é fácil dizer que pessoas da classe média vivem melhor que mendigos, mas não tem com dizer que vivem melhor do que  monges budistas. Eu entendo que a memética não diz bem isso, talvez o meme tenha que se adaptar ao ambiente social, mas isso acaba distanciando a teoria desse principio biológico...

outra coisa que me incomoda é que uma conseqüência da memética é admitir que exista de fato uma "essência biológica na cultura" a cultura seria um resultado de trocas de memes e adaptações deles aos meios, mas vejo a cultura como uma criação puramente social, os "memes" ou fatos sociais apenas teriam sentido dentro da própria estrutura da sociedade pois são criações internas à elas e não idéias "adaptadas"...

até vejo relevância nas idéias meméticas, mas apenas quando elas se "adaptam" às idéias mais sociológicas, perdendo um pouco o caracter biológico e genético, mas então ela acaba perdendo aquilo que "tem de mais", se aproximando de outras teorias sociais como a da escola sociológica francesa ou estruturalista, que ao meu ver, levariam vantagem sobre a memética por usar um linguajar próprio para a cultura, algo criado pelo social e que se reflete sobre o social...

VSR,

Você não está lendo bem a memética. Ela NÃO diz que a cultura deve ser entendida dentro da biologia ou como uma tentativa de sobrevivência biológica. Isso quem diz é a Psicologia Evolutiva e a Sociobiologia. Embora Dawkins (e eu) defenda estas teorias também, ele  mesmo diz que a memética é, em parte, oposta a elas!! Relata, inclusive, que foi chamado de "vira-casaca" pelos sociobiólogos!! A memética estuda a cultura nela mesma, INDEPENDENTE da biologia!! A biologia só serve de ANALOGIA para a criação de modelos explicativos, nada mais. Ela não biologiza a cultura, muito pelo contrário, ela desbiologiza a própria biologia ao dizer que a evolução por seleção natural não é um processo tipicamente biológico, mas sim universal (pode acontecer em outros susbtratos). O meme do budismo, por exemplo, nunca poderia ser biologicamente passado, pois os monges não deixam prole biológica. Tal meme é passado CULTURALMENTE, assim como TODOS os demais memes. O que importa para o meme é sua sobrevivência CULTURAL e não a sobrevivência física e biológica dos corpos que o transmitem (mas é claro que uma coisa pode ajudar a outra, aí temos a teoria da co-evolução gene-meme, ver Cavalli-Sforza).

Nada do que você disse é uma crítica à memética pelos simples motivo de que tudo o que você disse está certo!! A memética concorda com TUDO o que você disse!!!

Abraços.

Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #43 Online: 09 de Março de 2011, 10:19:48 »
Sugiro a leitura para os interessados no tema:

http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/51/artigo185175-1.asp

Grande abraço,
Gustavo.

Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #44 Online: 09 de Março de 2011, 13:16:41 »
Sugiro também a leitura deste texto por um colega da USP:

http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/32/artigo101381-1.asp

Offline Feliperj

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Re: Memética...De novo
« Resposta #45 Online: 09 de Março de 2011, 15:46:15 »
Ola Gustavo (ainda estou com problmeas para responder aqui no site, por isto a confusão. O que nõ estive comentado, será comentado em nova resposta),

Tem um livro chamado "O que é ciência afinal" qeu faz uma excelente análise da filosofia da ciência e tb uma crítica ao Falsificassionismo de Popper, creio que vc já deve ter lido (é o Alan F Chalmers)

"Você está seguindo e terminologia Popperiana, mas deveria saber que ela está ultrapassada. Por esta terminologia a Biologia Evolutiva também não é falseável e grande parte da física já foi falseada!! No entanto, sabemos muito bem que ambas são ciências "hard" e muito bem fundamentadas, o que significa que o problema é com a Filosofia de Popper. A Memética é tão "não falseável" quanto à biologia evolutiva!! Que fique claro: não estou fazendo uma crítica à biologia evolutiva, mas sim ao falsificacionismo de Popper."

Felipe - Não concordo. A biologia evolutiva é falseável (só não faz previsões): basta encontrarmos um fóssil de um homem moderno junto com fósseis de dinossauros. Com relação à física, não entendi o que vc falou. Se está falando que as teorias apresentam problemas, isto não significa que o rpoblema está com a filosofia de Popper, mas sim com a própria teoria. Agora, se não temos nada melhor para substituir a teoria com problema, a ciência opera desta forma, mantendo o "melhor" modelo possível e procurando alternativas (radicais ou alterações menores via ad hocs falseáveis, no modelo "vigente")

"Além disso, se você pegar a fundo a biologia, verá que o conceito de "gene" também não é bem definido. São usadas atualmente na biologia cerca de 20 definições diferentes. A definição clássica de gene como um exon que codifica uma proteína não é boa nem mesmo para a biologia molecular (!!!!), pois nem todos codificam uma proteína (alguns são apenas sinais de controle e outros codificam mais de uma proteína) e há suspeita que os introns tenham papel a desempenhar no caso de códons que podem ser transcritos em diferente aminoácidos (códons redundantes). Além disso tudo, por mais famosa que seja esta clássica definição de gene, ela EM NADA serve para a biologia evolutiva, que usa outra definição em termos de informação e não de "coisa física". Os  memes são igualmente definidos em termos de informação."

Felipe - O conceito pode estar, mas ele EXISTE, este conceito teve como origem uma entidade física real, com uma unidade mínima reconhecível. Esta analogia não é válida, em minha opinião.


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Felipe
« Última modificação: 09 de Março de 2011, 15:50:18 por Feliperj »

Offline Feliperj

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Re: Memética...De novo
« Resposta #46 Online: 09 de Março de 2011, 16:05:06 »
Continuação :

Ps  . o próprio Popper, que brigava muito com a falseabilidade da evolução, acabou reconhecendo esta como falseável(sei que é um argumento de autoridade, mas vindo do criador da filosofia, acho que vale a pena mencionar).

"Por último, qual o problema de ser recursivo? O  conceito de "cultura" também o é... o conceito de "palavra" também... o conceito de "conteito" então nem se fala... E o conceito de "físico" é recursivo? Pois ele só pode ser expresso por um ser físico e de maneira física. Qual o problema? O meme é, ele mesmo, um meme. Qual o problema? A "palavra" é ela mesma uma palavra... e... ??"

O problema é que estamos falando de um conceito que será a base para uma possível teoria científica. Termos recursividade em nossa linguagem é uma coisa, sobre conceitos usados em teorias acho que é mais ou menos como encontrarmos infinitos dentro da física(aliás, não entendi o que vc falou sobre o físico).

Veja que temos problemas na conceituação dos genes, mas não nas unidades mínimas que são a base para o desenvolvimento e explicações que a teoria dos genes nos dá e, repito, eles tem EXISTÊNCIA física.

A Antropologia e Sociologia explicam muito bem a evolução cultural, e a teoria dos memes, em minha opinião, faz uma inversão interpretativa da relação entre ideias\conceitos e cérebro que, claro, já resolve muitosdos problemas, em especial chuta a consciência e o livre-arbítrio para escanteio, pois ela só pode estar correta se os dois não existirem. Então, a memética acaba caindo em petição de princípio, qdo faz isso.

Claro que o falsificacionismo não é perfeito, mas creio qeu ainda é o melhor que temos para separar o joio do trigo. Se não, Deus explica tudo :)

Abs
Felipe


Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #47 Online: 09 de Março de 2011, 16:25:42 »
Olá Felipe,

Obrigado pelas respostas.
Li os dois livros do Chalmers ainda na graduação.
Que fique claro: sou um DEFENSOR da demarcação entre ciência e pseudo-ciência, mas digo que a falsificação não marca esta linha. È verdade que Popper, na velhice, admitiu o erro e disse que a Biologia era falseável durante, se não me engano, uma entrevista para a rádio. Mas ele mesmo não disse o motivo de ser falseável. O fato é que a teoria de Popper deixa de fora todas as ciências históricas por não poderem fazer experimentos ou previsões. Não estou dizendo, é claro, que não há nada falseável na biologia evolutiva, mas ela não é falseável como um todo. O exemplo que você deu pode sim mostrar que a história contada estava errada, mas aí outra história evolutiva seria contada no lugar. Além disso, conceitos como o de "adaptação" e tantos outros, não são falseáveis. Quanto à física, um breve passar de olho pelos livros de Kuhn nos mostra a quantidade de erros de previsão em sua história que a deveriam ter tornada falsa se formos seguir Popper na letra. A teoria de Newton, por exemplo, errava assombrosamente a previsão da órbita da Lua e nunca conseguiu acertar a de Mercúrio, mas nada disso foi o suficiente para ser chamada de "falsa". Hoje em dia há o GIGANTESCO problema da matéria e energia escura, mas ainda assim ninguém joga a física fora somente por que não dá conta de algumas previsões. Mas se formos seguir Popper, é o que deveríamos fazer. Mas não seguimos Popper... (e não devemos seguir mesmo!)

Quanto ao gene, precisamos agora de um contexto histórico: entre o livro de Darwin e a descoberta da dupla hélice se passaram 90 anos!!! São 90 anos de desenvolvimento da biologia, incluindo a primeira grande síntese de Fisher, SEM o conceito de gene físico, ou pior, com o conceito ERRADO. Darwin, por exemplo, defendia um conceito não só errado de hereditariedade, a pângenese, mas também em completo desacordo com sua própria teoria. Os genes de Mendel, quando descobertos por de Vries na biologia, foram tratados como CONTRÁRIOS a teoria de Darwin e depois de Fisher ainda se acreditava que os genes seriam proteínas. Agora imagina se Popper estivesse vivo na época de Darwin... O que ele teria dito da biologia evolutiva que surgia então??? A biologia se desenvolveu por 90 anos sem a necessidade de saber exatamente qual o substrato físico do gene e mesmo hoje em dia a biologia evolutiva é TODA feita sem se preocupar com isso (que é problema apenas para geneticistas e biólogos moleculares). Para um biólogo evolutivo a única coisa que interessa é que "há hereditariedade" e que "caracteres herdados alteram a adaptação" causando a "reprodução diferencial". O mesmo pode ser dito da memética.

OBS: não está claro assim que "genes EXISTEM"  fisicamente, como você disse. O que está chamando de genes quando diz isso???? São os genes Mendelianos?? AA, Aa, aa??? Já há na própria biologia molecular biólogos que estão falando que este conceito de gene mais atrapalha do que ajuda e que deve ser descartado.

cont...

Offline Gustavo Leal

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Re: Memética...De novo
« Resposta #48 Online: 09 de Março de 2011, 16:37:43 »
Ainda não vi problema nenhum com a recursividade. Por favor me explique. Qual é o problema do conceito de meme ser um meme? Qual é o problema do conceito de cultura ser cultural? Que tal, então, o conceito de "cérebro" ele não foi desenvolvido e é pensado por um cérebro? Devemos jogar fora a neurociência só porque quando olhamos os resultados de um PET-Scan é um cérebro analisando outro cérebro (quem sabe pode ser até um cérebro analisando ele mesmo!)? E os instrumentos usados na física, não são eles mesmos físicos? E a biologia, não foi desenvolvida por seres biológicos? Não estou dizendo que não há recursividade nenhuma, mas apenas que ou ela não tem problema ou que não podemos escapar dela. A memética não pode ser individualizada aqui. Se ela deve ser jogada fora por ter recursividade, então todo o resto deve ir junto.

Concordo que a memética chuta fora o tal "sujeito livre de escolha", embora discorde que isso seja obrigatório (é possível uma teoria dos memes com a existência do sujeito da escolha como feito por Kristen Dustin, mas eu não gosto da teoria dela). Mas não vejo como isso caí em Petição de Princípio... ou melhor, não vejo como a memética cai em Petição de Princípio mais do que toda e qualquer outra ciência... Não devemos pressupor e usar o mundo físico para desenvolver uma ciência da física? Isso não é Petição de Princípio?? Você não assume a existência do mundo físico para depois fazer uma teoria que mostra que ele existe?

Acredito que o principal problema da memética é a época em que ela surgiu. Se tivesse surgido no século XVII ou mesmo no século XIX ela não teria que ter respondido todas estas questões epistemológicas do mesmo modo que todas as principais ciências surgiram e se desenvolveram sem se preocupar com isso. Se Darwin tivesse esperado ter um conceito físico de genes antes de publicar a teoria da evolução NUNCA teria publicado... Os problemas da memética são os problemas de qualquer ciência em seu início MAIS o problema de ter surgido depois do desenvolvimento da Filosofia da Ciência.

Abraços,
Gustavo.

Offline Feliperj

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Re: Memética...De novo
« Resposta #49 Online: 10 de Março de 2011, 18:38:39 »
Ola Gustavo,

"Que fique claro: sou um DEFENSOR da demarcação entre ciência e pseudo-ciência, mas digo que a falsificação não marca esta linha. È verdade que Popper, na velhice, admitiu o erro e disse que a Biologia era falseável durante, se não me engano, uma entrevista para a rádio. Mas ele mesmo não disse o motivo de ser falseável. O fato é que a teoria de Popper deixa de fora todas as ciências históricas por não poderem fazer experimentos ou previsões. Não estou dizendo, é claro, que não há nada falseável na biologia evolutiva, mas ela não é falseável como um todo. O exemplo que você deu pode sim mostrar que a história contada estava errada, mas aí outra história evolutiva seria contada no lugar. Além disso, conceitos como o de "adaptação" e tantos outros, não são falseáveis. Quanto à física, um breve passar de olho pelos livros de Kuhn nos mostra a quantidade de erros de previsão em sua história que a deveriam ter tornada falsa se formos seguir Popper na letra. A teoria de Newton, por exemplo, errava assombrosamente a previsão da órbita da Lua e nunca conseguiu acertar a de Mercúrio, mas nada disso foi o suficiente para ser chamada de "falsa". Hoje em dia há o GIGANTESCO problema da matéria e energia escura, mas ainda assim ninguém joga a física fora somente por que não dá conta de algumas previsões. Mas se formos seguir Popper, é o que deveríamos fazer. Mas não seguimos Popper... (e não devemos seguir mesmo!)"

Concordo qeu a filosofia de popper tem limitações e já tinha dito isto, mas ainda acho que ela é um excelente guia, principalmente para a física, química e parte da biologia. Talvez o fato de estarmos lidando com sistemas complexos, onde a previsão é a própria imprevisibilidade :) seja parte do problema. Mas tb acho que qdo algo que se propõe a negar alguns conceitos já estabelecidos, tenta se estabelecer como "verdade", sobre este deve recair o ônus da prova\evidêcia. Ou seja não posso simplismente negar a consciência e livre-arbírio e daí desenvolver uma teoria. Como falei, isto seria petição de princípio.

A física sempre será, em certo sentido, falsa (prefiro a palavra incompleta - creio que vc já tenha lido o excelente texto do Isac Asimov " A relatividade do Errado"?). Mas isto a trona "100% Popperiana".

"Quanto ao gene, precisamos agora de um contexto histórico: entre o livro de Darwin e a descoberta da dupla hélice se passaram 90 anos!!! São 90 anos de desenvolvimento da biologia, incluindo a primeira grande síntese de Fisher, SEM o conceito de gene físico, ou pior, com o conceito ERRADO. Darwin, por exemplo, defendia um conceito não só errado de hereditariedade, a pângenese, mas também em completo desacordo com sua própria teoria. Os genes de Mendel, quando descobertos por de Vries na biologia, foram tratados como CONTRÁRIOS a teoria de Darwin e depois de Fisher ainda se acreditava que os genes seriam proteínas. Agora imagina se Popper estivesse vivo na época de Darwin... O que ele teria dito da biologia evolutiva que surgia então??? A biologia se desenvolveu por 90 anos sem a necessidade de saber exatamente qual o substrato físico do gene e mesmo hoje em dia a biologia evolutiva é TODA feita sem se preocupar com isso (que é problema apenas para geneticistas e biólogos moleculares). Para um biólogo evolutivo a única coisa que interessa é que "há hereditariedade" e que "caracteres herdados alteram a adaptação" causando a "reprodução diferencial". O mesmo pode ser dito da memética."

Mas não acho que esta analogia seja 100% aplicável. Elas são comparáveis a situação qeu temos hj, onde planetas são encontrados de maneira indireta, pelos efeitos que fazem sobre uma determinada estrela. Ou seja, mesmo sem saber sobre gene, ou conceituar erradamente, isto tudo foi realizado em cima de evidências indiretas físicas, experimentos. Muito diferente do que ocorre com a mamética hj. Qual a evidência que temos da "passividade" proposta por ela com relação ao cérebro, na relação cérebro-meme, e do livre-arbítrio, cade as evidências(ou ausência delas), mesmo que indiretas(se for citar libet, de uma lida no post que te falei)  ?

Assim, creio que Popper apioaria a proposição do conceito, de que algo existia e passava as cracterísticas para os descendentes.

"Ainda não vi problema nenhum com a recursividade. Por favor me explique. Qual é o problema do conceito de meme ser um meme? Qual é o problema do conceito de cultura ser cultural? Que tal, então, o conceito de "cérebro" ele não foi desenvolvido e é pensado por um cérebro? Devemos jogar fora a neurociência só porque quando olhamos os resultados de um PET-Scan é um cérebro analisando outro cérebro (quem sabe pode ser até um cérebro analisando ele mesmo!)? E os instrumentos usados na física, não são eles mesmos físicos? E a biologia, não foi desenvolvida por seres biológicos? Não estou dizendo que não há recursividade nenhuma, mas apenas que ou ela não tem problema ou que não podemos escapar dela. A memética não pode ser individualizada aqui. Se ela deve ser jogada fora por ter recursividade, então todo o resto deve ir junto."

O meme do meme tb é um meme, assim como este tb, e assim até o infinito. Ou seja, diferentemente dos outros exemplos(que sofrem deste problema mais em funçaõ dos problemas de recursividade da própria linguagem, do que do conceito) é um conceito que é usado em uma teoria científica e que possui recursividade infinita sobre si mesmo, o que para mim é muito estranho, para um conceito científico. Vc não criticaria o conceito de Deus, se ele fosse infinitamente recursivo sobre si mesmo, como algo muito provavelmente falso/inexistente/problemático, só por este fato ?

Repare que não temso esta recursividade de genes sobre genes(mesmo que exista, como vc falou, ainda confusão qto ao conceito). Acho que esta aplicação recursiva vai de enontro às críticas já feitas por outros com relação ao problema do próprio conceito(ainda vou ler seu artigo).

Ps : apesar de sua crítica com relação à entidade/conceito dos genes, podemso supor, com base nas evidências, que existe algo material, que é manipulável (vide experimentos gen´ticos) e que produz efeitos nos descendentes. Ou seja, existe algo com exsitência física, que temos problemas para conceituar, diferente dos memes.

"Concordo que a memética chuta fora o tal "sujeito livre de escolha", embora discorde que isso seja obrigatório (é possível uma teoria dos memes com a existência do sujeito da escolha como feito por Kristen Dustin, mas eu não gosto da teoria dela). Mas não vejo como isso caí em Petição de Princípio... ou melhor, não vejo como a memética cai em Petição de Princípio mais do que toda e qualquer outra ciência... Não devemos pressupor e usar o mundo físico para desenvolver uma ciência da física? Isso não é Petição de Princípio?? Você não assume a existência do mundo físico para depois fazer uma teoria que mostra que ele existe?"

Eu não sabia desta derivação da memética, vou pesquisar algo na net (se tiver algum bom  material e puder me passar, agradeço)...mas minha crítica é da memética como apresentada por Dannett e outros, onde para ela estar "correta", não podemos ter cosnciência e livre-arbítrio.

Não concordo com vc qto a petição de princípio. Acho que no seu exemplo, a questão do mundo físico  é como um axioma, auto-evidente. E, mesmo que ele só exista em nossa cabeça, existirá com as coerências observadas e desenvolvermos esta física da mesma forma, mas sempre observando o que ocorre neste mundo físico, seja ele externo ou interno, pois é somente a ele que temos acesso.

No caso da memética, acho que ela deveria primerio mostrar como a interação de informação no cérebro gera o que ela chama de ilusão de consciência e livre-arbítrio, ao invés de simplismente negá-la (ela usa a memética, que nega a existencia de consciência, para explicar esta inexistência). Deveria-se ter um modelo que mostre a construção desta ilusão.

Ps : se tiver algum material\link sobre o problema do julgamento que vc citou na msg que me enviou, eu agradeço

Abs
Felipe

 

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